28 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012

HANNAH DIXON.

— Como pôde me esconder tantas coisas, Richard? – Minha voz saiu em bravura e decepção. Descobrir que meu marido, meu irmão e meus amigos estavam em uma missão secreta por dias e nenhum deles me contaram é sempre doloroso. — Apontar uma arma para os moradores desse lugar eu até acho aceitável, mas você estava tão louco que derrubou o próprio filho.

— Hannah, não fale assim, o cara deve ter merecido a surra que tomou. – minha irmã diz, era seu dever defender quando eu estava acusando, sempre foi. — Nós não sabemos o que aconteceu, mas Rick jamais machucaria o Carl se soubesse o que estava fazendo. É óbvio que foi sem querer.

Rick estava acoado no canto da cama, eu não faço ideia no que esteja pensando agora mas espero mesmo que seja em um plano perfeito para os fazerem ficar.

— Não me importa o motivo de tudo isso, acho até razoável vocês quererem ter uma arma aqui dentro já que não conhecemos muita gente por aqui e por sabermos o quão rápido as coisas podem piorar, mas precisa saber quando atravessa a porra do seu limite. – Gritei com os dois, aposto que a maçã de meu rosto já estava vermelha, sempre fica quando estou com raiva. — Eu sei que com certeza você teve a melhor das intenções, mas vale mesmo a pena ser exilado por isso? Arriscou o destino de todos nós quando apontou aquela arma para a líder.

— Por quê expulsariam vocês? Fui eu quem fiz tudo sozinho. – Finalmente resmungou algo, suspirando.

— Nenhum de nós ficaria aqui sem você, irmão. – Era algo óbvio mas que ele não conseguia perceber, fui obrigada a verbalizar. — Nem mesmo Abraham ou Rosita, se você sair vai todo mundo com você. É o peso de nos liderar com excelência. 

Seus olhos foram para Lara em busca de confirmação e ela concordou em um aceno, se mantendo em silêncio. Suspirei pesadamente antes de tomar a decisão de o contar sobre minha gravidez, andando em círculos para tentar não enlouquecer com tudo o que aconteceu. Coloquei a mão sobre minha barriga lisa, mas que em breve cresceria, e o olhei nos olhos.

— Eu preciso desse lugar, Rick, nós precisamos. Não para nós mesmos, mas por nossos filhos e a segurança deles, para que não precisem matar um zumbi aos cinco anos de idade. – Rick não pareceu surpreso, apenas sorriu ao trocar olhares comunicativos com nossa irmã. Ele sempre sabe de tudo. — Eu amo a sua filha como se fosse minha filha, acho bom amar o meu feto como se fosse seu também.

— Não estou sendo egoísta, Bel, eu quero o mesmo que você. Nossos filhos podem ser apenas crianças aqui dentro, mas para isso acontecer nós precisamos agir.

Suspiro outra vez, não querendo ter que entrar nessa merda toda, mas ele é o cara que me alimentou e me deu um teto para morar quando meus pais se cansaram de mim, eu não poderia ser tão ingrata ao ponto de virar as costas para ele em um momento crítico. As vezes gostaria de que Lori ainda estivesse aqui para que eu não precisasse o apoiar sempre, assim eu poderia apenas o dizer o quanto isso é uma má ideia e ir embora. É uma pena que eu não possa.

— Tudo bem, Robin Hood, eu entro nessa roubada com vocês. – Seu sorriso aparece de repente, abrindo os braços para um abraço. Eu não tenho dúvidas que Rick consiga fazer isso acontecer. — Você sempre consegue o que quer, Peter com certeza deve ter dito isso para a mãe dele.

Ele solta um riso nasal, me abraçando com carinho. Estava com medo, tanto da reunião que teríamos há algumas horas quanto do meu futuro. Eu tenho medo de não conseguir fazer isso acontecer da maneira certa, de errar como mãe e esposa. Deus, eu tenho medo da vida. Mas abraçar o meu porto seguro fez com que eu sentisse paz por um instante, percebendo que enquanto eu estivesse com os Grimes, com Rick Grimes, tudo estaria bem.

— Vamos, eu também quero participar. – Lara resmunga antes de nos agarrar em um abraço apertado e desastroso, mas cheio de amor entre irmãos desajeitados. Eu os amo.

Rick beijou meu rosto, sorrindo orgulhoso antes de me dizer algo que me aqueceria o coração.

— O meu bebê terá um bebê. Puff, que ironia.

E eu sorri me sentindo a pessoa mais amada da face da terra, um luxo que apenas eu teria. Ser o bebê de alguém é muito bom, todo mundo deveria experimentar algo assim. Todos deveriam ter o amor entre irmãos.

[. . .]

