𝑪𝑨𝑷𝑰́𝑻𝑼𝑳𝑶 𝑶𝑰𝑻𝑶🌛

Uma semana depois

Theo Raeken

— Agora, cada um de vocês vai pegar um papel desses, o nome que sair, será a sua dupla nessa aula — o padre disse enquanto passava alguns papéis para cada aluno.

Uma semana se passou e agora as férias estão mais perto do que nunca. Durante essa semana, eu como líder de classe precisei tomar a iniciativa de ir falar com Gabe referente a tudo que aconteceu, nós não conversamos muito sobre o ocorrido, mas agora as coisas já estão melhores entre a gente, ele não se desculpou com Liam e nem comigo, mas pelo menos não o vi mais implicando com Liam, pelo menos não como era antes.

Hoje é sexta-feira, o último dia de aula na escola, amanhã se inicia a tão esperada férias de verão, onde todos se divertem e aproveitam o tempo fora da escola. Eu queria poder viajar para a praia, a cidade ao lado tem uma praia muito bonita e eu queria poder ir até lá novamente, mas eu não tenho dinheiro para a passagem do ônibus, estava pensando em arranjar algum emprego temporário para ter dinheiro para a passagem.

Durante as férias eu pretendo ler os quadrinhos que eu não consegui ler durante as aulas, também quero passar um tempo com a minha mãe e passar um tempo na rua, poder andar nas ruas ao anoitecer, olhar as estrelas livremente, poder observar a lua. São coisas que aqui dentro da escola eu não sou livre para fazer, aqui é realmente como uma prisão, não podemos sair quando temos vontade, é cheio de regras e muitas vezes injustas.

— Padre, eu preciso desesperadamente ir ao banheiro — Brett, que estava ao meu lado disse, enquanto estava com uma mão no meio das pernas.

— Então vá, mas volte logo — o Padre falou.

— Theo, pega o papel para mim! — Brett saiu correndo enquanto gritava e os outros riam.

— De qual papel ele está falando? — eu perguntei.

— O do serteio, idiota — Stiles falou.

É a primeira vez que temos aula de artes, o padre Gabriel ficou responsável por dar essa aula também, até porque nessa escola não tem nenhum professor disponível, o padre Gabriel fica responsável por quase todas as aulas da escola, então ele está aqui nos dando essa aula nova e um tanto confusa.

Ele disse que iríamos desenhar uns aos outros, então a classe seria dividida entre os alunos que iriam desenhar e os alunos que iriam ser os modelos. O padre escreveu o nome dos alunos em alguns papéis e sorteou a metade deles para ser o desenhista, o restante escolheria os papéis aleatoriamente para ser a dupla do desenhista.

Todos pegaram os papéis e quando chegou a minha vez sobraram apenas dois.

— Pegue um papel para o seu colega que foi ao banheiro e entregue a ele depois — o padre disse.

— Tudo bem — peguei os últimos papéis restantes.

A sala está um pouco barulhenta, todos estão fora dos lugares se juntando com as suas duplas e está um pouco bagunçado e barulhento. Vejo que Liam ainda não tem uma dupla, então isso significa que um dos papéis em minhas mãos está escrito o seu nome.

Abri sorrateiramente os dois papéis em minhas mãos, um deles tinha o nome "Nolan" e o outro "Liam" guardei o papel com o nome do Liam e entregue o outro para Brett assim que ele entrou na sala.

— Valeu, mano.

— Eu sou a sua dupla — cheguei ao lado de Liam e ele olhou para o lado, quando me viu abriu um pequeno sorriso.

— Está me perseguindo, Raeken? — ele perguntou enquanto eu me sentava ao seu lado.

— Você adora me ter por perto — eu provoquei.

— Vai sonhando.

Nós dois nos olhamos e rimos.

O Liam é um amigo muito legal, nos aproximamos mais durante esses dias, ele me ajudou com algumas atividades da escola e eu tirei notas muito boas, isso é ótimo porque assim o meu pai não vai pegar no meu pé.

Nós conversamos quase todas as noites na cama do Liam depois que todos vão dormir, nós já roubamos bolo da sala no diretor juntos, outro dia fomos pegar doces na geladeira e quase fomos pegos, então eu inventei que Liam estava com dor de barriga e eu era o líder de classe e estava o ajudando levando ele ao banheiro, o inspetor pareceu se convencer com essa desculpa e nos deixou ir, mas por pouco não fomos pegos.

É bom passar um tempo com ele, a gente sempre se diverte juntos.

— Os meninos que estão com a tela irão desenhar o seu colega de dupla — o padre começou a falar, mas logo foi interrompido.

