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"O BARCO ESTAVA PERDIDO em uma tempestade furiosa. Ondas gigantescas se erguiam da água, esmagando a embarcação de madeira contra a força do oceano. Caitriona segurava-se com força no corrimão, os dedos brancos de tanto apertar, enquanto a chuva e o vento rugiam ao seu redor. Cada trovão a assustava, cada raio iluminava o escuro céu que a cercava.
De repente, um estalo ensurdecedor ressoou. A madeira cedeu e o barco se partiu ao meio, jogando Caitriona violentamente para a água gelada. O impacto foi tão brutal, que arrancou o ar de seus pulmões. Caitriona tentou nadar, mas as ondas a arrastaram para baixo, girando-a.
A água era espessa e pesada, pressionando seu corpo por todos os lados. Caitriona lutava para subir à superfície, mas cada vez que chegava perto, outra onda a empurrava para baixo. A água salgada queimava seus olhos e enchia sua boca, tornando cada tentativa de respirar um fracasso.
Ela conseguiu emergir por um momento, ofegante, tentando gritar por ajuda, mas apenas engoliu mais água. O sabor amargo do sal a sufocava, a garganta ardendo enquanto ela tentava expulsar a água de seus pulmões. O pânico apertou seu peito e o medo primal de morrer afogada tomava conta de sua mente.
As ondas continuavam a bater contra ela, cada uma mais violenta que a anterior. Caitriona sentia a força deixando seu corpo. Imediatamente sua visão começou a escurecer. Ela sabia que estava perdendo a batalha.
No meio da escuridão, Caitriona tentou lembrar-se de algo, qualquer coisa, para manter-se consciente, mas os pensamentos se dissiparam como fumaça. Finalmente, seus braços e pernas desistiram, e ela afundou nas profundezas.
A última coisa que Caitriona viu foi a luz da superfície se afastando, transformando-se em um ponto distante, e então, tudo se apagou."
Caitriona despertou com um sobressalto, o coração batendo furiosamente contra o peito e a respiração ofegante. Ela se sentou na cama e passou as mãos pelo rosto suado, tentando se acalmar.
Puxou os joelhos contra o peito, abraçando-se e balançando-se ligeiramente, como se o movimento pudesse afastar o medo.
"Foi só um sonho" ela sussurrou para si mesma, tentando acreditar em suas próprias palavras. Mas a sensação de sufocamento, o medo, ainda estavam lá, agarrando-se a ela como uma sombra persistente.
Caitriona olhou ao redor de seu quarto escuro, os móveis familiares trazendo-lhe um pouco de consolo. Ela levantou-se lentamente e caminhou até a janela. Lá fora, o mar estava calmo. Era difícil acreditar que aquelas mesmas águas podiam ser tão implacáveis em seus sonhos.
Aquietando a mente, Caitriona saiu para a varanda. E lá inspirou profundamente, deixando o ar preencher seus pulmões.
Olhando para o horizonte, Caitriona refletiu sobre aquele pesadelo. A lembrança do barco se partindo, o desespero de lutar contra as ondas, tudo isso parecia um reflexo de seus medos internos.
Enquanto observava o horizonte, Caitriona começou a se perguntar se o pesadelo que teve era um presságio. Quando notou que estava voltando a ficar assustada, Caitriona fechou os olhos por um momento e pensou:
"É apenas um sonho" repetiu para si mesma, mais convicta dessa vez. "Apenas um sonho."
Decidida a afastar o medo, Caitriona voltou para dentro e se deitou na cama com a esperança de adormecer novamente. Ela se cobriu até os ombros e fechou os olhos. Poucos minutos depois, ela adormeceu.
AO DESPERTAR, CAITRIONA ESPREGUIÇOU-SE e levantou-se da cama. Depois de se arrumar rapidamente, saiu de casa e seguiu em direção ao porto. O ar fresco da manhã encheu seus pulmões enquanto ela caminhava pelas ruas ainda meio adormecidas do vilarejo.
Ao chegar o porto, Caitriona observou a agitação dos comerciantes marítimos que já estavam a todo vapor. Homens robustos descarregavam mercadorias dos navios, negociavam preços e coordenavam as atividades com precisão. Ela cumprimentou alguns conhecidos enquanto caminhava pela doca, sentindo-se em casa entre o vai-e-vem dos mercadores.
Foi então que avistou um garotinho, não mais velho do que dez anos, lutando para carregar um caixote de madeira que parecia ser quase do seu tamanho. O menino estava claramente exausto, com o rosto vermelho e os músculos trêmulos pelo esforço. Caitriona não hesitou. Aproximou-se dele com um sorriso encorajador.
── Ei, me deixe te ajudar com isso ── disse ela, gentilmente pousando a mão sobre o caixote.
O garotinho olhou para ela com olhos arregalados, mas aliviado. Ele assentiu, soltando o caixote com um suspiro de gratidão. Caitriona, com sua força notável, ergueu o caixote como se fosse leve como uma pena.
── Para onde isso vai? ── perguntou ela, ajustando o caixote nos braços.
── Ali, senhora, naquele armazém ── respondeu o menino, apontando para um barraco próximo.
Caitriona caminhou com facilidade até o armazém, com o menino ao seu lado. Ao chegar, ela colocou o caixote no chão com cuidado.
── Pronto, aqui está. Você está bem?── perguntou ela, preocupada.
── Estou, sim. Muito obrigado, senhora ── disse o garoto, com um sorriso tímido.
Caitriona deu um tapinha amigável no ombro dele.
