𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟓

Talvez fazer compras sozinha estivesse no top 3 da minha lista de piores pesadelos.

Todos os dias eu precisava sair como uma doida pela cidade antes de finalmente poder voltar para a biblioteca, com o único objetivo de fazer as compras do dia. Minha mãe tinha o péssimo hábito de uma economia rígida - mais conhecida como muquirana -, e nunca comprava os mantimentos para que durassem o mês inteiro, o que acabava me obrigando a passar nos mercados praticamente todas as manhãs para que a gente não ficasse sem nada.

Não estava reclamando, no entanto, pois era nessas pequenas visitas que eu conseguia raptar alguma besteira de rápida absorção escondida junto com o restante das coisas necessárias, e isso era sempre um ótimo acompanhante para as longas manhãs que eu enfrentava antes do almoço.

A fileira dos salgadinhos me parecia particularmente tentadora e costumava me chamar com certa frequência, então decidi não ignorar esse chamado novamente e peguei o meu petisco favorito, o colocando na cesta que eu carregava antes de finalmente seguir direto para o caixa.

Geralmente as filas desse mercado não demoravam nem trinta minutos nesse horário de pouco movimento, e hoje também não estava sendo diferente. Tirei o breve momento para revisar minha lista mental de mantimentos, murmurando baixinho todos os itens enquanto esperava minha vez.

─ Bala de caramelo, marshmallow, uma barra de chocolate... ─ escuto atrás de mim a voz de uma pessoa que parecia ter o mesmo hábito que o meu, também citando os itens em um tom bem baixo para si mesmo.

Olhei para a mão dele por instinto e percebi que havia apenas alguns poucos itens, então decidi fazer um pequeno ato de boa vontade depois de um longo tempo sem ser bondosa ao me virar totalmente para ele.

─ Pode ir na minha frente, moço. Não estou com pressa.

─ [Nome]? ─ ele levantou o olhar um pouco surpreso, fazendo com que o capuz que cobria seu cabelo e parte de sua feição caísse para trás.

Geto estava com uma aparência mais normal do que nos outros dias, uma que o fazia facilmente ser confundido com qualquer pessoa sem pensar muito. Embora sua bochecha esquerda tivesse um pequeno curativo, ele parecia bem até demais.

─ Precisamos parar de nos encontrar, sério ─ murmurei com certa frustração, desviando minha atenção para os arredores antes de voltar a encarar ele ─ O que você tá fazendo aqui?

─ Dessa vez você não pode me acusar de que eu estava te seguindo ou algo do tipo, esse é o maior mercado da cidade ─ ele logo se defendeu, levantando as mãos em um gesto de derrota ─ E eu estava só comprando alguns doces.

Estreitei os olhos em desconfiança diante de sua declaração e fiquei alguns segundos em silêncio. Ele não parecia ser o tipo de cara que gostava de doces, e uma rápida conferida nas embalagens que ele carregava apenas comprovou minha teoria, pois ele aparentemente também não sabia escolher os melhores sabores.

─ Como você consegue andar por aqui sem ser identificado? ─ questionei pensativa, já que ele parecia tão desesperado na última ocasião.

─ Ah, mas não se engane, eu já fui sim. Muitas vezes, na verdade ─ ele confessa, passando na minha frente com um pequeno sorriso ─ É por isso que estou com pressa agora, então agradeço a sua oferta.

─ Não, espera aí ─ protestei contrariada assim que ele colocou os produtos na esteira. Eu não sabia que era ele antes, mas era tarde demais para me arrepender quando o atendente começou a escanear as embalagens ─ Droga.

Ele deu de ombros com a minha reação e apenas prosseguiu com sua vida, pagando sua mercadoria com o cartão que havia retirado da carteira. Foi realmente mais rápido do que eu esperava, e ele logo estava quase indo embora sem me entregar nenhuma outra palavra.

─ Você pode me dar um autógrafo? ─ a pergunta veio do garoto que estava embalando suas coisas, e ele tentou ser discreto ao abordar Geto com um sussurro, mas eu ainda o consegui escutar por estar perto o suficiente.

Não fiquei prestando tanta atenção na interação deles enquanto passava as minhas próprias compras, mas não perdi a oportunidade de confrontá-lo novamente quando terminei de finalizar a tarefa e reconheci que ele ainda estava conversando com o rapaz.

