𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟒
Eu confrontei um mafioso. Não foi tão emocionante como naqueles filmes que retratam uma grandiosa máfia utópica, mas eu consegui fazer isso.
Segurei o braço dele e o impedi de completar o que queria sem levar um belo tiro na testa, e ainda fui capaz de pegar o número de seu telefone sem nenhum pedido formal. Foi o contato mais fácil que já tive na vida. Na verdade, eu diria que aquilo tudo foi apenas um raro evento de loucura, mas com certeza não tentaria de novo nem se estivesse nos meus dias mais suicidas.
Meu coração estava batendo mais forte do que o normal, e minhas mãos estavam suando frio enquanto me apoiava em uma das estantes para suporte. Por um momento lá, pensei que Haibara realmente seria morto e não houvesse nada que eu pudesse fazer em relação a situação.
Conheço aquele garoto a muitos anos, pois ele sempre foi o meu companheiro de leitura durante o tempo que passei sozinha, e me culparia até a morte se algo tivesse acontecido com ele.
Geto é alguém que se define por ondulações de personalidade que não fazem parte do meu entendimento. Pelo pouco que percebi, ele é o tipo de pessoa que você cumprimenta uma vez e espera nunca mais vê-la novamente. Não estava sendo esse o meu caso. Eu não sabia o que ele queria, não sabia de suas reais intenções e não sabia o motivo para ele continuar visitando a biblioteca todos os dias depois daquela noite.
Tudo bem, eu descobri que o guitarrista da maior banda do país é um fodido mafioso da pior família possível, mas e daí? Não são questões da minha vida em jogo, e não deveria ser eu a julgá-lo por algo que desconheço.
Com essas questões martelando em minha mente, respirei fundo uma última vez e me preparei para iniciar o dia que estava apenas no começo, indo em direção ao meu assento atrás do balcão. Mas antes de alcançar ele, meus olhos se voltaram para a cadeira onde deixei minha mochila mais cedo e não evitei em soltar um suspiro frustrado. Ah, o capacete. O maldito capacete que Geto estava carregando aqui dentro quando entrou estava ali e aposto que ele havia esquecido também.
Mesmo que quisesse me convencer de que ele não pisaria aqui de novo, o capacete me deixava essa suspeita de que eu estaria errada. A chance de ele voltar era muito grande, já que provavelmente não iria embora sem pegar o seu devido pertence. Sem muitas opções, decidi apenas seguir com minha rotina e continuei o que estava fazendo antes de sair correndo em desespero, tentando esquecer sobre tudo relacionado a ele por um tempinho.
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Os brilhantes raios de sol de tom alaranjado que refletiam na janela de vidro ao meu lado evidenciavam o término de um longo dia para que a noite enfim tivesse seu início. Para a minha surpresa, Geto não voltou para buscar o capacete e nem sequer apareceu para pegar sua moto que continuava estacionada do lado de fora.
Sabia disso pois fiquei encarando aquele mesmo ponto durante praticamente o dia inteiro sem pausas, e não consegui focar nas minhas tarefas usuais por causa dele. Agora eu que estava ficando obcecada, e ele ainda nem apareceu na minha frente novamente para que esse sentimento se tornasse mais forte.
Retirei o cartão que ele me entregou do meu bolso e permaneci olhando para aquilo como se fosse uma fonte inimaginável de ouro, enquanto meus olhos se estreitavam em meio a pensamentos. E então, me recordei de sua declaração de que poderia ligar para ele quando estivesse precisando de ajuda.
Quem ele pensou que era quando me entregou isso? Algum tipo de herói? Eu não iria precisar de ajuda, e mesmo que precisasse, ele seria a última pessoa para a qual eu ligaria se estivesse em perigo. Quer dizer, era para isso que existia a polícia, afinal de contas.
─ [Nome] ─ a voz da minha mãe ecoou nos meus ouvidos e rapidamente desviou meu foco, me fazendo guardar o cartão com uma rapidez que conseguiu me espantar. Por que eu estava escondendo isso? ─ Você pode ajudar essas duas a encontrarem o caminho de casa?
