cap.quatro
"Ataque animal."
Foi o que disseram sobre o homem morto encontrado na floresta.
Pandora, no entanto, não acreditou nisso nem por um segundo. Havia algo na forma como seu pai falou sobre o caso ao telefone, algo na expressão preocupada de sua mãe quando desligou o noticiário naquela manhã. Era mais do que um simples animal selvagem atacando um homem.
Seu pai, assim como o pai de Bella, Charlie, eram policiais, e ambos foram chamados ao local no início do dia. Pandora tentou perguntar a sua mãe o que havia acontecido, mas só recebeu respostas vagas. Isso só aumentou sua curiosidade.
A chuva caía incessante sobre Forks, pesada e constante, transformando as ruas em espelhos d'água. Pandora, que havia perdido o ônibus para a escola, não teve outra opção além de pegar sua bicicleta. Vestiu uma capa de chuva que mal a protegia do frio e pedalou até a escola, aproveitando, em parte, o som relaxante da chuva ao seu redor.
No entanto, quando chegou ao corredor da escola, suas roupas estavam molhadas, e seu cabelo, mesmo protegido pelo capuz, estava grudado no rosto. Pandora parou em frente ao armário, tentando se ajeitar, quando Bella apareceu ao seu lado.
— Por que não me ligou? — Bella perguntou, franzindo o cenho.
Pandora deu de ombros, tirando a blusa molhada e a pendurando em um cabide improvisado dentro do armário.
— Eu não gosto de incomodar. — disse, sorrindo. — Além disso, gosto da chuva. É refrescante.
Bella revirou os olhos e deu um leve tapa no braço de Pandora.
— Você é louca! Quem gosta de pedalar nesse frio?
Pandora riu, fechando o armário e sacudindo o cabelo para tirar o excesso de água.
— Talvez eu seja, mas confesse, isso faz parte do meu charme.
Bella sorriu, mas logo mudou de assunto, inclinando-se levemente como se quisesse compartilhar um segredo.
— Jacob nos convidou para uma espécie de... reunião Quileute hoje à noite. Vai ter uma fogueira na praia e algumas histórias da tribo. Você vem?
Os olhos de Pandora brilharam com a ideia.
— Claro! Adoro essas coisas. — respondeu, animada.
Bella parecia satisfeita, mas havia uma tensão no ar, algo não dito que pairava entre elas. Pandora percebeu, mas decidiu não pressionar, pelo menos por enquanto.
[...]
Mais tarde, enquanto a chuva continuava a cair, Pandora não conseguia parar de pensar no tal "ataque animal". Embora fosse uma pessoa prática, havia algo nesse caso que não fazia sentido. Forks era cercada por florestas, mas ataques fatais eram raros, quase inexistentes. Além disso, os detalhes sobre o caso eram escassos demais, o que só aumentava seu desconforto.
Quando o dia escolar finalmente terminou, Pandora pedalou de volta para casa, pensando no que a noite na reserva poderia trazer. Jacob era sempre cheio de histórias, mas talvez, só talvez, ela pudesse aprender algo mais sobre o que estava acontecendo. Afinal, os Quileutes pareciam saber mais sobre a floresta do que qualquer um na cidade.
À medida que a noite se aproximava, Pandora se arrumou com cuidado, vestindo algo confortável e quente. Quando Bella chegou para buscá-la, Pandora entrou no carro com um sorriso, mas seus pensamentos estavam longe.
"Um ataque animal..."
Ela sabia que não podia ignorar aquilo. Mesmo que ninguém mais estivesse fazendo perguntas, Pandora sentia que precisava descobrir a verdade, e talvez a reunião na reserva fosse o primeiro passo para desvendar o mistério.
[...]
— Você foi parar no hospital? — Pandora exclamou, arregalando os olhos em puro pânico.
Bella suspirou, tentando minimizar o incidente.
— Foi só um acidente.
Pandora a encarou, incrédula.
— Acidente? Bella, você podia ter sido esmagada!
Bella desviou o olhar, desconfortável com o tom preocupado da amiga.
— Olhe, só vamos indo, ok? Jacob deve estar nos esperando.
— Você e sua teimosia... — Pandora murmurou, revirando os olhos enquanto entrelaçava o braço no de Bella.