Me preparava para comparecer a reunião que decidiria o destino do meu irmão aqui dentro, passei pelo quarto de Annie antes de sair, batendo na porta por precaução. Eu realmente não estou a fim de a pegar praticando atos libidinosos com a garotinha que eu costumava contar historias de ninar.

— Está aberta. – Sua voz abafada me respondeu. Empurrei a porta até a metade, vendo as duas garotas deitadas sobre a cama de casal enquanto liam HQ's. — Oi, você está de saída?

— Sim, só avisando que o jantar está na geladeira e vocês precisam esquentar. Preciso pedir que se comportem na minha ausência?

Elas se entreolham como se buscassem a resposta quando na verdade só estavam brincando com minha cara. Gosto de as ver sorrindo entre elas, mesmo que estejam rindo de mim. Odeio ter criado monstrinhos adolescentes, mas me avisaram que isso iria acontecer e fui eu quem não dei ouvidos, então a tia Hannah que se vire com as consequências de sua criação duvidosa.

— Não, você não precisa. – Giulia respondeu em um sorriso travesso. — Mas a senhora tem certeza de que não podemos ir? Eu adoraria ver de perto a confusão acontecer.

— Sabemos o quanto você gosta de brigas, meu amor, mas Rick mandou o filho ficar de fora e Glenn também te falou para passar longe. Você sabe que...

— Se o Glenn falou, então está decidido. – Ela resmungou com seu mesmo tom de tédio de todas as outras vezes. — Quando vou poder tomar minhas próprias decisões, afinal?

— Daqui há quatro anos, quando for uma adulta independente. Enquanto isso vocês duas ficam aqui e aproveitam a variedades de livros que existe naquele escritório lá em baixo. Eu não vi nenhuma história em quadrinhos, mas tem muito livro legal lá, eu espero que saibam aproveitar.

— Fala sério, esse lugar tem uma biblioteca particular? – Minha loirinha questionou em animação, sorrindo de orelha à orelha.

Fui até as duas, deixando um beijo carinhoso no topo da cabeça de ambas as garotas antes de sair, desejando uma boa noite e diversão. Não me importo como irão ocupar o tempo livre que passariam sozinhas por aqui, contanto que mantessem minha casa de gente rica de pé.

O caminho até a casa dos Monroe foi silencioso, calmo, frio e tenso. Muitas pessoas estariam lá para decidir o que Deanna não conseguiria, uma completa inútil por passar uma decisão tão importante como essa para pessoas que não sabem um terço da história toda. Peter e Clara me deram um sorriso pequeno ao me avistarem chegar, estavam ao lado da matriarca Monroe e não estavam muito animados. Me recordo de que ainda não falei que sentia muito por sua perda, me obrigando a lembrar de dizer outra hora.

A fogueira no centro de nós era tudo o que nos mantinha aquecidos, o que me trás memórias de tempos difíceis do passado. Eu não via Rick por aqui, ou Glenn e Jeremy, muito menos Claire e Blake. Muitas pessoas faltando por aqui, mas isso não incomodou Deanna porque se meu irmão não estivesse lá seria mais fácil conseguir expulsá-lo. Todos começaram a dizer os prós de Rick Grimes, contando como ele salvou suas vidas e que é graças a ele que chegaram até aqui. E, bem, quem melhor para afirmar que o cara é fera do que sua irmãzinha.

— Quando tudo isso aconteceu... quando o mundo entrou em colapso meu irmão estava em coma, foi baleado em uma operação policial. Pensávamos que ele tivesse sido morto pelos militares ou as bombas que explodiram a cidade, mas não. Rick acordou um mês depois do fim da civilização, andou pelas ruas estranhas e desertas de King County, fez amizade com um estranho e aprendeu sobre o novo mundo. Ele se esforçou para nos encontrar e por coincidência acabou no mesmo acampamento que a nossa família. – Peter soltou um riso nasal silencioso. — Ele voltou para buscar o Merle porque algemaram ele no telhado e o deixaram para trás em um prédio infestado de zumbis. Confiamos a liderança de um grupo inteiro em suas mãos porque ele sabia o que fazer mesmo aprendendo aos poucos sobre os zumbis e suas peculiaridades. Ele nos deu segurança e um lugar estável para morar, não nos deixou morrer de fome.

Deanna olhou para o filho como se perguntasse se poderia confiar em minhas palavras, mas ele apenas balançou seus ombros com um pequeno e minimalista sorriso nos lábios.

— Me parece algo que ele faria, e estávamos lá quando ele foi baleado, eu era seu apoio naquela perseguição. Clara e eu ficamos com a filha de Lara para que pudessem passar a noite no hospital, Hannah a buscou tarde da madrugada.

