17 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012.

Ainda abraçando o sobrinho, Hannah é surpreendida pelo abraço da irmã junto à filha. Era uma linda cena de reencontro familiar para quem os assistia, até mesmo para aqueles que ainda não tiveram a chance de conhecer Hannah Isabel Grimes-Dixon. Ela se solta da família, sorrindo animada com o que tinha que contar.

— ta bom, só não surta e nem briga com ninguém, ok? – ela pede sorridente. Lara e Carl franzem seus rosto, mas a mais velha pareceu entender tudo no instante em que viu a mãe, Camile Grimes, descer do carro.

Ficou paralisada, assimilando toda a situação e o fato de que sua mãe estava há poucos metros de distância. Seus passos curtos em direção a matriarca Grimes deixavam o restante do grupo cheio de confusão. Mas Maggie e Giulia aproveitaram a distração para fazer o que queriam, abraçar Hannah Dixon. Lara e Camile estavam frente à frente, encarando uma à outra.

— oi, bebê. – a ruiva diz entre lágrimas. Lara finalmente desaba, abraçando sua mãe feito uma criancinha. Sentiu falta daquilo, precisava se sentir como uma filha outra vez, ela queria sua mãe.

Hannah sorri diante aquilo. Mesmo que Camile não tenha sido uma boa mãe para ela, Lara teve uma mãe incrível e sentia saudades. Hannah entende o quanto aquilo era importante para a irmã do meio. Mas seu sorriso logo se esvai quando um grito alto e rouco ecoou a rodovia. Olhou para o início da ladeira, vendo três homens a subindo, correndo.

— HANNAH! – era Daryl. Reconheceu a esposa quando ainda passava de carro enquanto eles saiam da floresta. Está correndo desde então.

— Daryl! – ela sussurra, sorrindo pequeno. Um sorriso que logo se alargou. — oh, meu Deus!

Correram um para o outro como se o mundo estivesse acabando debaixo de seus pés e fossem a única salvação um para o outro. Daryl abriu os braços quando a loira chegou perto demais e a recebeu para si. Agarrou a cintura de Hannah enquanto deu um pequeno rodopio, beijando sua boca com uma ardente chama de saudades. Ninguém nunca havia visto tantos dentes na boca de Daryl Dixon como hoje. Ele a aperta contra seu peito, a mantendo ali enquanto a mulher tinha seus braços sobre os ombros do caçador.

Cheia de saudades, ela deita a cabeça em seu ombro, deixando que as lágrimas desçam agora. Nem mesmo prestou atenção no reencontro entre seus irmãos e a mãe que os abandonou, mas viu como Jeremy sorria para ela ao lado de Claire e Leonardo. Também viu quando Peter gritou por Clara e eles se abraçaram, mas estava ocupada nos braços do amor de sua vida.

— eu tive tanto medo de ter perdido você. – ele disse choroso. Segurou o rosto branquelo da mulher entre suas mãos, encostando suas testas uma a outra. — me prometa que nunca mais irá me deixar, Hannah Grimes.

— contanto que você também me prometa. – o respondeu, beijando seus lábios outra vez. Agora com calma e suavidade. O olhou em seus olhos azuís e profundos, sorrindo para ele. — e sou uma Dixon agora.

Agora ele sorri, passando seu braço por cima dos ombros da esposa enquanto segurava sua mão direita. Caminharam até os outros, onde Daryl enfim se deu conta de que os quatro últimos integrantes desaparecidos, no fim, estavam juntos. Seu coração se derrete feito manteiga quando Camila sorriu para ele e abraçou suas pernas, ele a pegou em seu colo e beijou suas bochechas rosadas enquanto quase a esmagava em um abraço apertado.

Rick se aproximou da irmã, beijando seu cabelo com carinho e deixando que Hannah pegasse a sobrinha, que estava ainda maior do que a última vez que tinham se visto. Cansados de apenas assistirem um reencontro épico, os até então desconhecidos resolveram intervir e questionar o que acontecia. Bem, Tara decidiu.

— eu sei que estão tendo um momento legal, mas... quem são essas pessoas? Aposto que os dois que ficaram ali atrás também estão se perguntando o mesmo.

Ela falava de Jeremy e Claire. Hannah e Leonardo se encaram, sabendo que tinham muito o que explicar, mas em vez disso, Rick a respondeu.

—são família. Hannah, como acabou encontrando com mamãe?

