capitulo cinco

O esconderijo de Vi estava mergulhado em uma calmaria incomum. Ekko dormia ao lado de Duncan no velho sofá improvisado, suas costas apoiadas no braço do móvel e a cabeça tombada de lado. Powder estava absorta em seus trabalhos, movendo pequenas engrenagens e fios com a concentração de quem tentava afastar a realidade. No canto, o brilho fraco de uma lâmpada a gás criava sombras oscilantes nas paredes, como se a própria Zaun estivesse espreitando.

Duncan, no entanto, não encontrava descanso. Enquanto seu corpo estava imóvel, sua mente vagava pelas profundezas do pesadelo que a assombrava.

[...]

O cenário era caótico. Duncan estava de volta aos esgotos, mas tudo parecia maior, mais vasto e opressor. O som do vapor escapando das tubulações misturava-se a um zumbido baixo e constante, que crescia cada vez mais. As paredes tremiam, e o cheiro metálico no ar era sufocante.

Ela se viu correndo, os pés descalços batendo contra o chão molhado. Não sabia exatamente o que estava fugindo, mas a sensação de ser perseguida era insuportável. O som de passos — pesados, arrastados — a seguia. Ela olhou por cima do ombro, mas não havia nada, apenas sombras se contorcendo como criaturas vivas.

De repente, uma luz vermelha brilhou ao longe. A princípio, parecia pequena, mas rapidamente cresceu, preenchendo o túnel com um brilho pulsante. Duncan parou, ofegante, e percebeu o que era: a pedra. Ela flutuava no ar, emanando um calor intenso. Seu brilho parecia sincronizado com os batimentos de um coração, e cada pulsação enviava uma onda de energia que fazia o chão tremer.

"Você não pode fugir de mim," disse uma voz, grave e retumbante, ecoando ao redor.

"Quem está aí?" gritou Duncan, os olhos arregalados. Ela deu um passo para trás, mas o chão parecia instável, como se fosse ceder a qualquer momento.

"Você me rejeitou. Me descartou." A voz parecia vir de dentro da própria pedra. "Eu ofereci poder, e você me jogou fora como lixo."

"Eu... eu não queria..." tentou responder, mas suas palavras foram abafadas pelo som crescente. O zumbido tornou-se um rugido, e a luz vermelha intensificou-se, queimando seus olhos.

De repente, o monstro que a pedra havia criado surgiu diante dela, emergindo das sombras. Seus olhos eram duas brasas ardentes, e sua forma grotesca parecia estar em constante mutação, como se fosse feita de fumaça sólida. Ele se aproximou, cada passo fazendo o chão vibrar.

"Você não pode escapar de mim," repetiu o monstro, estendendo uma mão gigantesca em direção a ela.

Duncan tentou correr, mas seus pés estavam presos. O chão havia se transformado em algo pegajoso, que a segurava firmemente no lugar. A mão do monstro chegou mais perto, e ela soltou um grito desesperado.

[...]

"Duncan! Acorda!"

A voz de Ekko a puxou de volta para a realidade. Ela abriu os olhos de repente, o corpo coberto de suor frio. Seu coração batia acelerado, como se ainda estivesse correndo pelo túnel. O ambiente ao seu redor era abafado, mas familiar: o esconderijo de Vi.

Ekko estava ajoelhado ao lado dela, os olhos cheios de preocupação. "Você estava se mexendo e murmurando. Parecia que algo estava te atacando."

"Eu..." Duncan tentou falar, mas sua voz saiu fraca. Ela engoliu em seco e sentou-se no sofá, abraçando os próprios joelhos. "Foi só um pesadelo."

Ekko inclinou a cabeça, estudando-a. "Não parecia 'só um pesadelo'. Quer me contar o que aconteceu?"

Ela hesitou por um momento, os dedos apertando os joelhos. Finalmente, murmurou: "Era sobre a pedra. Eu a vi... e o monstro. Eles estavam me culpando."

Ekko franziu o cenho, sentando-se ao lado dela. "Culpando? Pelo quê?"

"Por tê-la jogado fora," respondeu Duncan, sua voz cheia de culpa. "Era como se eles dissessem que eu cometi um erro. Que... eu deveria ter ficado com ela."

Ekko suspirou, cruzando os braços. "Olha, eu não sou especialista em pedras mágicas que brilham e criam monstros, mas sei reconhecer algo perigoso quando vejo. Aquilo era um problema esperando para acontecer. Você fez o certo."

"Fez o certo?" Duncan riu, sem humor. "E se não? E se essa coisa causar ainda mais destruição agora? E se Torrin encontrá-la? Ou pior, alguém ainda mais perigoso?"

Ekko colocou a mão no ombro dela, apertando de leve. "Duncan, Zaun está cheia de problemas. A gente nunca vai conseguir controlar tudo. Mas sabe o que a gente pode fazer? Cuidar um do outro. E isso começa com você parando de se culpar por coisas que não pode mudar."

Ela olhou para ele, os olhos cheios de dúvidas, mas também de gratidão. Ekko sempre tinha uma maneira de simplificar as coisas, de encontrar um ponto de luz no meio da escuridão.

Do outro lado da sala, Powder levantou a cabeça de sua engenhoca. "Ei, Duncan," chamou, sua voz infantil carregada de entusiasmo. "Se esse monstro aparecer de novo, eu vou explodi-lo! Você vai ver."

Duncan não pôde evitar um sorriso diante da confiança de Powder. "Você acha que consegue?"

"Claro que sim!" respondeu Powder, balançando a cabeça com tanta força que seu cabelo quase tampou os olhos. "É só questão de fazer a coisa certa explodir no momento certo."

Ekko riu. "A Powder tem solução pra tudo. Contanto que envolva fogo."

Powder mostrou a língua para ele antes de voltar ao seu trabalho, murmurando algo sobre engrenagens e pólvora. A leveza dela trouxe um pouco de alívio ao ambiente, quebrando a tensão que ainda pairava.

Embora ainda estivesse inquieta, Duncan finalmente deitou-se novamente. Ekko puxou um cobertor esfarrapado e jogou sobre ela, antes de se recostar no sofá.

"Se você tiver outro pesadelo, só me cutucar," disse ele. "Ou, sei lá, pode bater em mim. Só não guarda isso pra você."

Ela riu levemente e fechou os olhos, tentando ignorar o peso em seu peito. A noite parecia mais longa do que o normal, e o cansaço a envolveu lentamente, puxando-a de volta para um sono inquieto.

Enquanto isso, Ekko permaneceu acordado por algum tempo, observando Duncan com preocupação. Ele sabia que o que quer que tivesse acontecido com aquela pedra não terminaria tão cedo. Zaun tinha o dom de transformar qualquer pequeno incidente em um desastre.

E nos esgotos, bem longe dali, a pedra pulsava lentamente, como se ainda estivesse viva, esperando o momento certo para despertar algo ainda pior.















votem e comentem para a continuação.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top