21 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012

Daryl Dixon.

Estamos na estrada há quatro dias, seguimos o Tal Peter Monroe até sua suposta comunidade murada e segura para que ele nos dê abrigo. Nunca entraria em uma comunidade de mauricinhos, mas estou fazendo por todas nossas crianças e minha esposa quebrada. Hannah não fala muito desde a morte de sua mãe e eu a entendo, está passando por seu luto de forma silenciosa.

A noite passada foi bastante conturbada, mas conseguimos manter o celeiro de pé e sem zumbis aqui dentro. Minha loirinha cochilou após o fim da tempestade, estava cansada demais para se manter de pé e resolveu deitar ao lado da bebê Grimes, acordando só agora. Ela veio até mim, selando nossos lábios brevemente.

— bom dia, querida. – eu desejei, limpando minha Besta.

— bom dia, Lyr! – diz ela. Desvio a atenção para ela, arqueando as sobrancelhas ao não entender o nome completamente estranho que acabou de dizer. — Oh, Daryl, eu não estou te chamando pelo nome de outra pessoa. É o seu novo apelido, as últimas três letras do seu nome. Pensei que fosse óbvio.

Seu rostinho amassado e repleto de marcas a deixou incrivelmente sexy. Admitindo algo que todo mundo deve saber, a minha esposa consegue ser sexy em todas as ocasiões. Sorri para ela, foi meu primeiro sorriso do dia.

— Lyr? E por quê não Daryl? É o meu nome e todo mundo sempre me chamou assim.

— porque todos precisam de um apelido, oras. – deu de ombros, beijando minha bochecha. — eu preciso encontrar a Maggie agora, te vejo depois.

Hannah saiu radiante, sorrindo para a maioria das pessoas que a cumprimentaram e aqui foi de longe o ponto mais alto do meu dia. Olhei para Glenn, que estava logo ali nos observando. Se minha amada esposa está sorrindo e pulando, esbanjando alegria, então eu estou perfeitamente bem.

— também viu aquilo? – perguntei. Ele riu, bebendo de sua água sem nenhuma preocupação.

— é claro que eu vi, Lyr. – caçoou, saindo dali antes que eu o mate.

Já consigo ouvir Merle me chamando assim pelas próximas três semanas, ou talvez – por ter um cérebro de ervilha, até conseguir lembrar. Por outro lado, meu irmão também anda muito ocupado sendo um bom padrasto para a filha de sua esposa, o que de longe é a coisa mais surpreendente que eu já presenciei em sua vida. Nunca imaginaria que Merle Dixon seria pai algum dia, muito menos de uma criança que não é sua.

Suspirei, jogando a Besta nas costas ao me levantar. Pretendia caçar alguns coelhos e esquilos, talvez tirar a sorte grande e trombar com um animal grande o suficiente para todos nós, eu não sei. Mas, anulando qualquer plano que eu tenha feito sobre meu dia Maggie e Sasha adentram ao celeiro com um homem desconhecido. Eu realmente não sei o que essas mulheres têm na cabeça.

É claro que sacamos nossas armas e miramos para ele, que já estava de mãos para o alto. Olhei para Rick, esperando que ele agisse primeiro para que eu pudesse lhe dar o apoio necessário.

— ele estava lá fora, nos pegou de surpresa também.

Rick iria até ele em sua ira de líder, mas Peter e Clara adentraram o celeiro antes disso, e aparentemente conheciam o nosso invasor desconhecido. O chamaram pelo nome, Aaron, e sorriram para ele como um velho amigo. Tivemos que assistir ao reencontro amigável entre eles.

— Aiden garantiu que estavam mortos, disse ter visto os dois sendo levados por carniceiros. –  ele desabafa em alívio. — Deus, sua mãe ficará tão feliz. George, então? Ele está louco de saudades.

Clara pareceu sensível demais quando o colega comentou sobre seu filho, escondendo o rosto no peito do marido, que sorriu animado. Eu não procurei me misturar entre os outros, mas Hannah fez questão que eu conhecesse seus amigos antigos, ela me contou sobre o filho que deixaram na comunidade e tudo o que eu não queria saber.

[. . .]

Aaron era um amigo dos Monroe que busca por sobreviventes fora de seus muros seguros. Ele nos explicou o que houve e como nos encontrou antes de irmos até seu trailer e nos embarcar em uma viagem até sua comunidadezinha bonita. E, falando em bonita. . .

— querido, você deu comida ao Bart hoje? – minha linda esposa questionou, se sentando ao meu lado.  — eu não sei, ele anda meio rabugento.

— as crianças o serviram um belo pássaro depenado e em cubos hoje de manhã, mas não sabem disso. – passei meu braço por seu ombro, a vendo sorrir.— talvez ele esteja carente, gatos também precisam de namoradas.

— acho que têm razão. Aaron me disse que ele também tem gatos, duas fêmeas. – ela sorriu animada, encostando a cabeça em meu ombro. — namoradinhas para o nosso Bart. Está vendo? Todos saem ganhando nessa comunidade.

Seu gato estava com quem sempre está, com as crianças. Bart parece apreciar mais os carinhos que ganha na barriga pelos sobrinhos de sua dona do que a própria dona ou seus esforços para mantê-lo vivo e em segurança. Hannah parecia leve e descontraída hoje, talvez a ideia de nos instalarmos fixamente em um lugar a tenha animado. Seu sorriso lindo e brilhante é a primeira coisa que reparo ao olhar para ela. 

— o que a deixou animada? Esqueça, eu não preciso saber. 