A loira suspira, murchando o sorriso que dava para Judith enquanto a balançava em seus braços. Entregou a garotinha para Carl e sorriu pequeno para Jeremy, o chamando para perto. O garoto, receoso e cheio de medo, se aproximou em passos pequenos.

— quando Camila e eu deixamos a prisão não havia mais ninguém nos pátios, mas o Léo nos alcançou a tempo e ficamos juntos, Annie nos seguiu depois da mãe não ter conseguido sobreviver. A gente se instalou em uma casa há quatro quilômetros daqui, ajudamos uns estranhos a se safarem de uma horda e... e mamãe encontrou as garotas na casa. – respirou em alívio. — quero que conheçam o Jeremy. Ele tem sido um grande amigo desde que nos conhecemos.

Rick estremeceu assim que bateu os olhos no garoto. Nunca deixaria de reconhecer os traços do irmão no rosto de um jovem. Lara precisou de mais do que um rostinho bonito para se dar conta de que Jeremy não era apenas um grande amigo para Hannah, ele era um sobrinho. Era um Grimes. Sorridente, Hannah decide que Camile era a melhor pessoa para explicar o que acontecia.

— incrível, não é? – ela indaga. Camile pode ter sido irracional por bastante tempo, mas se sentia extremamente feliz em rever todos os filhos juntos novamente. — Jer é a cara do pai, eu sempre digo isso à ele.

— oh, acreditem, ela não me deixa esquecer isso nem por um minuto.

O choque era visível ao olho nu de qualquer um ali, qualquer um que tenha conhecido Jeffrey Grimes. O garoto é a cara do pai, mas seu sorriso é o que o deixa ainda mais parecido com ele. Lara tomou uma grande lufada de ar, dando um sorriso meigo e gentil para o garoto antes de esticar os braços, chamando o garoto para um abraço.

Quando criança, Monika sempre o alertou sobre o dia que conheceria a família de seu pai e a maneira como reagiriam a ele e sua extrema semelhança com Jeffrey, mas o menino não pensou que sua mãe falasse tão sério quando lhe disse que os irmãos de seu pai iriam abraçá-lo até cansar. Ela pediu para que, quando acontecesse, Jeremy deixasse que eles o abraçassem até não quererem mais, pois precisavam daquilo para sentir uma parte do irmão mais velho.

Lara agarrou o garoto em um abraço apertado, deixando que uma lágrima emotiva escorresse livremente por seu rosto enquanto sentia a pele macia e o cabelo sedoso do sobrinho. Era como tocar a pele do Jeffrey, a sensação era a mesma. O abraço também envolveu Rick, mas não por tanto tempo quanto com Lara. Sorrindo, Camile cambaleia para trás.

— mamãe, tudo bem? – Hannah perguntou, um pingo de preocupação a invadindo. Foi até ela, segurando-a por seu ombro. — mamãe?

Camile estava pálida, sem forças. Quando tocou sua pele, Hannah notou a gritante mudança de temperatura na mulher. Seu rosto sorridente foi substituído por um olhar triste e solitário, choroso.

— o que houve? – Rick questionou, indo até elas. Não eram idiotas, conheciam os sintomas. — Daryl, me ajude a levá-la para o acampamento.

Daryl, ainda sem entender, acatou ao pedido de seu cunhado e melhor amigo. Camile não era uma mulher pesada, mas foi carregada até os outros por seu filho e o genro que nem sabia ter. A deitaram sobre um saco de dormir na barraca de Daryl, onde ele costumava deixar para as crianças dormirem. Quando posta no chão, a ruiva agarra a mão de seu filho.

— vou deixá-los sozinhos, mas o que digo aos outros?

— que mamãe precisa descansar. – o Dixon afirma, fungando antes de sair. Mas foi barrado pela esposa logo na entrada da barraca.

Hannah estava aflita, assim como sua irmã ao seu lado. Ela viu, conseguiu ver a marca dos dentes na camiseta de sua mãe, assim como também percebeu o sangue. Camile foi mordida, estava morrendo agora. Ele não as impediu de adentrar a barraca, mas barrou as crianças e Jeremy, pedindo por um momento a sós entre ela e seus filhos.

Dentro da barraca, os três irmãos se expremiam para ocuparem o mesmo espaço ao mesmo tempo enquanto sua mãe estava deitada, sorrindo para eles. Lara segurou sua mão enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.

