𝑪𝑨𝑷𝑰́𝑻𝑼𝑳𝑶 𝑻𝑹𝑰𝑵𝑻𝑨 𝑬 𝑫𝑶𝑰𝑺🌑
20 anos depois
Houston, Texas, EUA
Liam Dunbar
Já faz tanto tempo que não venho aqui, tudo está muito diferente.
A não ser pelo sentimento de pesar, ele sim desapareceu.
— Ai meu Deus, como você está lindo!!
— Você continua do mesmo jeito!!
— Não sejam modestos — Eu ri enquanto abraçava os dois — Vocês estão ótimos.
— A velhice me tornou elegante — Corey ajeitou os anéis em seus dedos.
— A autoestima não muda — Mason falou.
— E isso é ótimo! — Eu ri.
— Vamos entrar, eu já reservei a mesa.
Quem diria? Vinte anos depois e eu de volta nessa cidade onde cresci… tudo parece nostálgico.
Atualmente estou morando no Brasil, me mudei para lá quando completei vinte anos e foi a melhor escolha que eu pude tomar, apesar de gostar desse lugar, por uma época da minha vida me trouxe memórias nada boas, então eu preferi ir embora e deixar o passado no passado.
Eu perdi contato com todos da época de escola, mas há uma semana atrás aconteceu algo inusitado, precisei vir para os EUA a trabalho e eu estava no supermercado comprando o meu jantar, quando vi Mason no corredor ao lado lendo as calorias de um pote de sorvete. Não nos víamos desde que a escola terminou, então não posso negar que algumas lágrimas rolaram quando nos abraçamos.
Marcamos um almoço hoje em um restaurante, eu, ele e Corey, que agora é seu noivo.
Quem diria que o namoro do colégio daria certo.
— E se tornou muito divertido depois que eu conheci vocês — Corey continuava falando sobre a época do colégio quando nos conhecemos.
Já fizemos o nosso pedido e pedimos algumas bebidas antes dos pratos chegarem, eu e Mason optamos por suco de laranja, mas Corey não se importa se ainda está cedo para beber. Sempre gostei da sua personalidade.
— O melhor mesmo eram os conselhos que você me dava — digo após tomar um gole de suco.
— Você era apenas um bebê sem experiência nenhuma, eu adorava suas caras e bocas com o que eu dizia — Nós três rimos.
— Era ótimo aprender com você. Aliás, eu amei o anel de noivado — digo e vejo os dois se entreolharam com um sorriso.
— Eu nem acredito que vou me casar! — Corey sorriu ainda mais.
— Ele quase me matou do coração quando eu pedi, pensei que ele não aceitaria — Mason disse.
— Eu fiquei muito emocionado, não sabia o que dizer!
— Sim?
Eu ri.
— Eu fico muito feliz por vocês! É ótimo ver que o relacionamento homoafetivo já não é tão escondido como antes — digo.
— Mas ainda tem muito o que melhorar, nós mal temos direitos, o preconceito ainda é nojento e a discriminação injusta — Corey disse, frustrado.
— Temos que continuar lutando pelos nossos direitos! — foi a vez de Mason dizer e eu assenti.
— E você, Li? Como estão as coisas no Brasil? Você está namorando? Casou? E a… Lydia?
Corey perguntou e eu quase ri da sua empolgação em saber.
— Está tudo bem por lá, e sim, eu me casei e a Lydia está ótima.
Eu vi o sorriso dos dois murchar no mesmo instante que falei.
A minha vida deu uma grande reviravolta e todos sabem disso, não foi fácil depois que descobriram da minha sexualidade e eu sofri muito dentro da escola e dentro de casa.
Quando eu voltei pra casa, logo após ser expulso, meu pai me deu uma surra, eu nunca apanhei tanto em toda a minha vida e aquilo doeu muito mais do que só fisicamente.
Ele me ameaçou e ameaçou a única pessoa que eu amei, me obrigou a iniciar um relacionamento com a Lydia porque não queria ser mal falado ou que pensassem mal dele por ter um filho como eu.
Eu não pude fazer muito além de aceitar.
Eu fiquei traumatizado, então eu apenas o obedeci.
— Ela queria vir para cá quando eu disse que viria, mas por conta do trabalho ela não pôde — Eu expliquei.
A Lydia trabalha muito, já conversamos sobre ela dar uma pausa, mas ela é teimosa.
— Bom e… os seus pais? — Mason me perguntou.
— Minha mãe está bem, ela está morando em Portugal com uma amiga — Eu falei — meu pai faleceu ano passado.
— Sinto muito.
— E os pais de vocês?