Percebendo a minha aproximação inesperada, o moreno sorriu para o garoto e se apressou em se despedir dele com alguma desculpa de atraso, pois aparentemente já havia assinado um daqueles DVDs de colecionadores que saíram da moda a muitos anos atrás – mesmo que eu também achasse estranho ter um desses atualmente.

─ Então, quer dizer que pra homens você dá a sua preciosa atenção e até um autógrafo? ─ ergui a sobrancelha com um tom de brincadeira e coloquei a mão na cintura distraidamente em um pequeno desafio quando ele me alcançou ─ Em que time você joga, afinal?

─ E isso te interessa? Não é como se eu fosse flertar com você ─ ele devolveu o meu tom, parando na minha frente enquanto estávamos quase perto da entrada do mercado.

─ Ainda bem, odiaria ter que ser a responsável por quebrar o coração de alguém tão requisitado.

Ele balançou levemente a cabeça em descrença e passou a mão pelo cabelo logo em seguida com uma expressão nublada, como se estivesse buscando as palavras certas para me contar alguma coisa.

─ Escuta, me perdoe pelo que aconteceu ontem. As meninas me contaram depois que só foram te encontrar para buscar meu capacete, e por coincidência uma senhora as achou antes que chegassem na biblioteca.

Não esperava que ele me pedisse perdão por um evento tão simples, e eu realmente também não esperava que ele tivesse irmãs que se preocupassem tanto com ele assim a ponto de saírem sozinhas sem aviso para buscar um pertence dele com uma pessoa totalmente desconhecida. Mas em toda essa situação, ainda tinha um pequeno detalhe que continuava martelando na minha cabeça:

─ Elas sabiam meu nome. Você por acaso falou alguma coisa de mim?

Geto paralisou por um momento e se enrolou um pouco antes de me responder, mas limpou a garganta suavemente e fez o trabalho astuto de tentar mudar de assunto com uma agilidade impressionante.

─ Primeiramente, por que você as deixou te puxarem pra dentro da minha casa? Poderia facilmente ser alguma armadilha de uma pessoa mal-intencionada. Talvez você seja meio sonsa, não?

Em certo ponto, ele tinha razão. Eu havia agido por total impulso, bem daqueles tipos em que você só percebe o que está fazendo quando sofre as consequências - sejam elas boas ou ruins. Crianças sempre foram o meu ponto fraco, e eu queria ter a confiança de que elas estivessem protegidas na casa correta. Porém, isso não dava a ele o mínimo direito de ficar jogando fatos na minha cara.

─ Sonsa?! Foi você que deixou o capacete na minha biblioteca pra começo de conversa, e foi por isso que essa história começou, então a culpa é toda sua.

─ Eu já disse que deixei o capacete lá porque eu te fiz aquela maldita promessa, e eu não quebro promessas por mais que sejam idiotas! E isso não tem nada a ver com você entrar na casa de estranhos sem qualquer hesitação. Você precisa aprender a ser mais esperta as vezes.

─ Ah, é? E é você que vai me ensinar?

─ Acho que você já é grande o suficiente pra aprender sozinh... ─ ele pausa como se algo diferente tivesse surgido em sua mente e me olha com um sorriso que não parecia nada bom antes de mudar o tom novamente ─ Sabe, eu ainda preciso comprar uma palheta nova, mas infelizmente tô mais do que atrasado. Sei que vai ser um pequeno incômodo, mas pode fazer um favor pra mim?

─ Ahm, eu tenho meus próprios compromissos, se você não percebeu ─ levantei as sacolas em minhas mãos para evidenciar o meu ponto, pois não estava nem um pouco disposta a realizar nenhum favor.

─ Vamos dizer que esse é o primeiro passo se quiser aprender comigo.

─ Eu não estava falando sério. Você também não é um dos mais espertos, se quer realmente saber. Entregar a identidade errada em um local público não foi o ato mais inteligente que já vi na vida.

Meu coração errou uma batida quando a última palavra saiu da minha boca, e percebi por breves segundos que aquela não havia sido a melhor escolha de exemplo a se citar diante dele. Me lembrei em como ele mudou de expressão repentinamente quando descobri que ele fazia parte da máfia, e não estava a fim de vê-la de novo. 

