004 • 𝗨𝗠 𝗟𝗢𝗕𝗢?

Charlotte Delgado

Scott demorou duas horas para chegar até nós, ele estava sangrando, cambaleando e suando frio. O cara ficou tão traumatizado que não conseguiu pronunciar nenhuma palavra desde o ocorrido.

Acordei as cinco e cinquenta do outro dia, tomei um banho quente no chuveiro do Caleb e vesti a primeira roupa que apareceu na minha frente. Às seis e quarenta eu estava na porta do quarto do Scott.

- pode responder e abrir essa droga ou eu vou ter que arrebentar ela e te deixar sem porta por três meses? - gritei enquanto esmurrava a porta

Scott não demorou mais do que alguns segundos para a abrir e pôr sua cara amassada para fora.

- cara, você tá péssimo - adentrei o quarto, jogando minha mochila sobre sua cama - e então, me deixa ver.

Scott ainda estava sem camisa, apenas com uma calça jeans e o curativo que o ajudei a fazer ontem a noite. Ele puxou o esparadrapo, mostrando a marca de mordida abaixo de suas costelas.

- eca, Scott, isso 'tá horrível - faço careta - senta ai, eu vou limpar essa coisa.

- não precisa, Lottie, eu tô bem.

Empurro ele, o obrigando a se sentar na poltrona ao lado da cama.

- eu sou a mais velha, eu estou no comando. Se não quer que eu diga para a tia Melissa que me obrigaram a sair no meio da noite para procurar por cadáveres na floresta, o que acabou resultando em você sofrendo um ataque animal, é melhor ficar bem quietinho e me obedecer. - sorri falsamente ao perceber sua cara séria - eu dito as regras, você sabe bem disso.

- pois é, eu sei - murmurou.

(...)

Obriguei o Scott a dirigir meu carro até a casa do colega do meu irmão e depois até a escola, ele fez após sofrer algumas ameaças.

Assim que estacionou, Stiles desceu de seu jipe que estava à dois carros de distância. O amigo de Caleb seguiu outra direção, deixando apenas nós três e o Stiles, que vinha em nossa direção.

- ah, cara, que bom que você sobreviveu - foram suas primeiras palavras ao se aproximar.

- espera ai, sobreviveu à quê? - Caleb indagou, totalmente confuso.

- pois é, você perdeu a nossa maior aventura de ontem a noite. - murmurei - e não tinha como ele morrer com aquilo, Michis. Era superficial.

- o quê? Aquilo doeu 'pra caramba - Scott respondeu indignado - ainda dói.

- sim, mas não havia chances alguma de você morrer por causa desse ferimento.

- eu ainda não entendo muita coisa, vou precisar de bem mais do que outra de suas discussões diárias.

Scott parou de andar, então todos paramos juntos. Ele levantou a barra da camiseta, mostrando o curativo ensopado por sangue que se espalhava cada vez mais rápido pelo tecido branco. Caleb e Stiles admiraram aquilo como se fosse uma obra de arte.

- um lobo me mordeu ontem na floresta enquanto eu procurava pela minha bombinha de asma. - falou, abaixando a camiseta. Mas a deixou levantada por tempo suficiente para que Sarah conseguisse enxergar.

- espera ai, está nos dizendo que um lobo fez isso com você? - Stiles indagou confuso

Sarah nos alcançou feito um raio, se enfiando entre Stiles e o meu irmão, como uma boa intrusa que é.

- um lobo? Me deixa ver? - ela pediu com jeitinho. Os meninos olharam diretamente para mim, pedindo permissão.

- se você não mostrar ela vai me encher pelo resto do mês. - dou de ombros - é por um bem maior.

Scott levantou a camiseta outra vez, deixando que minha amiga desse uma boa e rápida olhada em seu ferimento.

- caramba... mas, isso é meio que impossível, cabeludinho.

Ele abaixou a camiseta pela segunda vez, ajeitando a mochila nas costas.

- estava escuro, mas eu tenho certeza de que era um lobo.

