cap. dezenove




A água fluía livremente, deslizando pela pele de Pandora como se a abraçasse. Seus olhos reluziam com um tom azul vibrante, quase hipnótico, enquanto pequenos reflexos dançavam nas ondas formadas por seus movimentos. Parecia que a própria natureza celebrava sua presença ali.

Paul já havia notado aquela peculiaridade muitas vezes antes. Era mais do que uma coincidência: parecia um segredo que só ele podia ver. O vínculo entre Pandora e a natureza não era algo comum. Era como se ela fosse uma extensão viva da floresta, como se seus batimentos ecoassem no vento e seus sorrisos florescessem nas árvores.

— Seus olhos — ele murmurou, interrompendo o silêncio quase sagrado do momento.

Pandora ergueu o rosto, as gotas escorrendo suavemente de suas bochechas.

— O que tem meus olhos? — perguntou, intrigada, enquanto o encarava com um sorriso leve.

— Eles... ficam mais azuis quando você está na água — ele explicou, hesitante, como se verbalizar aquilo pudesse quebrar o encanto. — E na floresta, eles ficam verdes.

Ela soltou uma risada suave, inclinando levemente a cabeça, como se a ideia fosse absurda.

— É só o reflexo da luz, bobinho — respondeu com graça, seus lábios curvando-se em um sorriso despreocupado.

— Não! — Paul balançou a cabeça, a intensidade em seu olhar aumentando. — Pandora, você já pensou em ser... algo diferente?

Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.

— Tipo o quê? Um unicórnio? — brincou, rindo alto.

— Estou falando sério — ele insistiu, ajustando-se no lugar e puxando as pernas para mais perto do corpo. — Tem uma história na tribo.

Os olhos dela brilharam de curiosidade, o tom azul ainda mais intenso sob a luz difusa.

— Conte-me — pediu, inclinando-se levemente para ele, como se suas palavras fossem a coisa mais importante naquele instante.

Paul pigarreou, como fazia sempre antes de contar uma história.

— Dizem que existem crianças da floresta — começou, a voz baixa, quase reverente. — Elas são especiais, conectadas à natureza de um jeito que ninguém mais é. Chamamos elas de ninfas.

Pandora piscou, a expressão oscilando entre ceticismo e fascínio.

— Você acha que eu sou uma ninfa? — perguntou, estreitando os olhos como se tentasse decifrá-lo.

Paul sorriu, os olhos iluminados por um misto de admiração e brincadeira.

— Você é linda e gentil como uma — admitiu, sem hesitação. — Se alguém pudesse ser uma ninfa, seria você.

Pandora inclinou a cabeça, ponderando. Então, riu de maneira musical, o som ecoando pela água ao seu redor.

— Pandora, a ninfa — repetiu, experimentando o título em voz alta. — Soa muito bem, não acha?

Paul deu de ombros, mas não conseguiu evitar o sorriso que lhe escapou.

— Mais do que bem. Soa perfeito.

Ela ergueu uma das mãos, deixando a água escorrer entre os dedos, como se estivesse contemplando algo que até então não havia considerado.

— Ninfa ou não, acho que gosto de ser... eu mesma — disse, por fim, mas havia um brilho diferente em seus olhos, um toque de dúvida, talvez até de aceitação.

Paul a observou em silêncio, convencido de que Pandora era mais do que ela mesma sabia.

[...]

As mãos entrelaçadas diziam mais do que palavras poderiam expressar. Era um gesto simples, mas carregado de significado, como um sussurro silencioso de cumplicidade. Pandora sentia o calor das mãos de Paul nas suas, a textura levemente áspera dos dedos dele contrastando com a maciez da sua pele. Havia algo inexplicavelmente confortável naquele toque, algo que lhe transmitia segurança e paz, como se o mundo lá fora pudesse desmoronar e, mesmo assim, ela estivesse protegida.

Paul caminhava ao lado dela, o sorriso despreocupado dançando em seus lábios enquanto o sol filtrava-se pelas folhas das árvores.

— Você vai amar a alcateia — disse ele, com a empolgação de alguém que queria compartilhar algo muito especial. — Eles são incríveis.

Pandora olhou para ele, a preocupação sutil refletida em seus olhos.

— E você acha que eles vão gostar de mim? — perguntou, quase num sussurro, como se temesse a resposta.

Paul parou por um instante, puxando-a levemente para que também parasse. Ele virou-se para encará-la, o olhar fixo no dela, cheio de ternura.

— E quem não gosta de você, minha doce Pandora? — respondeu ele, com um sorriso que fez o coração dela acelerar.

Pandora sentiu o rosto aquecer e desviou o olhar, mas não soltou as mãos dele. As palavras de Paul carregavam mais do que mera gentileza; eram um reflexo genuíno do que ele sentia.

— Você fala como se eu fosse algo especial — disse ela, com uma risada suave que tentou mascarar sua timidez.

— Porque você é especial — ele retrucou, a seriedade na voz quase tangível. — Eles vão sentir isso também, assim que te conhecerem.

Ela hesitou por um momento, tentando processar o que ele dizia. Era difícil acreditar em algo tão grandioso sobre si mesma, mas com Paul, tudo parecia mais possível, mais real.

— Espero que sim — murmurou, apertando levemente as mãos dele, como se quisesse segurar aquele momento um pouco mais.

Paul inclinou-se ligeiramente, abaixando a cabeça para encontrar os olhos dela.

— Confie em mim, Pandora. Eles vão adorar você tanto quanto eu.

O ar pareceu ficar mais leve, como se a floresta ao redor tivesse parado para ouvir aquelas palavras. Pandora sorriu, um sorriso tímido, mas sincero, e sentiu uma faísca de coragem acender-se dentro dela.

— Então, acho que estou pronta para conhecê-los — disse ela, a voz carregando um toque de expectativa.

Paul apertou suas mãos uma última vez antes de voltar a caminhar, levando-a consigo. E, naquele instante, Pandora soube que, com Paul ao seu lado, estava preparada para enfrentar qualquer coisa.








1. Se alguém tiver ideias para os próximos capítulos, sou toda ouvidos e olhos.

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