Ele nem havia dito nada ainda, e eu também não esperei uma reação aparente, mas meu medo resolveu tomar o controle e rapidamente levantei a mão em um gesto de paz.

─ Mas nada me impede de te ajudar agora, não é? ─ o entreguei um meio sorriso forçado, torcendo para que ele não tivesse dado tanta importância para o comentário da identidade.

Ele franziu a sobrancelha em confusão com a minha mudança, mas não reclamou quando me mostrei determinada a fazer o que ele queria.

─ Tudo bem ─ ele concordou, procurando a carteira novamente no bolso e tirando algumas poucas cédulas para me entregar, assim como um cartão parecido com o que ele havia me oferecido antes ─ Compra qualquer palheta que você achar legal na loja mais próxima que tiver e leva pra mim nesse endereço. Vou deixar avisado que você pode entrar.

Estudei o novo cartão nos meus dedos e fiquei um pouco incerta quando descobri que nele continha informações de uma agência com o ponto do outro lado da cidade. Claro, esse lugar tinha que ser o mais distante possível para dificultar ainda mais o meu trabalho.

─ Sem problemas então, vou levar a palheta pra você ─ suspirei exasperada, e embora não quisesse fazer isso, eu mesma havia me condenado.

─ Tenho que ir agora, mas muito obrigado, de verdade. Você não tem ideia do quanto tá me ajudando ─ ele se aproxima com a intenção de me dar um pequeno tapinha de conforto no meu ombro, mas recua a mão antes de me tocar por algum motivo e apenas se contenta em sorrir levemente, seguindo para fora do mercado.

─ E você não tem ideia do quanto tá me atrapalhando ─ resmunguei para mim mesma, o seguindo com os olhos até que ele sumisse da minha vista.

Não havia muitas opções para mim no momento, então decidi guardar o dinheiro que ele me deu e respirei fundo para controlar minha crescente frustração. Estava óbvio de que eu também me atrasaria para abrir a biblioteca, e atrasaria principalmente com as minhas tarefas que eu gostava de deixar prontas antes do primeiro lanche da manhã.

Comecei logo a caminhar pelas ruas estreitas com as sacolas nas mãos, meus passos ecoando suavemente no calçamento de paralelepípedos enquanto procurava por uma loja de música com meus olhos.

Essa era uma cidade consideravelmente pequena em relação as demais ao redor, então os estabelecimentos não eram tão distantes e sempre tinha alguma loja assim em cada bairro, ou pelo menos foi o que esperei que tivesse com o decorrer do tempo que eu passava em busca de alguma.

Finalmente consegui encontrar uma aberta depois de uma longa procura e não hesitei em entrar, sendo recebida por um garoto de cabelos negros levemente arrepiados que apenas me encarava do fundo da loja. Eu não era muito fã de instrumentos ou acessórios musicais, mas não deixei de apreciar a variedade da loja antes de chegar ao balcão.

─ Bom dia, vocês teriam palhetas aqui? ─ me apoiei na superfície fria, observando o menino se estender para abrir uma das gavetas ao seu lado que revelava algumas caixas com o objeto.

─ Tem alguma preferência? ─ ele questionou enquanto fechava a gaveta e eu apenas neguei com a cabeça, fazendo com que ele despejasse as palhetas da caixinha sobre a mesa com cuidado ─ Então pode escolher.

Segui o trajeto das palhetas conforme elas se espalhavam, não fazendo a mínima ideia se existia algum tipo de nível de excelência para escolher. Geto havia me dado a liberdade para comprar qualquer uma, mas eu ainda estava indecisa com tantas cores e tipos. Logo, tentei me distrair com outra coisa para não fazer a escolha errada que ele poderia odiar por pressa.

─ Garoto, você não é um pouco jovem demais para estar cuidando de uma loja de música sozinho? ─ olhei para o menino que se apoiava no balcão da mesma maneira que eu, atento aos meus dedos com certa curiosidade.

─ A loja é do meu pai, só estou ficando para ele aqui por enquanto.

