prólogo
Olhos que tudo veem, mãos que tudo tocam.
Zaun nunca dormia. Suas ruas fervilhavam de vida, mas não de uma forma acolhedora. Eram becos apinhados de vapor tóxico, luzes piscantes e sussurros que carregavam mais ameaças do que promessas. Para quem vivia às margens, Zaun era um lugar de possibilidades... e perigos constantes.
Duncan, com apenas nove anos, já havia aprendido o suficiente sobre a cidade para saber como se misturar com as sombras. Pequena e rápida, com olhos afiados e uma inteligência que parecia desafiar sua idade, ela era um mestre da arte de desaparecer. Sua reputação crescia a cada dia, assim como sua lista de inimigos.
Naquela noite, a menina sentiu o peso das sombras enquanto corria pelos canais inferiores, o vapor abafando os sons de seus passos. Com a bolsa roubada firmemente presa ao casaco esfarrapado, ela continuava atento aos sons atrás de si. Torrin, o brutamontes do comerciante, era persistente, mas Duncan tinha o mapa de Zaun gravado em sua mente.
Ele parou em um beco estreito, ofegante, encostando-se em uma pilha de tubos descartados. O som dos passos de Torrin finalmente se distanciava. Duncan sabia que o grandalhão desistiria logo. Ninguém corria tanto atrás de uma garota... não por uma bolsa comum, pelo menos.
Mas Duncan sabia que aquela bolsa não era comum.
Ela abriu o zíper devagar, o coração batendo rápido, mais pela adrenalina do que pelo cansaço. Lá dentro, os cristais hextec cintilavam suavemente, como pequenos fragmentos de estrelas engarrafadas. Porém, o que chamou sua atenção foi a pedra vermelha. Ela parecia pulsar, uma luz rubra irradiando em ritmos irregulares, como um coração batendo.
Ela estendeu a mão hesitante para tocar a pedra, mas um calafrio percorreu sua espinha. Era como se algo dentro dela estivesse vivo, observando-o.
"Isso não é normal", sussurrou para si mesma, puxando a mão de volta.
Duncan sabia que não podia manter aquilo por muito tempo. Em Zaun, coisas valiosas demais eram também perigosas demais. E ele já tinha problemas suficientes sem precisar lidar com forças que não entendia.
[...]
No dia seguinte, Duncan decidiu buscar respostas. Ele conhecia alguém que talvez pudesse ajudar: Solvi, uma inventora que trabalhava no limite entre ciência e loucura. Solvi tinha fama de saber tudo sobre cristais hextec e qualquer coisa que os envolvesse.
Seu laboratório improvisado ficava escondido em um dos níveis mais baixos de Zaun, onde a luz natural nunca chegava e o ar era pesado com o cheiro de óleo e metal. Duncan entrou pelo alçapão que dava acesso à oficina, encontrando Solvi curvada sobre uma mesa cheia de engrenagens e fios.
"Você sabe que não gosto de visitas inesperadas, Duncan", disse a mulher sem olhar para ela, ajustando algo com uma chave minúscula.
"Eu sei, mas é importante."
Solvi finalmente ergueu os olhos. Seu rosto estava manchado de graxa, e suas sobrancelhas levantaram ao ver a expressão séria no rosto da garota. "O que você fez agora?"
Duncan colocou a bolsa sobre a mesa e a abriu, revelando os cristais e a pedra vermelha.
Os olhos de Solvi se arregalaram. Ela pegou a pedra com cuidado, segurando-a com luvas especiais, e a estudou sob uma lente ampliadora. "Onde você conseguiu isso?"
"Roubei de um comerciante no Mercado Negro. Não parecia nada demais até eu ver essa coisa."
"Essa 'coisa'", disse Solvi, enfatizando a palavra, "não é só um cristal qualquer. É um Coração de Hexsangue. Essas coisas são raras. E perigosas."
Duncan franziu a testa. "Perigosas como?"
Solvi suspirou. "Dizem que essas pedras são criadas em rituais proibidos, misturando ciência hextec com... magia de sangue. São como pequenos geradores de energia viva, mas instáveis. Muito instáveis."
"Então eu deveria me livrar dela?"
Solvi hesitou. "Se alguém estava vendendo isso no Mercado Negro, não era para ficar nas mãos erradas. E se você a encontrou na bolsa de um comerciante gordo, eu aposto que ele não fazia ideia do que tinha."
Antes que Duncan pudesse responder, um som alto veio do lado de fora. Eram passos pesados, ecoando pelo piso metálico. Solvi olhou para ele, alarmada.
"Você foi seguida?"
"Não que eu saiba."
A porta foi arrombada antes que Solvi pudesse reagir. Torrin entrou, seguido por dois homens mais baixos, mas igualmente ameaçadores.
"Achamos você, seu moleque!" Torrin rugiu, os olhos fixando-se imediatamente na pedra nas mãos de Solvi. "E parece que você estava mexendo com o que não devia."
[...]
O laboratório virou um caos. Solvi tentou alcançar um dos dispositivos em sua mesa, mas Torrin foi mais rápido, agarrando-a pelo braço e jogando-a de lado. Duncan, vendo a cena, sabia que não tinha chance contra três adultos, mas isso nunca a impediu antes.
Ela pegou um pequeno tubo de metal do chão e o lançou na cabeça de um dos capangas, que tropeçou para trás com um grito. Isso deu a Solvi tempo para agarrar um de seus dispositivos e ativá-lo. Um raio de energia disparou do aparelho, atingindo Torrin no peito e empurrando-o para trás.
"Corre, Duncan!" gritou Solvi, segurando o dispositivo como se fosse uma arma improvisada.
A menina não pensou duas vezes. Ela agarrou a pedra vermelha e correu em direção à saída, ouvindo os gritos e o som de metal se chocando atrás de si.
[...]
Duncan correu até os níveis superiores de Zaun, onde a luz artificial dos tubos de energia iluminava as ruas. Ela sabia que Torrin e seus homens não desistiriam facilmente. A pedra que carregava era preciosa demais para ser abandonada.
Ela parou em uma plataforma suspensa, olhando para a cidade abaixo de si. As luzes piscavam como estrelas artificiais, mas para Duncan, Zaun era mais um abismo do que um céu. Ela sabia que não poderia manter a pedra. Ela era poderosa demais, perigosa demais.
Mas o que fazer com ela?
Enquanto pensava, um som baixo começou a emanar da pedra. Era como um sussurro, uma voz distante chamando por ele. Duncan olhou para a pedra, os olhos arregalados.
"Deixe-me ir..." a voz murmurou, suave como o vento.
Duncan quase a soltou de susto, mas algo dentro de si o impediu. Ele sabia que aquilo não era normal, mas também sentia que havia mais na pedra do que Solvi ou qualquer outra pessoa sabia.
Decidido, Duncan colocou a pedra de volta no casaco. Ele não sabia para onde estava indo, mas sabia que não poderia ficar parado. Zaun tinha olhos que tudo viam, mãos que tudo tocavam, mas Duncan sempre foi mais rápido. E naquela noite, ela sabia que precisava correr mais rápido do que nunca.
votem e comentem para a continuação. Vou postar de um a dois capítulos por dia pois logo volto pro trabalho.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top