cap. três
Peter Parker estava ciente do show de luzes que havia ocorrido no prédio abandonado na noite anterior. Ele não sabia quem era o responsável e nem como aquilo havia acontecido, mas fora tão perto de sua casa que ele não conseguiu ignorar. Algo naquela explosão de energia e nas faíscas dançantes o inquietava, como se fosse um chamado para investigar.
Enquanto isso, Nox caminhava pela vizinhança. Desta vez, ela não sentia o desconforto habitual. Estava com roupas novas e calçados que protegiam seus pés do frio e das ruas ásperas. Era uma sensação tão simples, mas lhe trouxe uma alegria quase infantil. Depois de semanas vivendo nas ruas, suja e desamparada, sentia-se um pouco mais humana. Ben e May Parker haviam feito doações generosas, algo que tocou profundamente o coração de Nox. Agora, ela sentia que deveria agradecê-los pessoalmente.
Parando em frente à porta da casa dos Parker, ela hesitou por um momento antes de tocar a campainha. Uma onda de nervosismo passou por ela — não estava acostumada a interagir com pessoas de maneira tão direta. Mas, antes que pudesse desistir e se afastar, a porta foi aberta por um jovem de cabelos bagunçados e um semblante curioso.
— Posso ajudar? — o garoto perguntou, inclinando ligeiramente a cabeça.
— Oh! — Nox saiu de seu transe momentâneo. — Sou Nox. Vim ver o senhor e a senhora Parker?
— Oh, sim! — ele disse, relaxando os ombros. — Entre! Vou chamá-los.
— Obrigada — respondeu ela com um sorriso pequeno, mas sincero.
Nox atravessou a soleira da porta e foi tomada pelo calor acolhedor da casa. O ambiente era simples, mas cheio de vida. Fotografias familiares decoravam as paredes, e o cheiro de algo assando no forno enchia o ar. Havia uma aura de conforto e segurança ali, algo que Nox não sentia há muito tempo.
— Sou Peter — o jovem se apresentou, estendendo a mão.
Nox apertou a mão dele, sentindo a firmeza e a gentileza no gesto.
— Prazer, Peter.
Antes que pudessem continuar, May Parker surgiu na sala com um sorriso caloroso.
— Nox! Que bom ver você de novo. Entre, entre! Ben está na cozinha; vou chamá-lo.
May desapareceu pela porta que levava à cozinha, deixando Nox e Peter sozinhos por um momento. Ele a olhou com curiosidade, claramente tentando entender quem era aquela jovem.
— Você conhece meus tios? — Peter perguntou, cruzando os braços enquanto se encostava em uma das paredes.
— Sim — Nox respondeu, ajeitando nervosamente a barra do casaco que Ben e May haviam lhe dado. — Eles me ajudaram quando eu estava... em uma situação difícil. Só quis vir agradecer.
Peter assentiu lentamente, percebendo que havia mais naquela história do que ela estava disposta a compartilhar. Mas ele decidiu não pressioná-la.
— Eles são assim — disse ele, com um sorriso afetuoso. — Sempre dispostos a ajudar quem precisa.
Ben entrou na sala com um pano de prato jogado sobre o ombro, seguido por May.
— Nox! Que bom que você veio — Ben disse, abrindo os braços como se quisesse acolhê-la. — Como você está?
— Melhor, muito melhor, graças a vocês — ela respondeu, sentindo a emoção tomar conta de sua voz. — Não sei como agradecer por tudo que fizeram por mim.
— Você não precisa agradecer, querida — May disse, colocando uma mão gentil no ombro de Nox. — Estamos felizes em poder ajudar.
Eles se sentaram na sala, e Nox contou um pouco mais sobre si mesma, embora ainda evitasse os detalhes mais sombrios de sua história. Peter, agora sentado em uma poltrona próxima, ouvia atentamente. Ele tinha um talento para observar as pessoas, e algo em Nox o intrigava. Havia uma mistura de força e vulnerabilidade nela que ele reconhecia em si mesmo.
— Então você está conseguindo se virar melhor agora? — Ben perguntou, inclinando-se para frente com interesse genuíno.
— Estou, sim. Consegui um lugar para ficar por enquanto, e as roupas e os calçados que vocês me deram fizeram uma diferença enorme — disse Nox, sorrindo. — Obrigada mais uma vez.
May insistiu em servir uma xícara de chá para Nox, e a conversa continuou de maneira descontraída. No entanto, Peter não conseguia tirar da cabeça o evento estranho no prédio abandonado. Ele decidiu perguntar, mesmo que de forma casual.
