25 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012.

DARYL DIXON.

Suas duas únicas palavras me deixam atordoado e sou obrigado a sentar na poltrona ao seu lado, tenho certeza que 'tô parecendo bem assustado agora. Ri em desespero, olhando em seus olhos culpados. Hannah não estava feliz com aquilo, eu pude ver em seu olhar fundo e preocupado.

— Eu... oh, meu Deus! Como isso foi acontecer? – quis rir de minha própria pergunta. É claro que eu sei como aconteceu, fui eu quem o fiz, e muito bem feito. — Você está bem? Não parece legal.

Ela nega, abaixando a cabeça e encolhendo os ombros. Não tinha felicidade nela, nem um pouco em lugar algum e se tivesse ela estava muito bem escondida.

— Estou bem, é só que... – ela direcionou seu olhar exausto para mim, encarando o fundo dos meus olhos. — eu não quero morrer para que um bebê viva neste mundo quebrado, Daryl. Isso não é lugar para uma criança, ela não seria feliz.

Suas palavras surtiram efeito sobre mim, me dando conta de que Hannah não queria o nosso bebê. Mas eu a entendi, é difícil aceitar algo assim no início, ainda mais no mundo em que vivemos agora. Ela só precisa de tempo e espaço, e talvez o meu apoio. Eu me aproximei dela, abraçando seus ombros e beijando seu cabelo preso em um coque frouxo.

— É o nosso bebê, mi amor. – sussurrei, sentindo meu peito aquecer com a ideia de um filho nosso em meus braços. — Não podemos abandoná-lo.

— Então me deixaria morrer para tê-lo? Prefere seu filho à mim? – ela questionou, me deixando. Ficou de pé em minha frente, seu rosto molhado por lágrimas. — Um ser que ainda não conheceu vale mais do que eu, Daryl?

— Hannah... – eu tentei argumentar, mas ela me impede.

— É cruel dar à luz em um mundo pós-apocalíptico como este, onde somos obrigados a fugir diariamente e não sabemos se estaremos vivos amanhã. – ela respondeu, sua voz cada vez mais alta e gélida, seus olhos escurecendo diante sua raiva eminente. — Lori tinha medo do bebê dela estar morto e a comer por dentro, ela tinha medo da própria filha. Tínhamos tudo planejado para o parto e mesmo assim ela morreu, Daryl, um zumbi a devorou por inteiro e não deixou nem os ossos.

Em suas palavras atuais eu pareci ser um tolo egoísta que não entendia seus motivos. Eu me levantei também, passando a mão pelo cabelo enquanto a ouvia falar. E quando terminou, foi a minha vez de dizer o que eu pensava.

— Eu não a deixaria morrer, Hannah, jamais permitiria que isso acontecesse. Se o seu medo é esse, por favor, acredite em mim quando eu digo que nada vai te acontecer, porque eu destruiria a porra do mundo inteiro por minha esposa grávida. Eu estudo anatomia humana até o nascimento, aprendo a fazer um parto de mil maneiras possíveis, grudo em suas costas o dia inteiro para evitar contratempos. Eu reviro pedras atrás do que precisamos, mataria milhões para que você se sentisse segura. Droga, eu queimaria uma cidade se isso te fizesse feliz.

Estava com raiva, mas não era dela. Eu tinha raiva desse mundo hostil que sobrevivemos e do medo que ele causa em meu amor. Respirei fundo, a vendo parada em frente à janela de vidro com seus olhos molhados, soluçando baixinho. Me partiu o coração a ver daquele jeito, me apressei até ela e a puxei para meus braços contra sua vontade. Não ficaria parado enquanto o amor da minha vida chorava em minha frente. Eu segurei sua cabeça contra meu peito, sentindo a culpa chegar.

— Não sou egoísta por querer isso, mas seria idiota se só levasse o meu querer em consideração. Se você sente medo do que pode acontecer e não quer se arriscar, está tudo bem em desistir. Temos uma vida perfeita aqui, olha só essa casa, ela é incrível. – ouvir seu riso rouco me alivia o coração. — Mas eu preciso que saiba, meu amor, que eu escalaria uma montanha se lá em cima existisse um obstetra. E eu trancaria ele no nosso porão para garantir que ficasse vivo até o nascimento do nosso lindo bebêzinho.

