𝑪𝑨𝑷𝑰́𝑻𝑼𝑳𝑶 𝑺𝑬𝑰𝑺🌛
Liam Dunbar
Eu acordei com todo o barulho que os meus colegas de dormitório estavam fazendo, eles não tinham o mínimo de respeito com quem estava dormindo e já acordaram gritando e fazendo bagunça. Hoje é sábado, quando o fim de semana chega os alunos são livres para ir para casa passar um tempo com a família, mas pelo que eu ouvi, nem todos da escola voltam para casa, alguns porque moram muito longe ou porque simples tem outros motivos, assim como no meu caso.
Me virei para o lado na cama, os meninos estão arrumando suas coisas para irem embora e tudo está uma bagunça como sempre. A cama do Theo fica um pouco mais afastada, mas daqui eu consigo ver ele sentado na cama enquanto parece procurar algo dentro da sua mochila, seu cabelo está um pouco molhado porque provavelmente voltou recentemente do banho e ele parece bem distraído com o que está fazendo.
Quando ele encontra o que estava procurando, Theo se levanta e começa tirar sua camisa, eu já havia visto Theo sem camisa antes e é notável a diferença do seu corpo comparado com os outros garotos. O seu peitoral, sua barriga, seus braços...
Theo veste uma outra camisa e o vejo tirar a calça do pijama. Eu já o vi sem roupa uma vez no chuveiro e pode se considerar que o Theo tem um corpo bonito, algo que com certeza atrai muitas meninas. O Theo deve ser muito popular com as garotas, ele tem um rosto que atrairia qualquer uma delas e seu corpo também não deixa a desejar. Será que ele já teve muitas namoradas? Será que ele tem uma namorada?
Theo terminou de se vestir e eu voltei a fingir que estava dormindo. Meu corpo está quente, acho que hoje deve fazer mais calor lá fora.
Aos poucos fui ouvindo o quarto ficar mais silencioso, pelo visto eu serei o único a ficar no dormitório esse fim de semana. Vai ser bom passar um tempo sem esses garotos por perto.
...⏳...
Theo Raeken
Estou em casa depois de tanto tempo, parece um pouco estranho voltar depois de tanto tempo longe, eu sinto saudades, mas também fico com um pouco de medo.
— O que a senhora está fazendo carregando esse monte de sacolas, mãe? — eu perguntei, entrando na cozinha e vendo minha mãe com várias sacolas nas mãos.
— Theodore! Por que não me avisou que voltaria nesse fim de semana? — ela perguntou, claramente surpresa ao me ver.
Peguei as sacolas de sua mão e coloquei todas sobre a mesa.
— Eu queria fazer uma surpresa — digo, ela abre um pequeno sorriso e me abraça.
Ela parece um pouco cansada, provavelmente continua trabalhando limpando a casa dos outros. Eu nunca concordei com a minha mãe trabalhando tanto, uma vez eu tentei arranjar um emprego no parque de diversões para ajudar ela com dinheiro, eu vigiava os brinquedos, mas eu e meus amigos passamos e ir nos brinquedos de graça, também aconteceu um acidente com a máquina de algodão doce e por isso eu acabei sendo demitido.
— Como você está magro, não está comendo direito na escola? — ela perguntou assim que o abraço se desfez.
— Eu como até demais, mãe. O que a senhora comprou aqui? — perguntei, checando as sacolas e vendo várias comidas dentro da sacola.
— Não pegue na comida com as mãos sujas — ela beliscou meu braço.
— Aii! A senhora vai fazer sopa?
— Carne com legumes — ela falou — eu esqueci de comprar alho, pode voltar no mercado para mim?
— Claro, posso comprar balas de caramelo com o troco?
— Margareth, você viu os meus sapatos...? Olha só quem decidiu voltar para casa — meu pai entrou na cozinha e abriu um sorriso cínico assim que me viu.
— Oi, pai...
— Eu estava querendo mesmo falar com você, eu recebi as suas notas do mês passado, era por isso que você ficou tanto tempo sem vir para casa?
Meu pai não mudou nada.
— Eu não voltei porque sou o líder de classe desse mês, não tive muito tempo nos finais de semana — expliquei.
