cap. dezoito
A noite estava escura e fria, com o vento soprando entre as árvores, carregando consigo o cheiro úmido de terra e musgo. Pandora avançava com passos hesitantes, o som das folhas secas se partindo sob seus pés ecoando pela floresta deserta. O luar filtrava-se timidamente pelas copas das árvores, criando sombras que dançavam ao menor movimento.
O ar estava rarefeito, denso como se algo invisível o oprimisse. Pandora respirava fundo, sentindo o peso da atmosfera em seus pulmões, enquanto nuvens de vapor escapavam de seus lábios a cada expiração. A sensação era ao mesmo tempo intimidadora e revitalizante, como se a própria natureza a estivesse testando. Seus olhos, atentos, encontraram o brilho dourado que emergia da escuridão — os olhos de Paul, o lobo que ela procurava.
Ele estava ali, imponente, o pelo negro refletindo a luz prateada da lua, dando-lhe uma aura quase etérea. Pandora parou, engolindo em seco. Por um momento, tudo ao redor pareceu silenciar. Nem o vento, nem o farfalhar das folhas ousavam interromper aquele encontro.
Com o coração acelerado, ela ergueu a mão, como se para alcançar algo mais do que apenas o lobo — talvez coragem, talvez compreensão. Seus dedos trémulos se estenderam na direção dele, atravessando o vazio entre ambos.
— Está tudo bem — disse ela, a voz soando suave, mas firme, como um eco na vastidão escura. — Eu sei que você não vai me machucar, Paul.
O lobo não recuou. Seus olhos mantiveram-se fixos nos dela, profundos, quase humanos, como se pudessem ler cada pensamento que passava por sua mente. Ele deu um passo à frente, depois outro. O movimento era lento, calculado, mas não ameaçador. Havia algo em sua postura — uma mistura de desconfiança e curiosidade — que fazia Pandora acreditar que, naquele instante, ele também a estava avaliando.
Quando Paul finalmente alcançou sua mão, a tensão pareceu se dissolver. Pandora sentiu a textura da pelagem dele sob seus dedos — macia, quente, e surpreendentemente reconfortante. Um sorriso suave se formou em seus lábios, e, por um instante, todo o medo que carregava dissipou-se como a névoa ao amanhecer.
— Você é mesmo inacreditável, sabia? — murmurou ela, enquanto sua mão deslizava gentilmente pelo pelo do lobo.
Paul inclinou a cabeça ligeiramente, como se entendesse as palavras dela. Aquele momento, tão simples e ao mesmo tempo tão profundo, selava algo que ia além de uma simples interação entre humano e animal. Era um pacto silencioso, uma ligação que transcendia palavras.
Pandora abaixou-se lentamente, mantendo o contato visual com ele. Sentia-se como se estivesse olhando para um espelho, não de sua aparência, mas de algo mais — talvez da alma. Paul não era apenas um lobo; ele era um guardião, um reflexo dos mistérios que ela ainda precisava desvendar sobre si mesma e sobre o mundo ao seu redor.
O vento voltou a soprar, arrancando folhas das árvores e carregando-as em redemoinhos ao redor deles. Pandora riu baixinho, um som leve e desarmado que fez Paul inclinar as orelhas.
— Acho que isso significa que você confia em mim, não é? — disse ela, acariciando a cabeça dele com mais confiança.
Paul respondeu de forma simples: roçou o focinho contra a palma da mão dela, um gesto que fez o coração de Pandora se aquecer. Por mais frio que estivesse o ambiente, algo ali era inegavelmente acolhedor.
A lua continuava a iluminar a cena, como uma observadora silenciosa. Naquele instante, Pandora soube que algo havia mudado. Não apenas naquele encontro, mas dentro dela. O mundo parecia um pouco menos ameaçador, e o caminho à frente, por mais incerto que fosse, parecia um pouco mais claro. Com Paul ao seu lado, ela sentia que poderia enfrentar qualquer coisa que estivesse por vir.
[...]
Pandora estava deitada na relva, sentindo o frescor das folhas macias sob seu corpo, enquanto o céu estrelado se estendia acima deles. Ao seu lado, Paul — agora em sua forma humana — estava tão próximo que ela podia sentir o calor de sua presença. Seus rostos estavam a poucos centímetros de distância, e a respiração dele acariciava sua pele. O aroma sutil de menta a envolvia, trazendo uma estranha sensação de calma e excitação.
— O que nós somos? — perguntou Pandora, sua voz quase um sussurro, carregada de expectativa e incerteza.
Paul virou-se ligeiramente para encará-la, seus olhos dourados brilhando com uma intensidade que fazia seu coração acelerar.
— Tudo o que você quiser que sejamos — ele respondeu, a voz grave e suave como uma melodia noturna.
Pandora sorriu de leve, mas havia um toque de seriedade em sua expressão quando ela perguntou:
— Namorado e namorada?
Paul ergueu uma sobrancelha, o canto dos lábios curvando-se em um sorriso travesso.
— É isso o que você quer?
Ela hesitou por um instante, buscando as palavras certas.
— Eu quero algo real — admitiu, sua voz carregada de emoção.
Paul estendeu a mão, os dedos roçando suavemente a lateral do rosto dela, como se quisesse confirmar que ela realmente estava ali, tão próxima.
— Então é o que somos — disse ele, com um sorriso caloroso que fez Pandora sentir-se completamente segura. — Posso te beijar, minha namorada?
Um rubor espalhou-se pelo rosto dela, mas seus olhos brilharam com uma alegria que não podia ser contida.
— Pode, meu namorado — respondeu, a voz tingida de felicidade e nervosismo.
Sem mais palavras, eles fecharam o espaço entre eles. Os rostos se aproximaram até que os lábios finalmente se encontraram. O beijo foi suave no início, quase como uma promessa, mas rapidamente tornou-se mais profundo, cheio de sentimento e intensidade. O mundo ao redor pareceu desaparecer, deixando apenas o calor compartilhado e a sensação de que, por mais incerto que fosse o futuro, naquele momento tudo estava exatamente como deveria estar.
1. O primeiro beijo!!! Que tudo!
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