— Aposto que sim. – ela murmura, retribuindo meu abraço. Sentia seu coração mais calmo e o meu também. — Podemos deitar? Estou cansada e minha cabeça dói.

Concordei, subindo para o andar de cima ao seu lado. Não tive tempo para ver toda a casa, mas tudo o que vi dela até agora me deixa alucinado. Nunca imaginaria morar em uma casa tão grande e bonita como esta. Nosso quarto era grande e a cama parecia nuvem de tão confortável, não pude evitar o murmúrio de surpresa ao me sentar nela.

[. . .]

Acordei assim que o sol tocou meu rosto, ou assim que percebi. A verdade é que dormi tão bem que mal vi o tempo passar. Hannah ainda dormia em um sono profundo, deitada em meu ombro enquanto tinha a cara enfiada em baixo de minha axila. Era assim que dormia todas as noites em que dormiu comigo. Eu beijei seu rosto antes de me afastar com cuidado para que não acordasse.

Com tempo livre resolvi explorar a casa, que descobri ser ainda mais bonita por dentro. Aaron me contou que Clara e Peter brigaram com qualquer pessoa por essa casa, já que ela pertenceria aos filhos mais novos de Deanna algum dia. Pelo que me foi dito, os filhos não atendiam mais às suas expectativas e ela decidiu deixar que o primogênito ficasse com ela. Peter preferiu presentear a mulher que salvou sua esposa.

Na cozinha havia suprimentos, então lembrei que Hannah estava estressada noite passada e decidi que fazer um café da manhã seria uma boa ideia e faria de mim um bom marido. Pelo menos um marido esforçado. Nunca pensei que fazer panquecas era algo tão difícil. Então eu fui até Carol e pedi por alguns de seus cookies, que eram uma delícia, e coloquei na mesa de café da manhã. Consegui fazer um chocolate quente para acompanhar.

Hannah acordou, provavelmente com a barulheira que eu fazia na cozinha, e desceu para ver o que acontecia. Ela sorriu para mim quando viu a mesa posta.

— hu, agora eu tenho um cozinheiro partcular? – sorri para ela, me virando com o avental no corpo. — está ao contrário, querido.

Olhei para meu corpo, notando que realmente estava errado.

— é, não dá 'pra ser perfeito. – ela riu, selando nossos lábios brevemente antes de sentar. — Nossa casa é bem grande, você não achou? Eu quase me perdi aqui dentro.

— não seja dramático, ela nem é tão grande assim. Pelo menos não ao ponto de fazer com que se perca dentro dela. – dei de ombros, me sentando á mesa redonda. — Mas se estiver sugerindo que devíamos ceder nossos quartos vagos para pessoas de nosso grupo, eu concordo.

— e você já sabe para quem oferecer? – questionei. Hannah realmente parecia mais calma agora pela manhã.

— eu pensei em deixar que Annie ficasse com um quarto lá em cima, na verdade eu quero que ela fique. Nos salvamos juntas, eu não vou abandoná-la. – concordei no mesmo instante, ela sorriu. — Certo, então deveríamos deixar que Jeremy dormisse no quarto perto da cozinha e Carol fica com aquele ao lado.

Soube que Maggie também conseguiu a própria casa por trabalhar com a líder e conseguir sua confiança. Glenn convidou Leonardo e a namorada para morarem com ele, a esposa e a irmã mais nova.

— ainda ficaríamos com um quarto vago, meu bem. – a alertei. Talvez tivesse esquecido de um, é normal em situações como esta.

Hannah me direcionou um lindo sorriso, pegando um dos cookies que estava sobre a mesa.

— O nosso bebê vai precisar do próprio espaço, o quarto em frente ao nosso é dele, ou dela.

Suas palavras me trazem a felicidade em velocidade rápida, fazendo meu sorriso crescer ainda mais. Ela riu, encantada com algo ou alguém, assim como eu também ri em encanto.

— vamos ter um bebê! – ela grita em comemoração, sua risada gostosa ecoando pelo cômodo. Fui até ela, a abraçando naquele momento mágico e eufórico.