Levantei o olhar para saber de quem ela estava falando e me deparei com duas lindas garotinhas bem mais novas do que eu, que provavelmente estavam entrando na puberdade agora. Pareciam gêmeas, mas uma possuía o cabelo castanho e a outra se exibia com seu loiro um pouco escuro. Inclinei a cabeça com curiosidade genuína diante delas, esperando que minha mãe explicasse melhor a situação. Ela quase nunca aparecia na biblioteca quando sabia que eu estava cuidando das coisas, então era estranho que estivesse aqui a esse horário e ainda acompanhada de duas meninas desconhecidas.
─ Ou apenas acompanhá-las, eu acho ─ ela continua, alternando o olhar entre as garotas.
─ Senhora, a gente não tá perdida ─ a loira confessa quando minha mãe a encara demais, entregando um sorriso tranquilizador.
─ Nada disso, eu não escutarei vocês ─ a mais velha levanta a mão com indignação para impedir que elas continuassem a debater sobre isso. Clássico, ela sempre foi teimosa ─ Quem é o irresponsável que deixa crianças andarem sozinhas em uma cidade como essa? Céus, estamos no fim mesmo.
As garotas se entreolharam e apenas desistiram de tentar a convencer com palavras, pois provavelmente sabiam que não poderiam fazer nada quando já haviam chegado até ali.
─ Eu vou ficar aqui na biblioteca enquanto você estiver fora, então não se preocupe com as suas tarefas. Eu até as levaria, mas minhas pernas ainda estão doendo muito depois de... ─ ela pausa antes de terminar a frase, e eu sabia que não iria continuar a citar aquilo quando já discutimos sobre isso antes ─ Enfim, poderia fazer esse favor para mim?
─ Tudo bem, eu acompanho elas ─ assegurei, me levantando para me aproximar ─ Não se esforce tanto, ok mãe? ─ sussurrei discretamente quando passei por ela, mas meu tom ainda tinha uma certa acusação que apenas ela entendia ─ Vamos?
Me virei para as meninas com um sorriso e coloquei a mão nas costas de cada uma para as guiar gentilmente para fora da biblioteca, deixando minha mãe sozinha enquanto começava a seguir pelas ruas da cidade.
─ Perdoem a minha mãe por forçarem vocês a segui-la, ela é só um pouquinho superprotetora demais ─ suspirei assim que chegamos longe o suficiente, minhas mãos se escondendo no bolso da minha calça por causa da leve brisa fria do fim da tarde ─ E então, onde vocês moram?
─ Não se preocupe, a gente te leva ─ a loira disse com animação, parecendo empolgada com minha presença.
Minhas mãos não duraram muito tempo em seus lugares, pois as duas garotas as puxaram e as seguraram firmemente, me liderando por um caminho diferente do que eu estava acostumada. As casas ao redor começaram a mudar de padrão, e logo percebi que estávamos entrando em um bairro mais nobre que nunca ousei chegar perto por estar repleto de patricinhas e pessoas esnobes.
Não iria me espantar nem um pouco se descobrisse que essas meninas fizessem parte desse mundo, para ser sincera, visto que se vestiam muito bem e tinham uma postura diferenciada em seus passos.
─ Já que vamos ficar juntas por um tempo, seria melhor nos conhecermos melhor ─ quebrei o silêncio, balançando minhas mãos para frente e para trás enquanto dava um aperto amigável em ambas as mãos quentinhas que me seguravam ─ Qual é o nome de vocês?
─ Eu sou a Mimiko, e essa é a Nanako ─ uma delas se pronunciou, me olhando com um lindo sorriso.
Mimiko era a única pessoa que conversava comigo, e até o momento, só ouvi a voz dela. Nanako parecia ser mais reservada, mesmo que mantivesse o contato físico comigo. Não tinha intenção de pressioná-la, de qualquer forma. Eu entendia como era, então não me importava se ela preferisse ficar em silêncio.
─ Então muito prazer, eu sou a [Nome].
─ É, a gente sabe.
─ Vocês... ─ pisquei os olhos, inclinando a cabeça para elas em completa confusão ─ Vocês sabem?
─ Olha, chegamos! ─ Mimiko de repente solta minha mão, e sua irmã faz o mesmo para correr em direção a uma casa que estava do outro lado da rua.
─ Espera, como assim vocês sabem? Ei, meninas!