— Eu não sei desenhar — Isaac falou.

— Nem eu — foi a vez de Nolan.

— Isso é coisa de menina — Gabe reclamou.

— Então o Dunbar deve estar adorando — Brett falou e os outros começaram a rir.

Idiotas.

Olhei para Liam e ele parecia incomodado com isso.

— Não ligue para eles — digo. Liam apenas concordou com a cabeça.

— Fiquem quietos! — o padre disse mais alto — essa é uma atividade como todas as outras, não existe isso de meninos ou meninas.

— Só mulher faz isso — Gabe falou.

— Eu não vou fazer coisa de menina.

— Nem eu.

— Estou fora!

— A arte não tem gênero, qualquer um pode se expressar através dela, seja homem ou mulher — disse o padre — vocês vão fazer um desenho dos seus colegas, quem não fizer, levará nota baixa!

O sino lá fora tocou, indicando que essa aula havia acabado.

— Essa vai ser uma atividade que vocês irão elaborar durante as férias, tragam o desenho para mim no primeiro dia de aula no próximo mês — o padre disse e todos começaram a reclamar.

Eles começaram a pegar suas coisas para sair da sala, e Liam estava fazendo o mesmo ao meu lado.

— Vai ser difícil desenhar essa sua cara feia — Liam disse, bagunçando meu cabelo com a mão.

— As garotas dizem que eu sou bonitão — digo, mas o sorriso de Liam desaparece.

— Então deveria pedir para elas te desenharem.

— Mas você é o único que pode fazer isso — digo, vendo o sorriso de Liam voltar — o que acha de me desenhar nu?

— Theo! — Liam olhou ao redor e vi ele ficando vermelho — ficou doido? Eu não vou fazer isso.

— Era brincadeira — eu ri — não precisava ficar vermelho.

— Eu não fiquei!

— Ficou sim, olha só suas bochechas — eu toquei a bochecha de Liam.

Sua bochecha é macia.

Liam me olhou de um jeito diferente.

Da mesma forma que ele me olhou no outro dia quando...

Argh!

Esse dia foi muito confuso.

Outro dia eu estava quase... nós dois quase... mas é que ele estava com um machucado e eu queria ajudar e...

Eu quase beijei o Liam.

Eu pensei que eu estragaria tudo, pensei que o Liam se afastaria de mim, me achasse um maluco e não falaria comigo nunca mais. Mas as coisas acabaram bem, ainda somos amigos.

Mas eu acabei tendo um probleminha, do mesmo jeito que eu tive no outro dia quando vi Liam tirando a roupa. Então, eu fui para o banheiro e deixei meu corpo debaixo da água fria do chuveiro e passou, eu descobri que isso ajuda... muito.

— Theo, você me ouviu? — Eu percebi que ainda estava tocando a bochecha de Liam, então afastei minha mão rapidamente.

— O-O que você disse?

— Eu vou falar com o Nolan sobre a questão de matemática, você vem?

— Não, pode ir... a gente se vê depois — digo.

— Tá bom.

Liam se afastou e eu levei a mão até meu peito. Eu preciso resolver esse meu problema, meu coração não está nada bem.

...⌛...


Liam Dunbar

— Eu posso perguntar uma coisa?

Hoje é o nosso último dia de aula, todas as aulas ocorreram normalmente, mas na última aula decidiram fazer uma despedida para os alunos, não é como uma festa, bem longe disso na verdade, mas pularam a última aula e nos deixaram ficar na área externa para jogar alguns jogos e comer alguns petiscos que foram servidos, mas os meninos pareciam uns animais quando serviram comida, isso é muito desrespeitoso.

Eu, Mason e Nolan estamos juntos, sentados debaixo da sombra de uma árvore enquanto observamos alguns garotos de outra turma jogando futebol. Mason conseguiu pegar alguns doces para nós e estamos aqui praticamente escondidos dos outros garotos selvagens.

— Pode — digo, para Nolan.

— Por que você passa tanto tempo com o Theo?

— Nós somos amigos — digo.

— Mas o Theo é amigo daqueles garotos que implicam você, você não acha que ele pode estar armando alguma coisa se aproximando assim de você de repente? — Nolan perguntou.

Isso até faz sentido, mas eu não sei se o Theo seria capaz de fazer esse tipo de coisa, ele sempre parece tão sincero quando estamos juntos, ele parece ficar até mais relaxado do que com os seus outros amigos.

— Eu não acho que o Theo é assim.

— Ele era como os outros antes de você chegar — Mason falou — uma vez ele colocou chiclete na cadeira do professor.

— Isso foi um pouco engraçado — Nolan disse.