Nunca pensei que a notícia de ter um bebê me deixaria tão alegre, mas deixou. Era como se meu coração fosse sair correndo do meu peito de tanta emoção, como uma enchurrada de amor despencando sobre mim. Eu teria um filho em algum tempo e ele me chamaria de pai, me abraçaria e me amaria muito. Isso é assustadoramente incrível.

Ainda a abraçando eu a beijei, vendo seu sorriso desaparecer em um beijo amoroso e lento. Estou formando uma família com a garota do bar. Seu sorriso alegre e os olhos brilhando, agora sim havia felicidade em Hannah.  Eu conseguia ver.

— o que fez você mudar de ideia? Pensei que fosse...

— você escalaria uma montanha por mim e não me deixaria morrer. – ela interrompeu, tocando meu rosto. — Estou com medo, mas também feliz por esperar o nosso bebêzinho. Vamos ter um bebê, nós seremos pais, ótimos pais.

Era como se a Hannah de ontem fosse deixada para trás e devolvido seu brilho novamente. Ela estava radiante, como todos os dias, mas ainda mais enquanto falava sobre o bebê. Minha Hannah está de volta e teremos um filho. Eu sorri para ela e a beijei, nossas línguas transmitindo o que sentíamos naquele momento.

— vamos ter um bebê!

[. . .]

HANNAH DIXON.

Acordar essa manhã e sentir o cheiro delicioso que vinha de nossa cozinha me fez perceber que casei com o homem da minha vida. É claro que eu já sabia o quão dedicado meu marido era, mesmo antes de virar marido de verdade, e me dei conta de que a Hannah de vinte anos adoraria isso que estamos vivendo agora. A Hannah de vinte anos choraria de felicidade com a notícia de um bebê à caminho.

Me despeço de neu marido, que saia para seu novo emprego como recrutador de Alexandria. Hoje mais cedo Deanna me procurou e pediu para que eu me tornasse atendente na enfermaria junto ao Pete e Denise, então hoje também é meu primeiro dia no emprego novo.

— devolva meu marido inteiro, Aaron. – pedi após nosso beijo de despedida. O homem ri, afirmando.

— Eric disse a mesma coisa, pode acreditar. Acho melhor nós dois voltarmos sem pedaços faltando ou um de nós irá se dar mal. – ele brinca, me fazendo rir. — Vamos nos cuidar muito bem, eu prometo.

Estavam de partida, voltando em uma semana se não encontraram quem recrutar ou menos se conseguirem finalizar o trabalho antes do tempo. Mas podem demorar mais que isso se for necessário. Quase não concordei com o emprego que lhe foi distribuído, mas sei o quanto é importante para Daryl não se sentir preso dentro dos muros. O beijei outra vez, sorrindo antes de sussurrar.

— tem uma esposa grávida te esperando, não demore tanto.

Ele sorri, beijando meu rosto e disfarçadamente acariciando meu abdômen liso. Daryl partiu junto ao seu novo colega de caça e Spencer fechou o portão, puxando a grade que nos impedia de ver o lado de fora. Me senti ansiosa por não ter notícias sua por tanto tempo, mas ele me tranquilizou dizendo que eu não me sentiria sozinha por muito tempo. Se referia ao bebê. Nunca pensei que Daryl fosse ficar tão entusiasmado com a chegada de um neném em nossas vidas, mas ele ficou e estou adorando isso.

Glenn também sairia para uma busca hoje com Tara, Noah, Eugene e a dupla de idiotas que comandam a equipe. Ainda os alcancei antes de irem, estavam estacionados em frente à casa de Deanna, acompanhada pelo marido e Maggie.

— Pensei que ainda estivesse dormindo. – implicou ele, me fazendo parar ao lado de Maggie. — O que aconteceu, caiu da cama?

— Daryl saiu para o primeiro recrutamento com Aaron, acabei de vê-los saindo pelo portão. Mas e você, aonde vai com essa gangue?

Glenn riu ao entender meu questionamento mal intencionado disfarçado de piada. Aiden no comando de algo tão sério parece ser uma grande piada, na verdade. Esse cara não entende nada e seu amigo muito menos, mas sei que Glenn dá conta de dois mauricinhos metidos à militares.

