cap. vinte e seis

"Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades."

As palavras ecoavam na mente de Nox enquanto ela se movimentava de um lado para o outro, tentando aquecer os músculos e afastar a ansiedade que precedia a luta iminente. O ar frio ao redor parecia morder sua pele, mas ela não parecia se importar. Um sorriso brincava em seus lábios enquanto tentava transformar a tensão em energia.

Peter a observava à distância, seus olhos acompanhando os movimentos quase dançantes de Nox. Ele parecia perdido em pensamentos até que decidiu romper o silêncio.
— Pronta? — perguntou, sua voz carregando uma mistura de preocupação e admiração.

Nox parou abruptamente, virando-se para ele com um largo sorriso que iluminava seu rosto.
— Eu nasci pronta.

O momento foi interrompido por Peter Maguire, que, até então, permanecera calado, mas visivelmente atento à dinâmica entre os dois. Ele esfregou as mãos, como quem prepara uma conversa séria.
— Estava pensando... — começou, sua voz grave chamando a atenção dos outros dois. Ele apontou para Nox. — Você é deste universo... — então gesticulou para o Peter de Nox. — ...e você é de outro universo. Mas você viajou para o universo dele.

Nox e Peter de Nox trocaram um olhar. Era o tipo de conversa que ambos evitavam, como se encará-la pudesse romper o frágil equilíbrio que tinham.

— Quando voltarmos para casa... — continuou Peter Maguire, deixando a pergunta pairar no ar como uma sombra. — Como vai ser?

O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de possibilidades e incertezas. Nox finalmente desviou o olhar, seus olhos fixando o chão como se as respostas estivessem escondidas ali.
— Não sei — murmurou, sua voz baixa, mas firme. Ela ergueu o olhar novamente, enfrentando a pergunta com a determinação que a definia. — Mas o que for decidido pelo universo, eu entendo que será por alguma razão.

Peter de Nox, ao lado dela, assentiu lentamente, seus olhos encontrando os dela com uma intensidade que fez o mundo ao redor parecer parar.
— Eu também — respondeu ele, com a voz carregada de sinceridade. Ele estendeu a mão para Nox, um gesto simples, mas cheio de significado.

Sem hesitar, Nox segurou sua mão, os dedos dele apertando os dela com uma segurança que parecia prometer que, não importa o que acontecesse, eles enfrentariam juntos.
— Foi a melhor coisa que me aconteceu — disse Peter, sua voz baixa, mas clara o suficiente para que apenas ela ouvisse.

Nox sentiu seu coração aquecer com aquelas palavras, mas antes que pudesse responder, Peter Maguire deu um leve sorriso, quebrando a tensão.
— Isso aí, Parker — comentou, um tom divertido na voz. — Sempre dramático.

Nox soltou uma risada suave, a leveza do momento trazendo um conforto temporário.
— E você? Não vai dizer algo inspirador, Maguire?

Peter Maguire deu de ombros, um sorriso enigmático se formando em seu rosto.
— Já disse. Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. O resto... o resto a gente descobre no caminho.

Os três compartilharam um momento de cumplicidade antes de voltarem a se preparar. O que estava por vir exigiria tudo deles, mas, por enquanto, havia conforto na certeza de que não estavam sozinhos.

[...]

 A luta parecia uma coreografia perfeita, uma performance de balé onde cada movimento era calculado com precisão mortal. Os Homens-Aranha saltavam de um lado para o outro, teias cruzando o ar enquanto neutralizavam os inimigos com uma mistura de elegância e eficácia. Nox, por sua vez, dominava os céus com seu poder ancestral, a aura brilhante ao seu redor iluminando o caos abaixo. Seu objetivo era claro: proteger os antídotos a qualquer custo.

Com movimentos precisos, ela criava barreiras invisíveis que impediam os monstros de chegarem perto das substâncias vitais. Suas explosões de energia controlada dispersavam os inimigos, derrubando-os antes que pudessem causar danos. Cada vez que um deles tentava avançar, Nox estava lá, bloqueando o caminho com uma confiança inabalável.

