𝑪𝑨𝑷𝑰́𝑻𝑼𝑳𝑶 𝑫𝑬𝒁🌛

Cinco horas antes


Theo Raeken

— Mas que porra! Me solta, eu já falei para me soltar!

Ouço uma voz um pouco distante, me sinto sonolento e meus olhos estão se abrindo devagar.

Eu não dormi bem durante a noite, eu fiquei pensando no Liam, fiquei pensando na besteira que eu fiz ontem e em como ele deve me odiar agora. Sinceramente, desde o dia que quase nos beijamos em sua cama, se tornou muito difícil ignorar algumas coisas que aconteciam.

Eu sempre ouvia os meus amigos dizendo que eles tinham vontade de beijar algumas garotas porque elas eram atraentes, mas eu não entendi porque de repente eu sentia que Liam também era atraente, ao ponto de me fazer ter vontade de beijá-lo.

Nenhuma das amizades que eu tenho é como a que eu construí com o Liam, nos conhecemos em algumas semanas e depois que nos aproximamos era como se fossem meses de convivência. Eu me sinto bem ao seu lado, é algo que eu não sinto com os meus outros amigos, e tudo aconteceu tão rápido, eu não sei se deveria ter sido assim, eu não sei se deveria ter tomado esse rumo.

Mas agora não há como voltar atrás, eu o beijei, senti um frio na barriga, um arrepio pelo meu corpo e meu coração nunca esteve tão acelerado. Eu sou um bobo.

Um bobo idiota que sempre faz tudo errado, eu perdi a minha amizade com o Liam, a forma que ele correu de mim, ele deve ter me achado uma aberração, deve pensar que eu sou um louco. Eu deveria ter acabado com isso desde a primeira vez que me senti assim, meu pai tem razão quando diz que eu sou um erro.

— Ele ainda está dormindo, já se passou da hora do almoço e ele continua dentro desse quarto dormindo — dessa vez eu pude ouvir com mais clareza porque já estou totalmente acordado — abre essa porta — um estrondo na porta do meu quarto.

É o meu pai. Por sua voz, ele provavelmente está bêbado.

— Theodore, abra essa porta!

Suspirei e me sentei na cama, apenas de pensar que eu terei que passar por esse tipo de coisa praticamente todos os dias durante as férias, me faz ter vontade de voltar para a escola. É uma pena eles não nos deixarem ficar lá durante as férias.

Me levantei e abri a porta do meu quarto, como esperado meu pai estava ali do outro lado, minha mãe estava logo atrás dele.

— Como pode? Você está dormindo a uma hora dessas, moleque? Levante! Vá fazer alguma coisa, vá trabalhar! — ele gritou, sua voz está um pouco estranha.

— Pai, eu não dormi direito durante a noite, por isso eu…

— Não venha com desculpas para o meu lado, eu sei muito bem que você está até tarde nesse quarto porque é um vagabundo! Ao invés de estar na rua procurando um emprego você está aí sem fazer nada.

— Não fale assim com ele — minha mãe disse baixo, tocou o braço do meu pai e ele afastou rapidamente.

— Cale a boca antes que sobre para você também!

— Deixe minha mãe em paz — digo, passando por ele para ir até o banheiro.

Caminhei em passos rápidos até o banheiro e fechei a porta rapidamente, ouvindo meu pai gritar do outro lado.

Meu pai sempre teve problemas com bebida, ele é um péssimo marido para a minha mãe, sóbrio ou embriagado, ele é uma má pessoa e não faz nada para mudar esse jeito horrível que tem. Ele já machucou a minha mãe algumas vezes, eu sempre tento defendê-la e também acaba sobrando para mim, mas mesmo que eu tenha que me machucar, eu nunca mais vou deixar ele encostar nela.

Terminei de usar o banheiro, então abri a porta, ouvindo meu pai ainda gritando.

— Theodore, vá limpar aquele seu quarto imundo! O que você pensa que eu sou? Um idiota que fica sustentando um moleque do seu tamanho? Todas aquelas porcarias de revistas que você comprou com meu dinheiro estão espalhadas no quarto, arrume aquilo, agora!