Rapidamente corri atrás das garotas para não as perder de vista, afinal, elas ainda estavam sobre a minha total responsabilidade. A casa singular em que elas pretendiam entrar não aparentava ser tão chique como as outras, e sua fachada era realmente simples com um toque de tons escuros bem específicos, mas parecia ser bastante confortável por dentro. O tipo de construção que você não dá nada por ela, mas te surpreende com a particularidade do interior.
Me apressei e consegui seguir o ritmo delas, trilhando com elas para dentro da casa pelo quintal com passos cuidadosos. A porta da frente estava destrancada, então elas entraram sem hesitar, indo pelo hall em direção a um novo conjunto de escadas que levava para baixo, provavelmente para um porão.
Perfeito, elas já estavam sãs e salvas em casa e eu poderia finalmente ir embora. No entanto, ao ver a porta aberta e espiar o interior da casa, minha curiosidade aumentou, e fiquei lá parada apenas observando por um momento. Antes que eu pudesse tomar uma decisão impulsiva, Mimiko voltou do caminho dela e segurou minha mão novamente, deixando-me em dúvida sobre suas intenções.
─ Vem, você pode ser nossa convidada ─ ela entrelaça seu braço no meu e continua me guiando pela casa até para onde elas estavam indo inicialmente.
Eu realmente não estava com moral nenhuma para protestar diante da aura adorável que rodeava essa garota, e era impossível ignorá-la para simplesmente sair agora. Mas não poderia mentir que ainda estava com certo receio de permanecer aqui, pois provavelmente elas teriam pais presentes e não tenho muita segurança se minha visita inesperada seria bem aceita por eles. Em uma segunda visão, acho que precisava no mínimo entregá-las pessoalmente apenas para ter certeza.
No fim das escadas havia um porão comum e pequeno assim como eu suspeitava, as paredes eram de tijolos aparentes e a atmosfera do ambiente era um pouco escura mesmo com a boa iluminação. Embora fosse de fato um porão, a funcionalidade daquilo estava mais para uma academia improvisada.
Era em um estilo minimalista, mas muito bem limpa e moderna. Existiam talvez três sacos de pancada espalhados pelo cômodo e uma esteira no canto da sala, isso com os outros diversos equipamentos que eu não conseguia distinguir muito bem.
O indistinguível som de socos potentes se chocando contra um desses sacos vermelhos logo preencheu o ar quando nos aprofundamos mais no espaço, e Nanako abriu um grande sorriso pela primeira vez ao disparar pelo lugar para alcançar a figura que era a fonte daquele barulho.
─ Maninho! ─ ela abre os braços e corre para abraçar o... Irmão?
─ Geto?!
Nem fudendo. Sem chance mesmo. Aquelas garotas eram irmãs do maldito sujeito que estava me perturbando tanto nos últimos dias? Com certeza deve ser alguma piada com a minha cara. Coincidências tão bem planejadas assim não existiam na vida real, ou pelo menos não deveriam.
O moreno parece surpreso em me ver de início, mas dá de ombros com a minha presença quando percebe suas irmãs se aproximando. Não consegui evitar de fazer uma pequena checagem nele enquanto isso. Ele estava vestindo apenas uma regata preta e uma calça de moletom cinza. Suas mãos estavam enfaixadas, seu cabelo preso em um coque desleixado e o suor que ainda cintilava em sua pele devidamente bronzeada evidenciava muito bem todos os traços de seu físico forte.
Meu Deus, tocar naqueles músculos deveria ser considerado um verdadeiro pecado. Era isso que as garotas genuinamente pensavam quando encontravam fotos de corpos assim no Instagram ou outras redes sociais parecidas? Pensamento interessante para quem se importa com o exterior, mas o corpo de Geto não era a única coisa que me incomodava nele.
─ Droga, não fique me chamando assim por aí ─ ele segura Nanako no colo quando ela chega perto e estreita os olhos para mim, enquanto a menina dá a ele um abraço caloroso ─ Se não for usar Kenjaku, pelo menos diga Suguru.
─ Perdão, senhor mafioso. Prefere que seja assim?
─ Estou vendo como a sua palavra vale muita coisa ─ ele declara em um tom de sarcasmo e reprovação, colocando a garota de volta no chão com cuidado após devolver seu abraço ─ Não teste tanto a sua sorte, ela nem sempre vai estar ao seu lado.
─ De que sorte você está falando? ─ rebato, devolvendo a mesma reprovação ─ Vamos ser francos, seria sorte mesmo se eu não tivesse te conhecido.