No entanto, algo mudou. O ar pareceu se encher de uma nova tensão quando o portal, ainda brilhando intensamente, começou a pulsar com energia instável. Nox sentiu o perigo antes mesmo de ver a figura monstruosa que emergia das sombras. O grande Lagarto, Dr. Connors em sua forma mais selvagem, voltou sua atenção para ela.

Seus olhos amarelos brilharam com um ódio primitivo enquanto ele rugia, o som reverberando como um trovão pelo campo de batalha.

— Hey! Dr. Connors! — chamou Nox, voando rapidamente até ele e parando a poucos metros de distância, pairando no ar. Sua expressão era desafiadora, um sorriso brincando em seus lábios. — Lembra de mim?

O Lagarto respondeu com um rugido ensurdecedor, saltando para tentar agarrá-la com suas garras afiadas.

— Que carinha mal-humorado — provocou Nox, desviando com facilidade enquanto girava no ar. — Vamos dançar, então!

Antes de começar o confronto, ela se virou rapidamente para Ned e MJ, que estavam mais perto do portal do que deveria ser seguro.
— Vocês! Corram! Agora!

Ned agarrou MJ pelo braço, ambos se afastando às pressas enquanto Nox voltava sua atenção totalmente para Connors.

O Lagarto avançou, suas garras rasgando o ar enquanto ele saltava com uma velocidade assustadora. Nox girou no ar, esquivando-se com uma graça sobrenatural, suas mãos se iluminando enquanto disparava rajadas de energia diretamente contra ele. As explosões atingiram Connors, lançando-o para trás, mas ele se recuperou com um rosnado feroz, arranhando o chão ao aterrissar.

— Você é persistente, vou te dar isso — comentou Nox, estendendo as mãos e conjurando uma barreira reluzente quando Connors investiu novamente.

Ele colidiu com a barreira com tanta força que rachaduras começaram a se formar na energia que a sustentava. Nox sentiu o impacto reverberar pelo corpo, mas manteve sua posição. Com um grito determinado, ela expandiu a barreira, jogando o Lagarto para trás como uma onda de energia.

O Lagarto, no entanto, não recuava. Ele escalou rapidamente uma parede próxima, usando suas garras para se impulsionar, e saltou novamente, desta vez com a intenção de agarrar Nox em pleno voo. Ela desviou por um triz, girando no ar e conjurando uma esfera de luz que explodiu em seu peito, fazendo-o cair no chão com um baque surdo.

— Você realmente não desiste, não é? — murmurou ela, ofegante.

Nesse momento, o portal pulsou novamente, e uma nova onda de monstros começou a emergir. Nox olhou rapidamente para os Homens-Aranha, que ainda lutavam com maestria, mas estava claro que eles estavam começando a ser sobrecarregados.

— Vamos acabar logo com isso, Connors! — exclamou Nox, elevando-se ainda mais alto no céu, a energia ao seu redor se intensificando.

O Lagarto rugiu em resposta, saltando novamente, mas desta vez Nox o recebeu de frente, mergulhando contra ele com uma força devastadora. Quando colidiram, o impacto criou uma onda de energia que empurrou os monstros ao redor e chamou a atenção de todos no campo de batalha.

No chão, o Lagarto tentou se levantar, mas Nox pousou à sua frente, sua mão brilhando com poder. Ela o encarou, seus olhos fixos nos dele.
— Dr. Connors, sei que ainda há humanidade em você. Não me faça machucá-lo mais do que o necessário.

Por um breve momento, o Lagarto hesitou, seus olhos amarelos piscando como se algo dentro dele tentasse emergir. Mas o instinto predatório ainda o dominava, e ele avançou novamente.

Nox suspirou, levantando a mão.
— Você pediu por isso.

Com um movimento rápido, ela liberou uma onda de energia que atingiu Connors com força suficiente para derrubá-lo de vez. Ele caiu, inconsciente, mas ainda respirando.

Nox olhou para ele por um momento antes de se virar, seus olhos agora fixos no portal instável. A luta ainda não tinha acabado.

[...]

