𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟏
SATORU GOJO
O silêncio inquietante que preenchia o quarto no momento já havia se tornado desconfortável - se não sufocante -, o que foi o principal motivo que me fez soltar um longo suspiro cansado ao direcionar o meu olhar para as duas figuras ocupadas que terminavam de se arrumar para a festa que deveríamos ter recusado a algumas horas atrás.
Apenas uma pequena espiada em seus esforços foi o suficiente para perceber que eu era o único que não parecia interessado em comparecer ao evento, e eu realmente não queria bancar o tipo de chato que recusa uma boa diversão em grupo.
Diante daquele impasse, eu finalmente murmuro irritado e inclino a cabeça para trás na poltrona do quarto de Shoko na qual eu estava sentado com um ar entediado enquanto os esperava, fechando os olhos para pensar em alguma coisa que poderia me tirar dessa situação.
─ Oito.
─ Como é?
─ Oito garotas, e estou fora ─ reafirmo a declaração, levantando a cabeça novamente em um impulso preguiçoso.
Suguru ainda continua me encarando com uma expressão incrédula estampada no rosto, uma reação que era em partes esperada de um cara tão sem confiança como ele, que não conseguia entender como as minhas estratégias peculiares de paquera funcionavam na maior parte das vezes.
E eu também já deveria saber que um alfa realmente medroso, que ainda evitava qualquer ômega que valesse a pena e que não ficava com garotas apenas pela diversão disso, não levaria a minha certeza na esportiva. Esse era o único ponto que eu não gostava nele.
─ Que porra, Satoru? ─ ele me lança um olhar mortal, visivelmente incomodado com o que eu disse.
─ O que foi? Devo arredondar para dez, então? ─ apenas alargo o sorriso, me inclinando para o lado para devolver a entonação acusadora.
─ Isso não é nem sequer possível, idiota ─ ele zomba, voltando a se concentrar em vestir a jaqueta de couro estendida na cama ─ Ficar com oito garotas em uma noite não é uma tarefa muito fácil, você sabe.
─ Você está falando sério? ─ levanto uma sobrancelha em surpresa, contendo a vontade de dar risada do quanto ele estava me subestimando ─ Devo confessar que já tive dias bem melhores, mas esse número não é nada para mim.
─ Não acho que consiga fazer isso hoje ─ Shoko interrompe, ajeitando o cabelo na frente do espelho do guarda-roupa.
─ Até você está duvidando das minhas capacidades agora?
─ Eu não ficaria tão confiante assim se fosse você... ─ ela sorri de maneira convencida, fazendo uma pequena pausa para fazer o delineado e se virando logo em seguida para me encarar ─ Vamos contar com uma presença especial essa noite.
Me mantenho confuso ao perceber aquele tom desafiador e continuo em silêncio para incentivar que ela continuasse seu raciocínio e revelasse de quem estava falando, mas Shoko apenas desfaz o sorriso como se não fosse nada e se vira de costas novamente para fechar o estojo de maquiagem, o guardando na gaveta enquanto murmura algo consigo mesma.
─ Ela não apareceu em nenhuma festa durante as férias, então é uma surpresa que tenha decidido participar da última antes das aulas retornarem.
─ Ah! ─ exclamo quase de imediato ao reconhecer esse detalhe enquanto estalo os dedos ─ Nós estamos falando da [Nome]?
─ [Nome]? ─ Suguru questiona, parecendo mais confuso do que eu estava a um momento atrás.
Na realidade, eu mesmo apenas ouvi falar sobre os rumores sobre ela pelo campus, e era praticamente impossível não reconhecer o nome que ecoava pelos corredores. Não existia ninguém que estivesse na faculdade por tempo o suficiente que não sabia de sua existência, isso era um fato. Também era inegável que ela possuía uma fama considerável, levando em conta que todos pareciam a respeitar de uma maneira bem peculiar nas conversas em que era mencionada.
Entretanto, por mais que a nossa possível aproximação fosse tentadora e a minha vontade de experimentar e comprovar a veracidade dos rumores fosse realmente grande, ainda não existiu nenhuma oportunidade para que a gente se encontrasse de fato.
Não costumamos frequentar as mesmas festas a anos e ela nunca se interessou em conversar comigo apesar da minha fama como as outras faziam, e não era como se eu fosse me dar o trabalho de ir atrás de uma mulher por conta própria agora. Eu tinha coisas mais importantes para fazer e haviam corpos quentes mais fáceis de se conseguir.
─ Qual é, Suguru! Vai me dizer que não conhece a garota? ─ questiono quase indignado, como se ele tivesse a obrigação de saber. Quer dizer, ele também era um veterano a esse ponto.
─ Hmm, não...?
─ É uma das veteranas do curso de Artes Visuais, a famosa "beldade do campus" que eles tanto falam por aí ─ Shoko tenta explicar, recebendo um som de aprovação de Suguru que parece finalmente ter se recordado.