A esse ponto, eu não ligava para nada disso mais, estava apenas o vendo como um idiota que entrou na minha vida sem querer e que continuava aparecendo sem ser convidado.
─ Aí está, é exatamente por isso que você continua viva. Gosto dessa sua coragem. Você diz que não tem sorte nenhuma, e ainda continua se arriscando a discutir comigo.
Fiquei desacreditada por um momento e abri a boca para falar, mas logo a fechei novamente quando percebi que não tinha nada para declarar diante da situação. É claro, ele devia estar acostumado com as pessoas apenas abaixando a cabeça para ele sem conversas ou contradições em relação a seus pontos na primeira vez que ele dirige a palavra a elas. Não parecia muito com a minha praia, no entanto. Poderia até ser o papa na minha frente agora, eu realmente não me importava se tivesse que defender alguma coisa.
Pensei que ele continuaria com a conversa para zombar do meu silêncio em seguida, mas ele rapidamente desviou a sua atenção de mim quando viu minha inquietação.
─ Nanako, pode fazer um favor para o maninho? ─ ele se agacha para ficar no mesmo nível que a garota e coloca gentilmente uma mecha solta de cabelo atrás da orelha dela ─ Subam para o quarto de vocês, e não esqueçam de comer o jantar que preparei. Hoje eu vou demorar para voltar, então também não precisam me esperar.
Nanako balançou a cabeça positivamente com um sorriso e deu um último abraço nele antes de se aproximar de mim para segurar a mão de Mimiko, que continuava segurando a minha. Com uma rápida olhada para o meu rosto, ela apertou minha mão em um gesto reconfortante assim como fiz com elas na rua mais cedo e me soltou para sair com a irmã até onde Suguru havia as indicado, me abandonando para lidar sozinha com aquela presença devastadora.
O silêncio que se fez presente em seguida se tornou um pouco desconfortável, e eu estava prestes a ir embora definitivamente agora que sabia que estava tudo certo. No entanto, quando meus pés alcançaram o primeiro degrau da escada, a voz grave de Geto ecoou nos meus ouvidos como o sino de uma igreja em uma cidade vazia, e fui obrigada a parar o meu trajeto.
─ Obrigado por trazê-las. Eu as avisei para não ir atrás da moto, mas elas nunca me escutam.
A moto. Realmente, eu continuava imaginando que ele tinha um bom motivo para não ter retornado por ela, mas talvez a memória dele fosse tão ruim quanto a minha.
─ Achei que tivesse esquecido, já que você nem voltou para tirá-la da rua ─ apontei com uma voz baixa, virando lentamente meu corpo para encará-lo novamente.
─ Não esqueci, só decidi que vou buscar ela depois. Preciso comprar um capacete novo primeiro.
─ Capacete novo?
─ Sim, eu deixei o meu na sua biblioteca. E se não me engano, eu fiz uma pequena promessa, então digamos que não posso resgatar ele de lá por conta própria.
Não consegui evitar e soltei uma risada anasalada, balançando a cabeça e umedecendo os lábios em completa descrença com aquela decisão inusitada. Ele estava falando sério? Não era capaz de acreditar que ele compraria um capacete novo só porque prometeu que não pisaria mais na biblioteca. E ele poderia facilmente ter pedido para eu devolver do lado de fora, caso fosse necessário. Quem era esse cara, afinal?
─ Certo, então... ─ tentei começar algum assunto após isso, colocando as mãos nas costas e andando até ele para analisar os elementos ao redor ─ Você luta, né? Interessante.
─ Lutava, para ser mais exato. Hoje só continuo treinando por diversão, e para não me perder no meu próprio vazio ─ ele murmurou a última parte, e eu apenas a ignorei já que mal consegui entender.
Na verdade, não esperava que ele realmente lutasse, mas foi um ótimo palpite quando observei aqueles equipamentos e a postura dele enquanto estava socando o saco de pancadas.
─ E essa coisa toda, foi você que montou? ─ perguntei com curiosidade, gesticulando para o cômodo.
─ Ah, sim. Foi eu que trouxe tudo isso para cá, uma jogada improvisada para me ocupar. Eu não gosto muito daqui na realidade, mas é o melhor para elas ─ ele comenta olhando para cima, provavelmente se referindo as suas irmãs.