É realmente difícil manter a calma com ele gritando desse jeito. Enquanto eu passava para o meu quarto, pude ver que agora ele está segurando uma garrafa com alguma bebida dentro.

— Eu estou falando com você, olhe para mim!

— O que foi? Você quer que eu fique aqui parado ouvindo você gritar comigo? Eu estou cansado disso — digo, no mesmo tom que ele. Quem sabe assim ele me ouve.

— Seu moleque! Onde você acha que está? Falando com seu pai desse jeito… eu deveria ter acabado com você quando tive a chance!

Ele de repente começa a vir em minha direção um tanto desnorteado.

— Não! Deixe ele em paz! — minha mãe correu em nossa direção ficando na frente do meu pai.

— Sai da frente! — Ele a empurrou.

Chega, ele precisa parar com isso.

— Não encosta nela! — Fui na mesma direção que o meu pai. Ele precisa de alguém que não tenha medo de enfrentá-lo, dessa forma ele vai parar com isso, ele precisa parar.

— Theodore, não!

— Você vai se arrepender de ter nascido, moleque!

Minha mãe gritava enquanto meu pai vinha em minha direção e me empurrava. Eu não vou revidar, minha única intenção é fazê-lo entender que eu não tenho mais medo dele e ele não pode mais fazer o que bem entender comigo e com a minha mãe. Na tentativa de segurar seu braço para que ele não me acertasse, acabei por acidente acertando minha mão em seu rosto. Ele me olhou com raiva, naquele momento eu sabia que eu estava perdido, estou com ainda mais problemas.

— Filho da puta!

Eu não pude impedir, na mesma hora que eu tentei me afastar, ele foi mais rápido e acertou algo em mim, em minha cabeça. Eu fiquei zonzo na hora, cambaleei para trás ouvindo um zumbido em meu ouvido e minha visão ficou embaçada. Eu podia ouvir minha mãe gritando e meu pai falando sem parar, mas eu não entendia muito bem, tudo parecia ter ficado mais lento e eu me sentia zonzo.

Meu pai quebrou a garrafa em minha cabeça…

Sinto algo frio escorrendo pelo meu rosto…

Eu não me sinto bem…

Acho que estou morrendo.

…⌛…

— Filho, por favor…

— Eu não vou mais ficar aqui, mãe.

— Me deixa pelo menos cuidar do seu ferimento, você está sangrando!

Eu não posso mais ficar nesse lugar, não com o meu pai aqui. Ele me machucou, quebrou uma garrafa em mim e eu estou sangrando. Fiquei inconsciente por alguns minutos, eu pensei que ia morrer, eu nunca havia sentido uma dor assim antes.

Estou arrumando minhas coisas, eu vou embora, não vou mais ficar aqui, não tenho para onde ir, mas eu dou meu jeito.

— Eu estou bem, mãe — digo, colocando algumas camisetas em minha mochila.

— Para onde você vai, Theodore? Não faça isso, meu filho, eu vou morrer de preocupação.

Ver minha mãe chorando quebra o meu coração, mas eu não posso ficar mais aqui.

— Eu vou ficar bem, mãe — fechei minha bolsa e coloquei nas costas, olhei para a minha mãe e quase desisti de sair daqui.

— Para onde você vai? Eu não posso deixar você sair de casa assim, Theo.

— Eu vou dar um jeito, mãe. Eu tenho vários amigos, lembra? Vai ser molezinha.

Abri um pequeno sorriso e minha mãe me abraçou.

— Leve um dinheiro com você, filho…

— Eu não quero mais nada que venha dele, mãe.

Dei um beijo em sua testa.

— Que jesus guarde você, meu filho…

Abri a porta do meu quarto e saí sem olhar para trás, ainda podia ouvir meu pai reclamando enquanto eu me afastava de casa.

Eu não tenho para onde ir, mas daqui eu não fico mais.

…⌛…

Horas atuais.

Está chovendo.

Eu ainda estou na rua.

Minha cabeça está doendo muito e eu estou com fome.