Depois de administrar o antídoto, Nox deu um passo para trás, observando atentamente enquanto o corpo grotesco do Lagarto começava a se transformar. As garras recuaram, as escamas começaram a desaparecer, e os traços humanos do Dr. Curt Connors gradualmente retornaram. O processo era doloroso, visivelmente agonizante para ele, mas Nox permaneceu firme, observando-o com determinação.

Finalmente, ele se ajoelhou no chão, ofegante, com os olhos piscando como se lutasse para recuperar o foco. Nox se aproximou com cautela, os pés tocando o chão pela primeira vez em minutos. Ela estendeu a mão para ele, hesitante, mas pronta para ajudar.

— Connors... — chamou ela, sua voz suave, mas firme.

Ele levantou o olhar, e pela primeira vez, não havia mais selvageria ali. O que ela viu nos olhos dele foi vulnerabilidade — um homem quebrado, preso entre sua genialidade e os monstros que ela havia criado. Ele engoliu em seco, tentando se levantar, mas suas pernas tremiam.

— É bom ter você de volta, Connors. — O sorriso de Nox era gentil, quase caloroso, uma faísca de esperança em meio ao caos ao redor.

O homem respirou fundo, passando a mão trêmula pelo rosto, ainda se ajustando à sua forma humana. Ele olhou para Nox, com uma expressão que misturava gratidão e culpa.
— É bom voltar. — Sua voz era rouca, quase um sussurro, mas havia um toque de alívio nela.

Por um momento, os dois ficaram em silêncio, um contraste gritante com a batalha caótica que ainda rugia ao redor. Explosões e gritos ecoavam na distância, enquanto os Homens-Aranha continuavam a lutar para conter os outros seres multiversais. O céu parecia um mosaico de cores e destruição, com as teias cintilando no ar e os monstros avançando como uma maré interminável.

Nox lançou um olhar rápido ao redor, absorvendo a cena. Metade da grande Patriarca da Paz — o prédio que antes era símbolo de estabilidade e união — agora estava em ruínas, colunas tombadas e destroços espalhados pelo chão. As paredes que ainda permaneciam em pé tremiam com cada golpe desferido, ameaçando desmoronar completamente.

— Isso é culpa minha... — murmurou Connors, sua voz carregada de peso. Ele balançou a cabeça, incapaz de encarar Nox. — Eu criei esse caos. Todas as vezes que tentei corrigir meus erros, só causei mais destruição.

Nox se agachou para ficar na mesma altura que ele, segurando delicadamente o ombro dele.
— Não, Connors. Não é só sobre os erros que cometemos, mas sobre o que fazemos depois deles. Você tem a chance de fazer algo agora. Use o conhecimento que você tem para ajudar.

Ele levantou o olhar, buscando a sinceridade nos olhos dela. E encontrou.

— Eu... eu vou tentar.

— Isso é tudo o que precisamos, Connors. — Nox sorriu novamente, mas seu olhar logo se desviou para a batalha, onde Peter, Peter Maguire e Peter Garfield lutavam incansavelmente contra uma onda de inimigos. O cenário era quase desesperador, mas eles ainda resistiam, como pilares de força em meio ao caos.

Nox se levantou, estendendo a mão para ajudar Connors a fazer o mesmo.
— Eu preciso voltar lá — disse ela, seu tom sério. — Eles precisam de toda a ajuda que puderem.

Connors segurou a mão dela, permitindo que ela o puxasse para cima. Ele ficou de pé, os olhos ainda observando o campo de batalha com uma mistura de medo e determinação.
— E eu? O que eu faço?

— Você é um gênio, Connors. — Nox apertou levemente o ombro dele antes de se virar. — Encontre uma forma de nos dar uma vantagem. Sei que você consegue.

Com isso, ela levantou voo novamente, sua energia brilhando como uma estrela no céu destruído. Connors permaneceu onde estava por um momento, observando-a desaparecer entre os destroços e as explosões. Depois, com um último olhar ao redor, ele respirou fundo e começou a correr em direção aos laboratórios, determinado a fazer sua parte.

A luta ainda não havia acabado, mas, aos poucos, as peças começavam a se alinhar para virar o jogo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top