Dei mais algumas voltas pelo porão enquanto ele falava, e quando parou, me aproximei mais dele para continuar a responder. Porém, o tom de vermelho carmesim que manchava a faixa de suas mãos me pegou desprevenida e diversos pensamentos surgiram na minha cabeça como uma chuva de negatividade no mesmo instante.
─ Isso é sangue?
Meu questionamento repentino o fez recuar um pouco, mas ele apenas inclinou a cabeça em um gesto despreocupado e seus olhos logo escureceram assim como naquela noite na biblioteca. Merda, eu não devia ter apontado esse detalhe, e agora só estava cavando minha própria cova como uma idiota. Não faço a mínima ideia de como ele conseguiu aquela mancha, e pelo jeito como reagiu, também não gostaria de descobrir. E se ele matou uma pessoa? Ele ainda era um criminoso, apesar de tudo.
Engoli em seco e apertei os lábios enquanto começava a suar frio, minhas mãos se abrindo e fechando em punhos ao lado do meu corpo como forma de tentar me acalmar. Não consegui esconder a minha surpresa, e ele pareceu ter percebido minha reação.
─ O que foi, princesa? ─ ele pergunta com um tom perigoso e se aproxima de mim devagar, me fazendo dar passos para trás na mesma velocidade até que minhas costas encontrem a frieza dos tijolos atrás de mim ─ Está assustada?
Seu corpo parou de imediato quando alcancei a parede, e não ficou tão perto do meu para me encurralar como pensei que faria, mas estava próximo o suficiente para que pudesse tocá-lo se estendesse meu braço. Sua figura era realmente grande comparada a minha e poderia me amedrontar de verdade se eu não soubesse que ele não me machucaria no momento.
─ Não, você não me assusta ─ confessei ao erguer levemente a cabeça, mantendo o contato visual.
Embora eu estivesse bastante confiante, ele ergue uma sobrancelha desconfiada. Seu olhar desce vagarosamente até o meu peito, permanecendo lá por um tempo que parece longo demais, enquanto minha respiração se acelera um pouco.
─ Então por que seu coração está batendo tão rápido? ─ ele encontra meu olhar novamente e um sorriso triunfante se espalha pelo seu rosto.
Isso era ruim, muito ruim. Ele era perceptivo demais para o próprio bem dele. Eu de fato estava apavorada com os meus devaneios nada favoráveis, mas não deixaria que ele descobrisse sobre essa circunstância agora.
─ Porque você é meio fofo ─ menti, esperando pelo menos tirar alguma reação envergonhada da parte dele.
─ Fofo? Não é isso que as mulheres costumam dizer de caras como eu.
─ E não acha que é legal variar um pouco? Caras como você também merecem ser reconhecidos de outras formas.
─ Mas fofo com certeza não seria uma delas.
─ Depende do ponto de vista. Eu te acho fofo. Muito ─ o provoquei com um pequeno sorriso, enquanto seus olhos não desviavam dos meus nem por um segundo em busca da minha real intenção. Nada disso era verdade, mas sua reação era realmente divertida de assistir ─ E aquelas menininhas também parecem pensar o mesmo.
Sem receber uma resposta imediata, tento levantar a mão para encostar na bochecha dele para levar meu ponto mais longe. Eu estava o testando mais do que o necessário, mas pouco me importava a essa altura. Porém, ele logo se afasta em um impulso como se fosse um animal assustado quando estou prestes a tocar a sua pele. Recuei minha mão no mesmo instante, franzindo o cenho com suspeita. Não esperava por essa nem nos meus cenários mais distorcidos.
Ele faz uma breve pausa e pigarreia suavemente, cobrindo a boca ao se virar na direção oposta para esconder o ligeiro rubor que surgia em seu rosto.
─ Ok, já chega, vamos parar com isso. Tá me fazendo me sentir um idiota ─ ele resmunga, soltando um longo suspiro ─ E relaxa, esse sangue é meu ─ finalmente confessa, tirando as faixas da mão para revelar um pequeno corte entre os dedos.
─ Nossa, sinto muito ─ disse com certa pena quando olhei para aquilo. O corte realmente parecia profundo visto daqui.
─ Não sinta, foi só um simples acidente ─ ele declara, se afastando de mim e me dando espaço para regular a minha respiração enquanto volta a enfaixar os dedos novamente.