— Ei, você estava por aqui ontem à noite? — ele perguntou, tentando soar despreocupado. — Teve uma coisa estranha que aconteceu em um prédio abandonado perto daqui. Um monte de luzes e barulhos. Você viu alguma coisa?
Nox ficou tensa por um momento, mas logo disfarçou com um sorriso neutro.
— Não, eu não estava por perto. Por quê? O que aconteceu?
Peter deu de ombros, percebendo a mudança na postura dela.
— Não sei ao certo. Parecia algum tipo de curto-circuito... ou algo assim — ele respondeu, embora soubesse que não era verdade. — Foi estranho, só isso.
A conversa mudou de rumo, mas Nox não conseguia afastar a sensação de que Peter sabia mais do que deixava transparecer. Quando finalmente se despediu dos Parker, sentiu-se grata, mas também inquieta. Ela precisava ser mais cuidadosa daqui para frente.
Peter, por outro lado, observou Nox sair pela porta com uma sensação curiosa. Algo nela o fazia querer saber mais. E ele sabia que, de uma forma ou de outra, seus caminhos voltariam a se cruzar.
[...]
Nox deitou-se em sua cama, sentindo o conforto que há muito tempo parecia um luxo inalcançável. O colchão não era novo, mas para ela era perfeito. Finalmente ter um lugar para dormir era mais do que uma conquista; era um símbolo de que as coisas estavam mudando. Com um emprego estável e uma rotina que a ajudava a se equilibrar, ela se sentia incrivelmente grata.
O som distante da rua chegava aos seus ouvidos, um lembrete suave de que ela estava viva, de que tinha sobrevivido a todos os desafios que a vida atirara em seu caminho. Fechou os olhos e inspirou profundamente, deixando aquele momento de paz se instalar em seu peito. Mas, por mais que tentasse relaxar, sua mente insistia em vagar para um rosto em particular: Peter Parker.
"Por que ele não sai da minha cabeça?", pensou ela, frustrada. Talvez fosse a curiosidade intensa do garoto, ou aquele jeito observador que parecia ver além do que ela mostrava. Havia algo nele que a incomodava, como se ele soubesse mais do que deixava transparecer.
Nox virou-se na cama, encarando o teto. Peter era diferente. Em sua curta interação, ela percebeu que ele não era apenas um adolescente comum. Ele tinha uma energia peculiar, algo que fazia seus instintos gritarem tanto em alerta quanto em curiosidade. E ela sabia que devia confiar nesses instintos; eles haviam salvado sua vida mais vezes do que podia contar.
— Talvez seja só coisa da minha cabeça — murmurou para si mesma, tentando se convencer.
Mas, mesmo enquanto dizia isso, ela sabia que não era verdade. Nox tinha vivido o suficiente para reconhecer quando alguém não era completamente honesto. Peter era gentil, educado e curioso demais para ser apenas um adolescente comum. Ele fazia perguntas que tocavam em pontos sensíveis, e ela não podia ignorar a sensação de que ele estava tentando descobrir algo sobre ela.
"E se ele sabe?", pensou de repente, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. Ela não podia permitir que alguém descobrisse o que realmente era, especialmente não naquele momento em que sua vida finalmente parecia estar entrando nos eixos. Precisava ser cuidadosa, evitar mais encontros com ele.
Mas, ao mesmo tempo, algo a puxava na direção contrária. A memória do sorriso de Peter, sua maneira de falar, o brilho de curiosidade em seus olhos... Tudo isso fazia com que ela quisesse conhecê-lo melhor. Era como se houvesse uma parte dela que sabia que ele também carregava segredos. Talvez eles fossem mais parecidos do que ela imaginava.
O zunido de um carro passando na rua a trouxe de volta à realidade. Ela suspirou e virou-se novamente na cama. A noite estava apenas começando, mas o sono parecia estar longe de chegar. Sua mente estava cheia, dividida entre a gratidão pelo que tinha agora e a inquietação causada por aquele garoto enigmático.
— Amanhã é um novo dia — disse para si mesma, tentando se convencer de que tudo isso não passava de pensamentos sem importância. — Talvez eu esteja apenas pensando demais.
Ela fechou os olhos novamente, mas as memórias do dia continuaram a surgir. A expressão de Peter quando abriu a porta, a maneira como ele a observou, quase como se soubesse algo que ela não havia dito. Nox sabia que deveria ignorar isso, mas não podia evitar. Havia algo nele que a puxava, e por mais que tentasse, não conseguia afastar a sensação de que seus caminhos estavam entrelaçados de alguma forma.
Finalmente, deixou-se relaxar. O som da rua tornou-se um lembrete de que, apesar de todas as incertezas, ela estava ali. Viva. Em um lugar seguro. E, pelo menos por agora, isso era o suficiente.
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