cap. sete








Pandora estava em frente ao espelho, seus lindos olhos oceânicos fitavam seu reflexo. A pele pálida contrastava com a cicatriz que agora marcava seu belo rosto, uma linha que parecia contar histórias que ela não queria lembrar. Apesar de tudo, aquela marca adicionava algo à sua aparência, uma beleza melancólica e etérea que alguns poderiam considerar angelical.

— Você continua linda — disse sua mãe, aproximando-se por trás dela. As mãos quentes pousaram em seus ombros, transmitindo conforto. — Pronta para a escola? Bella está lá embaixo esperando por você.

Pandora desviou o olhar do espelho, encarando o chão como se quisesse fugir da realidade refletida.

— Eu pareço um monstro — murmurou, a voz entrecortada. — Essa cicatriz me arruinou para sempre.

Uma lágrima silenciosa escorreu por sua bochecha, brilhando como cristal na luz matinal. Sua mãe suspirou, ajoelhando-se ao lado da filha. Segurou seu rosto com ternura, forçando Pandora a encarar seus olhos cheios de amor.

— Nunca diga isso — repreendeu suavemente. — Você está linda. Sempre esteve. Você não tem ideia de como é angelical.

Pandora afastou-se, cruzando os braços como uma muralha contra as palavras da mãe. Virou-se abruptamente para encarar a mulher, os olhos brilhando de dor e frustração.

— Angelical, mãe? — sua voz subiu, carregada de incredulidade. — Olhe para mim! Olhe para o que eu me tornei! Essa cicatriz é tudo o que as pessoas vão ver agora.

Sua mãe hesitou, o olhar suavizando enquanto uma expressão de tristeza tomava conta de seu rosto. Para Pandora, aquela expressão era insuportável.

— Não me olhe com esse olhar — ela implorou em um sussurro, a voz quase se quebrando. — Não me olhe com pena.

— Não é pena, meu bem — respondeu sua mãe, erguendo-se para passar os dedos carinhosamente pelos cabelos da filha. — É amor.

Pandora piscou rapidamente, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair novamente. A suavidade na voz de sua mãe era uma âncora que a mantinha no lugar, ainda que suas emoções estivessem em um turbilhão.

— Amor não vai mudar como as pessoas me veem — ela disse, quase para si mesma.

— Mas pode mudar como você se vê — respondeu a mãe, apertando levemente os ombros da filha. — A cicatriz não define quem você é. Sua força, sua bondade, isso sim. Você é muito mais do que qualquer marca externa.

O silêncio se instalou entre as duas, denso e carregado de sentimentos. Pandora não respondeu, mas algo naquelas palavras plantou uma pequena semente em seu coração. Relutante, ela deu um único aceno de cabeça.

— Vou descer — disse por fim, sua voz baixa, mas firme.

Sua mãe sorriu, deixando-a seguir seu caminho. Enquanto Pandora descia as escadas, o barulho das conversas e risos no andar de baixo a alcançou. Bella estava esperando por ela, como sempre, mas Pandora ainda não tinha certeza de como enfrentar o mundo lá fora.

Antes de atravessar a porta da cozinha, deu uma última olhada em um pequeno espelho pendurado na parede. A cicatriz estava lá, mas também estavam seus olhos oceânicos e a centelha de algo mais profundo. Talvez força. Talvez coragem. Ela não sabia ao certo, mas naquele momento, decidiu que poderia descobrir.

— Pandora! — Bella chamou, um largo sorriso iluminando seu rosto enquanto avistava a amiga. — Você está ótima! — disse com entusiasmo, sua voz repleta de sinceridade.

Pandora arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Não minta — respondeu, a voz carregada de uma mistura de ceticismo e insegurança.

— Eu não estou mentindo, juro! — Bella exclamou, aproximando-se e segurando delicadamente as mãos de Pandora. — Você continua linda, Pan. Com ou sem cicatriz.