De repente, uma risada de uma nova voz ecoa no ambiente e escuto passos apressados descendo as escadas com uma animação que era percebida pela energia. Uma figura masculina de cabelos brancos e silhueta esguia logo aparece na minha visão quando encaro a perspectiva da escada. Suas roupas eram tão simples quanto as de Geto, e seus olhos eram cobertos por um óculos de sol no mínimo estiloso.
─ Meu amigo, você não vai acreditar com quem acabei de me encontrar ali na rua de cima e... ─ ele para no meio do caminho ao se deparar comigo e levanta as mãos ─ Ah, foi mal! Não sabia que você tinha visita, deveria ter me avisado.
─ Você que deveria me ligar antes de aparecer desse jeito na minha casa, pensei que já nos encontraríamos lá ─ Suguru passou por mim para recepcionar o platinado, encostando a mão no corrimão para se apoiar.
─ Mas eu liguei. Dez vezes, cara ─ ele contou nos dedos e sorriu de orelha a orelha quando inclinou a cabeça para continuar olhando para mim ─ Quem é a mocinha aí?
Suguru parece ter voltado a perceber que eu ainda estava presente quando refletiu por alguns segundos e puxou o amigo para fora do porão, me fazendo subir com eles para acompanhar o desenrolar da cena.
─ Ninguém que te interesse. Ela não é da sua conta ─ o moreno esclareceu com uma expressão séria, permanecendo com o aperto no pulso do outro rapaz e arrastando ele pelo quintal até a entrada.
─ Ei, fica frio. Se ela é a sua garota, é só me dizer, eu vou entender perfeitamente.
─ Não, não é nada disso! Merda... ─ ele reclamou em um chiado e finalmente o soltou, passando a mão pelo cabelo em um gesto pensativo ─ Escuta, você veio de moto?
─ Sim, por quê?
─ Ótimo. Leva ela para a biblioteca da cidade primeiro antes da gente partir, eu espero aqui.
O platinado ficou um bom tempo encarando o amigo com uma expressão que continha uma mistura de surpresa e confusão, mas rapidamente obedeceu quando notou a seriedade em seu comando e olhou para mim em um pedido silencioso para que o seguisse, andando até a moto que estava estacionada próxima a calçada.
Não fiz absolutamente nada para me mover, pois ainda estava tentando relacionar tudo que tinha acabado de acontecer. Parecia que apenas a presença daquele homem fez Suguru se transformar completamente, como se eu não pudesse continuar no mesmo lugar que eles para o que quer que fossem fazer juntos. Era estranho, era suspeito, e era maluquice minha estar aqui agora. Eu deveria ter ido embora naquela mesma hora. Maldita curiosidade.
─ Beleza ─ o rapaz sobe na moto em um movimento sutil e me estende o capacete extra, esperando minha decisão conforme ajeita o próprio ─ Sobe aí, gata.
─ Eu não... ─ respirei fundo, tentando achar as palavras certas para recusar ─ Olha só, não precisa, eu prefiro voltar a pé.
─ Ah, não seja assim. Vamos, vai ser rápido.
─ Já disse que não, porra!
Todo o meu corpo sentiu a tensão no momento em que me exaltei sem uma necessidade específica, enquanto os rapazes me olhavam com receio como se tivessem feito algo de errado. Eu odiava andar de moto, mais do que qualquer coisa na vida. Talvez isso fosse algum tipo de trauma escondido, mas apenas o sinal desse veículo me fazia tremer até os ossos. Era medo de cair? Medo da velocidade? Eu não sabia apontar com certeza, mas tinha pavor de subir em uma dessas, ainda mais com um completo desconhecido.
─ Desculpa ─ murmurei, cruzando os braços e os colocando sobre o meu peito com força enquanto encolhia os ombros ─ Apenas me deixem em paz, eu sei me virar.
Diante disso, não esperei uma resposta e segui rapidamente o meu caminho para a biblioteca novamente, alheia ao fato de que eles apenas queriam me ajudar. Eu estava realmente cansada disso, de pessoas.
Interagir com pessoas era difícil, e mais difícil ainda interagir com alguém perigoso como eles que poderiam mudar de humor a qualquer momento. No presente cenário, eu só precisava chegar em casa e tomar um bom e longo banho para esquecer dos acontecimentos de hoje, como sempre costumava fazer.
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