— em busca de placas solares, ou algo assim. Eugene consegue tornar a energia elétrica real para nós, estamos correndo atrás disso.

— eai, Dixon! – Tara me cumprimentou, sorrindo ao acenar. Noah fez o mesmo, mas ainda mais tímido que o normal.

— Oi, garotos. Boa sorte na saída, espero que ocorra tudo bem e consigam a placa. Eu adoraria sentir a sensação de ter energia em casa outra vez. – Não possuo muita convivência com os novos integrantes de nosso grupo, mas tenho consideração o suficiente para me preocupar com suas saideiras. Aiden chamou sua atenção, prontos para partir. — Boa sorte, Glennie, você consegue vencer a dupla de idiotas.

Ele sorri, piscando antes de se afastar. Maggie entrelaçou seu braço ao meu, nos mantendo com os Monroe enquanto o furgão se afastava, logo saindo dos limites da comunidade. Deanna sorriu para nós enquanto seu marido adentrou a garagem de casa.

— Bons amigos? – Ela indaga sorrindo. Essa mulher chega a ser assustadora, eu já falei isso?

Mas Maggie parece familiarizada com todo seu jeito, ela sorri pequeno para a mulher, estando muito bem-humorada para uma grávida em seu primeiro semestre.

— Hannah e Glenn são amigos desde a faculdade. Deveria ver, são uma dupla e tanto. – respondeu, me fazendo lhe dar um sorriso amoroso.

— oh, é algo de muito valor ter amizades como essa de vocês no mundo de hoje. Mas então, Hannah, pronta para o primeiro dia como médica de verdade?

Gostaria de dizer que fui uma médica de verdade quando salvei a vida de pessoas que eu amava fora daqueles muros, mas acredito que seja algo rude a se dizer para a líder da comunidade que acolheu a mim e minha família. Então eu sorri pequeno para ela, pronta para dizer o que queria ouvir.

— sim, claro! Estou muito animada para esse emprego, obrigada por isso. – Consegui ser convincente o suficiente e me amo por isso. Deanna afirmou em um aceno.

— eu deixarei que siga com seu dia, então. Temos muito o que fazer no dia de hoje. Já ouviu o ditado sobre médicos não poderem se atrasar?

— é a primeira coisa que ensinam na faculdade. – respondi após um suspiro leve, me obrigando a sorrir pequeno para ela. — Pessoas morrem. Lembrando disso acho que pegarei meu caminho. Até mais, então.

Ouvir todas as histórias sobre a mãe de Peter me fez ter um pequeno ódio por ela, principalmente quando ele nos contava que ela basicamente o expulsou de casa quando Peter não quis seguir seh exemplo na política. Mas vendo de perto Deanna parece até ter se tornado uma boa pessoa, ela é carinhosa com o filho e ama o neto que ganhou. Mas eu não compro sua pose de boa moça, não mesmo.

Deixei as duas para trás após um breve beijo na bochecha de Maggie, indo em direção o meu novo emprego. Aproveitaria para roubar alguns testes de gravidez e ter a certeza absoluta de que estou grávida, por mais que isso já seja uma certeza em minha vida. Bem, será um dia longo.

[. . .]

Pete não quis me sobrecarregar em meu primeiro dia, apenas me apresentou o local e me familiarizou com tudo ali, deixando que eu atendesse casos pequenos por enquanto. Fui liberada antes do anoitecer e corri para a casa do meu irmão, sendo recebida por um abraço caloroso de Camila. Ela agarrou minhas pernas com seus braços curtos.

— oi, tia. Como foi lá no seu trabalho? – ela perguntou em animação antes de me soltar. — A senhora costurou alguém?

— o que faz aqui fora sozinha, meu amor? Sua mãe já falou que não quer você por ai sem alguém na sua cola, é perigoso.

— então não conta 'pra ela. – a menina respondeu, balançou os ombros e adentrou a casa em minha frente. — Mamãe, tia Hannah está aqui.