- um lobo mordeu você? - Stiles questionou, ele afirmou com um murmuro convencido da verdade - sem chances.

- o quê? Eu ouvi um uivo.

- não, você não ouviu.

- como assim não ouvi? - questionou confuso

- porquê não existem lobos na Califórnia fazem pelo ou menos seis decadas - Sarah o respondeu, dando um tapinha fraco em seu ombro.

Apesar de não saber muito sobre os garotos, Sarah costuma interagir bastante com eles quando estamos juntos. Ela se acostumou com a participação deles em quase todos os meus passos, nem se incomoda mais.

- então se não acreditam sobre o lobo, com certeza não vão acreditar se eu contar que encontrei o corpo - disse como quem não quer nada.

- espera ai, que corpo? - Caleb e Sarah questionam juntos, sendo completamente ignorados.

Olhamos espantados para ele.

- tá brincando? - falamos juntos

- não, quem me déra. Vou ter pesadelo por no mínimo três meses.

- olá? Quando predentem nos responder?

- o trio satânico entrou em ação na noite de ontem. Scott e Stiles me obrigaram a acompanhá-los em uma de suas aventuras idiotas. Nós fomos até a floresta em busca do corpo que a polícia estava procurando, mas eles acabaram encontrando a gente. Nos sacrificamos pelo Scott.

Trio satânico, era como minha mãe costumava chamar a gente. Desde muito novos os meninos e eu causamos problemas para os nossos pais. Por exemplo, Scott já se envolveu em uma briga na escola quando tinha nove anos e o Stiles entrou para ajudá-lo, acabou apanhando junto com ele. Eu entrei no meio e espanquei o panaca. Cinco dias de suspensão.

- cara isso é incrível - Stiles disse, fazendo todos nós franzir o rosto - isso vai ser o melhor acontecimento que essa cidade já teve desde... o nascimento de Lydia Martin - diz asism que vê a garota passar por nós junto ao namorado - oi, Lydia.

Sarah rolou os olhos, enjoada com tudo aquilo. A ruiva passou por nós, me dando um sorriso e um beijo no ar, recebendo o mesmo de volta.

- e ela continua me ignorando... sabe, isso tudo é culpa de vocês, que me transformaram em um nerd igual a todo mundo nesse grupo.

- ou então ela só é uma babaca egoísta mesmo - Sarah diz, dando de ombros - se liga, Stiles. Merece algo melhor do que a idiota da minha irmã, tem potencial para isso. - deu tapinhas no rosto dele - Lottie, você vem?

- vejo vocês no intervalo. Bom primeiro dia, rapazes. - sorrio, me afastando - não cometam idiotices.

Eles acenaram, me vendo partir. E Sarah caminhava para dentro da escola.

- espero que a gente faça pelo ou menos três aulas juntas por dia, assim você terá tempo suficiente para me contar que maluquice foi essa com a sua família totalmente maluca. - falou, parando em frente ao armário com um cadeado vermelho brilhante. - quando eu penso que não podem piorar, vocês me surpreendem ainda mais.

- eu tô com sono, Saritah. Será que a gente pode falar sobre isso mais tarde? Ainda preciso ir até a orientação pegar os meus horários e o número do armário.

- talvez você esteja com sono porque passou a noite na floresta.

- não, eu passei a noite me certificando de que o Scott ainda estava vivo. O garoto ficou traumatizado depois daquilo, não conseguia nem falar, entrei em pânico.

- eu também ficaria - deu de ombros, batendo a porta do armário - na verdade, eu ficaria tão apavorada que teria desmaiado lá mesmo. Ou eu seria morta pelo assassino, ou o animal que me atacou terminaria o serviço.

Dou risada, entrelaçando nossos braços e voltando a andar pelos corredores da escola.

(...)

E o último sino finalmente ecoou pela escola. Minha última aula era francês, e eu não tinha a companhia da Sarah nela. Tinha pego minha mochila no armário na aula sete, agora eu estava procurando pelos idiotas que me levariam para casa.

Sarah me puxou pelo braço assim que consegui pisar fora da escola, fazendo meu coração disparar.