Ela ri, abraçando meu antebraço com suas mãos fofas e macias. 

— você acha que teremos uma casa só nossa? Digo, um lugar onde apenas eu e você possamos ficar, como um casal de verdade no antigo mundo. 

Seus olhos brilhavam e ela só estava imaginando tudo aquilo. Sorri para ela, beijando o topo de sua cabeça com carinho antes de suspirar. Senti tantas saudades dela. 

— sempre fomos um casal de verdade, meu amor. A casa ser nossa é um detalhe importante, mas não fará de nós dois menos casados se tivermos que dividir. Eu ainda seria o seu marido e você a minha esposa. 

— e com quem gostaria de dividir, caso pudesse escolher? - ela reprime seus lábios, pensando em uma resposta para sua própria pergunta. — Acho que eu sei com quem não gostaria de dividir. 

— ah, é? quem, então? - ela sorriu, indicando Merle e a esposa. — acho que concordamos nisso. Se eu pudesse escolher, supondo que nossa casa teria três quartos, eu daria um a Carol. Ela é minha melhor amiga, não deixaria que ficasse sozinha.

Nunca pensei estar planejando com quem dividir minha casa e de minha esposa, nem mesmo esperava me casar algum dia. Se Hannah nunca mais entrasse em meu caminho, eu ficaria solteiro para o resto da vida, sei disso. 

— podíamos oferecer o quarto vago ao Jeremy, ou ao Léo. Talvez eles pudessem ser colegas de quarto. - ela finaliza a frase com um bocejo, se aconchegando ainda mais em meu ombro. 

E dormiu, estava cansada demais para se manter acordada por toda a viagem. A maioria também dormia, menos Rick, Glenn e eu. Olhei para trás, vendo o coreano na mesma situação que a minha, servindo de travesseiro para Maggie, já Rick segurava a filha enquanto ela terminava sua terceira mamadeira da noite. 

— confia mesmo nesse cara e a comunidade estranha dele, Rick? - questionei, ouvi sua respiração enquanto percebia que Glenn também parecia ter o mesmo questionamento. 

— por todas essas crianças, eu espero que essa seja a melhor decisão que já tomei em minha vida. - ele sussurra de volta. — Mas fiquem em alerta, precisamos proteger os nossos. 

[. . .]

O sol nasceu sem companhia de nuvens pretas hoje, acho que acordei primeiro que todos nesse trailer maldito. Se estou certo, Merle é quem está dirigindo agora de manhã, trocou de lugar com Eric, o namorado de Aaron, durante o nascer do sol. Isso explicaria minha cunhada estar dormindo abraçada a minha esposa agora. Eu nem mesmo vi Hannah sair de meu lado para ir dormir com a irmã. 

Por outro lado, Camilla aparentemente abandonou os amigos na cama do trailer para ocupar o estofado macio ao meu lado. Abraçada com a boneca de pano que quase nunca solta, a menina dormia feito anjo em um sono profundo e tranquilo. Me apeguei aos sobrinhos da Hannah, mas principalmente em Camilla, que sempre veio até mim e pedia coisas que para o antigo Daryl eram absurdas. No dia em que nos reencontramos ela me pediu para me desenhar com asas de fada e uma saia de tule rosa. Eu deixei. 

O trailer parou bem atrás do carro onde iam o restante do grupo, sei que chegamos quando Abraham sinaliza para nós quando sai da cabine de motorista. Balancei a garotinha, tentando acordá-la.

— Cami, a gente chegou. É hora de acordar, pequena.- Nada. A menina apenas murmurou e voltou a fechar os olhos. 

Sem outra opção, a peguei no colo. Fui o primeiro a descer, mas passei por Hannah e a irmã antes de sair, estavam sonolentas e com a cara amassada. Hannah é linda assim. Mais a frente estavam Rick e Peter, esperavam o restante descer para poder continuar e abrir o portão. Consigo ver dois homens em cima do muro, nos encarando. Encarei a placa no topo do muro, onde dizia; " Bem-vindos a Alexandria: Misericórdia aos perdidos, vingança aos saqueadores". Hannah e a irmã foram as últimas a descer, parando entre mim e Merle.

— chegamos rápido, você não acha? - ela pergunta, segurava seu arco nas mãos. 

— dormiu a viagem inteira, tia. - Carl a respondeu, varando ao seu lado. Ri, mas escondido.

Ela encarou o sobrinho com seus olhos nada ameaçadores, rindo logo em seguida pois sabia que era a verdade.

— dormi, não foi? Mas eu tive o melhor sono do mundo depois de semanas, não pode me culpar por isso. 

O portão foi aberto e pudemos ver o interior. Um casal de velhos e uma criança loura corria até nós. Hannah sorriu ao ver sua amiga correr e abraçar o garotinho, beijando ele sem parar enquanto chorava. 

— ele é quem eu penso ser? - Lara perguntou, duvidando do que via. 

— é, sim. - Hannah a respondeu, parecendo admirada com o bebê. — É o George, filho deles. 

Depois de um reencontro familiar, Peter levou a velha ruiva que penso ser sua mãe até a gente. Ela tinha um sorriso medonho e pés de galinha que me deixavam assustado. Essa velha parece uma bruxa branca. Respirei fundo e decidi não insultar nenhum desconhecido até sermos aceitos e devidamente encaixados dentro desses muros chiques. Tudo porque vi o tamanho do sorriso que Hannah deu ao olhar ao redor e encarar as casas americanas que tinham ali. precisamos ser aceitos aqui.