cap. dezesseis
Harry observava Nox por entre as
sombras do quarto, a luz suave do abajur destacando os contornos do colã preto com detalhes em neon que ela usava. Para ele, ela parecia uma obra de arte viva, cada movimento seu carregado de elegância e força.
— Você fica linda de qualquer jeito — murmurou, sua voz rouca e baixa, quase como um segredo compartilhado apenas entre eles.
Nox parou de ajustar o zíper do uniforme e lançou-lhe um olhar por cima do ombro, surpresa por encontrá-lo acordado.
— Pensei que estivesse dormindo — comentou, a voz suave enquanto deslizava os braços para fora do tecido justo.
— Não consigo dormir sem você ao meu lado — admitiu Harry, batendo de leve no travesseiro ao seu lado, como um convite silencioso. — Venha.
Havia algo em seu tom que fez Nox hesitar. Ela terminou de tirar o uniforme e vestiu uma camiseta larga antes de se aproximar da cama. Sentou-se na beira do colchão, encarando-o de frente, os olhos escuros cheios de uma preocupação contida.
— Algo perturba sua mente, meu amor? — perguntou, inclinando-se levemente para ele.
Harry suspirou, segurando a mão dela com delicadeza, como se temesse que ela pudesse desaparecer a qualquer momento.
— Você me amaria se eu fosse doente? — perguntou, a voz baixa, carregada de uma vulnerabilidade rara.
Nox franziu o cenho, analisando o rosto dele em busca de alguma pista.
— Amaria — respondeu, sem hesitar, o tom firme e sincero.
— E se eu fosse um fardo?
— Você não é um fardo, Harry. Nunca seria.
Ele apertou a mão dela um pouco mais forte, o olhar dele tão intenso que parecia atravessar sua alma.
— E se eu estivesse morrendo?
A resposta dela veio em um sussurro, mas com uma determinação que fazia cada palavra parecer uma promessa.
— Eu morreria com você.
— Não! — Harry levou as mãos dela aos lábios, beijando-as com um fervor que quase doía. — Você viveria por mim.
— Você está me assustando — Nox tentou aliviar a tensão com uma risada curta, embora seu peito já começasse a se apertar.
Harry fechou os olhos por um momento, como se estivesse se preparando para o impacto de suas próprias palavras.
— Chama-se hipoplasia retroviral — começou, a voz trêmula. — É genético. Está na minha família há gerações.
— Harry...
— Eu tenho — disse, encarando-a diretamente. — Estou morrendo, meu amor.
O mundo de Nox pareceu parar por um instante. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela balançava a cabeça, recusando-se a aceitar.
— Não. Vamos dar um jeito. — Sua voz saiu quase inaudível, mas carregada de convicção. — Eu vou dar um jeito.
Harry soltou um sorriso triste, tocando seu rosto com a palma da mão, como se quisesse gravar cada detalhe dela em sua memória.
— Não se preocupe, meu amor — murmurou, encostando os lábios na testa dela. — Ainda temos muito tempo juntos.
Nox segurou a mão dele contra seu rosto, as lágrimas escorrendo silenciosamente.
— Tempo suficiente para salvar você. — E, embora suas palavras fossem firmes, seu coração sabia que a batalha seria cruel.
[...]
Sentada sob o prédio, Nox encarava as luzes cintilantes da cidade de Nova York, os reflexos vibrantes contrastando com a escuridão que parecia envolvê-la por dentro. Filetes de lágrimas escorriam por seu rosto cansado, cada gota carregando o peso de uma dor que parecia insuportável. Saber que Harry estava morrendo lentamente a fazia sentir-se como se estivesse morrendo junto, uma parte dela desmoronando a cada batida de seu coração.
— Nox? — A voz suave e rouca de Harry ecoou atrás dela, quebrando o silêncio da noite. — O que faz aqui em cima, meu amor? Está frio.
Ela enxugou as lágrimas apressadamente, compondo um sorriso trêmulo enquanto se virava para ele.
— Só apreciando a vista — respondeu, tentando soar casual, mas a quebra em sua voz a traiu.
Harry franziu a testa, seus olhos perspicazes pousando sobre o rosto dela. Ele se aproximou lentamente, examinando-a com preocupação.
— Você estava chorando? — perguntou, a ternura em seu tom cortando o ar gelado. — O que aconteceu?
Nox desviou o olhar, fixando-o novamente no horizonte. Seu peito apertava com o peso das palavras que não conseguia dizer.
— Só... não é um bom dia hoje — murmurou, quase inaudível.
Sem hesitar, Harry sentou-se ao lado dela, passando um braço em torno de seus ombros em um gesto reconfortante. O calor do toque dele parecia uma ilha em meio ao oceano de sua dor.
— Quer conversar? — ofereceu gentilmente, sua voz carregada de preocupação.
Ela balançou a cabeça, incapaz de enfrentar a tempestade de emoções que ameaçava transbordar.
— Não. — Sua voz saiu quase como um sussurro. — Só me abrace.
Harry não disse nada, apenas a puxou para mais perto, envolvendo-a em um abraço apertado, como se tentasse protegê-la do mundo.
— Não precisa nem pedir — respondeu com carinho, sua boca tocando levemente o topo da cabeça dela. — Oh, minha doce Nox, como eu amo você.
O tempo pareceu congelar enquanto eles permaneciam ali, envoltos no silêncio da cidade que nunca dorme. Nox fechou os olhos, permitindo-se, mesmo que por um momento, esquecer a tragédia iminente. No calor do abraço de Harry, ela encontrou um resquício de força — uma fagulha de esperança em meio à escuridão que os cercava.
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