─ Aquela dos rumores?
─ Essa mesma, a que dizem ter o corpo tão fantástico que pode ser até considerado uma droga viciante. Homens e mulheres, sejam alfas ou ômegas, querem desesperadamente ter uma segunda chance com ela em apenas uma ficada ─ ela entrega a atenção para nós enquanto pega as chaves do carro no bolso da mochila que ela abandonaria ─ Em outras palavras, é uma verdadeira gostosa.
Após esse comentário peculiar, eu e Suguru arregalamos os olhos e nos encaramos ao mesmo tempo em um completo estado de choque, sendo claramente visível que nossas bocas formavam um perfeito "O" de surpresa.
Embora parecesse besteira ficar espantado com algo assim, Shoko não falaria esse tipo de coisa nem se estivesse muito bêbada - o que ainda era um caso mais raro do que o comentário em si. Então, esperávamos ouvir essas mesmas palavras de qualquer um, qualquer um mesmo, menos de nossa amiga que costumava ser tão fechada.
─ O que, gente? Algumas coisas são inegáveis, eu reconheço o quanto ela é atraente ─ ela confessa, dando de ombros.
─ Atraente? Ela não tem nenhuma qualidade física que esteja acima da dos outros, e eu também nem sequer senti algum aroma pronunciado vindo dela quando estava por perto. Atraente é a última coisa na qual ela seria definida.
─ Não se importe com o que ele fala, Suguru ─ ela varreu minha indignação como se não fosse nada, dando uma olhada para mim antes de fechar a mochila ─ Esse molenga só tá dizendo isso porque não conseguiu chegar nela até hoje.
─ Quer insinuar que não sou capaz de pegar ela? ─ questionei com um leve desafio ─ Não seria tão difícil, eu só não estava interessado. Ela não é um caso especial, você sabe.
─ Pois você pode até conquistar quem você quiser, mas precisa admitir que ela é o seu ponto fraco ─ ela me devolve o desafio, seguindo para a porta do quarto quando percebe que estávamos todos prontos.
Mesmo que só tivesse ouvido sobre os rumores e não quisesse me relacionar com ela, esse caso estava começando a mexer com o meu orgulho de uma maneira que me incomodava. Geralmente, eu não me importo com garotas no geral, já que em uma noite qualquer em uma das festas eu posso simplesmente sair com quem eu tenho vontade.
Possuir uma certa reputação pelo campus também tinha suas vantagens, afinal, então não conseguia culpar [Nome] por fazer exatamente o mesmo que eu se ela tinha capacidade para tal comportamento. Mas não consegui negar o desafio e a instigação na provocação de Shoko, e eu ainda poderia me divertir com isso tudo no final e sair com mais uma boa história.
Ao perceber o movimento dela, eu rapidamente me levanto e corro em sua direção para tirar a chave do carro da mão dela, sorrindo maliciosamente quando a surpresa tomou conta de sua expressão.
─ Eu dirijo.
─ Olha só, não era você que estava todo desanimado com essa festa?
─ Não sei do que você está falando ─ brinco com um sorriso, balançando a chave entre os dedos ─ E só para corrigir, estarei aumentando meu número para nove.
─ Acha mesmo que vai funcionar? ─ ela levanta a sobrancelha com uma desconfiança, provavelmente já entendendo o que eu estava querendo dizer.
─ Não faço a menor ideia, mas estou mais do que disposto a provar para vocês que estou falando sério.
Se [Nome] realmente estaria na mesma festa, eu precisava aproveitar a oportunidade para conferir com meus próprios olhos e talvez provar com minhas próprias mãos se os rumores eram verdadeiros. Além disso, já faz bastante tempo que quero conversar com alguém que se assemelha a mim em pensamento e que não me julgaria pelo que faço, mas um encontro casual com uma pessoa que vive sempre em um mundo paralelo do seu pode ser complicado de ser arranjado.
Enquanto reflito sobre toda a situação e meus benefícios, Shoko fica em silêncio por um momento e apenas me encara antes de soltar uma risada alta, como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.
─ Qual é a graça? ─ estreito os olhos para ela enquanto Suguru passa por nós para abrir a porta da entrada.
─ Ela tem uma reputação, Satoru. Sinto em informar que o seu irresistível charme não vai te ajudar dessa vez, ela não fica com qualquer um.
─ Eu sei muito bem disso, mas não sou qualquer um ─ mantenho o sorriso no rosto, não conseguindo conter a leve arrogância que apareceu em meu tom.
─ Beleza, mas eu dirijo ─ Shoko sorri de volta e puxa a chave da minha mão novamente, caminhando para o lado do motorista sem me deixar nenhum direito de protestar.
─ Eu vou na frente! ─ Suguru levanta a mão com uma expressão animada, assim como uma criança faria.
─ E quem disse que você tem escolha aqui? Eu que vou na frente ─ rebato, segurando a porta do carro para impedir a entrada dele.
