cap. dezessete
O caos havia retornado, e com ele, Nox. Vestida mais uma vez como a personificação de sua essência, ela estava sob o grande prédio, observando o tráfego incessante abaixo. A luz dos postes refletia em sua roupa preta com detalhes em verde, enquanto a máscara que escondia sua verdadeira face lançava uma sombra enigmática. Ali, no topo do mundo, ela era o caos em sua forma mais pura: imprevisível, indomável, uma força que desafiava todas as regras.
Mas o caos não começara em Nova York, nem em qualquer dimensão alternativa. Não, suas raízes eram muito mais antigas e profundas. Tudo havia começado com Loki. O deus da trapaça, mestre da astúcia, fora seu mentor. Loki não apenas a ensinara a arte da manipulação e da estratégia; ele lhe mostrara como ser dona de si mesma. Cada lição, cada palavra dele, moldou Nox em algo além do comum, alguém que não se curvava às normas impostas por qualquer deus ou mortal.
E foi assim que ela se tornou a Deusa do Caos. Não por escolha, mas porque era inevitável. O caos não era apenas um título ou um fardo; era a essência de sua existência. Carregá-lo era como carregar sua própria identidade. Era aceitar o que Odin tanto temera, o que ele tentara conter e aprisionar em Asgard. Nox era o reflexo do que nem mesmo o Todo-Poderoso podia controlar.
Por isso, escolheu o pseudônimo de Caos. Não porque queria ser temida ou adorada, mas porque era a única forma de declarar ao universo quem ela realmente era. Ela não era uma vilã, nem uma heroína. Não caminhava por caminhos predefinidos de luz ou trevas. Ela era algo no meio, algo indefinível. Alguém que, acima de tudo, faria qualquer coisa para proteger aqueles que amava.
Do topo do prédio, seus olhos varriam a cidade como uma tempestade prestes a se formar. As luzes da metrópole brilhavam abaixo, mas Nox sabia que, para muitos, sua presença era uma sombra — algo que incomodava, que desafiava o equilíbrio confortável que tentavam manter. Mas para ela, o equilíbrio era uma mentira. O caos era a verdade. Era o que movia o universo, o que fazia as estrelas se formarem e as civilizações caírem.
E ali, sob o céu noturno, Nox não se sentia nem poderosa nem fraca. Apenas viva. A cidade pulsava abaixo, cheia de incertezas, enquanto ela permanecia acima de tudo, pronta para agir. Seja para destruir, seja para salvar, Nox seria o caos que ninguém poderia prever.
[...]
Max.
Nox lembrava-se dele no elevador. Um homem comum, tímido até, que a cumprimentara com um sorriso hesitante enquanto segurava um pequeno bolo para celebrar seu aniversário. Ela jamais imaginara que ele mudaria tanto de um dia para o outro, transformando-se na figura que agora estava diante dela.
— Max? — Sua voz ecoou pelo espaço, abafada pela máscara que usava.
Ele se virou lentamente, seus olhos brilhando com uma intensidade quase sobrenatural. Sua pele, agora de um azul elétrico, pulsava com energia que parecia viva, quase instável.
— Você sabe quem eu sou? — A voz dele soou insegura, quase um sussurro.
— Claro! — exclamou Nox, surpresa. — Era o seu aniversário. O que aconteceu, cara?
Max hesitou, seus ombros caindo sob o peso de uma culpa evidente.
— Eu... não foi minha culpa. — Sua voz quebrou, carregada de desespero. — Não foi minha culpa.
— Eu sei, eu sei. — Nox tentou acalmá-lo, levantando as mãos em um gesto de paz. — Só... quer sair daqui? Escapar dessas atenções todas?
Ele olhou ao redor, os olhos encontrando os telões gigantes que transmitiam sua imagem para toda a cidade. A multidão abaixo murmurava, alguns com medo, outros curiosos.
— Quero — respondeu finalmente, quase um sussurro.
Antes que Nox pudesse guiá-lo para fora, outra voz interrompeu.
— Ei! — A voz familiar de Peter Parker, o Homem-Aranha, cortou o ar. Ele pousou em uma pose característica, encarando os dois.
— Homem-Aranha? — Max, por um momento, parecia genuinamente alegre ao vê-lo. — Você está aqui!
Nox revirou os olhos por trás da máscara.
— Temos um novo herói na cidade? — Peter perguntou, lançando um olhar curioso para Nox.
— Sou Caos. — Ela respondeu, seca. — Max e eu estávamos de saída. Não é, Max?
— Mas agora que a festa vai começar? — Peter gesticulou dramaticamente, claramente tentando aliviar a tensão.
Max olhou para os telões novamente, sua expressão mudando de alegria para algo mais sombrio.