— Você é o líder de classe do mês? Meu Deus, meu menino só me dá orgulho — minha mãe falou sorrindo, em seguida deu um beijo em minha bochecha me fazendo sorrir.
— Eu não sei como conseguiu isso com notas tão ruins — meu pai falou — não deveria ter voltado para casa, deveria ter ficado na escola estudando para deixar de ser tão burro.
— Rick, não diga isso — minha mãe o repreendeu — o Theo voltou para ficar com a gente, não trate ele dessa maneira.
— Ele é meu filho, sou eu quem sei o modo que devo tratá-lo, não se meta nisso.
— Não fale assim com a minha mãe.
— Cale a boca, moleque! — ele gritou e entrou por completo na cozinha — o que você anda fazendo que não tem tempo para estudar?
— Mas eu estou estudando!
— Com notas desse tipo? Eu duvido! Você deveria ser como o seu primo.
O meu pai sempre age dessa forma quando volto para casa, se não fosse por minha mãe, eu não voltaria nunca mais aqui, ficaria na escola até me formar.
— Seu primo estuda em uma boa escola, só tem notas boas, tem um emprego e uma namorada bonita.
Dane-se meu primo. Nunca gostei daquele calças curtas mesmo.
— Quando você vai arrumar uma namorada?
— Mãe, onde está o dinheiro para comprar o que a senhora me pediu?
— Aqui...
— Não dê dinheiro a ele!
— Mas, Rick...
— Não seja uma tola, ele vai gastar tudo com besteiras.
Minha mãe suspira e entrega o dinheiro para mim.
— Aqui, compre o que quiser com o troco — ela falou com um sorriso.
— É por isso que ele é desse jeito, você só estraga ele.
— O senhor não trabalha hoje? — eu perguntei.
— Não é da sua conta.
Mas que velho chato.
— Olhe bem para mim, Theodore — ele interrompeu que eu passasse por ele para sair — se as suas notas não melhorarem, depois das férias eu vou te mandar para a escola do seu primo, me ouviu? Quem sabe assim, você não se tornará um menino decente.
Meu pai sempre me olhou com desprezo, ele já me disse várias vezes que eu sou um erro em sua vida e que se pudesse, não me deixaria mais viver nesse mundo. Eu não tenho dúvidas de que ele realmente é capaz disso.
...⏳...
Liam Dunbar
As freiras são umas senhorinhas muito gentis, eu nunca havia conversado com uma antes. Algumas freiras vieram hoje à escola, elas trouxeram alguns doces e nos propuseram ajudar na obra da igreja. Elas fizeram alguns vasinhos para decorar as janelas da igreja, elas estão na área externa da escola pintando alguns vasinhos e eu fui o único que pedi para ajudá-las.
A escola está com poucos alunos e eu particularmente prefiro assim, tudo parece mais tranquilo, quase não tem barulho. O fim de semana é realmente melhor.
Terminei de pintar mais um vaso, então coloquei na bancada para secar, mas algo me chamou atenção, quando olhei na direção do banheiro, vi um garoto saindo dali de dentro chorando. Eu não o conheço, nunca o vi aqui na escola e ele não é do meu dormitório, logo em seguida também vi três garotos saindo do banheiro enquanto ria, isso não parece bom. Decidi ir atrás do garoto que estava chorando, ele não parecia bem.
Eu caminhei em passos apressados até ele, até que ele parou de andar em um dos corredores.
— Oi!
Eu acho que não deveria ter dito assim tão alto, ele acabou se assustando.
— Você está bem?
— Me deixe em paz — o vejo enxugar suas lágrimas com as mãos. Tem um machucado em sua mão.
— Calma... eu... eu não vou te machucar — me aproximo devagar — você está machucado?
— O que você quer? — ele parece assustado, muito assustado.
— Eu... o que houve com sua mão? — eu me aproximei devagar, bem devagar. Então estendi minha mão e segurei a sua para conseguir ver melhor a sua mão machucada — como você machucou sua mão?
Olhei em seus olhos, o garoto na minha frente não disse nada, ele voltou a chorar e em seu semblante ele parecia desesperado, com medo e perdido. Isso me fez lembrar de quando os garotos na minha antiga escola me bateram por causa de um jogo de futebol... eu fiquei do mesmo jeito que esse garoto na minha frente.