Já faz algumas horas desde que saí de casa, estou na rua desde então, perambulando por aí sem ter para onde ir. Eu não sei se foi uma boa escolha ter saído de lá, e se eu acabar virando um morador de rua? Eu não tenho dinheiro e ninguém vai querer contratar um garoto sem teto. Mas e se eu acabar morrendo? Se chover todos os dias como está chovendo hoje, eu posso pegar uma gripe e quem sabe sofrer até a morte… isso soa muito mórbido.

Eu confesso que chorei um pouco, toda essa situação é tão complicada. O meu pai me odeia e eu sei que ele seria capaz de me matar, ele já disse isso várias vezes, mas hoje ele provou do que é capaz.

Eu estava procurando por um casaco em minha mochila, mas acabei encontrando outra coisa lá dentro. Achei o pedaço de papel onde Liam havia anotado o endereço do restaurante da sua mãe, isso me fez ter a ideia de ir até lá, mas eu eliminei essa ideia rapidamente porque o Liam nunca me deixaria entrar, ele deve me odiar agora.

Mas a chuva pareceu piorar, minha cabeça continuava doendo e eu sei que preciso de um curativo aqui, mas como eu faria um sem as coisas necessárias?

Então eu decidi ir até lá.

Estou muito cansado, já andei muito e não sei se aguento mais, eu caminhei esperançoso de que Liam já tivesse me perdoado, mas eu prometo que não vou fazer aquilo nunca mais, nunca mais quero que ele me olhe daquela maneira.

Eu já estava quase sem forças para caminhar, mas então eu o vi. Vi Liam bem na minha frente e mesmo no meio da chuva ele continuava bonito como sempre.

Liam, eu preciso de ajuda… eu preciso de você.

O quarto do Liam é pequeno, mas é um bom lugar, também bem mais arrumado que o meu. E eu estou feliz por ele ter me deixado entrar.

Ele olhou para mim com preocupação, então me disse para entrar e fechou o restaurante, me levando para os fundos onde fica sua casa, me levou escondido até seu quarto e fechou a porta.

— Theo, o que aconteceu? — Liam ainda olhava para mim com preocupação.

Isso é bom. Se ele se preocupa comigo, então ele não me odeia mais, não é?

— O meu pai bebeu, ele estava brigando comigo porque eu dormi até mais tarde… então ele acabou me machucando.

— Como? Meu Deus, está doendo? — Liam se aproximou, olhando para a minha cabeça.

— Foi uma garrafa, mas eu estou bem.

— Como você está bem? Ele quebrou uma garrafa em você? Theo, você precisa ir para o hospital.

— Eu não posso, eles não me deixam ir sozinho sem meus pais. E eu estou bem.

Liam passou as mãos pelo rosto e voltou a me encarar.

— Olha, vá tomar um banho porque pode acabar ficando doente. Tente não fazer muito barulho porque meu pai está em casa e ele não gosta que eu traga visitas.

— Liam, eu não quero te atrapalhar…

— Não seja teimoso, vá tomar um banho e quando você voltar eu vou cuidar do seu ferimento.

— Eu… obrigado.

— Não me agradeça. Vá rápido, você não pode ficar doente.

Eu queria que o clima entre nós dois não fosse assim tão estranho. Talvez eu tenha perdido o meu amigo por uma besteira que fiz.

…⌛…

— Está doendo?

— Um pouco…

O chuveiro do Liam é quentinho, e ele tem um banheiro bem dentro do quarto dele, isso é um máximo. Eu sempre quis ter um banheiro pertinho do meu quarto, mas agora eu acho que nem tenho uma casa.

Eu terminei de tomar banho e agora o Liam está cuidando do meu machucado, eu expliquei para ele o que aconteceu e como eu acabei aqui, ele me ouviu atentamente mas não disse nada.

Talvez agora seja a hora de pedir desculpas.

— Liam, me desculpa…

— Por que?

— Pelo que eu fiz na escola…

Um silêncio se instala dentro do quarto e é um tanto duradouro.

— Terminei.

Liam se afastou um pouco de mim e eu continuei sentado em sua cama.

— Não toque, eu coloquei um curativo — ele disse, quando eu estava prestes a colocar a mão em minha cabeça — e sobre a outra coisa, eu fiquei muito confuso.

— Eu também…

Liam se sentou ao meu lado na cama.

Será que se eu falar tudo para ele, ele vai ficar bravo comigo de novo?

