cap. dez



Fogo, gelo, sangue e dor.

Tudo se misturava naquele confronto caótico contra o grande Lagarto, o cientista que, em sua loucura, pretendia infectar toda Nova York com seu soro transformador. O cenário era um turbilhão de destruição: pedaços de metal retorcido, chamas dançando ao vento e gelo escorrendo pelas paredes da torre da Oscorp. Mas havia esperança. Peter Parker, graças à mente brilhante de Gwen Stacy, tinha o antídoto que poderia salvar a cidade.

Enquanto Peter avançava em direção à torre para trocar os tubos contaminados pelo antídoto, Nox assumiu a linha de frente. Com um salto grácil e perigoso, ela pousou diretamente nas costas do Lagarto. Ele se debatia furiosamente, tentando livrar-se dela, mas suas mãos, brilhando em verde neon, seguravam-no com firmeza. O poder ancestral fluía por seus dedos, como correntes que imobilizavam temporariamente a criatura.

- Vamos dançar, largatão - provocou Nox, a voz carregada de um humor afiado enquanto lutava para manter o equilíbrio.

- Garota petulante! - rugiu o Lagarto, sua voz grave ecoando pelo ambiente.

Nox sorriu sob a máscara, seu coração batendo forte com a adrenalina da batalha.

Mas então, o inevitável aconteceu. Com um movimento brusco, o Lagarto conseguiu arremessá-la. Seu corpo foi lançado com violência contra o telhado da Oscorp. A dor explodiu em suas costas, mas ela não desistiria tão facilmente. Respirando fundo, Nox se ergueu, sacudindo a poeira do traje, e disparou novamente em direção à torre.

No alto, Peter lutava contra o tempo, tentando inserir o antídoto enquanto o Lagarto o perseguia. Nox sabia que precisava detê-lo. Com uma explosão de energia, ela saltou novamente, agarrando o Lagarto pelos ombros. Desta vez, o impacto os derrubou juntos, e ambos caíram, rolando até aterrissar em uma plataforma abaixo.

O som de algo quebrando ecoou pelos ouvidos de Nox, uma dor aguda espalhando-se por seu corpo. Por um breve instante, tudo parecia desacelerar. Mas ela não podia ceder. Com esforço, levantou-se, o olhar fixo na criatura à sua frente.

- Não hoje! - gritou, avançando contra o Lagarto em uma luta corporal.

Era uma batalha desigual. Ele era maior, mais forte, e cada golpe de suas garras parecia capaz de partir aço. Mas Nox tinha algo que ele não tinha: determinação e a força que seus poderes conferiam. Apesar da desvantagem, ela adaptava seus movimentos, usando a velocidade e os reflexos aprimorados para desviar e contra-atacar.

Então, a voz de Peter atravessou o caos.

- NOX! - ele gritou do alto da torre, sua voz carregada de preocupação.

O som fez com que ela olhasse por um breve segundo, distraindo-se no momento crucial. Foi o suficiente. O Lagarto viu a brecha e atacou. Suas garras atravessaram o corpo de Nox, perfurando sua lateral. A dor foi avassaladora, um choque que a fez cambalear. O gosto metálico de sangue encheu sua boca, e o mundo ao seu redor pareceu desvanecer por um instante.

Ela caiu de joelhos, ofegante. Foi então que a memória voltou como um relâmpago: ela se lembrou de como havia morrido antes.

O frio daquela experiência, a sensação de impotência... tudo retornou com uma clareza dolorosa. Mas algo dentro dela se recusava a desistir.

Mesmo ferida, mesmo com a visão turva, Nox ergueu-se mais uma vez. Se ela havia aprendido algo em sua jornada, era que não importava quantas vezes caísse - o que realmente importava era o número de vezes que se levantava.

- Você não vai vencer - murmurou, cuspindo o sangue que manchava seus lábios.

E então, com as mãos brilhando novamente, ela se lançou contra o Lagarto, determinada a virar o jogo, mesmo que fosse a última coisa que fizesse.

O antídoto explodiu em uma rajada azul brilhante, espalhando-se como uma onda de luz que banhou a cidade inteira. O céu noturno de Nova York, antes tingido pelo caos, foi iluminado por um brilho intenso e momentâneo. Nox observou o espetáculo com olhos fascinados, como se cada partícula daquela luz contivesse uma história.

Um sorriso sereno surgiu em seus lábios. Finalmente, parecia que o pior havia acabado. A cidade estava salva. Peter tinha conseguido. Mas o preço havia sido alto.

Seu corpo, antes impulsionado pela determinação e pelo poder ancestral, finalmente cedeu. Nox caiu de joelhos, as forças esvaindo-se como areia entre os dedos. Suas mãos pressionaram instintivamente a ferida em seu estômago, agora pulsando com uma dor insuportável, mas ela já não lutava contra isso. Com um suspiro cansado, deixou-se cair no frio telhado da Oscorp, o traje negro contrastando com as luzes intermitentes da cidade abaixo.