─ Hmm, entendi ─ murmurei em concordância, voltando a analisar as palhetas por um momento para pegar uma escura com o desenho de uma guitarra ─ Então vou ficar com essa aqui, obrigada.

O moreno conferiu e rapidamente puxou um caderninho que tinha uma tabela daquela mesma gaveta para confirmar o valor, me informando com um pequeno sorriso. Paguei a ele o que era previsto e ele me entregou uma sacola para levar, mesmo eu insistindo que não precisava por ser algo tão pequeno.

Agora eu só precisava passar em casa primeiro, já que ela estava mais perto do que a biblioteca, para deixar as compras em um local seguro e me poupar de carregar pesos desnecessários pela cidade inteira.

{. . .}

A atmosfera movimentada da agência refletia a recepção, que exibia um cenário frenético e repleto de energia. O espaço, decorado com painéis de artistas renomados e prateleiras cheias de troféus musicais, vibrava com a paixão pela indústria. Em toda aquela agitação, a recepcionista com uma grande cicatriz no rosto era a que mais chamava a atenção.

A mulher, trajando um blazer impecável e uma postura de comando, estava imersa em sua mesa de trabalho. Montanhas de papéis ameaçavam desabar, mas ela parecia se equilibrar com maestria nos documentos. 

Seus dedos ágeis dançavam entre contratos, itinerários e planilhas, enquanto ela navegava entre dois telefones, cada um preso firmemente a uma orelha, como se fossem extensões naturais de sua própria pessoa.

Quando a observei de longe, foi impossível não sentir empatia por toda aquela pressão que ela tinha sobre os ombros no momento, mas rapidamente me aproximei para poder conversar com ela.

─ Com licença, eu-

─ Ah, você é a nova agente, né? ─ ela pareceu encontrar o papel que procurava e não esperou que eu terminasse de falar quando me viu ─ Está atrasada, suba depressa porque Kenjaku já está uma verdadeira fera lá em cima. Ele está na quarta sala da esquerda, terceiro andar.

─ Não, acho que você me confundiu, eu sou-

Ela me ignorou novamente e se levantou com pressa para entregar os documentos em sua mão para a outra colega da mesa ao lado enquanto eu permaneci parada com uma cara de boba falando com o vazio.

Talvez eles não estivessem em uma boa hora para receber pessoas, mas eu também não estava em uma boa hora para ficar aguardando pacientemente a minha vez de ser atendida para explicações. 

Se Geto queria tanto essa palheta, então eu iria entregá-la logo para ir embora. Além disso, ele estava esperando a minha chegada de qualquer maneira, e agora eu sabia onde ele se encontrava.

Soltei um suspiro desmotivado ao olhar para a mulher antes de seguir para o elevador do prédio, apertando o botão do andar indicado. De início achei que fosse subir completamente sozinha, mas um rapaz com uma aparência peculiar e de cabelos de coloração rosa impediu que a porta se fechasse no último momento para entrar também, se posicionando ao meu lado no pequeno espaço.

Ele estava vestindo roupas muito parecidas com o estilo de um metaleiro, existia algumas tatuagens estranhas em seu rosto e usava óculos escuros - o que julguei sem pensar por estarmos em um lugar fechado -, mas analisando de perfil dava para notar que na verdade seu olho estava um pouco inchado por um hematoma recente, como se tivesse levado algum soco. 

Provavelmente fiquei procurando detalhes por tempo demais, pois ele virou o rosto para mim no mesmo instante e me encarou de volta com a mesma intensidade.

─ Eu nunca te vi por aqui, você é nova? ─ ele finalmente perguntou, e eu não fui capaz de decifrar sua expressão com certeza.

─ Na verdade, não. Estou apenas de passagem, não trabalho aqui.

─ Hmm, adorei o estilo ─ ele sorriu sarcasticamente, dando uma longa olhada em mim da cabeça aos pés.

Nunca fui uma pessoa que se importava com aparências ou que estava sempre ligada nas tendências atuais, então tinha conhecimento que meu estilo não era um dos melhores para se basear como um ótimo padrão, mas com certeza não queria ter que ouvir isso de um metaleiro sem o menor senso de moda.

─ Igualmente ─ devolvi seu sorriso com a mesma expressão, desviando o olhar para a porta do elevador para evitar a continuação da conversa.