Por um momento, Pandora hesitou, mas a intensidade nos olhos de Bella era inegável. Um pequeno sorriso curvou os lábios de Pandora, embora ainda carregasse uma leve timidez.

— Obrigada, Bell — murmurou, puxando a amiga para um abraço apertado.

Bella retribuiu o gesto sem hesitar, envolvendo Pandora com uma energia calorosa que parecia dissipar qualquer vestígio de dúvida ou tristeza. Era como se, naquele instante, tudo estivesse bem.

Bella era o tipo de amiga que todos sonhavam em ter: genuína, com um coração enorme e um sorriso contagiante que iluminava até os dias mais sombrios. Ela tinha o dom raro de perceber o que as pessoas precisavam, fosse uma palavra de apoio, um abraço ou apenas sua presença confortante.

Pandora sabia que amizades assim eram joias raras. E, por mais que seu coração ainda carregasse incertezas, naquele momento, sentiu-se grata por ter Bella ao seu lado. Era como se, em meio ao caos interno, Bella fosse a sua ilha de tranquilidade.

[...]

Ninguém ligava.

Ninguém realmente se importava com Pandora, com sua cicatriz ou com suas risadas. Para os outros, ela era apenas mais uma pessoa entre tantas. Mas, no meio desse mar de indiferença, havia Jessica, uma garota que parecia viver para confrontá-la e testar seus limites.

Era hora do almoço, e Bella decidiu se sentar com seu grupo habitual de amigos. Relutante, Pandora resolveu acompanhá-la naquele dia. Uma decisão que logo se mostrou um erro. Jessica, com sua personalidade ácida e uma maldade velada em cada palavra, estava ali, pronta para atacar.

— Essa cicatriz é maneira — Jessica comentou com um sorriso malicioso, colocando uma batata frita na boca. — Onde conseguiu? Caiu de algum conto de fadas?

O silêncio se espalhou pela mesa. Uma das amigas de Jessica arregalou os olhos, incrédula.

— Jessica! — a amiga exclamou, claramente desconfortável com a provocação.

— O quê? — Jessica perguntou com um tom de falsa inocência, erguendo as sobrancelhas.

— Pare com isso!

Pandora, que havia passado o dia tentando se sentir confiante, respirou fundo. Havia conseguido ignorar olhares curiosos e sussurros nos corredores. Naquele momento, porém, ela decidiu que não iria se encolher.

— Sem problemas — Pandora disse, com um sorriso calmo mas firme. Seus olhos encararam Jessica diretamente, como se atravessassem suas intenções. — Eu sou uma sobrevivente de um ataque mortal — explicou, a voz carregada de um tom quase teatral. — Algo que você provavelmente não entenderia, já que vive em seu mundinho mundano e sem criatividade.

Jessica piscou, pega de surpresa pela resposta. Sua expressão mudou rapidamente, passando de deboche para constrangimento.

— Desculpe — disse, com a voz baixa. — Eu só estava brincando.

— Não, você não estava brincando — rebateu Pandora, com firmeza. — Você estava sendo má. E pessoas ruins não têm lugar ao meu lado.

Sem esperar uma resposta, Pandora pegou sua bandeja. Seu olhar encontrou o de Bella, que imediatamente se levantou.

— Bella, estou me retirando. Você vem?

— Claro! — Bella respondeu prontamente, pegando sua própria bandeja. — Tchau, pessoal.

Com isso, as duas se afastaram da mesa, caminhando até um canto mais afastado do refeitório. Ali, longe das provocações e dos olhares, encontraram um lugar onde podiam simplesmente ser elas mesmas.

— Obrigada, Bell — Pandora disse, sentando-se e soltando um suspiro de alívio. — Eu precisava disso.

Bella sorriu, colocando a mão sobre a da amiga.

— Sempre estarei aqui para você. Nunca se esqueça disso.

As duas trocaram um sorriso cómplice, e por um instante, o mundo ao redor pareceu desaparecer. Era ali, naquele pequeno refúgio, que Pandora sentia que poderia finalmente respirar.
















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