cap. dois






Chovia fracamente em Forks, uma chuva fina que pairava no ar como um véu cinzento, às vezes pontuada por pingos mais grossos que estalavam nas folhas das árvores. O céu estava coberto por nuvens densas, mas isso não incomodava Pandora. A natureza melancólica do clima fazia parte de sua rotina. Com os fones de ouvido no volume máximo, ela corria pela trilha estreita que levava à praia de La Push, seus tênis afundando na terra molhada.

O vento gelado cortava seu rosto, mas ela não se importava. A música preenchia seus pensamentos enquanto seus pés mantinham um ritmo constante. Pandora tinha uma ligação especial com aquele trajeto, algo que não conseguia explicar completamente, mas que sentia profundamente. Para ela, o som das ondas batendo nas rochas e a brisa salgada do mar eram mais do que estímulos sensoriais; eram convites para um mundo que poucos pareciam entender.

Quando alcançou a praia, ela desacelerou, respirando profundamente o ar carregado de maresia. O mar estava revolto, as ondas dançando com uma energia bruta que fazia seu coração bater mais rápido. Pandora retirou os fones de ouvido, deixando que o som natural tomasse o lugar da música. O estrondo das ondas, o assobio do vento e o distante grito de gaivotas compunham a trilha sonora perfeita para aquele cenário.

Ela caminhou descalça pela areia úmida, sentindo os grãos frios entre os dedos. O impacto das ondas que alcançavam seus pés fazia um arrepio percorrer seu corpo. Embora o frio fosse intenso, ela permanecia ali, imersa no momento. Pandora sempre foi atraída por coisas que outros achavam banais ou até desconfortáveis. O silêncio, o isolamento, a simplicidade — tudo isso a fazia se sentir mais viva.

Enquanto caminhava, algo chamou sua atenção. Lá longe, quase na linha onde o mar encontrava o céu cinzento, pequenos pontos se moviam. Pandora estreitou os olhos e viu que eram pessoas, figuras em movimento. Aos poucos, seus olhos ajustaram o foco, e ela percebeu que estavam pulando de um penhasco. Ela parou, intrigada.

Ela sabia quem eram.

A tribo Quileute. Eles viviam na reserva, não muito longe da cidade, mas eram misteriosos para a maioria dos habitantes de Forks. Sempre juntos, sempre reservados. Pareciam guardar um segredo que ninguém conseguia decifrar. Enquanto outros evitavam a área por medo ou preconceito, Pandora sentia curiosidade. Havia algo neles que parecia parte do próprio ambiente, como se pertencessem ao cenário tanto quanto as rochas e o mar.

Observando os jovens saltarem do penhasco com uma destreza impressionante, ela se perguntou como seria a sensação. A queda livre, o impacto da água fria... Um misto de liberdade e risco que talvez ela nunca experimentasse.

Por um momento, Pandora pensou em se aproximar, talvez para observá-los mais de perto. Mas hesitou. Sua relação com os Quileutes era inexistente, como a de qualquer outro morador de Forks. Mesmo assim, ela sentiu uma faísca de admiração por eles, por sua coragem e por sua ligação tão evidente com a natureza ao redor.

O vento aumentou de intensidade, fazendo seus cabelos voarem em todas as direções. Pandora cruzou os braços para se aquecer e permaneceu ali, parada, enquanto as sombras no penhasco continuavam seus saltos. Ela sabia que jamais teria a mesma confiança que eles demonstravam, mas, de alguma forma, sentia-se conectada àquele momento. O mar, o penhasco, os Quileutes... tudo parecia parte de um grande quebra-cabeça que ela ainda não sabia como montar.

Depois de um tempo, Pandora virou-se, colocando os fones de volta nos ouvidos. A música começou novamente, mas a visão que ela presenciou continuava viva em sua mente. Enquanto caminhava de volta, sentiu que algo havia mudado, mesmo que ela ainda não soubesse exatamente o quê.

[...]

