cap. dez
Brilhantes.
Paul percebeu que os olhos de Pandora brilhavam como estrelas enquanto ela brincava com a água. O azul profundo de seus olhos parecia se intensificar a cada movimento, como se ela e o riacho fossem um só, conectados de uma forma que ele não conseguia explicar. A cena era hipnotizante; cada gesto dela parecia carregado de uma energia que transcendia o comum.
Pandora, alheia ao olhar fixo de Paul, deixou a água deslizar por seus dedos, formando pequenas ondulações que refletiam o brilho do sol. Para ela, o contato com o riacho era quase terapêutico, uma maneira de encontrar paz em meio ao caos de seus pensamentos.
— Seus olhos — Paul finalmente quebrou o silêncio, sua voz grave quase um sussurro.
Pandora ergueu o olhar, confusa.
— O quê? — perguntou, franzindo a testa.
Paul hesitou por um momento, como se estivesse buscando as palavras certas.
— Eles são... lindos — ele disse, sua voz ganhando firmeza. — Como o oceano.
Pandora piscou, surpresa com a declaração inesperada. Sentiu suas bochechas esquentarem ligeiramente, mas disfarçou voltando sua atenção para a água.
— É só reflexo — disse, tentando parecer indiferente. — A luz do sol e a água fazem parecer algo mais do que realmente é.
Paul riu suavemente, balançando a cabeça.
— Não é isso — insistiu. — Tem algo nos seus olhos, algo que é só seu. Como se guardassem um pedaço do mundo que ninguém mais pode ver.
Pandora ergueu o olhar novamente, desta vez encarando Paul diretamente. Havia algo na expressão dele — uma mistura de admiração e sinceridade — que a desarmou. Não estava acostumada com elogios, muito menos com palavras tão profundas.
— Você tem um jeito peculiar de dizer coisas — disse, tentando aliviar a tensão com um leve sorriso.
Paul deu de ombros, um sorriso brincando em seus lábios.
— Só falo o que vejo.
O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Pelo contrário, havia uma calma estranha entre eles, como se as palavras ditas fossem suficientes para preencher o espaço. Pandora voltou a brincar com a água, mas agora sentia o peso do olhar de Paul, não como um fardo, mas como algo que a fazia se sentir vista de uma maneira que ela não entendia completamente.
— Você sempre observa as pessoas assim? — perguntou de repente, sem erguer os olhos.
Paul riu, um som baixo e descontraído.
— Só quando elas fazem algo interessante.
Pandora olhou para ele novamente, a curiosidade brilhando em seus olhos.
— E o que eu estou fazendo que é tão interessante?
Paul inclinou ligeiramente a cabeça, como se estivesse considerando a pergunta.
— Você está sendo você mesma — disse, simplesmente. — E, acredite, isso é raro.
Pandora não respondeu de imediato. As palavras de Paul ecoaram em sua mente, provocando uma sensação estranha, como se ele tivesse enxergado algo que nem ela mesma sabia sobre si. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu desconcertada, mas não de um jeito ruim.
— Você é cheio de surpresas, Lahote — disse finalmente, um sorriso discreto surgindo em seus lábios.
— E você é cheia de mistérios, Pandora — ele respondeu, com um brilho divertido nos olhos. — Acho que estamos quites.
[...]
O som da risada de Pandora ecoou pelo ambiente, cristalino e contagiante, iluminando o espaço ao redor como se o próprio ar tivesse se tornado mais leve. Ela estava sentada frente a frente com Paul, que, apesar de sua famigerada seriedade, parecia determinado a provocá-la a rir sem parar. Havia algo quase hipnótico no modo como ele a observava enquanto ria, como se quisesse guardar aquele som para sempre.
— Então ele caiu de bunda e saiu deslizando pelo barranco! — Paul contou, a voz entrecortada por risos. Seus olhos brilhavam com a lembrança cómica, o rosto relaxado em um sorriso genuíno.
Pandora jogou a cabeça para trás, rendida ao ataque de risos que não conseguia conter. As lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ela se inclinava para trás, apoiando-se nos braços. O estômago doía de tanto rir, mas ela não conseguia parar.
— Você é terrível! — conseguiu dizer entre gargalhadas. — Eu consigo imaginar a cena perfeitamente!
Paul inclinou-se para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, observando-a com uma expressão que misturava satisfação e algo mais profundo. Havia uma energia vibrante entre os dois, como se o mundo tivesse desaparecido, deixando apenas aquele momento.
— Não é minha culpa que você tem uma imaginação tão boa — respondeu, um sorriso travesso brincando em seus lábios.
Pandora secou as lágrimas do rosto, tentando recuperar o fôlego.
— E você tem um jeito de contar histórias que deveria ser ilegal — rebateu, ainda sorrindo.
Paul deu uma risada baixa, observando-a com carinho. Ele nunca tinha ouvido um som tão bonito quanto a risada dela, e sabia que faria qualquer coisa para ouvi-la de novo. Havia algo em Pandora — algo autêntico e luminoso — que fazia com que ele esquecesse de tudo o mais.
— Você devia rir mais — ele disse, o tom repentinamente suave. — Combina com você.
Pandora ergueu os olhos para ele, surpreendida pela mudança de tom. Havia sinceridade em suas palavras, uma simplicidade que a fez sentir um calor inesperado no peito.
— Talvez eu deva — respondeu, com um sorriso tímido. — Mas você vai ter que continuar contando histórias assim.
Paul deu de ombros, um brilho divertido nos olhos.
— Isso não vai ser um problema — prometeu.
Por um instante, o silêncio se instalou, mas não era desconfortável. Era como se ambos estivessem guardando aquele momento, deixando-o se assentar entre eles. A brisa leve balançava os cabelos de Pandora, e Paul teve que se segurar para não levantar a mão e afastar uma mecha teimosa do rosto dela.
— Sabe — Pandora disse de repente, olhando para o céu. — Faz tempo que eu não ria assim. Obrigada.
Paul sorriu, um sorriso discreto, mas cheio de significado.
— Sempre que precisar, é só chamar. — Sua voz tinha um tom despreocupado, mas seus olhos diziam mais do que ele se atrevia a colocar em palavras.
E assim, com um novo tipo de compreensão entre eles, os dois continuaram ali, compartilhando o tipo de momento que se grava na memória como um tesouro raro.
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