cap. dois





Nox estava sentada em um banco de madeira desgastado no parque, os olhos perdidos em um ponto no horizonte. O vento frio cortava sua pele, mas ela mal o sentia. O verdadeiro incômodo vinha de dentro, uma onda de energia instável que parecia querer escapar a qualquer momento. Ela fechou os olhos, tentando controlar a respiração, mas sentia a tensão crescer.

Os poderes de Nox sempre foram complicados. Desde que era uma criança, eles oscilavam entre o potencial extraordinário e o caos absoluto. Ela se lembrava perfeitamente de Loki. Ele a ensinou a canalizar sua energia, a encontrar um equilíbrio. Mas Loki não estava mais ali. Ele não estava naquele universo, e ela sentia sua ausência como um buraco em seu peito. Ainda assim, uma parte dela se agarrava à esperança de que, em algum lugar distante, ele a procurava sem cessar, sem parar por um instante sequer.

-- Hoje não - Nox balbuciou para si mesma, a voz rouca de exaustão. Era um daqueles dias em que seus poderes oscilavam entre ficar dormentes dentro dela e se manifestar de forma explosiva. E, às vezes, eles saíam.

Uma faísca escapou da palma de sua mão antes que ela pudesse impedir. Um pequeno raio negro atingiu o chão diante dela, queimando a grama. Nox rapidamente se levantou, olhando ao redor para se certificar de que ninguém tinha visto. Felizmente, o parque estava quase vazio, com apenas algumas pessoas distraídas com seus próprios afazeres.

Ela apertou os punhos, tentando conter a energia que pulsava em suas veias. A sensação era avassaladora, como uma tempestade tentando escapar de um copo pequeno demais para contê-la. Nox inspirou profundamente e começou a andar, tentando distrair sua mente.

Enquanto caminhava, lembrou-se de uma tarde distante, em outro mundo, onde Loki segurou suas mãos trêmulas e a olhou nos olhos com uma confiança inabalável.

— Nox, o controle não está em lutar contra o poder, mas em aceitá-lo como parte de você — ele disse, com a voz suave, mas firme. — Ele é você. Pare de tratá-lo como um inimigo.

-- Fácil para você dizer - ela murmurou para si mesma agora, com um sorriso amargo. O mundo sem Loki parecia maior, mais frio. Ele sempre foi sua ancora, sua guia, e sem ele, cada dia parecia mais um desafio insuperável.

Outro surto de energia percorreu seu corpo, e desta vez ela precisou se segurar em uma árvore para não cair. Pequenos raios negros saíram de seus dedos, dançando no ar antes de desaparecerem. Sua respiração ficou pesada, o coração disparado. Ela não podia continuar assim.

Nox procurou um lugar isolado, longe de olhares curiosos. Encontrou um beco estreito e se encostou na parede de tijolos frios. Fechou os olhos e tentou se lembrar dos ensinamentos de Loki. O som de sua voz, a maneira como ele colocava a mão sobre seu ombro e dizia que ela era capaz de controlar aquilo.

-- Você está comigo, mesmo quando não está aqui - ela pensou, apertando os olhos com força. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto enquanto ela lutava contra a energia instável dentro de si.

Aos poucos, a tensão começou a diminuir. Não desapareceu, mas ficou mais controlável. Ela abriu os olhos e olhou para as mãos, agora calmas. O dia não estava perdido. Nox sabia que teria que enfrentar essa batalha de novo, talvez já no próximo minuto. Mas por enquanto, ela conseguiu. E, em algum lugar bem distante, ela gostava de imaginar que Loki também estava lutando por ela.

[...]

Nox sentiu todo seu corpo esquentar, como se houvesse um vulcão prestes a entrar em erupção dentro de si. O ar ao seu redor parecia vibrar, carregado de energia instável. Era quase insuportável. Ela caiu de joelhos no chão empoeirado da instalação abandonada, arfando, enquanto tentava controlar o caos crescente em seu corpo.

— Não agora... por favor, não agora — ela sussurrou, mas sabia que era tarde demais.

Um grito de dor escapou de seus lábios, ecoando pelas paredes despidas e rachadas do antigo prédio. O som reverberou como um lamento fantasmagórico, fazendo os pássaros empoleirados nos andares superiores fugirem em debandada. O calor dentro dela aumentava, a pressão era insuportável, e, então, aconteceu.

Raios verdes emergiram de seu corpo, rasgando o ar ao seu redor. A energia cortava como facas, cada raio parecia atravessar sua carne, como se ela estivesse sendo despedaçada de dentro para fora. O chão sob ela tremeu, rachaduras se formando ao seu redor, enquanto destroços das paredes e teto desabavam em resposta à manifestação incontrolável de seus poderes.

— Controle-se, Nox! — ela gritou para si mesma, mas a energia parecia não querer ouvir.

Cada descarga de energia trazia flashes de memórias confusas. Ela viu fragmentos de momentos passados: Loki sorrindo, estendendo a mão para ela, seus olhos carregados de intenção e sabedoria. "Aceite quem você é", ele dizia, mas aceitar parecia impossível naquele momento.

Os raios continuavam a explodir, iluminando o espaço escuro da instalação. Pilhas de sucata e antigos maquinários abandonados eram destroçados, reduzidos a pedaços menores a cada nova onda de poder. Nox apertou os olhos com força, tentando concentrar-se em algo, qualquer coisa que pudesse trazer estabilidade.

De repente, uma sombra atravessou o campo de visão turvo de Nox. Uma figura encapuzada entrou no prédio, movendo-se com uma calma desconcertante. Nox tentou falar, mas outro raio saiu de seu corpo, atingindo uma coluna próxima e fazendo-a desmoronar.

— Quem é você?! — ela conseguiu gritar entre os dentes cerrados, mas a figura não respondeu. Em vez disso, ergueu a mão, e uma onda de energia azulada irradiou dela, colidindo com os raios verdes de Nox. A tensão no ar aumentou, mas, de algum modo, a interferência parecia trazer uma certa ordem ao caos.

— Nox — uma voz grave e calma ecoou pelo espaço. — Pare de lutar contra si mesma.

— Como? — ela respondeu, a voz repleta de desespero e dor. — Isso vai me matar!

— Não, não vai — disse a voz, agora mais próxima. A figura encapuzada abaixou o capuz, revelando um rosto que ela não reconhecia, mas havia algo nele que parecia familiar. — Deixe a energia fluir. Aceite-a como parte de quem você é.

Com dificuldade, Nox tentou seguir as palavras do estranho. Inspirou profundamente, sentindo a energia turbulenta dentro dela. Em vez de lutar contra ela, decidiu experimentá-la, como se mergulhasse em uma correnteza selvagem em vez de resistir a ela.

Os raios verdes começaram a diminuir de intensidade, embora ainda crepitassem ao seu redor. Aos poucos, o calor em seu corpo deu lugar a uma sensação de controle. Quando finalmente abriu os olhos, viu o estrago ao seu redor: o prédio abandonado estava em ruínas, mas ela estava inteira, viva.

— Quem é você? — ela perguntou novamente, a voz mais firme.

O estranho sorriu levemente.

— Um amigo. Alguém que sabe o que você é capaz de fazer. E também o que você precisa aprender.

Antes que ela pudesse responder, ele deu um passo para trás e desapareceu em uma explosão de luz azulada. Nox ficou parada ali, ofegante, sentindo o peso da calmaria após a tempestade. Algo estava mudando. E ela precisava estar pronta para o que viesse a seguir.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top