prólogo
Eu pensei que a morte seria fria e solitária. Pensei que seria como o choro distante de uma criança, um eco que se perde no vazio. Acreditei que veria um enorme filme da minha vida passando diante de mim, cada momento desfiado como um fio solto. Mas a verdade é que a morte era pacífica. Era... nada.
Era como um sono sem sonhos. Apenas um estado de repouso absoluto, uma existência suspensa no vazio. Nenhuma dor, nenhuma tristeza, apenas uma ausência total. E então, algo rompeu esse estado. Um som, ou talvez uma sensação. Carros. O ronco distante de motores, o tilintar de gotas de chuva contra superfícies de metal.
Quando abri meus olhos, a visão à minha frente era um emaranhado de sombras e luzes pálidas. Estava deitada em um beco estreito, as paredes altas de tijolos desgastados formando um corredor sufocante. O cheiro era inconfundível: lixo, metal oxidado e algo que eu não sentia havia muito tempo. Midgard.
Uma chuva fria caía, cada gota era como uma pequena agulha contra minha pele. A garoa não trazia vida nem vigor, apenas um lembrete de que eu estava, de alguma forma, ali novamente. Ergui-me com cuidado, sentindo o corpo ainda estranho, como se não fosse completamente meu.
Dei alguns passos para fora do beco, observando as luzes piscantes de néon refletirem nas poças d'água do asfalto irregular. Essa era Nova York, disso eu tinha certeza. Mas, ao mesmo tempo, não era a Nova York que eu conhecia. Havia algo diferente, algo distorcido, como um quadro pintado com cores ligeiramente erradas.
— Eu não morri... — murmurei, e uma risada curta escapou de meus lábios, como um sussurro involuntário. — Eu apenas... — As palavras sumiram na minha garganta enquanto eu olhava ao redor, tentando encontrar sentido em tudo aquilo. — Onde estou?
O movimento da cidade ao meu redor parecia quase fantasmagórico. As pessoas passavam apressadas, protegidas por guarda-chuvas, mas nenhuma delas parecia realmente estar lá. Seus rostos eram borrões, suas presenças apenas vultos no canto da minha visão. Eu me sentia desconectada, como se estivesse presa entre dois mundos.
Tentei me lembrar do último momento antes de acordar ali. Havia algo, uma sensação de perda, de queda... mas tudo parecia um sonho desfeito. Minha memória estava embaralhada, e minha mente lutava para se ajustar ao que via. As luzes da cidade piscavam de forma hipnótica, como se tentassem me atrair para algum destino desconhecido.
Comecei a andar, meus pés descalços tocando o asfalto molhado. Cada passo me dava a sensação de que o chão podia desaparecer a qualquer momento, como se eu estivesse andando sobre um lago congelado que poderia se partir. A chuva continuava a cair, fina e constante, acompanhando meu caminhar silencioso.
Algo dentro de mim dizia que essa não era uma coincidência. Que eu não estava simplesmente perdida em um mundo estranho. Que havia um motivo para eu estar ali, viva, contra todas as expectativas. Uma presença sutil pulsava no fundo da minha mente, uma energia que eu não conseguia identificar. Era familiar e ao mesmo tempo estranha, como um eco de algo que eu havia esquecido.
A cidade parecia me observar, como se seus prédios e ruas tivessem olhos. E, enquanto eu vagava pelas calçadas molhadas, senti que essa jornada estava apenas começando.
[...]
Pés nus na calçada, corpos lutando uns contra os outros para passar para a próxima faixa de pedestres. Nox. Era tudo o que eu tinha de mim mesma, meu próprio nome e nada mais.
— Meu nome é Nox — pensei, sentindo as palavras ecoarem na minha mente. — E eu não pertenço a esse lugar.
Era tudo tão igual, mas ao mesmo tempo tão diferente. As luzes, os prédios, as pessoas. Mas não havia uma Torre Stark. Não havia Vingadores. Nenhum evento magnificente como a vinda de Thor ou Loki a Midgard. Aqui, eles não eram reais. Eles não existiam. E isso significava que, talvez, eu também não existisse aqui.
A chuva, antes uma garoa fria, agora caía de modo torrencial, encharcando minhas roupas e colando os cabelos ao rosto. As gotas escorriam pelo meu corpo, geladas, tornando cada passo mais pesado. Um vento cortante atravessava as ruas, e eu me vi obrigada a me abrigar debaixo do toldo de uma pequena lojinha. O cheiro de comida fresca emanava do interior, invadindo minhas narinas e despertando uma fome que parecia ecoar das profundezas do meu ser.
Meu estômago roncou, um som alto e quase humilhante. Passei a mão pelo braço, tentando me aquecer, enquanto observava através do vidro embaçado da loja. Dentro, pessoas sentavam-se confortavelmente, cercadas por pratos fumegantes e risadas abafadas. Era uma cena de calor e normalidade que parecia inatingível para mim.
Fechei os olhos por um momento, sentindo o peso da situação. Eu deveria estar morta. Deveria ter desaparecido no vazio. E, ainda assim, aqui estava eu, em um mundo que era ao mesmo tempo familiar e alienígena. Uma fagulha de determinação acendeu-se em meu peito. Eu precisava de respostas.
A cidade parecia me observar, como se seus prédios e ruas tivessem olhos. E, enquanto eu vagava pelas calçadas molhadas, senti que essa jornada estava apenas começando. Algo estava esperando por mim nas sombras dessa Nova York distorcida, e eu sabia que, cedo ou tarde, teria que enfrentá-lo.
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