cap. quatro

A cafeteria onde Nox trabalhava estava movimentada como nunca. A chuva torrencial lá fora havia feito as pessoas buscarem abrigo no pequeno e aconchegante espaço, com seu aroma acolhedor de café recém-passado e bolos quentinhos. O som de conversas animadas misturava-se ao tilintar de xícaras e ao barulho suave da chuva batendo contra as janelas embaçadas.

Nox, atrás do balcão, mantinha as mãos ocupadas e um sorriso cordial no rosto, apesar do cansaço. Entre uma cliente apressada e um pedido para viagem, o som da pequena sineta sobre a porta soou novamente. Ela ergueu o olhar automaticamente, colocando seu sorriso no lugar, mas congelou por um instante ao reconhecer o rosto que entrou.

Peter Parker estava parado diante dela, o cabelo bagunçado pela chuva e um sorriso tímido iluminando seu rosto.

— Hey! — disse ele, enquanto fechava o guarda-chuva e o deixava escorrer no cesto à entrada. — Não sabia que você trabalhava aqui.

— É, um dos meus trabalhos. — Nox deu de ombros, tentando parecer casual, enquanto o calor subia levemente em suas bochechas. — O que vai querer?

— Um café duplo, por favor.

— Para viagem?

— Não, vou tomar aqui mesmo. — Ele apontou para o balcão com um leve movimento de cabeça.

— Um café duplo, saindo rapidinho.

Peter se acomodou no balcão, escolhendo um dos poucos assentos vagos, enquanto Nox começava a preparar o pedido com habilidade. Mesmo com a movimentação à sua volta, ela não deixou de notar a maneira como Peter tamborilava os dedos contra o balcão, seus olhos curiosos examinando o ambiente.

Em poucos minutos, Nox colocou a xícara fumegante na frente dele.

— Aqui está!

— Uau, isso foi rápido. — Peter sorriu, levantando a xícara num gesto quase teatral. — Obrigado!

— Disponha. — Nox inclinou levemente a cabeça, o sorriso profissional ainda presente.

Peter tomou um gole, deixando escapar um suspiro satisfeito antes de se inclinar um pouco para frente, como se buscasse coragem para algo.

— Então... — ele começou, balbuciando ligeiramente. — Eu estava pensando... quer dizer, talvez, se você estiver livre... — Ele desviou o olhar por um instante, coçando a nuca. — Gostaria de sair comigo?

Nox piscou, surpresa, mas logo deixou escapar uma risada suave.

— Você não perde tempo, hein?

— Não, não! — Peter se apressou, as mãos levantadas em um gesto defensivo. — Só como amigos! Quero dizer, claro, se você quiser...

Ela riu novamente, dessa vez mais abertamente.

— Tudo bem, Peter. — Seus olhos encontraram os dele, calorosos. — Claro que sim.

O sorriso de Peter se ampliou, e ele parecia relaxar visivelmente.

— Legal! A gente combina, então.

Enquanto ele voltava sua atenção para o café, Nox não pôde deixar de sorrir discretamente. O som da chuva lá fora parecia mais suave agora, quase em harmonia com aquele breve momento de leveza e possibilidades.

[...]

— Para onde estamos indo? — perguntou Nox, tentando acompanhar o ritmo apressado de Peter enquanto caminhavam pela calçada molhada, a chuva fina ainda caindo levemente.

— Você vai ver. — Ele lançou um sorriso misterioso por cima do ombro. — Você não tem medo de altura, tem?

— Não mesmo. — Ela riu, curiosa.

— Ótimo.

O som de seus passos ecoava pelo asfalto molhado enquanto caminhavam lado a lado. A chuva finalmente cessou, deixando o ar fresco e o céu nublado, com pequenos lampejos das primeiras estrelas surgindo.

Peter guiou Nox até a base de um prédio antigo. Ele indicou a escada de incêndio com um gesto e começou a subir.

— Sério? É aqui? — Nox arqueou uma sobrancelha, mas seguiu o garoto, a curiosidade a impulsionando.

— Confia em mim, vai valer a pena.

A cada lance de escada, a cidade se revelava mais abaixo deles, as luzes de Nova York começando a brilhar com mais intensidade conforme a noite tomava conta. Quando finalmente chegaram ao topo, Nox parou por um instante, sem fôlego.

A visão era de tirar o fôlego: o horizonte da cidade se estendia em todas as direções, uma explosão de luzes douradas e brancas contra o céu escuro. Era como se o mundo tivesse parado por um momento, deixando apenas aquela paisagem para ser admirada.

— Uau! — exclamou Nox, os olhos arregalados de admiração.

— Lindo, não é? — Peter perguntou, observando a reação dela com um sorriso satisfeito.

— É magnífico. — Ela assentiu, ainda impressionada.

Peter se aproximou da borda do prédio e se sentou, deixando as pernas penduradas no vazio.

— Vem, senta aqui.

Nox hesitou por um instante, mas logo o imitou, sentando-se ao lado dele. Um sorriso largo se formou em seu rosto enquanto o vento leve balançava seu cabelo.

— É maravilhoso aqui em cima. — Ela murmurou, ainda olhando para a cidade abaixo deles.

— Eu gosto de vir aqui. — Peter disse, com a voz suave, quase pensativa. — Quando preciso pensar, ou só... me lembrar de como o mundo é grande, sabe?

Nox virou a cabeça para encará-lo. Havia algo de vulnerável na expressão dele, algo que ela não tinha visto antes.

— E funciona? — ela perguntou, a voz também mais baixa.

— Às vezes. — Ele deu de ombros, um sorriso pequeno e melancólico surgindo. — Outras vezes, só me ajuda a ver as coisas de outra perspectiva.

Ela não respondeu imediatamente, deixando que o silêncio confortável preenchesse o espaço entre eles. A cidade abaixo parecia pulsar com vida, mas ali em cima, no topo do mundo, havia uma paz quase impossível de encontrar no caos lá embaixo.

— Obrigada por me trazer aqui. — Nox disse por fim, olhando novamente para a paisagem.

— Fico feliz que tenha gostado. — Peter respondeu, os olhos brilhando por um momento enquanto ele a observava.

Eles ficaram ali, lado a lado, compartilhando um pedaço de paz no meio do caos, como se aquele momento fosse só deles.

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