— ele iria morder a menina. – contou, chorosa. — foi lá dentro, nas escadas. Annie estaria morta agora se eu não tivesse me jogado em cima daquele verme imundo.

Hannah deixou que as lágrimas caíssem, não se preocupou com aquilo naquele momento. Ela se aproximou da mãe, acariciando seu rosto claro e sem pigmento.

— eu me casei, Daryl é meu marido. Namoramos por três anos antes da faculdade e eu terminei porque você me disse que nunca se pode ir para a faculdade com um namorado no encalço, mas nos encontramos durante um apocalipse zumbi e depois de um ano, nos casamos. Não cheguei a me formar, mas estava no último semestre de medicina. – diz ela entre suas lágrimas. — eu tenho um melhor amigo, o nome dele é Glenn e eu cuido da irmã dele de vez em quando, ela tem a idade do Carl. Demorei a ir 'pra faculdade porque tinha medo de não conseguir o que queria e tinha medo do mundo.

— por quê está me contando tudo isso, meu amor? – o apelido carinhoso os pegaram de surpresa e aumentou ainda mais o choro da loira, mas também a rendeu um belo sorriso.

— porque perdôo você, mamãe. – respondeu, dando um sorriso molhado para ela. Rick e Lara se entreolham, surpresos com o rumo da conversa. — sou uma mulher adulta agora, e eu não roubo carros e habilitações que não são minhas, nem pulo janelas ou fumo cigarros só porque sei que te irritaria. Eu salvo vidas, mato zumbis e luto por minha sobrevivência. Ser adulta é assustador, mãe.

— eu sei, bebê. Honestamente, tudo era mais fácil quando vocês eram apenas crianças correndo pela casa e quebrando meus móveis. – os três sorriem, lembrando de suas infâncias. Agarrou suas mãos, olhando os rostos de seus filhos crescidos. — cuide bem das suas irmãs, Richard. Continue sendo um bom irmão, mesmo que tudo esteja escuro e nublado, deve continuar por elas.

Rick sorriu para a mãe, afirmando em um aceno doloroso. Derrepente, uma lâmpada se ascende sobre sua cabeça. Camile e Judith não foram apresentadas, ela não poderia morrer sem conhecer sua mais nova neta.

— mamãe, me escute. – diz ele, seu sorriso mórbido cravado no rosto. — Lori e eu tivemos outro filho, é uma garota e você não a conheceu ainda, precisam disso. Judith precisa conhecer a avó.

É incomum sorrir em seu leito de morte, mas foi o que Camile mais fez antes de sua partida. Estava contente por seus filhos e netos, feliz em saber que mesmo após sua partida todos ficariam bem. Feliz em saber que os filhos cresceram e se tornaram adultos incríveis e, agora, pais incríveis.

— bem, então me deixe vê-la, vá buscar o seu bebê. – ele assente, indo em busca de Judith, mas parou quando foi chamado pela mãe outra vez. — querido, faça melhor e traga todos os meus netinhos. E Annie, eu a quero aqui também. Quero me despedir deles.

O clima pesado pairava sobre a família Grimes. Rick assentiu e foi em busca de seus filhos e sobrinhos, pois era a vontade de sua mãe e Rick nunca negou nada aos pais. Péssima ocasião para um reencontro, mas estavam gratos por terem pelo menos a chance de se despedir, mesmo que seu tempo fosse curto.

Em seus últimos segundos, permaneceram na barraca apenas seus filhos e os três netos mais velhos, Jeremy, Carl e Camilla. Hannah foi quem feriu o cérebro da mãe após seu falecimento, a impedindo de virar um caminhante após alguns minutos. Houve um momento silencioso, onde tudo o que ouviram um do outro foram soluços e fungadas, o choro acompanhado do vazio e desespero. A perda. Mas, nada doía mais do que suas últimas palavras.

— anime-se, querida. Hoje é o dia do meu funeral.

____________________________________

001: não, minha protagonista não pode ter paz. (Nem amor materno😜)

002: houve perdão, afinal. Estava em dúvida sobre deixar ou não Hannah perdoar a mãe por tudo o que aconteceu na infância e adolescência dela, mas a Hannah nunca deixaria a mãe morrer sem receber perdão. Ela já havia a perdoado há muito tempo, só nunca teve a oportunidade para dizer.

003: no próximo capítulo tem surpresa, haha.

Beijinhos da Malu!!!💋🫶