cap. quatorze



Nox caminhou pelo amplo hall da mansão Osborn, os saltos de seus sapatos ecoando no mármore polido com um ritmo calculado e elegante. Cada passo carregava uma presença inconfundível, como se aquele espaço a reconhecesse como sua nova soberana. Os enormes lustres acima dela lançavam luzes cintilantes que dançavam sobre o tecido de seu vestido, destacando sua figura impecável.

No andar inferior, Harry interrompeu a reunião assim que ouviu o som familiar e marcante dos passos dela. A notícia de um "visitante surpresa" mal havia deixado seus lábios quando ele já estava de pé, os olhos atentos voltados para a entrada do hall.

-- Peter, - Harry disse com um sorriso caloroso, apertando a mão do amigo. -- Quero que conheça alguém muito especial.

Antes que Peter pudesse responder, uma voz feminina, aveludada e inconfundível, soou pelo local.

-- Harry? Querido? - Nox chamou, sua voz reverberando com suavidade e controle.

-- Aqui embaixo, meu amor! -  ele respondeu, o rosto iluminado por um orgulho difícil de disfarçar. Então, voltou-se para Peter, os olhos azuis brilhando. - Ela é minha musa, Peter. Minha inspiração para tudo.

Peter esboçou um sorriso, embora a surpresa fosse evidente em seus olhos.
-- Você finalmente encontrou alguém, hein? Estou feliz por você.

Ao virar a esquina da escadaria, Nox parou por um breve instante ao avistar Peter Parker. Sua expressão permaneceu impecável, mas, internamente, seu coração parecia hesitar. Ela manteve a compostura enquanto descia os degraus com a mesma graça inabalável que a definia.

-- Querida, - Harry disse, estendendo a mão para ela, - este é Peter Parker. Um grande amigo de infância.

Nox aproximou-se, unindo seu braço ao de Harry de forma deliberada, como se quisesse selar a conexão entre eles diante de qualquer olhar alheio.
-- Olá, Peter - ela cumprimentou, com uma leveza que carregava um traço sutil de desdém.

-- Oi, Nox, - Peter respondeu, tentando disfarçar o desconforto.

Harry estreitou os olhos por um instante, observando a interação com uma curiosidade velada. -- Vocês... já se conhecem? - perguntou, com um sorriso que tentava mascarar a súbita tensão no ar.

-- Fomos amigos por um tempo, - Nox disse com uma tranquilidade calculada, enquanto apertava levemente o braço de Harry. -- Mas não deu certo.

-- É, - Peter confirmou com um leve fungar, desviando o olhar. -- Bem, fico feliz que vocês estejam juntos. Desejo tudo de bom.

-- Obrigada - Nox respondeu, sua voz firme. - Tenho certeza de que ficaremos ótimos.

Harry observava a cena, seus olhos oscilando entre Nox e Peter, mas não disse nada. Ele sentia que havia mais naquela história, mas confiava em Nox.

-- Bem - Peter disse, gesticulando com as mãos em um sinal de despedida, -- acho melhor eu ir. Foi bom te ver, Harry. E, Nox... - Ele hesitou por um instante, como se procurasse as palavras certas. -- Você está ótima.

Nox ergueu uma sobrancelha, o sorriso no rosto imperturbável.
-- Eu sei.

Harry reprimiu uma risada enquanto observava Peter sair. Quando a porta finalmente se fechou, ele voltou-se para Nox, seus dedos tocando os dela com carinho.

-- Tem algo que você queira me contar, querida? - perguntou com suavidade, embora sua expressão mostrasse uma curiosidade genuína.

-- Não há nada que você já não saiba,-  Nox respondeu, olhando para ele com olhos suaves, mas determinados. -- Você é meu presente, Harry. E o passado? Ele pertence a outro lugar, a outro tempo.

Harry segurou o rosto dela entre as mãos, o olhar brilhando com algo que misturava devoção e alívio.
-- Eu confio em você. Sempre confiei.

Nox sorriu, levantando-se na ponta dos pés para beijá-lo suavemente.
-- Vamos voltar para sua reunião, - ela sussurrou contra os lábios dele.

-- Sim - Harry concordou, entrelaçando os dedos aos dela. - Mas saiba que você é a única pessoa que eu largaria qualquer reunião para atender.

Com um último sorriso, eles caminharam juntos de volta ao salão, os passos sincronizados como se fossem uma única força. E, enquanto seguiam, o mundo lá fora parecia insignificante diante do que construíam juntos.