— Vem, eu vou te ajudar — digo, tentando acalmá-lo um pouco.
Eu me lembro que Mason me disse uma vez que há uma caixa de primeiros socorros no nosso dormitório, fica debaixo da cama do Garrett, porque também é onde eles escondem as bolinhas de gude do supervisor.
Levei o garoto para o dormitório, durante o caminho eu fui tentando acalmá-lo um pouco e pareceu funcionar. Nós entramos no quarto e o garoto ficou olhando ao redor, reparando toda a bagunça dentro desse quarto.
— Achei, os meninos disseram que estaria aqui — digo, me levantando do chão que antes eu estava ajoelhado — a propósito, eu sou o Liam.
— Eu sou Corey.
— Vem cá, senta aqui na minha cama — digo, me sentando na minha cama e Corey logo vem ao meu lado.
— Por que você está fazendo isso?
— O que? — perguntei abrindo a caixa pesada e vendo várias bolinhas lá dentro junto com alguns curativos.
— Me ajudando... você nem me conhece.
— Mas você precisava de ajuda — digo — deixa eu ver.
Ele estendeu a mão para mim e eu vi o machucado sangrando um pouco.
— Como você...
Da última vez que eu tentei perguntar ele chorou, será que deveria perguntar?
— Alguns garotos me bateram no banheiro — Corey respondeu, com o olhar um pouco vago — eles sempre fazem isso comigo.
Peguei um algodão e despejei um pouco do remédio.
— Isso vai arder — digo.
— Espera — Corey olha para mim — tá bom, pode ir.
Eu passei um pouco do remédio e ele fez uma careta. Vou fazer rápido para não ter tanto sofrimento.
— Você já pensou em falar com o supervisor sobre isso? — perguntei a ele.
— Já, mas não resolveria em nada — ele falou — ninguém ajudaria o garoto gay da escola.
Parei de passar o remédio em seu ferimento e olhei para ele, Corey voltou a me encarar também e eu não sabia o que fazer agora. Gay? Será que o padre sabe disso? E os pais dele? Será que ele ainda tem algum amigo?
— Você foi o primeiro a não olhar para mim como se eu disse uma aberração — Corey murmurou, com um pequeno sorriso — fique tranquilo, eu não vou te contaminar.
— Me contaminar?
— Os outros meninos pensam que eu posso passar isso para eles se encostar neles — Corey riu — eles são idiotas.
Eu ainda estou um pouco sem reação. É a primeira vez que eu conheço um garoto assim e ele não parece nada com que todo mundo sempre descreve.
Peguei um curativo e coloquei sobre o machucado dele que agora se encontrava limpo.
— Corey, você... é mesmo gay?
— Sou sim, Liam.
— E você... já pensou em procurar um médico?
Corey suspirou e se ajeitou na cama, ele me olhou como se já tivesse ouvido essa pergunta antes.
— Eu não estou doente, eu nasci assim e isso nunca vai mudar.
Eu me sinto estranho.
— Você já pensou em deixar de ser assim?
— No começo sim, mas hoje eu percebo que não há nada errado em ser quem eu realmente sou, o único problema são as outras pessoas, não há nada de errado comigo, e sim com eles.
O Corey até tem razão.
As outras pessoas não deveriam ter o direito de julgar a outra dessa forma.
— Obrigado — percebi que eu estava distraído apenas depois de ouvir a voz de Corey, então voltei a prestar atenção nele.
— Por que?
— Pelo curativo — ele apontou para a sua mão.
— Imagina.
O Corey parece ser alguém legal, e pelo que eu vi, ele não deve ter muitos amigos.
— Corey, você... quer ser meu amigo?
Corey me olhou de forma surpresa, ele não estava esperando pela minha pergunta, confesso que nem eu estava, mas não seria justo deixar Corey sozinho, ele deve passar por situações assim com frequência.
— Tudo bem para você? Sabe, eles vão acabar te provocando também por andar comigo — ele disse.
O Theo me disse que se eu tivesse problemas eu poderia falar com ele.