— Visitamos Rick no hospital enquanto ele estava em coma, Deanna. Ele realmente não havia acordado quando as notícias sobre o canibalismo se espalharam.

Andy também estava lá, ele nos disse o quanto Rick foi importante para sua carreira, mas não citou o envolvimento íntimo em nossa família. Me olhou vez ou outra, mas eu não estava ali para isso e nunca estaria.

Foi quando meu irmão chegou, cheio de sangue e com um zumbi morto nas costas. Ele o jogou no chão com tudo, cheio de ódio em seus olhos enquanto os outros se assustavam. Recuei alguns passos, me afastando por instinto e pelo cheiro podre de cadáver em decomposição, me apoiando no ombro de Maggie.

Escutar tudo o que saia de sua boca parecia impossível quando tudo o que eu queria era vomitar todo meu jantar por conta daquilo, me impressiono de Maggie seguir em plenitude e apenas me apoiar em meu enjoo. Uma coisa ou outra sobre a segurança, Spencer correndo para a guarda no portão, Peter questionando oque aconteceu e Pete Anderson chegando extremamente bêbado.

Gostaria de ter piscando, virado as costas ou de ter abaixado para vomitar naquele instante, mas quando o Anderson ergueu a espada de Michonne ao alto e cortou a garganta de Reggie eu estava olhando. Abraham nos puxou para trás em um ato de proteção, contudo eu ainda pude ver o marido de Deanna se afogar em seu próprio sangue enquanto meu amigo enlouquecia e a esposa chorava.

Hershel morreu para a mesma espada, da mesma maneira. Talvez tenha sido extinto, mas derrepente eu estava abraçada à Maggie e não queria soltar, tendo um tremendo dejavu naquele momento. Talvez ela também tenha tido.

— Foi ele, tudo isso é culpa dele. – O verme gritava, completamente bêbado e fora de si.

Deanna deixou que uma última lágrima triste escorresse de seus olhos antes de levantar o olhar para Rick, fria e com sede de vingança.

— Rick, faça! – não se foi dito outra palavra, não houve mais choro, nada além do disparo da pistola de Rick Grimes, meu irmão. Pete morreu, meu irmão foi salvo.

Uma lágrima solitária escorreu por minha bochecha, mas uma voz desconhecida chamou seu nome em susto e meu marido estava ao lado desse estranho. Parece haver um imã entre nós, segundos depois e meu corpo se chocou contra o dele, o agarrando pela cintura enquanto ele me acolheu de bom grado ao segurar minha cabeça contra seu peito.

— Oi, amor. – ele sussurrou, beijando meus fios com ternura. — Vem, nós vamos 'pra casa agora.

Ter meu marido de volta comigo é como se devolvesse minha escolha de não se importar com o que acontecia ao meu redor, ele estaria comigo para resolver e eu não passaria por tudo sozinha. Deixei meu amado marido me levar pelas ruas vazias e escuras da comunidade, no entanto ainda ouvíamos o que acontecia e eu não me importei com nada. Seguimos o caminho em silêncio com apenas nossos batimentos cardíacos e o som de nossas respirações ecoando por onde íamos.

Estava sujo e seu cheiro era de zumbi podre mas nem isso me impediu de continuar em seu aconchego. Ele abriu a porta de casa com cuidado, mas as crianças estavam na sala e não adiantou de muito. Jeremy se colocou de pé quando me avistou, estava preocupado.

— Tudo bem com vocês? Nós ouvimos um disparo. – ele indaga em rapidez, quase se engasgando entre as palavras. — E desde quando você está de volta?

— Pete matou Reggie, Rick matou Pete. – Contei enquanto sentia embrulhar o estômago, remoendo a cena do sangue escorrendo de sua jugular. — Não tomamos nenhuma decisão sobre Rick, não chegamos até a votação. Mas foi Deanna quem pediu para ele atirar, então..

— Então ela não pode expulsá-lo. – Annie completa, seu raciocínio é rápido. — Não se expulsa alguém depois de pedir para que ele matasse alguém. Isso foi na frente dos moradores?

— De umas vinte, nem todos foram. Onde está Giulia?

A mesa de centro haviam três pratos de comida e farelos, mas só Jeremy e Annie estavam aqui. A loira deu de ombros antes de bocejar e me responder.

— Foi atrás do irmão, você não soube? Glenn foi baleado lá fora, ela acabou de sair.

Meu rosto se escurece em segundos, e em segundos eu larguei tudo e corri pelas ruas de Alexandria enquanto ouvia Daryl pedindo que eu esperasse por ele, mas eu não poderia perder outro alguém. A enfermaria ficava há três ruas de casa, relativamente perto se você andar ao invés de correr por todas elas.

