cap. vinte e dois

Vilã ou inocente?

Nox não sabia mais responder.

Enquanto voava desesperadamente sobre os céus de Nova York, a pergunta martelava em sua mente. Ela queria acreditar que estava fazendo o que era certo, mas cada passo a levava mais fundo em uma escuridão que não podia evitar.

"Peter Quill estaria orgulhoso?" Ela mesma respondeu: absolutamente não. Mas, mesmo ele havia cometido erros que Nox jamais poderia explicar ou justificar.

E Loki? Ele provavelmente riria até que suas costelas doessem, zombando dela com aquele sorriso torto.

Já Thor... Ele ficaria furioso, desaprovando com cada fibra de seu ser.

Steve e Tony? Esses, sem dúvida, a repreenderiam pela indulgência e por seguir caminhos tão tortuosos.

"O que você fez?" A voz severa de Steve ecoou em sua mente, como um fantasma da culpa.

— Agora não, Capitão! — exclamou, forçando seu corpo a voar mais rápido enquanto o vento frio cortava seu rosto.

Ela precisava alcançá-lo. Precisava impedir o que restara de Harry — ou do que ele havia se tornado.

— HARRY! — gritou quando pousou ao lado do Homem-Aranha, que já estava engajado em uma batalha.

O Duende Verde — ou melhor, Harry — se virou ao ouvir sua voz, seus olhos amarelados brilhando com raiva.
— Você sabia? — ele rosnou, encarando-a. — Sabia que Peter era o Homem-Aranha?!

Nox engoliu em seco, as palavras travadas na garganta.
— Eu... — ela murmurou, a culpa inundando sua voz. — Eu sinto muito, Harry.

— O que você fez? — Peter perguntou, a voz abafada pelo traje, mas carregada de incredulidade.

Nox tentou justificar, os olhos marejados.
— Eu tentei salvá-lo... Harry, por favor, esse não é você!

Harry deu uma risada amarga, cheia de dor e ódio.
— Você me traiu.

— Não! — ela negou desesperadamente, os olhos cheios de lágrimas. — Eu amo você! Por favor, Harry, não faça algo de que vai se arrepender. Meu amor, por favor...

— Cala a boca! — Harry gritou, a voz reverberando com um tom metálico. Ele voltou-se para Peter, os olhos brilhando com fúria.
— Você... Você tirou tudo de mim. Agora eu vou tirar tudo de você.

Peter ficou em alerta, seus sentidos de aranha pulsando como alarmes em sua cabeça.
— Gwen... Corre!

— Harry, não! — Nox gritou, mas era tarde demais.

Tudo aconteceu rápido e, ao mesmo tempo, em câmera lenta. Harry segurou Gwen com uma força brutal, seus olhos fixos nos de Peter como se saboreasse o momento. Nox e Peter lutaram para alcançá-los, mas Harry era mais rápido, mais forte.

E então aconteceu.

— Solte ela! — Peter gritou, o desespero em sua voz ecoando pelo relógio gigante onde a batalha acontecia.

Harry sorriu de maneira cruel, seus dentes agora escurecidos e monstruosos.
— Como quiser.

Ele a soltou.

Nox voou para tentar pegá-la. Peter disparou sua teia, conseguindo agarrar Gwen em um último instante. Mas o relógio, como se conspirasse contra eles, marcou o fim. A tensão foi demais, e o impacto veio.

O silêncio que se seguiu foi insuportável.

Nox não teve tempo de reagir antes de sentir o peso do corpo de Harry colidindo contra o seu. Ele a segurou com força, seus braços agora metálicos e frios como aço, prendendo-a como um prisioneiro de sua dor.

— Ainda me ama, minha deusa? — Ele perguntou com um sorriso distorcido, seu rosto mais monstruoso do que humano.

— Por favor, Harry... — Nox implorou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. — Por favor, volte para mim!

Por um breve instante, ela viu algo nos olhos dele. Um lampejo de humanidade, de arrependimento, de quem ele foi um dia. Mas, como o piscar de uma luz em um quarto escuro, aquilo desapareceu tão rápido quanto veio.

— Você não me ama. — Ele sussurrou, a voz cheia de amargura.

Antes que ela pudesse responder, sentiu os braços dele a soltarem. Nox gritou enquanto começava a cair, o vento rugindo em seus ouvidos.