─ Ah, é? E de quem é o carro? ─ ele pergunta com uma arrogância divertida, cruzando os braços ao se inclinar na porta enquanto espera a minha resposta. Era um xeque-mate, e ele sabia disso.
─ Tudo bem, tudo bem! ─ suspiro frustrado e estendo os braços em derrota, me direcionando para o lugar no banco de trás que inicialmente não deveria ser meu.
Quando me sento e me ajusto confortavelmente, sinto um tecido macio deslizar na lateral da minha perna e me viro curioso para conferir o que era, sendo recebido por algo que eu nunca imaginaria estar no carro de Suguru, nem nos meus sonhos mais malucos.
─ Ahm... Galera? O que é isso aqui? ─ pergunto incerto com um sorriso nervoso, estendendo o sutiã que estava jogado ao meu lado.
─ Nunca viu um sutiã, Satoru? ─ Suguru levanta a sobrancelha, colocando o cinto enquanto Shoko segura outra risada.
Se ela tivesse rido de mim mais uma vez hoje, teria sido definitivamente o fim da minha noite, mas ainda tenho que reconhecer que talvez Suguru não seja tão medroso assim. Acho que nunca se deve subestimar um alfa, afinal.
{. . .}
Quando esse tipo de evento acontece, a rua em frente à casa de Aoi costuma ficar cheia de motos e carros dos mais variados tipos e tamanhos. Ele é considerado de longe o melhor anfitrião de festas no geral, e a área da casa espaçosa dele também acaba sendo o palco perfeito para isso, então todos os cursos se juntam para curtir no mesmo lugar nos finais de semestre.
Sabendo dessa situação inevitável, acho que dessa vez foi apenas questão de sorte sermos um dos primeiros a chegar, pois a rua ainda estava em um estado que poderíamos até escolher onde estacionar.
─ Sinceramente, essa foi a baliza mais linda que já testemunhei ─ cruzo os braços em frente ao carro, esperando Shoko ativar o alarme do carro conforme se aproxima para caminhar ao meu lado.
─ Beleza, mas por que ele foi na frente assim? ─ ela ignora meu elogio sincero e sinaliza com a cabeça para frente, onde Suguru estava entrando apressadamente na casa.
─ E eu vou saber? Talvez ele tenha ido procurar a dona daquele sutiã ─ dou de ombros e Shoko apenas revira os olhos, ficando em silêncio até alcançarmos a entrada.
A atmosfera agitada que festas proporcionam com certeza é uma das minhas favoritas, mas o que realmente me conquista são os olhares que recaem sobre mim e de todo o nosso grupo assim que entramos pela porta de qualquer lugar. Não era à toa que eu estava tão despreocupado sobre conseguir tantas garotas hoje, embora apenas uma ocupasse minha mente no momento.
Mas como se para provocar a minha diversão com a atenção que estava recebendo, um trio de pessoas passou por nós com uma confiança que conseguiu até me impressionar. Uma garota de cabelos verdes curtos que não fui capaz de reconhecer foi a única deles que me encarou de volta com um ar de desprezo, estreitando os olhos de uma maneira que parecia que ela gostaria de comprar alguma briga comigo.
Provavelmente essa não seja uma grande fã minha, mas aquele que reconheci ser Yuta - um dos veteranos que também possuí uma excelente reputação por ser um ômega influente - rapidamente sussurrou algo para ela como um "não seja rude", o que fez a atmosfera mortal instalada logo se estabilizar enquanto eles se distanciavam. Supus que eles eram bem reconhecidos, já que todos da festa pararam para encarar quando eles se aproximavam da pista de dança improvisada da sala.
Foi quando eu a vi pela primeira vez de tão perto. A terceira pessoa. Não sou experiente com pequenos detalhes, mas novamente, existe apenas uma pessoa que vestiria aquela jaqueta preta com uma bandana amarrada no braço. Meu palpite não poderia estar errado.
Shoko tinha toda a razão. [Nome] era atraente, em níveis que eu jamais poderia descrever mesmo que tentasse fingir que era mentira. E ela sabia disso. Sabia bem demais. Não era apenas o corpo dela que chamava a atenção em todo o seu pacote, mas sua presença cativante, a maneira como ela se movimentava, o modo de cumprimentar as pessoas e todo o resto evidenciava que ela sabia o que estava fazendo.
Ela era a primeira pessoa que fazia tanto esforço para me ignorar de uma maneira sutil assim que reconheceu a minha presença, e isso me intrigava bastante apesar de tudo. Mas no momento em que meus olhos encontraram as curvas aparentes de seu corpo naquele vestido justo, eu tinha certeza de que precisava mesmo descobrir a origem dos rumores.
Nunca precisei tanto colocar minhas habilidades em evidência, e nunca hesitei em apenas pegar o que queria, mas não me importaria se minha abordagem fosse demorada dessa vez. Eu poderia esperar. Eu queria aquele corpo, e precisava testá-la.
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