Pandora andava pelo quarto com o celular na mão e os fones de ouvido no volume perfeito, equilibrando sua atenção entre a música de fundo e a conversa com Bella. A janela estava aberta, permitindo que o ar fresco de Forks entrasse e balançasse levemente as cortinas. O sorriso em seu rosto era genuíno, um reflexo da leveza que a conversa trazia.

— Estou dizendo, eles são interessantes! — comentou Pandora, animada, referindo-se aos Quileutes que vira no penhasco mais cedo. — E corajosos. Pular daquela altura... dá para se quebrar inteiro, você sabia?

Bella, do outro lado da linha, riu levemente antes de responder:
— Na verdade, eu tenho um amigo na tribo. Jacob. Ele mora em La Push.

Pandora arqueou as sobrancelhas, mesmo sabendo que Bella não poderia ver.
— Hm... Jacob, é? — provocou, com uma risada travessa.

— Pare! Ele é só um amigo. — Bella apressou-se em dizer, mas Pandora conseguiu captar a hesitação na voz dela. Era suficiente para alimentar sua diversão.

— Aposto que você está vermelha agora. — Pandora continuou, rindo ainda mais alto.

— PANDORA! JANTAR! — o grito firme de sua mãe ecoou do andar inferior, interrompendo sua diversão.

— Já vou, mãe! — respondeu em voz alta, antes de voltar ao telefone. — Olha, Bella, preciso ir. Nos vemos amanhã?

— Até amanhã. — Bella respondeu, com um tom caloroso, antes de encerrar a ligação.

Pandora suspirou contente, jogando o celular e os fones sobre a cama bagunçada. Ela ajustou os cabelos rapidamente no espelho antes de sair do quarto. Descendo as escadas, pulava de dois em dois degraus, como se cada passo fosse uma pequena celebração.

Quando chegou ao andar inferior, o cheiro delicioso da comida a envolveu. O aroma quente e acolhedor parecia uma mistura de especiarias e algo assando no forno, sua memória já sabia que era um de seus pratos favoritos.

— O cheiro está maravilhoso! — exclamou, entrando na cozinha com um sorriso radiante.

Seus pais adotivos já estavam sentados à mesa. Seu pai lia o jornal casualmente, e sua mãe ajustava uma travessa no centro da mesa. O ambiente era simples, mas cheio de carinho, algo que Pandora valorizava profundamente.

— Fizemos seu favorito. — anunciou o pai, dobrando o jornal com um sorriso satisfeito.

— Adorável! — respondeu Pandora, sentando-se animadamente e começando a se servir. — Sério, vocês são os melhores.

— E o que andava aprontando lá em cima? — perguntou sua mãe, curiosa.

Pandora mastigou um pedaço de comida antes de responder, animada.
— Estava falando com Bella. Sabe, eu estava pensando... posso sair amanhã com ela?

Sua mãe levantou uma sobrancelha.
— E para onde vocês vão, mocinha?

Pandora deu de ombros casualmente, mas seus olhos brilhavam de entusiasmo.
— Bella tem um amigo na tribo Quileute que quer me apresentar. Pensei em dar uma passada por lá, conhecer melhor o lugar. Parece interessante.

Houve um breve momento de silêncio enquanto seus pais trocavam olhares. Então, seu pai assentiu com um sorriso.
— Tudo bem! Mas se divirta e não volte tarde.

Pandora sorriu largamente, sentindo o coração saltar de alegria.
— Prometo!

A conversa seguiu leve, com Pandora compartilhando pequenos detalhes de seu dia e seus pais falando sobre suas rotinas. Embora houvesse uma sensação de normalidade, ela sentia que algo novo estava prestes a acontecer. Conhecer alguém da tribo parecia mais do que um simples passeio. Era como se aquele encontro pudesse abrir uma porta para algo maior.

Enquanto subia para seu quarto depois do jantar, Pandora sentiu uma pontada de curiosidade. Quem era Jacob? E por que Bella parecia tão nervosa ao falar dele? Ela sorriu consigo mesma, ansiosa para descobrir.















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