— Eu não me importo com isso, de qualquer forma eles já implicam comigo por eu ser novato. O que me diz, amigos?
Estendi a mão para ele e lhe ofereci um sorriso.
Corey olhou para a minha mão e então sorriu também.
— Amigos — demos um aperto de mão.
É bom ter mais um amigo aqui dentro, aos poucos esse lugar está se tornando um pouco melhor.
...⏳...
Hoje eu tive um dia legal aqui, depois que eu conheci o Corey nós fomos lá pra fora e passamos quase a tarde toda ajudando as freiras enquanto conversávamos, ele é realmente alguém legal, ele é do primeiro ano ano, os garotos que pegam no pé dele são de outra série, ele me contou os absurdos que já fizeram com ele e isso me deixou chateado.
Eles nunca deram a chance de conhecer Corey, apenas julguem ele por ele ser gay. Isso não é justo.
Eu já estou no meu dormitório, anoiteceu e todos tiveram que voltar para seus dormitórios depois do jantar, eu liguei um abajur porque aqui é muito escuro, mas a luz continua bem fraca. Eu não consigo dormir.
Eu deveria aproveitar essa oportunidade de não ter ninguém aqui e nenhum barulho de roncos pelo quarto, mas mesmo nesse completo silêncio eu não consigo dormir. Bem que o Theo poderia estar aqui para comermos amendoins e conversarmos sobre alguma coisa.
O Theo...
Será que ele foi mesmo naquela festa?
Ele e Gabe brigaram feio, as coisas não estão nada bem entre eles.
O Theo...
Ele tem um cabelo tão castanho.
Os olhos tão verdes.
Um nariz um tanto charmoso para um garoto.
E seus lábios...
Eles são rosados.
Quando Theo sorri ele fica bonito.
Mas por que eu tenho esse tipo de pensamentos sobre ele? O Theo é meu amigo, ele é um garoto. Eu não posso.
Eu não posso pensar em como ele tem um corpo bonito e em como eu tive vontade de tocar seu corpo para saber qual seria a sensação...
Isso dói. Dói aqui dentro não entender tudo isso, é tão confuso, eu me sinto tão diferente quando olho para ele, quando ele sorri, quando ele faz coisas... talvez seja por que ele é um amigo especial, eu me sinto assim porque ele foi o primeiro a ser legal comigo e agora ele se tornou um bom amigo.
É isso.
Droga.
Droga, Liam.
Olhei bem para baixo das minhas cobertas, há algo errado bem no meio das minhas pernas. Isso é vergonhoso! Acontecer esse tipo de coisa bem na escola religiosa é um pecado! Eu preciso ir à igreja amanhã sem falta.
Isso aconteceu porque eu estava pensando em Theo? Mas não... não pode ser. O meu pai me explicou uma vez que eu sentiria isso quando crescesse e me interessasse por uma garota. Então há algo errado.
Eu já me toquei assim uma vez. A sensação é estranha.
Eu não vou fazer isso aqui.
Passei meus dedos entre a minha barriga.
Talvez se eu...
Desci um pouquinho.
Isso é tão errado.
Um pouquinho mais...
Talvez eu devesse tentar uma vez. E se eu tentasse pensar em um garoto? E se eu tentasse pensar no Theo?
Levei um baita susto quando a porta do dormitório foi aberta, então a minha única reação foi me virar para o outro lado e fingir desesperadamente que eu estava dormindo.
Quem é?
Meu coração está batendo tão rápido. Meu Deus.
O que eu estava pensando? Eu estou maluco.
— Liam? Você está dormindo?
É o Theo!
É a voz dele.
Mas por que ele está aqui? Ele não tinha voltado para casa?
Eu não me mexi, Apenas continuei fingindo estar dormindo.
— Você está dormindo... hum... tenha uma boa noite — ouvi ele sussurrar.
Meu coração continua batendo rápido.
Ouvi alguns pequenos barulhos e apenas depois de muito tempo eu arrisquei abrir os olhos, vendo Theo se deitando em sua cama.
Eu não sei porquê ele voltou, mas a sua presença aqui faz eu me sentir mais confortável, por isso não demorou para que eu sentisse meu corpo relaxado, até finalmente dormir, dessa vez de verdade.
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