cap. oito
O vento frio da manhã cortava a pele de Pandora enquanto ela caminhava pelo pátio da escola. Seus passos eram lentos, como se cada movimento fosse uma batalha contra os pensamentos que inundavam sua mente. Bella estava ao seu lado, sempre uma presença reconfortante, mas naquele momento nem mesmo a companhia da amiga parecia capaz de afastar a nuvem sombria que pairava sobre ela.
— Pan, você está bem? — Bella perguntou, preocupada. Seu tom era suave, mas carregado de cuidado.
Pandora deu de ombros, evitando o olhar da amiga.
— Estou tentando — respondeu em um sussurro. — Alguns dias são mais difíceis do que outros.
Bella assentiu, respeitando o silêncio que se seguiu. Sabia que forçar Pandora a falar não era o caminho. Em vez disso, apontou para um banco vazio perto das árvores.
— Vamos sentar ali por um minuto?
Pandora concordou com um aceno de cabeça e as duas se dirigiram ao banco. O som das folhas sendo movidas pelo vento preenchia o espaço entre elas, criando uma atmosfera tranquila. Por um momento, Pandora permitiu-se fechar os olhos e respirar fundo.
— Você sabia que a minha cicatriz não é a única coisa que me incomoda? — Pandora finalmente quebrou o silêncio, a voz tingida de uma vulnerabilidade rara.
Bella franziu a testa, inclinando-se levemente para frente.
— O que mais te incomoda, Pan?
— As pessoas não enxergam além dela. É como se tudo o que eu fosse tivesse desaparecido no momento em que isso aconteceu — Pandora apontou para o rosto, traçando a linha da cicatriz com os dedos. — Eu me sinto invisível, mas ao mesmo tempo exposta o tempo todo.
Bella segurou a mão de Pandora, apertando-a suavemente.
— Você não é invisível para mim — disse com firmeza. — E eu tenho certeza que você é muito mais do que essa marca. Talvez as pessoas ao seu redor precisem de tempo para entender isso, mas eu vejo quem você é.
Pandora olhou para Bella, seus olhos oceânicos cheios de emoção.
— Obrigada, Bella. Você é a melhor amiga que eu poderia ter.
Bella sorriu, inclinando-se para frente para abraçar Pandora. O gesto foi breve, mas carregado de significado.
— Vamos, o sinal vai tocar logo — Bella disse, levantando-se e estendendo a mão para ajudar Pandora a se levantar.
Enquanto caminhavam de volta para o prédio da escola, Pandora sentiu algo mudar dentro de si. Talvez não fosse um dia perfeito, mas, com Bella ao seu lado, ela sabia que poderia enfrentar o que viesse.
[...]
Pandora estava na floresta mais uma vez. Enfrentar seus medos era algo que ela sabia ser essencial, e a floresta, com seu ar misterioso e sombras inquietantes, havia se tornado o maior deles. O farfalhar das folhas sob seus pés era a única trilha sonora que a acompanhava enquanto caminhava pelo verde profundo, o sol poente tingindo o céu com tons dourados e rosados.
Um som inesperado — passos secos sobre galhos quebrados — a fez parar. Seu coração acelerou e um arrepio percorreu sua espinha. Olhou ao redor, buscando a origem do ruído. A floresta, que antes parecia adormecida, agora parecia viva, observando-a.
— Não devia estar aqui — uma voz grave e familiar ecoou atrás dela.
Pandora se virou rapidamente, encontrando Paul Lahote, com sua postura sempre desafiadora e aquele olhar intenso que parecia ver além da superfície. Ele a encarou por um momento, seus olhos repousando na cicatriz que cruzava o rosto da garota. Havia algo diferente em sua expressão, como se uma centelha de remorso atravessasse sua dureza habitual.
— É perigoso — ele completou, seu tom firme, mas não hostil.
Pandora ergueu o queixo, desafiadora.
— Eu sei me cuidar.
Paul cruzou os braços, deixando escapar um suspiro pesado.
— Pode até ser — admitiu, sem tirar os olhos dela. — Mas uma hora dessas, sozinha, aqui na floresta, você está se arriscando demais. Vem, eu te acompanho até em casa.
Pandora hesitou. A ideia de aceitar ajuda de Paul era desconfortável, mas ela sabia que ele tinha razão. Afinal, o sol já estava quase desaparecendo no horizonte, e a floresta não seria tão acolhedora sob o manto da noite.
— Tudo bem — respondeu finalmente, relutante.
Os dois caminharam lado a lado em silêncio. Era um silêncio curioso, que não parecia incômodo. Paul mantinha seu olhar atento, como se a floresta ao redor fosse um campo de batalha em potencial. Pandora, por sua vez, sentia uma mistura de gratidão e desconforto. Havia algo na presença de Paul que a fazia sentir-se segura, ainda que ele fosse, por vezes, irritante.
Enquanto o caminho serpenteava em direção à vila, Pandora quebrou o silêncio.
— Por que você faz isso, Paul? Por que se preocupa comigo?
Ele não respondeu de imediato, seus olhos fixos no horizonte. Quando finalmente falou, sua voz tinha um tom mais suave do que o habitual.
— Porque você merece. Mesmo que não veja isso agora, você é forte, Pandora. E forte não significa enfrentar tudo sozinha.
Ela não soube o que responder. Aquela declaração inesperada ressoou dentro dela, deixando-a sem palavras. Quando chegaram à casa de Pandora, ela parou na porta, virando-se para ele.
— Obrigada, Paul.
Ele deu de ombros, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
— Cuide-se, Pandora.
Ela observou enquanto ele se afastava, desaparecendo na trilha. Pela primeira vez, sentiu que talvez não precisasse enfrentar tudo sozinha. Talvez, apenas talvez, aceitar ajuda não fosse um sinal de fraqueza, mas de coragem.
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