[...]

Peter encarava a torneira da cozinha, as gotas de água escorrendo de forma ritmada, mas sem propósito. Seus olhos estavam fixos naquele movimento, embora sua mente estivesse a quilômetros de distância. Ele segurava um copo vazio na mão, os dedos apertando o vidro como se precisasse de algo tangível para se manter presente.

-- Peter? - A voz de tia May soou gentil, mas preocupada, ecoando pela cozinha aconchegante.

-- Hm? - Peter piscou algumas vezes antes de se virar para ela, ainda parecendo confuso.

-- Você está aqui, meu filho? -  May arqueou as sobrancelhas enquanto se aproximava. -- Estava olhando para o nada como se estivesse vendo alguém que eu não consigo enxergar.

Ele hesitou, colocando o copo vazio na pia com cuidado, quase como se o ato merecesse mais
atenção do que o necessário.
-- Eu... não é nada, tia May. Não se preocupe.

May cruzou os braços, observando-o com aquele olhar de quem sabia que ele estava mentindo. Ela não precisou dizer nada; seu silêncio era o suficiente para pressioná-lo.

Peter suspirou, passando uma das mãos pelo cabelo bagunçado.
-- Você sabia que a Nox está de volta?

A pergunta pegou May de surpresa, e ela parou de arrumar as flores que havia trazido do mercado.
-- O quê? A Nox?

-- Sim, - ele respondeu, tentando soar casual, mas falhando miseravelmente. -- Ela voltou para Nova York. Eu a vi hoje.

May piscou algumas vezes, processando a informação.
-- Mesmo? E como ela está? Faz tanto tempo... Desde que Ben...

Peter assentiu, entendendo o que ela não precisava dizer em voz alta. Ben Parker sempre tivera um carinho especial por Nox, quase como se ela fosse uma extensão da família, mesmo em sua ausência.

-- Ela está ótima, -  Peter declarou, sua voz carregando um misto de surpresa e algo mais, algo que nem ele sabia nomear. - Mas ela não está sozinha.

-- Ah, é? - May inclinou a cabeça, curiosa.

-- Ela está namorando o Harry, -  ele revelou, olhando para a pia como se as palavras fossem mais fáceis de dizer sem encarar a tia. -- Harry Osborn.

May levou um instante para conectar o nome à memória. Quando o fez, sorriu levemente.
-- O filho do Norman, certo? Me lembro dele. Ele costumava vir aqui de vez em quando, não é?

-- É, ele mesmo. -  Peter soltou uma risada curta e sem humor. - Que mundo pequeno, não é?

May se aproximou, colocando uma das mãos sobre o ombro de Peter, forçando-o a olhá-la nos olhos.
-- Pequeno, sim. Mas isso está te incomodando, não está?

Peter não respondeu imediatamente. Ele apenas ficou ali, os olhos oscilando entre os dela e o copo vazio na pia. Finalmente, suspirou.

-- Não sei. Talvez, - ele admitiu, quase em um sussurro. -- Acho que é estranho. Quer dizer, a gente... éramos amigos, eu e ela. E agora ela está com o Harry. Não sei como lidar com isso.

May apertou seu ombro gentilmente, um gesto que era reconfortante e firme ao mesmo tempo. -- Meu querido, as pessoas seguem caminhos diferentes na vida. Não significa que você perdeu algo, apenas que a história de vocês dois tomou outra forma.

-- Eu sei, - ele murmurou, mas o peso ainda estava ali, preso em seu peito.

-- E olha -  May continuou, sorrindo suavemente, -- se a Nox está feliz, e o Harry é bom para ela, isso é algo que você deveria celebrar, não acha?

Peter tentou sorrir, mas não foi convincente. Ele sabia que May tinha razão. Sempre tinha. Mas aceitar isso era mais difícil do que ele esperava.

"Talvez você esteja certa," ele disse finalmente.
-- Talvez eu só precise de tempo para processar.

-- Tempo é bom, Peter. - Ela deu um leve tapinha em seu ombro antes de voltar a arrumar as flores. -- Mas não deixe o passado impedir você de seguir em frente também.

Ele ficou em silêncio, olhando para o copo vazio na pia novamente. Não era apenas o passado que o prendia; era a incerteza do que vinha a seguir. Mas, naquele momento, ele decidiu que daria o primeiro passo, mesmo que ainda não soubesse para onde estava indo.

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