- qual o seu problema, maluquete? - reclamei irritada.

- nossos amigos querem ver você, seria legal se desse pelo ou menos um oi para eles.

Eu não sou exatamente o tipo de pessoa que tem muitos amigos, mas Sarah me obriga a ser alguém sociável. Então, a gente tem sim um grupinho pequeno. Dois garotos, quatro garotas. Laila e Helena são irmãs, primas da Sarah, Diego e Marcus são amigos desde o berçário. Idiotas, mas necessários para a sobrevivência escolar.

- Charlotte - Helena diz assim que me vê se aproximar.

Ela pula em meu pescoço, me abraçando sem meu consentimento. Dou um riso nervoso, a abraçando de volta.

- oi, Lena - sussurrei, me afastando - eai, pessoal.

Diego estava com seu braço no ombro da namorada, Laila, e Marcus estava logo ao lado deles. Entre todos eles, Helena é a minha favorita.

- cara, eu nem acredito que você apareceu - diz Diego - eu realmente pensei que não te veria por aqui essa semana.

Helena ainda estava agarrada em meu braço, se negava a me soltar. Sua linguagem de amor é o toque físico.

- e por quê não? - junto as sobrancelhas, ajeitando a alça de minha mochila

- Sarah nos disse que você se negava a receber visitas, e que estava trancada no quarto desde o funeral. - Laila respondeu, ganhando um olhar feio da ruiva ao meu lado direito.

- pois é, ela não mentiu - dou um sorriso forçado e sem dentes - mas eu ainda preciso terminar a escola.

- eu admiro a sua força, Charlotte. - foi a vez de Marcus dizer algo, e com certeza não seria algo bom. - você perdeu os pais em menos de um ano, ficou órfã, tá morando com a tia e o primo maluco, mas ainda pensa em terminar o colégio.

E é nessa hora que eu me dou conta de que meus pais não estão mais aqui. Obrigada, Marcus, por me lembrar o óbvio. Ele não é o mais inteligente.

Todos os meus amigos o encararam com caras nada boas, e eu tive que respirar fundo para não derramar nenhuma lágrima ali.

- eu preciso ir, a gente se vê amanhã. - falo, me soltando de Helena.

Sai dali em passos rápidos, ouvindo a bronca que deram no idiota sem cérebro e Sarah e Helena chamando meu nome. Marcus consegue se superar todas as vezes que abre a boca para falar algo. As vezes nem é a intenção dele, ele só solta sem perceber.

Não tão longe, eu conseguia ver todos os meninos me esperando ao lado de meu carro, pareciam entretidos demais em uma conversa. Dou passos largos em direção a eles, não demorando tanto. Stiles e Caleb discutiam outra vez, como sempre.

- Lottie, tudo bem? - questiona Scott, fazendo com que o falatório termine.

Dou um falso sorriso, balançando a cabeça em afirmação.

- você não parece bem - meu irmão diz - o que aconteceu? Não gostou do primeiro dia?

- estou bem, garotos. - menti, passando por eles e abrindo a porta do passageiro - é sério.

Os três me olhavam com os olhos cerrados, sabendo que era mentira, mas se segurando para não perguntar outra vez.

- tá bom. Para te animar, a gente vai dar uma passadinha na floresta outra vez.

Os encaro com o olhar baixo, xingando todos eles mentalmente.

- entrar na floresta não anima ninguém, Stiles. Quando você vai entender isso?

Ele dá de ombros, girando a chave do jipe nos dedos.

- então a gente pode maratonar alguma série depois, ou jogar um videogame. O que acham de uma noite do cinema? Faz tempo que não temos uma.

- depois que encontrarmos a minha bombinha na floresta. Agora, entrem em seus carros e vamos em outra aventura do trio satânico com a participação especial do aprendiz do satanismo.

Eu não sei porque ainda me submeto a este tipo de situação. Mas, alguém precisa monitorar essas crianças em um corpo de adolescente. Preciso manter todos vivos e em perfeito estado. E lá vamos nós em outra aventura.






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