— HARRY!

Ela tentou estabilizar seu voo, mas a pressão e o desespero nublaram sua mente. Seus poderes falharam, e tudo se tornou um borrão.

O impacto foi brutal.

Nox colidiu com uma das peças do relógio, a dor explodindo por todo o seu corpo. Ela tentou manter os olhos abertos, mas tudo ao seu redor parecia se desfazer em sombras e escuridão.

E antes que ela apagasse completamente, uma última pergunta ecoou em sua mente:
"Vilã ou inocente?"

[...]

Nox caminhava pelos corredores semi-iluminados do local, o som ritmado dos tênis contra o piso ecoando suavemente pelas paredes. O ar estava pesado, carregado com uma tensão que parecia crescer a cada passo.

— Você tem visita. — a voz rouca do guarda cortou o silêncio, soando indiferente.

Dentro da cela, Harry permaneceu imóvel. Ele não se virou para ver quem estava ali, mas a silhueta refletida no espelho embaçado entregava a visitante. Mesmo com a visão distorcida, ele sabia quem era.

— Oi, Harry. — Nox murmurou, sua voz hesitante.

Harry respirou fundo antes de responder.
— Nox. — Sua voz era calma, uma sombra distante do tom carregado de ira e dor que ela ouvira pela última vez. — Senti sua falta.

— E eu a sua. — respondeu ela, os olhos varrendo o ambiente austero. A cela era pequena, sufocante, e parecia refletir o estado interno de Harry: fragmentado, vazio. — Vim dizer adeus.

Isso fez Harry finalmente se mover. Ele se virou devagar, como se cada gesto carregasse um peso invisível. Seus olhos encontraram os dela, uma mistura de surpresa e algo mais — talvez arrependimento.

— Para onde vai? — perguntou, tentando manter a voz neutra, mas falhando em esconder a preocupação.

— Para longe. — Ela suspirou, cruzando os braços como se tentasse proteger a si mesma do frio imaginário. — Não achei justo ir sem dizer tchau.

Harry inclinou a cabeça, analisando-a com cuidado, como se quisesse guardar cada detalhe.
— Não vai me dizer para onde?

— Não tenho um destino ainda. — Nox sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. — Só sei que preciso ir. Preciso começar de novo.

Ele assentiu lentamente, as mãos cerrando-se ao lado do corpo.
— Vou sentir falta de suas visitas. — admitiu, sua voz carregada de uma vulnerabilidade que ele raramente deixava escapar. — Da sua voz...

Nox desviou o olhar, as palavras dele perfurando sua determinação.
— E eu vou sentir falta de você também. — Ela deu um passo à frente, colocando uma sacola pequena sobre a cama estreita.

— O que é isso? — ele perguntou, franzindo o cenho.

— Algo para lembrar de mim. — respondeu simplesmente. Sua voz falhou no final, mas ela rapidamente se recompôs. — Adeus, Harry.

Harry deu um passo em sua direção, como se quisesse impedi-la de ir, mas parou. Ele sabia que não tinha o direito de segurá-la ali.
— Adeus, Nox.

Ela começou a se afastar, os passos ecoando pelo corredor novamente. Harry observou enquanto a figura dela desaparecia pela porta. Foi então que algo chamou sua atenção: uma cicatriz longa e marcada atravessava as costas dela, visível pelo decote do vestido simples que usava.

Uma dor fria o atravessou quando percebeu a origem daquela marca. Era sua obra. Uma lembrança de tudo o que ele havia feito.

Quando a porta se fechou, ele sussurrou para o vazio:
— Adeus, meu amor.

Harry sentou-se novamente na cama, o olhar fixo na sacola que ela havia deixado. Após alguns instantes, ele a abriu com mãos trêmulas. Dentro, encontrou algo simples: um pequeno retrato deles dois, tirado antes de tudo desmoronar. Eles estavam sorrindo, despreocupados, felizes. Uma época que agora parecia pertencer a outra vida.

Segurando o retrato, Harry fechou os olhos e encostou a cabeça contra a parede fria da cela. A presença de Nox ainda parecia viva ali, mas ao mesmo tempo, ela nunca esteve tão distante.

Ele sabia que aquele adeus era definitivo.

— Eu sinto muito... — murmurou para si mesmo, as palavras se perdendo no silêncio opressivo do lugar.or.

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