cap. vinte e um




Pandora lembrava-se claramente de ter ido para a cama naquela noite, o cansaço pesando em seus olhos após um dia longo e repleto de aventuras. As imagens do dia ainda dançavam em sua mente enquanto ela se aconchegava debaixo do cobertor macio. No entanto, quando fechou os olhos, o sono a transportou para um lugar que não era acolhedor, mas sim sombrio e assustador.

No sonho, a floresta parecia viva, pulsando com uma energia que a fazia arrepiar-se. As árvores eram altas e densas, suas copas formando um teto natural que bloqueava quase toda a luz. O ar estava frio, carregado com um cheiro de terra úmeda e algo mais — algo que ela não conseguia identificar. Cada passo que dava fazia o solo ranger sob seus pés, o som ecoando de maneira perturbadora.

Ela sabia que não estava sozinha. Sentia a presença de algo ou alguém, uma energia opressiva que parecia segui-la a cada movimento. Sua respiração tornou-se rápida, e seu coração batia forte no peito. Então, vieram os uivos. Primeiro distantes, como se viessem do coração da floresta, mas rapidamente tornaram-se mais altos, mais próximos. O som era de gelar os ossos, carregado de uma ameaça que ela não conseguia compreender completamente.

Pandora começou a correr. As árvores passavam como borrões ao seu redor enquanto seus pés descalços mal conseguiam manter o ritmo. O frio cortava sua pele, mas ela não ousava parar. Cada uivo parecia mais próximo, cada sombra entre as árvores mais ameaçadora. O medo era tangível, um peso que fazia seus movimentos parecerem mais lentos, como se estivesse presa em um pesadelo — o que, de fato, estava.

Ela olhou para trás apenas uma vez, e foi o suficiente para ver algo — uma figura indistinta, grande e de olhos brilhantes que a observavam com intenções claras de capturá-la. Seu sangue gelou, e Pandora forçou suas pernas a correrem mais rápido, mesmo quando sentia que suas forças estavam se esgotando.

Foi então que tudo parou. O som dos uivos desapareceu, as sombras pareceram congelar, e até o vento cessou. Ela tropeçou e caiu de joelhos, ofegante, tentando entender o que havia acontecido. Antes que pudesse pensar em outra coisa, seus olhos se abriram.

Pandora esperava encontrar-se em seu quarto, com as luzes suaves do abajur e o conforto de sua cama. Mas não era isso que a cercava. Ela estava deitada na terra macia, cercada pelas mesmas árvores altas e ameaçadoras de seu sonho. O cheiro de terra úmeda era o mesmo, assim como o frio que a envolvia.

— O que...? — sussurrou para si mesma, sentando-se e olhando ao redor.

A floresta era real. Ela podia sentir o toque das folhas, o peso do ar ao seu redor. Sua respiração ficou rápida novamente, mas desta vez não havia o consolo de acordar. Este não era um sonho.

Levantando-se com dificuldade, Pandora tentou entender o que estava acontecendo. Ela sabia que não tinha saído de sua cama, mas aqui estava ela, em um lugar que parecia retirado de um pesadelo. Começou a andar, com passos hesitantes, tentando encontrar algum sinal que explicasse como havia chegado ali.

— Paul? — chamou, sua voz ecoando fracamente entre as árvores. Não houve resposta.

A caminhada parecia interminável. Cada passo trazia novas dúvidas e um crescente sentimento de urgência. As árvores, que antes pareciam ameaçadoras, agora pareciam observá-la, como se a floresta tivesse olhos próprios. Então, ela ouviu novamente — um uivo, distante, mas inconfundível. Seu corpo enrijeceu, e ela olhou ao redor freneticamente.

— Quem está aí? — perguntou, tentando manter a voz firme. O silêncio que se seguiu foi mais assustador do que qualquer resposta que pudesse receber.

De repente, um movimento chamou sua atenção. Algo passou rápido entre as árvores, tão veloz que ela mal conseguiu identificar. Seus instintos gritaram para que corresse, mas seus pés pareciam colados ao chão. A figura voltou a se mover, desta vez mais devagar, deixando Pandora ver seus olhos brilhantes através da escuridão. Não eram olhos humanos.

Ela finalmente conseguiu se mexer, correndo na direção oposta, mesmo sem saber para onde estava indo. O som de passos pesados a seguia, e ela sabia que quem ou o que quer que fosse, estava se aproximando. Suas pernas doíam, mas ela não parava. O medo era seu combustível.

Então, sem aviso, Pandora tropeçou em uma raiz exposta e caiu. A dor atravessou seu corpo quando atingiu o solo, e antes que pudesse se levantar, sentiu uma presença sobre ela. Olhou para cima e viu a criatura — um lobo enorme, com olhos que brilhavam como fogo e uma pelagem tão escura quanto a noite. Mas havia algo mais nele, algo quase humano em sua expressão.

Antes que pudesse gritar, o lobo rosnou baixo, mas não atacou. Ele simplesmente a observou, como se estivesse estudando-a. Pandora ficou paralisada, o coração batendo descontroladamente. Então, outro som veio da escuridão — uma voz.

— Basta.

A voz era firme, autoritária, e fez o lobo recuar imediatamente. Pandora virou-se para olhar na direção do som e viu uma figura emergir das sombras. Era um homem, alto e envolto em um manto que parecia fundir-se com a escuridão. Seus olhos, brilhantes e penetrantes, encontraram os dela, e um calafrio percorreu sua espinha.

— Quem é você? — perguntou Pandora, sua voz trêmula.

O homem não respondeu imediatamente. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse avaliando-a.

— Você não deveria estar aqui — disse ele, finalmente, sua voz ecoando como se fosse parte da própria floresta.

— Eu não sei como cheguei aqui — respondeu Pandora, sentindo a desesperação crescer. — Por favor, me ajude.

O homem deu um passo à frente, e o lobo permaneceu ao seu lado, agora mais calmo, mas ainda observando-a de perto.

— Este lugar não é seguro para você — disse ele. — Mas talvez seja exatamente onde deveria estar.

Antes que Pandora pudesse responder, um novo uivo ecoou pela floresta, e a atenção do homem desviou-se para a direção do som. Ele voltou-se para ela rapidamente, a expressão agora mais urgente.

— Corra — disse ele. — Corra e não olhe para trás.

Sem outra opção, Pandora obedeceu, levantando-se e correndo novamente pela floresta, enquanto o som de uivos e passos preenchia o ar. Desta vez, não era apenas medo que impulsionava seus passos, mas também a esperança de que, de alguma forma, ela encontraria um caminho para fora daquele pesadelo.














1. Vocês gostam do Seth? Porque eu postei uma fanfic dele e ela tá bem flopadinha. Se vocês quiserem ler ela de chama Blue Sky

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top