Mas eu deveria ser sincero, eu não sei direito o que está acontecendo, mas e se o Liam souber? Eu deveria falar.

— Eu… eu não sei porque, mas eu me sinto estranho quando você está por perto — digo, sem muita coragem de olhar para ele.

— Como assim? — senti Liam olhar para mim.

— Eu fico um pouco nervoso, as vezes eu sinto o meu coração batendo muito forte — comecei a dizer, Liam estava prestando atenção em mim — eu até pensei que era algum problema do meu coração, mas eu percebi que isso só acontece quando você está por perto. Eu também sinto meu estômago estranho às vezes e eu tenho alguns pensamentos…

— Pensamentos?

Olhei para ele.

— Como no dia que eu beijei você… eu… não parava de pensar naquilo.

Liam mordeu a unha e olhou para o outro lado.

— Theo, eu… também sinto essas coisas quando você está perto de mim.

— Você… também? Então, o que é isso?

— Eu não sei — ele voltou a olhar para mim — quero dizer, eu tive uma conversa com o Corey hoje…

— O Corey?

Não gosto desse garoto.

— Sim, ele mora aqui perto e nos encontramos por coincidência.

— Eu não vou com a cara dele…

— Porque ele é gay?

— Eu sei lá, só não gosto dele….

— Mas não deveria pensar assim, o Corey é muito legal e você deveria dar uma chance de conhecê-lo antes de falar isso — Liam falou.

Por que ele o defende tanto?

— O Corey me falou algumas coisas que fazem sentido, mas eu confesso que ainda estou um pouco confuso com tudo isso.

— O que foi que ele disse?

— Sabe… quando você me beijou, eu fugi porque fiquei assustado… mas aquilo não foi… tão ruim.

Vi as bochechas de Liam ficarem vermelhas enquanto ele falava.

— Eu nunca tinha beijado um garoto antes… — digo, isso também é um pouco constrangedor.

— Você acha que foi bom? — Liam perguntou curioso.

Eu me sinto tão nervoso.

— Não sei, eu…

— Theo — Liam se sentou de frente para mim e olhou bem no fundo dos meus olhos — eu prometo que não vou te julgar e nem vou contar para ninguém… você gostou de me beijar?

— Sim, Liam.

Droga, o meu coração…

— O Corey, ele me disse que garotos podem gostar de garotas e de garotos também.

— O que? — franzi a testa.

— Isso se chama bissexualidade. Um garoto pode gostar de garotas e garotos ao mesmo tempo.

— Isso é algum tipo de distúrbio?

— Não, seu bobo — Liam ri. Eu gosto de ver ele rindo assim — sabe, do mesmo jeito que garotos às vezes gostam de garotos, eles também podem gostar de garotas.

— Isso é um pouco confuso — digo.

— Eu sei, eu também fiquei bem confuso, mas ele me explicou.

— E como ele saberia de algo assim?

— O Corey é gay, ele entende dessas coisas — Liam deu de ombros.

— Tem razão… mas por que me disse isso? Você acha que eu tenho isso?

— Na verdade… — Liam pareceu ficar nervoso — eu vou te contar um segredo, mas você precisa prometer que não vai contar para ninguém, Theo.

— Claro, eu prometo. Dou minha palavra de homem — digo.

— Acho que eu sou bi — Liam falou mais baixo.

— Bi? O que é bi? Bicicleta…?

— Bissexual, Theo!

— Ah! Entendi, entendi… mas isso significa que você gosta de garotos?

— E de garotas também.

Isso é muito maluco…

Espera, ele gosta de garotos?

— Liam, você já pensou em falar com o padre? Ai meu Deus, os meninos vão implicar com você como implicam com o Corey. Você não pode falar para ninguém Liam, não antes de resolver isso — digo.

— Você acha que tem como parar de ser assim?

— Na verdade, eu não faço ideia — digo.

Seus olhos estão tão mais azuis hoje…

— O Corey disse que ele é assim desde que nasceu e isso nunca vai mudar. Isso deve funcionar para bissexuais também — explicou Liam.

Eu não sabia que ele era tão habituado com esse tipo de coisa.