— Meus pais estão debaixo da terra, minha mãe ficou doente e acabou falecendo e meu pai bateu as botas já faz tempo — contou Corey.
— Meus pais moram aqui na cidade ainda, inclusive, minha mãe quer te ver — Mason diz para Corey.
— Eu adoro sua mãe, mas é complicado. Convenhamos, ela me trata como se eu fosse sua esposa e não o seu marido.
— Você precisa entender que ela está tentando, amor.
— Eu também estou tentando, tentando muito — Corey murmurou e eu ri fraco — como anda o casamento? Quero saber detalhes.
— Muito bem, faz dois anos que nos casamos, apesar de estarmos juntos há tanto tempo. Temos dois filhos lindos.
— O QUE? VOCÊ É PAI?
Corey literalmente gritou, chamando a atenção de todos e me fazendo rir enquanto Mason o repreendia.
— Eu não fazia ideia! Amigo, que lindo!! Parabéns!
— Obrigado, eu amo muito meus bebês.
Vejo Corey cutucando Mason e o mesmo nega com a cabeça, tentando ser discreto.
— Amigo… é… o Theodore… nunca mais tivemos notícias dele também… vocês mantiveram contato? — Corey tentou ser cauteloso nas palavras e vi Mason cutucar ele novamente.
— Faz um tempo que não vejo ele.
Realmente faz um tempo…
— Mas eu acredito que ele pode estar bem.
Eu sorri fraco.
A nossa comida chega e o garçom nos serviu, após um agradecimento, ele saiu e ficamos sozinhos outra vez.
— A propósito — Eu comecei a falar — ele mandou um beijo para vocês.
— Quem? — Mason perguntou.
— O Theo.
Mason solta o seu talher e corey cospe o vinho de volta na taça.
— O QUE?
— Meu marido, gente. Ele mandou um beijo pra vocês — eu reprimi um sorriso e corey quase deu um salto da cadeira.
— Você tem muito para nos explicar, Liam Dunbar!
…⏳️…
Após o almoço, decidimos dar uma volta por aqui, esse lado da cidade é onde a praia fica, então acabamos caminhando por aqui.
— Depois que aconteceu tudo aquilo, eu realmente pensei que seria o fim entre nós, eu fiquei dois meses afastado do Theo depois que meu pai me trocou de escola, eu entrei em um “relacionamento” com a Lydia, mas era tudo mentira — eu comecei a explicar — a Lydia nunca concordou em ser a minha namorada de verdade, na verdade ela estava me ajudando a esconder do meu pai, ela nos ajudava a nos encontrarmos escondido no quintal da casa dela enquanto todos achavam que eu e ela é que estávamos juntos. Eu e o Theodore ficamos nessa por meses, mas quando nós dois completamos dezoito anos, alugamos um apartamento que tinha literalmente apenas um quarto e fomos morar juntos, já havíamos terminado a escola e já éramos maiores de idade, ninguém poderia controlar as nossas vidas. Um ano se passou, nossos pais descobriram e o Theodore foi parar no hospital depois do pai dele tentar matar o filho “doente” dele, mas nós não desistimos, tivemos a ideia de ir para o Brasil porque já não queríamos mais ficar aqui, não foi fácil no começo mas conseguimos nos reerguer lá, conseguimos um trabalho, uma casa ótima e nos casamos no Canadá, um dos poucos países que foi legalizado o casamento homoafetivo até então, no mesmo ano nós adotamos um menino e uma menina. E sabem de uma coisa? Eu nunca estive tão feliz em toda a minha vida!
— Seu cretino, eu acreditei por anos que você e Theodore tiveram o fim mais infeliz do universo e você estava com a Lydia — Corey disse enquanto enxugava algumas lágrimas — Eu estou tão feliz por vocês — ele me abraça de maneira desengonçada.
— Eu também fiquei muito surpreso com tudo isso, mas é incrível saber que vocês estão juntos e ainda construíram uma família juntos — Mason disse com um sorriso.
— Eu fico muito feliz por nós também e por tudo que construímos juntos.
— Nós precisamos urgentemente manter contato agora porque eu quero muito conhecer seus filhos e rever o Theodore — Corey disse.
— Claro, e vocês precisam conhecer o Brasil, vamos adorar receber vocês em casa.
Enquanto conversávamos, eu olhei para o mar e um sorriso bobo escapou dos meus lábios.
Já faz muito tempo que eu e ele não vemos o mar juntos, aquela foi a última vez.
Precisamos ir à praia, estou com saudades.
Estou morrendo de saudades dele também, não vejo a hora de voltar para casa com a minha família.
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