Eu cheguei, mas cheguei com fadiga e coração acelerado. Bati a porta com rapidez, ganhando a atenção daqueles que ali estavam. Tara sorriu para nós enquanto Denise atendia meu amigo, que estava bem consciente.

— Ah, graças a Deus! – Respirei em alívio tentando regular as batidas aceleradas e a fadiga. Coloco a mão no peito, me apoiando à mesa mais próxima. — Eu vim assim que soube, o que aconteceu?

— Nicholas atirou no Glenn, ele só não quer admitir isso. – Tara respondeu na ponta da língua, recebendo um olhar feio de nosso amigo coreano.

— Foi um acidente, eu já falei! – Insistiu ele. Glenn me olhou torto e ergueu as sobrancelhas. — Você correu até aqui? Alguém pega um copo d'água 'pra essa mulher, pelo amor de Deus!

— Estou bem... eu só... cansei um pouco. – Respondi entre respirações ofegantes. Meu marido logo me alcançou e parecia tão cansado quanto eu, apoiando-se em meu ombro. — Mas se quiserem pegar a água para o Daryl, eu acho que ele vai aceitar.

Correr não é nem de longe minha atividade física favorita, eu sempre odiei qualquer coisa que envolvesse a corrida ou meu cansaço rápido e é uma pena que eu não possa continuar com isso porque agora vivemos em um mundo onde precisamos estar sempre atentos as possíveis ameaças que ele nos oferece.

— Eu... eu aceito! – ele diz entre pausas, ganhando a risada de nossos amigos. — Você corre rápido demais para uma sedentária grávida.

Mas meu amado marido acabou esquecendo de que a gravidez ainda era um segredo entre nós e que poucas pessoas sabiam sobre isso, Tara e Eugene arregalam os olhos enquanto Abraham deixou sua expressão totalmente caótica tomar conta de seu rosto. Contudo aqueles que já sabiam sobre minha gestação, que eram apenas Rosita, Maggie e Glenn, sorriram abertamente.

— Aí meu Deus! – Chambler exclamou em animação, sorrindo como se aquilo fosse a coisa mais legal que ouviu em todo o dia. Aposto que deve ter sido mesmo, ela acabou de acordar. — Você está grávida!

Eu ri se seu entusiasmo tanto quanto ri das reações de todos, era acolhedor vê-los reagir de uma forma tão carinhosa conosco por algo que poderia ser o meu fim. Daryl se assustou com aquilo, se desculpando com os olhos enquanto eu só queria rir de tudo.

— Eu realmente pensei que fosse o Glenn a soltar essa informação sem querer. – Rosita diz entre risos.

— Apostamos que seria, mas no fim... – Maggie comenta, fez meu marido sorrir. — Publicamente, meus parabéns pelo bebê, casal.

Denise parecia interessada no assunto, mas era como se não soubesse como se introduzir na conversa. Eu a vi sorrir quando Daryl soltou sobre minha gravidez, mas ela se limitou a somente este sorriso que me enviou. Ela é um doce, eu sei que sim.

— Obrigada, pessoal, mas eu vou pedir para que mantenham isso entre nós por enquanto. Pelo menos até o fim do primeiro trimestre da gestação, que não vai demorar muito tempo. – O primeiro trimestre é importante para qualquer gravidez e normalmente são passados em segredo do restante da sociedade. Eu quero manter assim por enquanto, pelo menos daquelas pessoas que não são nosso grupo.

— Eu cuido para que não falem, podem ficar tranquilos. – Abraham responde, insinuando que bateria para manter nosso segredinho. Eu gosto do abobrinha, apesar de ser miolo mole o cara é incrível. Daryl e eu rimos de seu comentário e meu marido o agradeceu.

Nós ficamos naquela enfermaria por algum tempo e o assunto: maternidade, predominou grande parte das conversas entre a gente. Nomes, menino ou menina, com qual pai o bebê se pareceria mais e entre outros. A última vez em que me reuni com amigas para falar sobre esse assunto eu saí chorando e acreditando que além de uma péssima mãe eu também seria assassina de bebês.

Me senti amada quando tantos deles me acolheram e afirmaram que tudo sairia bem durante o processo, jurando seus amores à criança que ainda nem nasceu e prometendo serem os melhores amigos nesse momento tão mágico em nossa trajetória. O mundo apocalíptico nos trouxe as melhores pessoas, eu sou grata por isso.

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001: Queridos, se preparem, pois o próximo episódio....

002: eu tô amando essa nova fase da Hannah, desculpem!
Mas eu queria reforçar que a gravidez dela não irá impedí-la de obter
um bom desenvolvimento nós acontecimentos importantes da série.

003: A era Negan está chegando, eu tô ansiosa por isso.🫦

Beijos da malu!💋❤️‍🩹