── De nada. Trabalhar duro é importante, mas não se esqueça de cuidar de si mesmo, certo?
O menino assentiu novamente e correu de volta para continuar suas tarefas. Caitriona observou-o por um momento, satisfeita por ter ajudado. Entretanto, ficou bastante incomodada ao ver uma criança tão nova naquele tipo de situação.
"Que desumano" Ela pensou. Depois, voltou sua atenção para os outros trabalhadores do porto, e começou a trabalhar.
CAITRIONA, FINALMENTE EXAUSTA após carregar 25 caixas de madeira pesadas, uma por uma, sem descanso, deixou-se cair no chão do porto. Sentada, com os braços apoiados nos joelhos, ela respirava pesadamente, tentando recuperar o fôlego. O suor escorria pelo seu rosto e ensopava sua blusa, colando o tecido à sua pele
Ela pegou uma garrafa de água que trazia consigo, abriu e tomou longos goles, sentindo o líquido aliviar sua sede. Com a manga da blusa, enxugou o suor da testa, observando o movimento ao seu redor. O porto estava em plena atividade, com trabalhadores indo e vindo, e o som das ondas quebrando suavemente contra os cascos dos barcos.
Enquanto descansava, ouviu ao longe o som distinto de cascos de cavalos aproximando-se. Ergueu a cabeça, intrigada, e viu um pequeno grupo de homens se aproximando pelo caminho de pedra que levava ao porto. Os cavalos eram robustos e os homens pareciam figuras de autoridade, vestindo uniformes brancos que indicavam serem oficiais da Marinha.
O grupo formados por oito homens pararam perto de onde Caitriona estava sentada. Um deles, um homem de porte altivo e expressão séria, desmontou e caminhou em sua direção. Ele a observou por um momento, reconhecendo a exaustão estampada em seu rosto.
──Você deve ser Caitriona D. Vachss ── disse ele, com um tom respeitoso. ── Ouvi falar de seu excelente trabalho por aqui. Meu nome é Capitão J. Randall. Preciso de alguém com suas habilidades. Você está disposta a ouvir o que tenho a dizer?
Caitriona, ainda sentada no chão, olhou para o capitão com olhos curiosos e uma pontada de surpresa. Ela respirou fundo e assentiu lentamente.
── Estou ouvindo, 'Capitão' ── respondeu ela, levantando-se lentamente, sentindo cada músculo doer.
── Ótimo, mas esse tipo de assunto não pode ser comentado em qualquer lugar. Acompanhe a mim e aos meus homens. Iremos levá-la a um local mais particular. ── Comunicou Randall
Caitriona fitou o capitão Randall por um momento, avaliando suas palavras. Depois de alguns segundos de silêncio, ela soltou uma risada alta e franca, surpreendendo os homens ao seu redor.
── Acompanhar você? ── ela disse, ainda sorrindo. ── Eu tenho muito trabalho a fazer por aqui. Não posso simplesmente largar tudo e ir embora.
O sorriso de Caitriona diminuiu um pouco quando percebeu a expressão séria e impassível no rosto de Randall. Ele não parecia achar graça na resposta dela. O capitão deu um passo à frente, e encarou Caitrona.
── Não sei se você percebeu, senhorita D. Vachss ── disse ele com uma voz firme e autoritária ── mas eu tenho muita autoridade por aqui. E quando eu digo que preciso de você, não é um pedido. É uma ordem.
As palavras de Randall fez com que o ambiente ao redor deles ficasse tenso. Caitriona encontrou seu olhar, sentindo uma mistura de irritação e receio. Ela sabia que se o respondesse de um jeito rude entraria em sérios problemas, então decidiu seguir com a vontade dele.
── Muito bem ── respondeu ela, sua voz agora mais séria. ── Se é tão importante assim, estou disposta a ouvir mais sobre. Mas espero que você entenda que estou deixando muitas responsabilidades aqui para trás.
Randall assentiu, satisfeito com a resposta dela, mas sem perder o tom de autoridade.
── Vamos discutir isso no caminho. Precisamos partir imediatamente. Agradeço sua compreensão.
Com isso, Caitriona pegou sua garrafa de água e a enfiou no bolso, se preparando para seguir o capitão. Enquanto caminhavam em direção aos cavalos, ela notou os olhares curiosos e ligeiramente apreensivos dos outros homens.
Ao chegarem aos cavalos, o capitão Randall se voltou para ela, avaliando-a por um instante antes de perguntar:
── Senhorita D. Vachss, você sabe montar? Precisa de ajuda?
Sem responder, Caitriona deu um impulso rápido e ágil, subindo no cavalo com uma habilidade evidente. Com um olhar neutro para Randall, ela respondeu:
── Não sei apenas montar em um cavalo, como também sei fazer outras coisas, Capitão.
Os homens de Randall trocaram olhares e alguns deles não conseguiram conter risadas abafadas, interpretando a frase de Caitriona com malícia. Ela notou os sorrisos disfarçados e os olhares de perversão, mas manteve sua expressão séria, desconsiderando as implicações.
O capitão Randall, por sua vez, estreitou os olhos ligeiramente, sem se deixar afetar pelos comentários implícitos de seus homens. Ele montou em seu próprio cavalo e sinalizou para que os outros fizessem o mesmo.
──Vamos ── disse ele, a voz carregada de autoridade.
Com isso, o grupo partiu, galopando em direção contrária onde se localizava o porto.
•Cenas em itálico, no início de cada capítulo, são flashbacks/sonhos.
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