Para o meu alívio, o elevador não demorou para chegar no meu andar e a porta logo se abriu com seu som característico, me fazendo sair em passos apressados sem olhar para trás. Mesmo que fosse estranho, esse cara me dava certos calafrios que eu não sabia identificar apenas por estar em sua presença, um pouco similar com os que tive com Geto na primeira vez que seus olhos escureceram.

O corredor que estava na minha frente era iluminado por luzes suaves que destacavam mais pôsteres de artistas consagrados e discos de ouro pendurados nas paredes. O carpete macio absorvia o som do meu sapato quando eu pisava, criando uma atmosfera silenciosa e respeitosa – completamente diferente da parte de baixo.

À medida que me aproximei da sala da esquerda, uma porta específica chamou minha atenção. A porta que eu deveria abrir tinha uma placa dourada brilhante, indicando que ali era um espaço reservado. 

Hesitei por um momento antes de girar a maçaneta devagar e abrir a porta. Ao fazê-lo, me deparei com uma sala elegantemente decorada com janelas que iam do chão ao teto e que evidenciavam a bela vista da paisagem da cidade, criando uma atmosfera acolhedora.

Geto estava parado de costas ao lado de uma grande mesa no centro de tudo com a vestimenta semelhante ao rapaz de antes, e não se incomodou em conferir quem havia entrado antes de explodir com uma voz elevada e frustrada.

─ Onde você estava?! Eu preciso de uma mãozinha aq- ─ ele se vira para mim, arregalando os olhos levemente ao me reconhecer pela segunda vez ─ [Nome]? O que tá fazendo aqui?

─ Como assim o que tô fazendo aqui? Foi você que me pediu para trazer isso ─ o lembrei, colocando a palheta em uma mesinha de canto perto da entrada enquanto o observava voltar a se ocupar atentamente.

─ Tsc, péssima hora ─ ele resmungou, mordendo o lábio inferior em concentração enquanto tentava passar a linha pela agulha que segurava, falhando miseravelmente ─, mas já que está aqui, pode me ajudar?

─ De novo? Acho que vou começar a cobrar pelos meus serviços ─ brinquei, tirando a agulha da mão dele para passar a linha sem nenhuma dificuldade, entregando a ele novamente depois de um momento.

─ Ok, eu não esperava que fosse tão fácil assim ─ ele analisou a agulha com a linha, franzindo o cenho pela demonstração.

─ Por que você tá usando um kit de costura agora? ─ questionei confusa, desviando a atenção para a mesa central que estava bagunçada com alguns objetos como aquele kit e retalhos.

─ Estou tentando costurar a minha jaqueta desde que cheguei, mas ainda não tinha conseguido colocar essa maldita linha ─ ele pegou a jaqueta de um cabide que também estava estendido e se sentou em uma das cadeiras, procurando o local rasgado para a manutenção.

─ Me dá isso aqui, só esse furinho não era para demorar tanto ─ protestei ao pegar a jaqueta antes que ele pudesse começar, puxando uma cadeira para me sentar de frente a ele e estendendo a mão para que ele me entregasse a agulha.

Embora minha vontade de auxiliar ele de maneira genuína fosse totalmente inesperado até para mim, ele não tentou me parar quando me entregou a agulha e apenas apontou para onde eu deveria costurar.

Não demorei para iniciar o processo, e consegui sentir que seus olhos atentos estavam em mim o tempo todo durante minha atividade, me estudando com precisão em silêncio enquanto eu evitava levantar a cabeça para encontrar seu olhar. De repente, a porta se abriu e a sensação de ansiedade ecoou por toda a sala, como se fosse a chegada de um grande anúncio muito importante.

─ Kenjaku, eu consegui! A vaga é nossa.

Aquele barulho repentino e a voz da garota que entrou após ele me assustaram ao me tirarem da minha nuvem de concentração e acabei me furando sem querer com a agulha. O pequeno ponto vermelho no meu dedo resultou em uma fina linha de sangue e uma leve sensação de ardência que me fez sibilar brevemente enquanto colocava o dedo na boca para algum alívio.

Fazer compras sozinha havia passado para a quarta posição da minha lista de forma oficial, pois costurar com barulho sem dúvidas merecia o novo top 1. 

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