— Mas ele levou uma baita bronca, até apanhou do inspetor — disse Mason.

— Mesmo?

Isso me deixou realmente surpreso.

— Apenas fique atento com ele, não se pode confiar em nenhum daqueles garotos.

— Eles já fizeram coisas muito cruéis.

Eu não conheço Theo há muito tempo, mas ele não é como os outros. Eu sei que não.

— E aí — olhei para o lado e Theo estava se aproximando de nós — Liam, o padre pediu para eu te chamar.

— Eu?

— Sim, lá na sala de música, parece que ele quer falar alguma coisa sobre o saxofone, eu não entendi muito bem — ele disse.

— Tudo bem — eu né levantei — eu já volto, gente.

— Vai lá, cara.

— Quer que a gente vá com você? — Nolan perguntou.

— Ele foi bem específico quando disse que queria só o Liam lá — Theo falou — vamos?

— Mas você vai com ele? — Mason perguntou.

— Vou apenas acompanhá-lo até a porta.

— Se precisar de nós, estamos aqui, Liam — Nolan disse.

— Tudo bem.

— Vem.

Theo começou a andar e eu o segui.

O que será que o padre quer falar comigo?

Não demorou para chegarmos na sala de música, Theo abriu a porta e entrou primeiro, assim que eu entrei, ele fechou a porta.

A sala está vazia.

— Onde está o padre? — perguntei, um pouco confuso.

— Ele não está aqui, me desculpa por mentir.

Theo olhou para mim, ficou bem na minha frente e colocou a mão no seu bolso.

— Eu precisava de uma desculpa para te trazer aqui, não podia falar a verdade para os seus amigos.

Theo tirou a mão do bolso e estendeu em minha direção, na palma de sua mão havia um bombom embrulhado em um papel brilhante azul e um papelzinho dobrado bem ao lado.

— É para mim? — eu perguntei surpreso.

— Claro — Theo riu fraco — se os outros soubessem iriam querer também, mas é algo apenas para você.

Eu peguei de sua mão e sorri. Abri o pequeno papel, havia algo escrito ali, virei para o lado certo e pude ler o que estava ali.

"Que nossa amizade seja grande como a lua cheia e iluminada como seu brilho."

— Theo, que bonito. Você quem escreveu? — eu perguntei, Theo parecia sem jeito.

— Sim, você gostou?

Cheguei perto de Theo e abracei o seu corpo. Isso foi tão bonito da parte dele, minha mãe sempre me disse que eu deveria agradecer um presente com um verdadeiro abraço.

— Era o último dia de aula, então eu queria te dar um presente já que não vamos nos ver durante tanto tempo... — eu senti as mãos de Theo em minha cintura e ele me abraçou de volta.

— Mas eu não preparei nada especial para você — digo. Há tanto tempo eu não abraço alguém, eu não me lembrava que era tão bom.

— A sua amizade é o suficiente, Liam.

Meu coração está acelerado, eu continuo abraçando Theo porque é aconchegante, é bom estar em seus braços.

Eu não quero ficar longe do Theo durante as férias, agora que eu me acostumei a estar ao seu lado eu não quero me afastar. Eu não quero...

— O que você vai fazer durante as férias? — Theo desfez o abraço e olhou para mim.

Se eu pudesse ficaria em seu abraço para sempre.

O Theo é mesmo um amigo especial.

— Eu vou ajudar a minha mãe no restaurante dela — digo, vendo Theo andando pela sala.

— A sua mãe tem um restaurante? — Theo perguntou surpreso.

— Tem sim, eu sempre ajudo ela quando estou em casa.

— Que tipo de comida ela vende lá?

— Comida brasileira, o meu pai é brasileiro, então nós conhecemos muitas comidas do Brasil.

— Isso é incrível, eu sempre quis conhecer o Brasil. A comida de lá deve ser muito boa.

— Você deveria ir experimentar qualquer dia — Theo parou de andar e olhou para mim.

— Eu posso ir lá durante as férias?

Ver o Theo fora da escola me parece algo fantástico. Eu nunca tive um amigo tão legal como ele, seria bom passar mais tempo com ele.

— Você quer mesmo? Seria muito legal ter você lá.

— Então me passe o seu endereço, se for muito longe eu posso ir de bicicleta.

Olhei ao redor e vi um caderno atrás de mim, então Theo caminhou apressado até a mesa do professor e pegou uma caneta que estava ali, ele voltou e me entregou enquanto eu pegava o caderno.

— E o que você vai fazer durante as férias? — Abri o caderno e procurei por uma página limpa, até que encontrei e me curvei para anotar.

— Eu pretendo ler alguns quadrinhos que eu não terminei.

— Você gosta?