— Eles me veem agora. — Sua voz estava cheia de uma mistura de tristeza e aceitação.
Nox franziu o cenho, tentando trazê-lo de volta à razão.
— Max. — Ela chamou, firme. — Qual é, cara? Isso não é você.
Existia uma linha tênue entre o bem e o mal, e ela sabia que ambos andavam lado a lado em muitos momentos. Mas antes que pudesse fazer mais, Nox percebeu que Peter estava involuntariamente puxando encrenca. Com sua chegada, toda a atenção da multidão e das câmeras desviou de Max para o mascarado vermelho.
A mudança repentina de foco parecia uma explosão para Max, que, agora conhecido como Electro, não conseguia mais conter sua frustração. A energia elétrica ao seu redor começou a se intensificar, as luzes piscando descontroladamente. Foi então que Nox viu o ataque chegando tarde demais.
Ela foi atingida, um choque elétrico percorrendo todo o seu corpo. O calor queimava por dentro, cada fibra de seu ser parecendo em combustão. Nox mal teve tempo de registrar a dor antes de tudo se apagar.
Quando caiu, sua mente se perdeu em um instante de lucidez. Agora ela entendia como Max se sentia — queimado de dentro para fora, tanto pelo poder que não conseguia controlar quanto pelas emoções que o consumiam. Enquanto perdia a consciência, a única coisa que ecoava em sua mente era uma promessa silenciosa: ela encontraria um jeito de salvar Max, mesmo que isso significasse enfrentar o próprio caos.
[...]
Nox adentrou a residência Osborn com o cuidado de uma sombra. A mansão estava mergulhada em um silêncio quase sobrenatural, interrompido apenas pelo suave zumbido de aparelhos eletrônicos e o som distante de uma tempestade que ameaçava se formar. Ela retirou os sapatos junto à porta, evitando o som de seus passos ecoando no piso de mármore, e começou a caminhar em direção ao quarto.
Ao entrar, encontrou a cama vazia. Suspirando, ela olhou ao redor, buscando qualquer sinal de Harry. Não demorou para lembrar-se do lugar onde ele provavelmente estaria. Seguiu pelo corredor até o grande escritório, a luz fraca de um abajur no canto denunciando a presença de alguém ali.
Harry estava no sofá, deitado de lado, os joelhos levemente dobrados, abraçando um travesseiro com força. Seu rosto estava parcialmente escondido, e seus cabelos estavam um pouco desarrumados, como se ele tivesse lutado contra o sono por horas antes de finalmente ceder.
Nox se aproximou devagar, abaixando-se ao lado dele para que seus olhos ficassem na mesma altura.
— Harry, amor — chamou suavemente, sua mão encontrando os cabelos dele, que ela acariciou com ternura. — Harry?
Ele murmurou algo ininteligível antes de abrir os olhos lentamente. Estavam pesados de cansaço, mas suavizaram ao focarem nela.
— Hm... — Ele soltou um som baixo, ainda confuso entre o sono e a vigília.
— Amor, vamos para a cama — sugeriu Nox, sua voz baixa e carinhosa enquanto continuava a acariciar os cabelos dele.
Harry piscou algumas vezes antes de murmurar, com a voz rouca e baixa:
— Eu estava esperando por você.
O coração de Nox apertou-se levemente, um misto de culpa e amor. Ela se inclinou mais, aproximando-se do rosto dele.
— Desculpe por demorar tanto — disse, olhando-o com uma intensidade que só o amor verdadeiro carrega. — Mas estou aqui agora.
Harry suspirou, seus olhos cansados estudando o rosto dela.
— Onde esteve? — perguntou, o tom carregado de preocupação.
Nox sorriu de leve, um sorriso que misturava exaustão e alívio.
— Longa história — respondeu, deixando escapar um suspiro suave.
Ele arqueou uma sobrancelha, mesmo na semi-escuridão.
— Eu gosto de histórias — disse, sua voz um pouco mais clara agora.
— Eu sei — murmurou, inclinando-se para beijar suavemente a testa dele. O toque foi breve, mas cheio de afeto. — Agora vamos, sim? Você precisa descansar.
Ele hesitou por um momento, como se quisesse prolongar aquele instante apenas um pouco mais, antes de se erguer lentamente. Nox o ajudou a levantar, oferecendo a mão para guiá-lo.
Enquanto caminhavam juntos pelo corredor até o quarto, ela sentiu Harry segurar sua mão com mais firmeza, como se temesse que ela desaparecesse novamente. E naquele toque silencioso, Nox prometeu a si mesma que, enquanto estivesse ao lado dele, faria o possível para ser a calmaria em meio ao caos que ambos viviam.
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