Camila estava crescendo, se tornando uma criança muito travessa conforme os dias se passavam. Lara estava lá em cima, mas Merle e Carl estavam aqui em baixo, ambos jogados na sala enquanto não faziam nada. Fui até eles, jogando uma almofada no rosto de meu cunhado que antes cochilava, mas que agora acordou atordoado.

— É isso que os dois fazem o dia todo? – indaguei curiosa. Carl nem mesmo se mexeu, continuou lendo sua HQ tranquilamente jogado sobre o carpete. — Acabei de sair do meu primeiro plantão como médica de verdade.

— e o que fez de tão interessante, costurou dedos cortados com facas de cozinha? – foi exatamente o que fiz. — descobriu a cura zumbi?

Merle era sempre assim, um doce.

— se tivesse a descoberto com certeza não deixaria que você a tomasse. – respondi em seu mesmo tom, o sarcasmo. — Annie está? Queria saber a opinião dela sobre algo importante.

— Cam, chame sua amiguinha. – ele pediu carinhosamente para a enteada. Uma das únicas a receber seu amor incondicional. Camila afirmou, subindo escada à cima em uma rapidez avassaladora. — Mas não corra, querida, você pode acabar caindo.

Ver a maneira como Merle tratava a filha de sua atual esposa era apaixonante, me deixava encantada porque eu não imaginava que Merle Dixon poderia demonstrar afeto por pessoa alguma. Até conhecer Giulia Rhee, Camilla Grimes e Lara Grimes. Essas três mulheres mudaram sua vida por completo e ele reconhece isso.

— O que tem 'pra falar com Annie, tia? – meu sobrinho me questiona ao se sentar de frente para mim, como quem sentia ciúmes de sua maravilhosa e amada tia.

— Algo importante, mas também queria conversar com você em outra hora. – Me lembro, o fitando com um rosto nada agradável. Recordo de dois dias atrás, quando o vi pular o muro atrás de uma outra garota. — Passe lá em casa qualquer hora, vou estar esperando.

— A faça esperar por um bom tempo, Carl. Seu sofá é macio demais para que ela fique de pé o dia inteiro. – Meu querido cunhado sugere. O odiaria se não fosse meu amigo. — Não chega nem aos pés do nosso, que deixa minhas costas travadas.

— Está com problemas nas costas, Mer? Eu posso te encaixar em um check-up para outro dia. Com a idade que alcançou sua coluna já não deve estar mais aguentando. Precisa de um médico, sorte a sua ser cunhado de uma.

— oh, eu vou te dizer quem precisa de um médico. – ele retruca em uma falsa ameaça, me tirando um riso baixo. — Daryl já está lá fora outra vez, não?

Meu marido precisa de seu próprio tempo e espaço, o conheço bem o bastante para saber que ele jamais aceitaria ficar aqui se isso significasse não poder sair quando quiser para esfriar a cabeça. Balancei os ombros, tomando um pouco da água que me foi oferecida. Merle já sabe sobre mim e o bebê, posso ver em seus olhos.

— precisa se hidratar melhor agora. – Disse ele em um tom preocupado.

— Não seria ele se não estivesse. – O respondi em um sorriso pequeno.

Camila desceu da mesma maneira que subiu as escadas e outra vez Merle a chamou atenção, enfatizando a importância do cuidado ao descer os degraus, como um bom padrasto faria. O admiro por isso, é tão fofo assistir a maneira como ele sorri para ela e se importa com sua segurança que me deixa emotiva. Maldito bebê que me deixa bipolar.

Annie veio logo atrás dela, vestia uma calça jeans surrada e uma camiseta que com certeza não era dela e sim de Carl. Veio com Judy em seus braços, a bebê sorriu ao me ver e esticou os braçinhos, pedindo pelo colo da titia.

— oi, meu amor! – minha voz fina e alegre soou para a criança, que sorriu ainda mais ao vir para meus braços. Beijei seu cabelo que já não era tão ralo, inalando o maravilhoso perfume de neném que vinha dela. — Nossa, você está cada dia mais parecida com a sua mamãe.

Carl pulou de seu lugar pela primeira vez, sorrindo abertamente ao ouvir meu comentário.

— Eu falei isso 'pra tia Lara hoje de manhã. – ele diz, realmente orgulhoso disso. — Acha que ela será loira ou o cabelo irá escurecer com o tempo?