— Verdade…

— Theo, você ainda vai ser meu amigo? Sabe, se eu gostar mesmo de meninos…

— Você é meu amigo independente do que for, eu não vou me afastar de você por isso — digo, Liam sorriu fraco.

— Theo, será que você também é bi?

— Eu?

— Sim, você me beijou… e também gostou…

Eu não estava pensando nisso.

— Droga, será que eu também estou doente?

— Theo, mas eu não estou doente. Eu me sinto bem.

— O que será que é isso então? — eu perguntei.

— Eu não tenho a resposta de todas as suas perguntas, mas eu posso te dar certeza de que eu vou continuar sendo o mesmo Liam de sempre, mesmo que agora eu possa gostar de garotos.

— Tudo bem… se você está dizendo então eu acredito em você.

O clima já está bem melhor.

— Você já gostou de muitas garotas? — Liam me perguntou.

— Não, na verdade eu nunca gostei de nenhuma garota — respondi.

— Mas você já pensou em beijar uma? Ou tocar em uma?

— Eu já toquei em uma…

— E como foi? — ele me perguntou curioso.

— Estranho.

— Estranho bom? Ou ruim?

— Mais para ruim do que para bom — digo.

— Hum… e com garotos? Você já fez alguma dessas coisas?

— Eu já beijei um — digo.

— E como foi?

— Foi bom, mas ele fugiu de mim.

— Ele também? — Liam perguntou e eu ri.

— Eu estou falando de você, Liam.

— Eu? Ah, então eu fui o seu primeiro beijo também?

— Também? Eu fui o seu?

— Sim!

Ele pareceu um pouco empolgado, mas se recompôs.

— Então, nenhuma daquelas garotas que você tocava quando fugia com seus amigos, com nenhuma delas foi bom? — Liam me perguntou.

— Não… eu sempre me senti estranho, era algo desconfortável.

— Você já tocou outro garoto?

— Não.

— Tudo bem — Liam diz — eu vou fazer uma pergunta um pouco constrangedora, mas você precisa responder com sinceridade.

— Tá bom — digo.

— Você já ficou… animado vendo um garoto sem roupa?

— Animado?

— Sabe… o seu… — Liam apontou para mim — ele já ficou duro?

Arregalei meus olhos.

— Que tipo de pergunta é essa, Liam?

— Apenas responda a verdade.

Isso é tão vergonhoso. Mas já que o Liam tem bissexual, então ele não vai me achar estranho se eu disser a verdade.

— Já… aconteceu uma vez.

— E você se tocou?

— Talvez…

— E foi bom?

Foi…

— Você deve ser como o Corey — Liam falou.

— Chato?

Gay!

— Ah… isso é pior do que o seu bi?

— Eu sei lá, Theo.

Nós ficamos em silêncio.

— Então nós vamos direto para o inferno? — eu perguntei.

— Pelo menos vamos fazer companhia um para o outro lá — Liam falou sério, mas foi engraçado.

— Isso é pecado — digo — como você sabe que eu sou gay?

— Eu não sei, você é quem deve saber disso. O Corey me disse que isso leva tempo, ninguém se descobre da noite para o dia e que está tudo bem.

— Será que está tudo bem mesmo? Todo mundo vai me odiar agora, Liam.

Isso é tão ruim, eu não posso ser gay.

— Ninguém precisa saber, Theo. E… eu não vou te odiar — Liam tocou a minha mão.

O meu coração… ai, droga.

É a primeira vez que ele toca a minha mão primeiro.

Ele é tão bonito…

Será que eu sou gay mesmo?

— Vamos guardar esse segredo um para o outro — ele falou.

— Tudo bem, tem razão.

Se ninguém souber, ninguém vai nos odiar.

— Mas você contou para o Corey? Sobre tudo?

— Ele não vai contar para ninguém, ele prometeu.

Talvez ele não conte mesmo, ele nem tem amigos…

Mas se ele contar, eu mesmo bato nele.

Liam ainda está segurando minha mão. Eu olhei para as nossas mãos juntas e entrelacei nossos dedos, a mão dele é menor que a minha, mas ela parece encaixar tão bem com a minha.

— Sabe… eu tive uma ideia — digo, ele olha para mim.