— Pra caramba, eu tenho uma coleção no meu quarto, você deveria conhecer meu quarto... — franzi a testa e olhei para trás, vi que Theo estava com os olhos no meu bumbum — a minha coleção! Você deveria conhecer a minha coleção! — Theo limpou a garganta e olhou para mim.

Isso foi engraçado.

Reprimi um sorriso e voltei a anotar o meu endereço.

— Aqui — eu entreguei para ele.

— Valeu... hum, fica perto da loja de materiais de construção que o meu pai trabalhava — Theo disse enquanto lia.

Tem uma coisa que eu queria saber...

Será que seria muito estranho perguntar agora?

Eu não sei quando vou vê-lo de novo, é melhor perguntar de uma vez, isso é uma dúvida que passa pela minha cabeça frequentemente.

— Posso perguntar uma coisa, Theo? — eu perguntei, ele olhou para mim.

— Pode.

Eu me sentei na mesa atrás de mim.

— Você tem uma namorada?

Theo me olhou de forma confusa.

— Uma namorada? Não, porque pensa isso?

— Eu não sei, é que... — olhei para as minhas mãos — outro dia vi o Brett falando que ele havia arranjado uma namorada para um amigo dele... é você?

— Não, claro que não — Theo riu — eu não tenho uma namorada, se eu tivesse, você saberia.

— Então você quer ter uma?

Por que eu estou perguntando? Não é da minha conta.

— Não... eu acho que não.

Theo desviou o olhar e ficou mais sério.

— Theo, você já se apaixonou alguma vez?

Nós já conversamos sobre muitas coisas, mas nunca sobre isso.

Ninguém me entenderia...

Um silêncio.

— Você já?

— Não, nunca. O amor é complicado — digo.

— As pessoas costumam complicar coisas fáceis — Theo falou.

— Igual você complica a atividade de matemática — digo.

— Mas aquilo é muito difícil.

— Ou será que você é burro demais?

— Seu atrevido — Theo se aproximou de mim e empurrou meu ombro de leve e nós rimos.

Theo está parado na minha frente com as mãos no bolso.

— O restaurante da sua mãe abre todos os dias?

— Menos às terças feiras, e aos domingos fechamos mais cedo — expliquei.

O sino tocou lá fora. Isso significa que as aulas acabaram.

As férias chegaram.

— Você vai voltar para casa? — ele perguntou.

— Sim, a minha mãe vem me buscar.

Deveria ser algo melhor ficar longe da escola, mas eu não me sinto assim.

Será que Theo vai mesmo ao restaurante?

Quando ele vai?

— Então... a gente se vê?

Eu senti Theo tocar a minha mão.

— Liam, eu...

O toque é suave, ele segura meu dedo indicador.

— Eu...

O meu coração está acelerado de novo.

Que droga, acho que a minha asma voltou.

O Theo está olhando para mim, está perto... perto como naquele dia.

Eu sinto minhas pernas mais fracas, tenho certeza que se eu não tivesse em cima dessa mesa, eu cairia no chão, isso porque Theo está perto de mim.

— Algo dentro de mim vive me dizendo que eu deveria fazer isso, acho que eu deveria parar de ignorar.

Theo olhou nos meus olhos, em seguida nos meus lábios.

Eu não pude fazer nada.

Eu não pude reagir, eu nem sei se eu saberia fazer isso.

Theo me beijou.

Eu não consigo ouvir nada além das batidas do meu coração tão acelerado.

Essa sensação...

É o meu primeiro beijo...

Os lábios de Theo são unidos sobre os meus, eles me beijaram gentilmente, como um beijo suave sobre uma bochecha macia. Mas não era a minha bochecha, são os meus lábios.

Os meus lábios nos lábios de Theo.

Eu senti algo no meu estômago, eu...

Então é assim que nos sentimos quando beijamos alguém?

Theo se afastou.

Ele está olhando nos meus olhos.

Eu não sei o que dizer, muito menos o que fazer.

Somos amigos, por que ele fez isso?

Por que ele está fazendo isso?

Eu não quero ir para o inferno, eu... eu não quero que ele me veja chorando.

— Liam...

— Por que fez isso? — eu desci da mesa e enxuguei uma lágrima que escorreu por minha bochecha.

Meu peito está doendo, está doendo muito... muito.

— Eu só...

— Eu tenho que ir, Theo.

Eu corri para a porta e saí correndo da sala.

Eu não consigo respirar, eu não consigo entender... eu estou tão confuso.

Eu só quero ir para a minha casa, me esconder debaixo das cobertas da minha cama e esquecer de tudo isso, esquecer desse dia... esquecer o Theo.

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