Os olhos de Nox fixaram-se no céu acima, vazio e sem estrelas naquela noite. Mesmo assim, ela encontrou beleza na vastidão escura, como se estivesse olhando para um infinito familiar.

- Eu lembro agora - sussurrou para si mesma, a voz fraca, mas carregada de um significado profundo.

Um sorriso suave surgiu em seus lábios. Fragmentos de memórias perdidas inundaram sua mente como uma torrente inevitável. Entre elas, havia um rosto que sempre estivera no fundo de sua consciência, escondido nas sombras de sua história. Olhos intensos, verdes como uma floresta densa, encaravam-na em sua mente.

- Irmão... - murmurou, os lábios mal se movendo, mas o peso daquela palavra ecoava dentro dela.

A imagem de Loki era clara agora, sua presença um lembrete de tudo o que ela havia esquecido, de tudo o que havia sido. Ele a olhava, como se estivesse ali, no limiar entre o passado e o presente, um laço que nem mesmo a morte havia conseguido romper.

As lágrimas queimavam seus olhos, mas ela não as deixou cair. Em vez disso, guardou aquele momento como um tesouro precioso, um último pensamento de quem era e de quem havia sido.

Aos poucos, sua visão começou a escurecer, o som ao redor dela tornando-se distante, como se o mundo estivesse se afastando. Mas, mesmo enquanto a escuridão a envolvia, ela se sentia em paz.

Nox fechou os olhos, o sorriso ainda presente em seus lábios. Ela sabia que havia dado tudo de si, não apenas para salvar a cidade, mas para se lembrar de quem era.

E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se completa.

[...]

Peter caminhou pelas ruas até o apartamento de Nox, cada passo carregado de incerteza. Fazia dois meses desde a prisão do Doutor, e dois meses desde a última vez que a vira. Desde então, a ausência dela pesava em seus pensamentos como uma sombra persistente. Ele precisava vê-la, precisava saber se ela estava bem, mesmo que não soubesse exatamente o que diria.

Quando chegou à porta do apartamento, hesitou por um momento antes de bater. O som ecoou pelo corredor vazio, mas não houve resposta. Ele esperou, respirando fundo, então bateu novamente, desta vez com mais força.

Ainda nada.

Antes que pudesse tentar outra vez, ouviu o som de uma porta atrás de si se abrindo. Peter virou-se, encontrando o vizinho de Nox, um homem de meia-idade com olhos cansados, parado no limiar.

- Ela se foi, cara - disse o vizinho, com um tom casual que contrastava com o peso das palavras.

Peter franziu o cenho, uma pontada de preocupação misturada à surpresa.

- Como assim "se foi"? - perguntou, dando um passo na direção do homem.

O vizinho apoiou-se no batente da porta, cruzando os braços.

- Vi ela saindo com umas malas, faz uns dois meses. Parecia decidida. Não disse pra onde ia, só... foi embora.

Aquelas palavras atingiram Peter como um golpe. Ele piscou algumas vezes, tentando absorver a informação.

- Oh... - murmurou, a voz soando pequena, quase inaudível. - Obrigado.

O vizinho deu de ombros antes de fechar a porta novamente, deixando Peter sozinho no corredor silencioso.

Ele ficou ali parado por um longo momento, encarando a porta fechada de Nox como se ela fosse abrir a qualquer instante e revelar que tudo não passara de um mal-entendido. Mas a realidade era inegável: ela tinha partido, e ele não fazia ideia de onde estava ou se algum dia voltaria.

Com um suspiro pesado, Peter apoiou as costas na parede oposta, deixando-se deslizar até ficar sentado no chão. Uma sensação de vazio começou a crescer dentro dele, como um buraco que não podia ser preenchido. Primeiro Gwen, agora Nox. Era como se cada pessoa importante em sua vida fosse inevitavelmente arrancada de suas mãos.

"Nox..." pensou, fechando os olhos por um momento.

Ela era imprevisível, intensa, uma força da natureza que se movia de acordo com seus próprios desejos. Talvez ele devesse ter esperado isso dela, mas ainda assim doía. Ele imaginou as malas que o vizinho mencionara, o olhar determinado no rosto dela enquanto saía pela porta pela última vez.

Era isso que ela era, não é? Uma alma livre, que ia e vinha conforme queria, sem amarras, sem explicações. Parte dele admirava isso, mas outra parte-uma que ele não gostava de admitir-queria que ela tivesse ficado.

"Talvez eu mereça isso", pensou com amargura. Talvez ele realmente merecesse estar sozinho.

Levantando-se devagar, Peter deu uma última olhada para a porta fechada antes de se virar e caminhar pelo corredor. A ausência de Nox deixava um vazio palpável em seu peito, mas ele sabia que não podia obrigá-la a ficar. Ela escolhera partir, e ele precisava aceitar isso, por mais que doesse.

Quando saiu do prédio, as luzes de Nova York pareciam mais distantes do que nunca. E, pela primeira vez em muito tempo, Peter sentiu o peso esmagador de estar completamente sozinho.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top