— Qual?

— E se eu ajudasse você e você me ajudasse?

— Hum… como assim?

— Você não tem certeza se você é bi e eu não tenho certeza se eu sou gay… podemos ajudar um ao outro a descobrir.

— É uma boa ideia — Liam disse — mas como vamos fazer isso?

— Eu posso te beijar de novo e você me diz se é bom…

Liam mordeu levemente o lábio um pouco nervoso, mas isso o deixou ainda mais bonito…

— Tudo bem.

Ele chegou mais perto.

Isso é tão errado…

Mas parece ser tão bom.

Eu me aproximei dele também.

Senti sua respiração em meu rosto, vi ele fechando os olhos primeiro, então o beijei.

Beijei seus lábios devagar, eles estão se encostando um no outro e o meu corpo está arrepiado. Eu não sei muito sobre beijos, mas sei que podemos usar a língua também.

Me afastei, nós nos encaramos e Liam me olhou de um jeito diferente, mas era bom.

Seus olhos azuis estão tão perto agora, seu rosto é tão bonito assim pertinho…

Talvez eu seja mesmo gay.

Eu o beijei de novo, dessa vez eu segurei seu rosto com as minhas mãos e Liam passou a distribuir vários selinhos em meus lábios. Droga, ele é tão fofo. Sua boca tem um gosto bom, eu queria poder fazer mais, mas não sei como.

— Você sabe como usar a língua? — eu perguntei, me afastando um pouco dele.

— Não… — ele disse, em seguida voltou a me beijar, me fazendo sorrir.

— Liam?

Nos afastamos em um pulo quando ouvimos alguém bater na porta do quarto.

Meu senhor, que susto.

— É a minha mãe — Liam levantou rapidamente falando baixo.

— Você vai abrir?

— Sim, relaxa — ele disse.

— Espera — digo.

— O que foi?

— Você gostou de me beijar?

Liam sorriu, não disse nada mas eu entendi o recado com apenas seu sorriso. Isso me fez sorrir também.

— Liam, está na hora do jantar e você ainda não fo- quem é ele? — ela olhou para mim e eu me levantei rapidamente.

— Boa noite, é um prazer conhecer a senhora, eu sou Theodore Karl Raeken — digo rapidamente.

— Ele é um amigo da escola, mãe.

— Mas o que ele… como ele…?

Ela estava nitidamente confusa.

— Mãe, o Theo teve problemas com pai dele, o Theo não tinha para onde ir então ele veio aqui… ele pode ficar, né?

— Liam, seu pai não vai gostar nada disso, você sabe que ele não gosta de visitas, ainda mais assim de repente — ela disse baixo, assim como Liam estava dizendo, mas então olhou para mim — desculpa, é um prazer conhecer você também, querido — ela sorri. Ela se parece com a minha mãe.

— Mas o pai não precisa saber, mãe. O Theo entrou sem ninguém ver, o pai nunca vem para esse lado, então não vai saber se o Theo passar a noite — ele disse.

Então eu vou passar a noite aqui?

A sua mãe pareceu pensar um pouco pelo tempo que ficou em silêncio.

— Olha, eu vou deixar vocês dois aí, mas vocês não podem fazer barulho ou se não ele descobre! — ela falou.

— Obrigado, mãe. Eu prometo que vamos ficar quietos.

— Vocês então com fome? Eu posso trazer comida para vocês, vou dizer ao seu pai que você está com dor de cabeça e vai comer aí no quarto.

Eu estou morrendo de fome.

— Obrigado, mãe. A senhora é a melhor do mundo — Liam deu um beijo em sua bochecha e eu sorri vendo isso.

— Eu volto logo, não façam barulho.

Nós concordamos, então ela saiu e Liam fechou a porta.

— Ela é bem legal — digo.

— Minha mãe é um anjo, merecia ser feliz de verdade — Liam suspirou.

— A minha mãe também…

Eu e Liam temos mais coisas em comum agora, além dos nossos pais, nossas mães são pessoas boas e agora nós dois gostando de garotos… quero dizer, eu acho que gostamos.