— Talvez escureça, talvez não, é cedo para saber. –  Meu cabelo era escuro quando nasci mas clareou com o tempo, já Lara nasceu loira e permaneceu assim. É difícil prever o que acontece com crianças, só o tempo pode nos dizer. — Burnett, onde está dormindo?

— ah, Carl e eu dividimos o sótão, mas está tudo uma bagunça. – ela conta, uma careta ao finalizar a frase. — Por quê?

— Tenho uma casa enorme só 'pra mim e um dos cinco quartos é feito para uma adolescente. Se não se importar em deixar Carl em sua própria bagunça, poderia vir morar comigo e desfrutar do conforto de seu próprio quarto.

A expressão em seu rosto mudando derrepente me deixa alegre. Seu sorriso brilhante me contagia, assim como a Carl que vibrou com o pedido mais do que ela própria. Annie é uma boa garota e minha mãe morreu por ela, mas não é só por isso que me afeiçoei a ela. Annabeth Burnett conquistou meu coração ao decidir que eu era a pessoa que deveria procurar para a salvar. Sua mãe confiou a filha à mim e estou disposta a honrar seu último desejo.

Essa garota é um anjo, uma das meninas mais doces que já conheci em toda minha vida e eu quero zelar por ela.

— 'tá falando sério, tia? – ela questionou em incerteza, sorrindo em emoção. Afirmei em um aceno de cabeça, lhe dando um sorriso largo como resposta. — Eu adoraria, de verdade. Obrigada, obrigada, obrigada!

Annie agarrou minha cintura e deitou sua cabeça em meu peito, me abraçando em entusiasmo. Era empolgante assistir tudo aquilo.

— tudo bem, agora suba lá e pegue suas coisas. Nós vamos para casa.

Ver seu sorriso aumentar cada vez mais era como um sentimento inexplorado dentro de mim. Annie subiu as escadas entre pulos de alegria e cantarolando uma música animada, me deixando com um grande sorriso esboçado em meu rosto enquanto a assistia.

— alguém sabe onde Jeremy está? Preciso falar com ele.

— abrigando sem tetos na sua casa? Impressionante. – Merle implica, mas Carl gostou muito de Jeremy para não retrucar a implicância do marido de sua tia.

— seria um sem teto na casa da tia Hannah se não tivesse se casado com a irmã do meu pai.  – sua voz saiu no mesmo tom de deboche que de Merle e ainda se atreveu a sorrir diante a isso. — Jeremy e outros foram com Abraham, estão em um projeto para expandir Alexandria.

Afirmei em um aceno, passando minha amada sobrinha para os braços do irmão mais velho. A casa que pertencia aos meus irmãos era extremamente acolhedora, como sua casa em King County costumava ser. Era do tamanho ideal, tinham a mesma geladeira e Carl ainda conseguiu resgatar algumas fotografias em família que fez questão de colocar em porta-retratos. Tinha o aroma de lar.

Respirei fundo, aspirando aquela doce fragrância que por ali percorria, desejando que minha casa tenha este mesmo aroma, que eu possa transmitir a sensação de lar quando meu bebê estiver em meus braços. Espero que Lori esteja certa sobre eu conseguir ser uma boa mãe. Gostaria que estivesse.

Ver o sorriso de Annie enquanto adentrava seu novo quarto e tocava em cada móvel naquele cômodo me deixou feliz. Eu desci, cozinhei nosso jantar e até lavei algumas roupas sujas que trouxe comigo da estrada. Acolhi meu sobrinho, Jeremy, em um dos quartos de baixo e como uma família feliz jantamos à mesa. Adorava os assistir interagindo entre eles, rindo de piadas sem graça que contavam. Acho que minha casa já se parece com um lar.

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001: oi, pessoal. Finalizei este capítulo no dia 28 de agosto mas não o publiquei por ainda estar de luto por meu único amigo. Estava abalada e decidi descontar na escrita, mas empaquei nisso também. Então eu rabisquei umas folhas e expulsei o bloqueio criativo.

002: aproveitem, daqui a pouquinho sai mais.

Sem beijos da malu hoje.