— Cale-se! — Bella respondeu com um sorriso tímido, finalmente se permitindo relaxar um pouco.
Chegando na reserva Quileute, as duas desceram do carro e foram guiadas pelo som distante de risadas e o estalo reconfortante de uma fogueira. A praia estava mais escura do que Pandora se lembrava, mas a luz dançante das chamas iluminava os rostos ao redor, criando uma atmosfera acolhedora e misteriosa.
Jacob as recebeu com um sorriso largo, caminhando até elas com a confiança de quem estava em casa.
— Pessoal, essas são Bella e Pandora. — anunciou, gesticulando em direção à roda de amigos. — Bella vocês já conhecem, e essa é Pandora.
Bella acenou, visivelmente tímida sob os olhares curiosos.
— Oi...
Pandora, por outro lado, parecia confortável, até animada.
— Oi, pessoal! — disse, sorrindo de forma contagiante.
Um homem mais velho, sentado próximo à fogueira, indicou os lugares vagos ao lado.
— Venham, sentem-se. — disse Bill com um tom acolhedor.
Enquanto se acomodavam, uma voz carregada de ceticismo ecoou do outro lado da roda.
— Por que elas estão aqui?
Pandora ergueu o olhar e encontrou o dono da voz. Era um garoto alto, com músculos evidentes e uma postura confiante. Ele vestia apenas uma camiseta preta, como se não sentisse o frio que pairava no ar salgado da praia. Seu olhar parecia desafiador.
— Porque elas foram convidadas, Paul. — Jacob respondeu com firmeza, lançando um olhar de aviso ao rapaz.
Paul não disse mais nada, mas Pandora pôde sentir o peso de sua presença. Algo sobre ele parecia fora do comum, quase como se ele carregasse uma energia que o destacava de todos os outros.
Antes que o clima ficasse desconfortável, Bill limpou a garganta e chamou a atenção de todos.
— Agora, vamos às histórias. — anunciou, com um sorriso misterioso. — A maior lenda da nossa tribo é a dos lobos... metamorfos.
Pandora imediatamente se inclinou para frente, os olhos brilhando com expectativa.
— Oh, isso vai ser interessante! — murmurou, abraçando o braço de Bella em um gesto animado.
Bill começou a contar, sua voz grave e ritmada dando vida às palavras. Ele falou sobre os antigos Quileutes, homens capazes de se transformar em lobos gigantes para proteger sua terra e seu povo. Pandora ficou fascinada, seu coração acelerando à medida que a história avançava. Os detalhes eram vívidos: as batalhas com criaturas sombrias, a lealdade inabalável dos lobos à sua tribo e o fardo de carregar esse poder ancestral.
— Alguns dizem que essas histórias são apenas mitos... — concluiu Bill, olhando diretamente para Pandora e Bella. — Mas aqui, na nossa terra, sabemos que a verdade é muito mais do que o que os olhos podem ver.
Pandora sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo na maneira como ele disse aquelas palavras que parecia mais do que apenas teatral. Era como se estivesse tentando lhes dizer algo sem dizer diretamente.
— Uau... — Pandora sussurrou, apertando o braço de Bella com mais força. — Essa foi a melhor história que já ouvi.
Paul, do outro lado da roda, soltou uma risada curta, quase zombeteira, mas não disse nada. Pandora lançou-lhe um olhar curioso, ainda tentando entender a atitude hostil.
Jacob quebrou o silêncio que se seguiu à história.
— Então, o que acharam?
— Fascinante. — respondeu Pandora, ainda absorta. — E assustador.
Bella, que havia permanecido em silêncio a maior parte do tempo, deu um pequeno sorriso.
— É... bem diferente de tudo o que eu já ouvi antes.
A noite continuou com mais histórias, risos e provocações amistosas, mas Pandora não conseguia afastar a sensação de que havia algo mais acontecendo ali, algo que ela ainda não entendia.
Enquanto a fogueira começava a se apagar e o grupo dispersava lentamente, Pandora lançou um último olhar para Paul, que permanecia em silêncio, observando-a com uma intensidade desconcertante.
Ela sabia que aquela noite ficaria marcada em sua memória — não apenas pelas lendas fascinantes, mas pela sensação de que, na tribo Quileute, havia verdades escondidas esperando para serem descobertas.
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