Liam Dunbar

— Eu não consegui trazer dois pratos ou seu pai desconfiaria, então eu trouxe apenas um, mas coloquei comida o suficiente para vocês dois — minha mãe me entregou o prato — eu trouxe um pouco dos salgados que sobraram do restaurante, dê para o seu amigo experimentar. Também tem suco de laranja.

— Obrigado, mãe.

— Muito obrigado, tia — Theo disse.

— Por nada, meninos. Olha, quando vocês terminarem coloque o prato para fora do quarto que eu venho pegar mais tarde — ela explicou.

— Pode deixar, mãe.

— Eu não consigo trazer um colchão para você dormir, então você pode dividir a cama com o Liam.

— Não se preocupe, eu posso dormir no chão.

— Nada disso, vocês podem dividir a cama, o Liam é pequeno e tem espaço para vocês dois.

— Ela tem razão — digo.

— Comam antes que esfrie, e tenham uma boa noite.

— Obrigado, tia.

— Obrigado, mãe.

Ela beijou minha testa e saiu do quarto, então Theo fechou a porta e eu disse para ele tranca-la.

— Vem, senta aqui — digo, me sentando na cama e colocando o prato no meio — come, você deve estar com fome — entreguei um garfo para ele e fique com o outro.

O macarrão com queijo da minha mãe é muito bom.

— Isso está muito bom, eu nunca comi um macarrão assim tão gostoso — ele falou.

— Está mesmo — digo.

— Você já comeu coxinha?

— Coxinha?

— Uhum, é lá do Brasil, dentro tem frango — eu entreguei para ele

— Tem um formato engraçado — Theo deu uma grande mordida.

— Isso também é muito bom — Theo disse com a boca cheia, em seguida deu outra mordida.

— Deixe um espaço para o pão de queijo.

— Pão de queijo?

— Sim — digo rindo. Ele parece uma criança descobrindo algo novo. O Theo é um fofo — aqui.

Entreguei para ele.

— É pequeno e macio como você.

— Macio?

— Uhum, como seus lábios.

Senti minhas bochechas ficarem quentes.

— É gostoso também — ele falou.

— O que?

— É gostoso como a coxinha.

— Ah, sim. Claro.

Eu e Theo terminamos de comer juntos, nós mal conversávamos porque estávamos com muita fome. Mas assim que terminamos, eu deixei o prato lá fora e arrumei a cama para eu e Theo dormirmos ali.

— Eu posso dormir no chão.

— Não pode não.

— Eu não quero te incomodar.

— Pare de ser teimoso.

— Mas, eu… — não deixei Theo terminar de falar e puxei ele para a cama para ele se deitar ao meu lado.

— Fique quieto e durma — eu apaguei a luz.

Nos deitamos um ao lado do outro, minha cama é pequena, mas tem espaço para nós dois, mesmo que tenhamos que ficar tão pertinho um do outro.

Me virei para o outro lado e acabei ficando de frente para Theo.

Eu fiquei tão preocupado quando vi Theo sangrando, ele estava com um machucado na cabeça e o pai dele foi quem o machucou. Theo não merece isso.

E eu fiz com o Theo o mesmo teste que o Corey fez comigo, eu acho que ele é gay, mas eu não sei se isso é bom. Na verdade, o fato de talvez eu ser bi, ainda me assusta pouco, mas acho que eu e o Theo podemos dar um jeito juntos, desde que ninguém saiba, ainda está tudo bem… eu espero que esteja.

— Eu estou com sono — Theo disse baixinho.

— Eu também…

— Eu posso segurar sua mão? — ele me perguntou.

— Pode — senti ele segurar a minha mão e entrelaçar nossos dedos.

É estranho.

Um estranho bom.

— Você… acha estranho quando a gente se de beija?

— Eu não estava acostumado a beijar ninguém antes — digo — mas eu posso me acostumar.

— Eu não quero fazer nada que você não queira — Theo falou.

— Eu também não quero fazer nada que você não queira — digo.

— Ainda somos amigos, eu não quero perder sua amizade.

Ficamos em silêncio.

— Boa noite, Liam.

— Boa noite, Theo.

Acho que o Theo tem algo especial que faz as pessoas dormirem, eu só precisei ouvir ele me desejando uma boa noite, então adormeci rapidinho.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top