cap.um


— Você foi expulso do internato? — Noah perguntou, segurando um papel amassado entre os dedos, os olhos estreitados enquanto examinava River.

River ergueu o olhar preguiçosamente da xícara de café, soprando o vapor antes de tomar um gole.

— Talvez? — respondeu, arrastando a palavra com desinteresse, mas havia algo em sua voz que denunciava inquietação.

Talvez? — Noah repetiu, incrédulo, antes de bater o papel sobre a mesa com um movimento firme. — Esta carta não parece um "talvez".

River suspirou, evitando os olhos de Noah.

— Eles disseram que eu estava... violento — murmurou, suas palavras mal se formando, como se cada uma fosse um peso difícil de carregar. — Mas eu não estava.

Noah passou a mão na testa, um gesto que River conhecia bem, um misto de frustração e tentativa de manter a calma.

— Violento? River, o que você fez?

— Nada — River retrucou rapidamente, mas o tom defensivo fez Noah arquejar uma sobrancelha.

— Nada? Porque eles não expulsam ninguém por "nada".

River largou a xícara na mesa, o som cerâmico cortando o silêncio por um instante.

— Foi só uma briga, Noah. — A voz dele subiu um tom, impaciente. — Um idiota achou que podia enfiar o nariz onde não era chamado. Eu só... reagi.

— Reagiu? Com o quê? Socos? Palavras? — Noah inclinou-se para frente, buscando os olhos de River. — Porque essa carta descreve algo bem pior do que uma simples "reação".

River desviou o olhar, os dedos tamborilando na borda da mesa.

— Talvez eu tenha... exagerado. — Ele finalmente admitiu, embora a hesitação na sua voz fosse quase palpável.

— Exagerado? River, você precisa ser mais claro. Eles chamaram isso de "violência injustificada". — Noah apontou para o papel como se fosse um objeto inflamável. — O que diabos aconteceu?

River respirou fundo, os ombros se curvando sob o peso da culpa.

— Eu não queria que fosse assim. — Sua voz quase desapareceu, mas as palavras carregavam uma sinceridade que fez Noah se recostar na cadeira, ainda tenso, mas mais disposto a ouvir.

— Então explica. Porque até agora só estou ouvindo desculpas esfarrapadas.

River encarou o fundo da xícara, o café já frio, enquanto a verdade começava a emergir de forma hesitante.

— Ele me chamou de marica — River finalmente esclareceu, a voz baixa, mas firme, enquanto cruzava os braços. — Então, eu o empurrei da escada. Simples assim. Alto e claro.

Noah parou, piscando algumas vezes, como se tentasse processar o que acabara de ouvir.

— Você empurrou alguém de uma escada? — Sua voz saiu mais alta do que ele pretendia, carregada de incredulidade.

— Ele mereceu. — River deu de ombros, mas havia um brilho de raiva contida em seus olhos, algo que Noah não via com frequência.

— River, você não pode simplesmente... bater nas pessoas porque elas te ofendem! — Noah rebateu, gesticulando como se buscasse alguma lógica naquele caos. — Isso não é jeito de resolver nada!

— Eu posso, sim, quando eles ultrapassam o limite! — River rebateu, as palavras saindo afiadas como lâminas. Ele apoiou as mãos na mesa, inclinando-se para frente. — Não era só sobre mim, Noah.

Noah arqueou uma sobrancelha, o tom de River despertando sua curiosidade e preocupação.

— O que quer dizer com isso?

River respirou fundo, tentando conter a fúria que ainda queimava dentro dele.

— Ele não só falou de mim. — A voz de River ficou mais baixa, quase um murmúrio, mas carregada de emoção. — Eles mexeram com a minha família.

O silêncio que se seguiu foi pesado, denso, como se as palavras de River tivessem puxado o ar da sala.

— Sua família? — Noah perguntou, mais calmo agora, mas ainda firme. — O que ele disse?

— Disse que... que meu pai era um bêbado inútil. Que minha mãe devia ter me abortado. — River desviou o olhar, os punhos cerrados ao lado do corpo. — Como você espera que eu ouça isso e fique parado?

Noah inclinou-se na cadeira, os dedos esfregando o espaço entre as sobrancelhas.

— River... isso é horrível, eu entendo. Mas empurrar alguém de uma escada? Você podia ter matado o cara.

— Ele não se machucou tanto assim. — River deu de ombros, mas seu tom traía a leve dúvida que sentia.

— Não é esse o ponto! — Noah exclamou, apertando os punhos contra a mesa. — O que acontece da próxima vez que alguém te provoca? Você vai brigar até acabar em um hospital ou... pior?

River ficou em silêncio, o olhar fixo na xícara de café agora esquecida.

— Eu não sei — respondeu, finalmente. — Mas sei que não vou deixar ninguém pisar em mim. Ou na minha família.

Noah suspirou, balançando a cabeça.

— Precisamos encontrar um jeito de lidar com isso. Porque, do jeito que você está indo, River, só vai se machucar ainda mais... ou acabar machucando alguém além do que você pode consertar.

River não respondeu, mas o peso das palavras de Noah parecia estar começando a se infiltrar em sua armadura.

[...]

 Scott e Stiles estavam na escola, cada um em sua sala, quando algo diferente capturou a atenção de Scott. Um aroma adocicado e estranho invadiu suas narinas, denso e inconfundível. Era o tipo de cheiro que só ele podia perceber, algo que seu instinto sobrenatural imediatamente reconhecia como não humano.

Ele se mexeu desconfortavelmente na cadeira, tentando ignorar o arrepio que subiu por sua espinha.

— Scott? — A voz de Stiles soou ao seu lado, cortando o silêncio. Ele o encarava com curiosidade, as sobrancelhas franzidas. — O que foi?

— Eu... — Scott hesitou, desviando o olhar para a janela próxima. Lá fora, sentado casualmente no banco sob a grande árvore do pátio, estava River Stilinski, o irmão mais velho de Stiles. Ele fumava um cigarro, a postura relaxada contrastando com o estranho peso que Scott sentia no ar.

— É só... nada — murmurou, tentando afastar a sensação.

Stiles não parecia convencido.

— Nada? Tem certeza? Porque você fez aquela cara.

Scott piscou, voltando o olhar para o amigo.

— Que cara?

— Aquela cara de "senti o cheiro de alguma coisa esquisita". — Stiles estreitou os olhos, cruzando os braços. — Não me engana.

Scott forçou um sorriso, embora soubesse que Stiles podia perceber o nervosismo por trás dele.

— Eu tenho certeza, Stiles. Não é nada.

— Certo, se você diz... — Stiles deu de ombros, embora lançasse mais um olhar desconfiado antes de se virar para prestar atenção na aula.

Mas Scott não conseguia se concentrar em absolutamente nada além do que estava lá fora. Seus olhos voltaram para a janela, fixando-se em River. Algo sobre ele estava errado. Muito errado.

River tragou o cigarro com uma calma quase perturbadora, soprando a fumaça para o alto como se estivesse em qualquer lugar menos em frente a uma escola cheia de adolescentes. Mesmo à distância, Scott podia perceber a leve curvatura de seus lábios, como se soubesse que estava sendo observado.

O cheiro persistia, doce e envolvente, mas também carregado de algo perigoso. Scott sentia seus sentidos se aguçarem instintivamente, a pele arrepiada como um alerta silencioso.

Ele não sabia exatamente o que River Stilinski era, mas sabia de uma coisa com absoluta certeza.

River Stilinski não era humano.

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