cap. oito




A cafeteria Palatino estava tranquila naquela tarde. O sol brilhava intensamente no céu de Nova York, e a movimentação nas ruas era constante, mas poucos pareciam dispostos a entrar para desfrutar de um café ou um pedaço de bolo. Nox estava atrás do balcão, organizando xícaras e limpando superfícies enquanto apreciava a rara calmaria do dia.

O som da sineta acima da porta quebrou o silêncio, anunciando a entrada de novos clientes. Ela ergueu os olhos por reflexo e sentiu o coração apertar ao ver Peter. Mas o que realmente a fez travar por um instante foi a garota ao lado dele. Uma jovem loira de sorriso delicado e cabelos perfeitamente ondulados que pareciam brilhar sob a luz do sol que entrava pelas janelas.

Nox respirou fundo, ajustando o avental, e se forçou a manter a compostura.

— Bem-vindos à cafeteria Palatino — disse ela com a voz firme. — No que posso servi-los?

Peter abriu a boca imediatamente, a expressão em seu rosto um misto de arrependimento e desespero.

— Olha, eu sei que fiz errado... — começou, mas foi interrompido pelo tom frio de Nox.

— Qual o pedido, senhorita? — perguntou ela, ignorando Peter completamente e focando na loira, que parecia desconfortável com a tensão evidente entre eles.

— Um café branco, por favor. — Gwen respondeu, sorrindo de maneira educada. — E um pedaço de bolo de morango. Parece delicioso.

— E você, senhor? — Nox perguntou, finalmente encarando Peter com um olhar impassível.

— Nox, por favor, não faça isso — ele suplicou, o tom de voz baixo o suficiente para não chamar atenção de outros clientes. — Eu...

— Um café branco e um pedaço de bolo saindo rapidamente — disse ela, cortando-o sem hesitar, antes de se virar e caminhar até as máquinas de café.

Enquanto preparava o pedido, seus pensamentos estavam em tumulto. O coração partido de Nox parecia latejar com força renovada. Ele sabia onde ela trabalhava. Sabia que ela estaria ali. E mesmo assim, Peter teve a audácia de aparecer com a namorada. Era como se ele quisesse esfregar na cara dela o que ela nunca teria: confiança, sinceridade, ou talvez ele mesmo.

Quando os pedidos ficaram prontos, Nox os serviu com profissionalismo impecável. Colocou o café e o pedaço de bolo diante de Gwen, que agradeceu com um sorriso genuíno, completamente alheia ao turbilhão interno que Nox tentava esconder.

Peter ainda estava lá, parado perto do balcão. Seus olhos estavam fixos nela, carregados de arrependimento.

— Por favor — começou ele novamente, a voz quase trêmula. — Um café preto.

Nox apertou os lábios, lutando contra a vontade de dizer algo mordaz.

— Um café preto saindo. — Ela se virou e começou a preparar o pedido.

O silêncio entre eles era ensurdecedor enquanto ela enchia a xícara. Quando terminou, caminhou de volta ao balcão e colocou o café na frente dele, o som da cerâmica sobre o balcão parecendo mais alto do que deveria.

— Obrigado — Peter murmurou, mas sua gratidão parecia carregada de algo mais: culpa.

Nox não respondeu. Apenas se afastou, fingindo estar ocupada com algo do outro lado do balcão. Seus olhos evitaram os dele a todo custo, mesmo quando sentiu que ele queria dizer algo mais.

Por fim, ele suspirou e voltou para a mesa onde Gwen o esperava, sorrindo para ele sem perceber a tempestade que passava entre os dois.

Nox observou de longe, o coração pesado e a garganta apertada. As palavras que ela queria dizer ficaram presas, substituídas por uma dor silenciosa que só ela parecia carregar.

[...]

Nox amou o momento em que o dia finalmente terminou. Assim que seu expediente chegou ao fim, ela saiu da cafeteria com passos lentos, o cansaço pesando mais que sua mochila. Caminhou sozinha pelas ruas movimentadas de Nova York, onde o brilho das luzes dos arranha-céus contrastava com a escuridão crescente do céu. O som distante de buzinas e o murmúrio constante da metrópole eram companheiros silenciosos em sua jornada de volta para casa.

Quando chegou ao seu pequeno apartamento, o silêncio a envolveu de imediato. Era um contraste gritante com a cacofonia lá fora, quebrado apenas pelo som abafado dos carros que passavam na rua. Nox fechou a porta atrás de si e deixou a mochila escorregar de seu ombro, caindo no chão com um baque surdo.

E então, como se o peso de anos de solidão e saudade tivesse finalmente encontrado uma brecha, ela desabou.

Nox caiu de joelhos, sentindo suas forças se esvaírem. As lágrimas vieram sem aviso, quentes e abundantes, molhando suas mãos enquanto ela chorava como uma criança. Chorava como não se lembrava de ter chorado antes.

A saudade era uma presença esmagadora em sua mente. Sentia falta de sua mãe, do riso de seus irmãos, das paisagens douradas e celestiais de Asgard. Havia uma beleza, uma grandiosidade em sua terra natal que parecia um sonho distante agora. Cada memória era uma facada silenciosa em seu coração, um lembrete do que ela havia perdido.

Agora, ela estava ali, vivendo uma existência midgardiana em uma cidade enorme, onde era apenas mais uma entre 8,9 milhões de almas. E, ainda assim, essa imensidão a fazia se sentir insignificante. No meio de tanta gente, Nox estava irremediavelmente sozinha.

O pequeno apartamento, que deveria ser um refúgio, parecia uma prisão de paredes frias. A solidão era tangível, quase sufocante. O silêncio ecoava seus pensamentos mais sombrios, e a tristeza parecia abraçá-la, envolvendo-a em um manto que ela não conseguia afastar.

Ela soluçou alto, o som quebrando o silêncio do espaço.

— Por que... — sussurrou para si mesma, as palavras quase inaudíveis. Não havia ninguém para ouvir, ninguém para responder.

Lentamente, Nox recostou-se contra a porta, abraçando os próprios joelhos enquanto as lágrimas continuavam a cair. O vazio de sua vida parecia esmagador, um abismo que crescia a cada dia. E, entre 8,9 milhões de pessoas, ela era apenas uma jovem asgardiana perdida, tentando encontrar sentido em um mundo que nunca pareceu verdadeiramente seu.

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