67| 𝐅𝐎𝐓𝐎𝐆𝐑𝐀𝐅𝐈𝐀
17 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012.
Hannah Dixon.
Clara estabilizou e agora dorme tranquila na cama que costumo dividir com as crianças. Camila e Annie estão lá em baixo, na companhia de Léo enquanto eu sigo observando minha velha amiga e seu ritmo cardíaco. Alguém bateu na porta e logo a abriu, era minha mãe carregando um prato de comida e um copo de água. Ela sorriu pequeno, fechando a porta e vindo em minha direção, colocando a comida na mesinha de cabeceira.
— como ela está? – indagou, abrindo as persianas para olhar a rua vazia.
Camile vem se esforçando para ganhar a minha confiança e entrar novamente em minha vida, odeio admitir que depois de ontem ela teve um grande avanço em seu querer. Estou lutando contra mim mesma para não amar minha própria mãe.
— ficará bem, só precisa de repouso por alguns dias. – a respondi, me acomodando melhor na poltrona ao lado da cama. — ela tem um filho a esperando em casa, um garotinho que ela ama muito. Clara está apavorada e morrendo de preocupação com o filho. Ela sabe onde ele está e com quem ficou, o que me leva a pensar... Minha irmã não sabe o paradeiro da filha, nem mesmo se continua viva. Isso é assustador.
Eu também não sei se ela sobreviveu, então. . .
— Hannah, desculpe por ter sido tão dura com você após a morte do Jeff. Você era só uma criança, merecia mais de mim. Presenciou a morte do seu irmão, precisava de uma mãe e tudo o que ganhou foram insultos atrás de insultos, eu sinto tanto.
Meus olhos a buscaram no mesmo instante, as lágrimas nascendo sem eu se quer me mover. Esperei por um pedido de desculpas a minha vida inteira, me obriguei a ser uma boa filha após sair de casa e aceitei de tudo em silêncio. A dor chegou até meu peito de forma abrupta, deixando transparecer em meu rosto. Tomei uma grande lufada de ar, buscando forças para falar algo, mas ela continuou.
— fui horrível com você durante anos, vejo isso agora. Você é uma mulher incrível hoje e isso não é graças à mim, eu não moldei a adulta que se tornou e isso dói, eu aprendi.
— Chega a ser cruel você dizer isso, implorar perdão depois de tanto estrago, tendo tanto tempo para ter percebido que o que fazia comigo era desumano. – seus olhos fundos e murchos me encaram com pesar, ameaçando jorrar lágrimas. — fui até sua casa depois do funeral de papai, eu quem encontrei seu armário vazio, o cachorro faminto e seu bilhete na geladeira nos informando que havia ido embora. Levou todo o dinheiro, mas não o seu cachorro.
— eu não podia levar o buldogue, o adotei com seu pai e aquele cachorro me odiava. Viajei por cidades turísticas com aquele dinheiro e comprei uma casa em Washington quando encontrei Monika e o filho. Eu enviava cartas para casa.
— mandou nove cartas desde que nos deixou, mamãe. Um mês depois de ir embora, dois anos depois no aniversário do Carl, o Natal daquele mesmo ano. Nunca sobre mim, apenas sobre Rick, Lara e Carl. Minha vida e meu bem estar nunca lhe interessou, isso não vai mudar agora.
Ela se calou naquele momento, uma lágrima solitária escorregando por seu rosto. Queria chorar, quis chorar desde o primeiro minuto que a reencontrei, mas sempre fui forte quando o assunto era não demonstrar fraqueza na frente de mamãe. Eu sou boa nisso, pelo menos nisso.
[...]
Desci para o quintal por um instante, apenas para saber como andava o dia de minhas garotas. As meninas brincavam em um balanço de madeira. Annie balançava a menor enquanto davam gargalhadas muito gostosas de se ouvir, tão entretidas que nem se deram conta de minha presença. Entretidas demais para perceber que suas risadas alegres atraíram uma dúzia de zumbis para nossa zona segura.
A cerca atrás do balanço fora alcançada por um dos zumbis, me fazendo correr para fora no mesmo instante.
— Annie, saia agora! - gritei, a assustando. A garota olha para trás espantada, seus olhos se arregalando na medida que o podre se esgueirava no arame farpado. — Annabeth, agora!
A menina corre, puxando Camilla pelo pulso com rapidez. o primeiro zumbi atravessou nossas cercas. Puxei as garotas para dentro, fechando a porta com desespero enquanto Jeremy e Layla chegavam até nós assustados. O quintal se infestava de errantes tão rápido que nem precisei explicar o que acontecia. Estamos sendo atacados por uma horda.
— Ai meu Deus! - a ruiva exclamou, a boca entreaberta ao presenciar aquilo. — Estamos ferrados, muito ferrados.
Era verdade. Os zumbis nos cercavam em uma velocidade absurda, era assustadoramente assustador assistir aquilo. Entretanto, ainda tínhamos chances contra aquela horda... Se formos rápidos e silenciosos o suficiente.
— peguem nossa comida, sejam rápidos, não temos muito tempo. Annie, suba e ajude Camile a descer com a Monroe. Layla, por favor, não perca a minha sobrinha de vista e a mantenha longe de portas e janelas. Eu vou atrás da Claire e Leonardo. Eu quero todos na porta da frente em três minutos, entendido?
Não esperei que respondessem. Deixei-os para trás e fui em direção a garagem, onde Leo estava na última vez que nos vimos. Ainda estavam, os dois, sem roupa em cima do capô do meu carro. Não tinha tempo sobrando para dar as costas e esperar que se vestissem, então respirei fundo, engoli a vontade de rir e os olhei seriamente.
— Vamos lá, pessoal, deviam estar vigiando o lugar. Nós estamos sendo cercados por zumbis enquanto mandam ver. - estremeceram, se apressando ainda mais. — Claire, te quero lá em cima recolhendo nosso estoque medico. - Ela afirma, passando correndo por mim enquanto ainda vestia a camiseta. Encaro meu amigo, que já estava vestido.
— certo, vou tirar o carro. - ele resmunga envergonhado.
Em outro momento eu estaria rindo e me questionando como nunca reparei na interação entre os dois. Farei isso mais tarde, quando estivermos seguros e livres de perigos. Dei as costas, voltando para dentro enquanto os outros se apressavam para a retirada. A bolsa de armas estava sob o balcão da cozinha e eu logo a reivindiquei, me armando.
Joguei a pistola para Camilla, que me olhou confusa enquanto eu distribuía armas aos outros. Jeremy foi até ela, segurando em sua mão enquanto a outra ocupava uma grande caixa de papelão com nossos alimentos e perecíveis. Camile descia as escadas junto à Clara, Annie e Claire. Minha amiga mancava, mau se aguentando de pé.
— pegaram tudo? – indaguei, dando uma olhada pela perciana. O quintal se enchia.
— provavelmente, é difícil saber. – Mamãe respondeu. — ai meu Deus! Como chegaram até aqui sem que ninguém os visse?
Claire desvia seu olhar para os próprios pés, apoiando o peso de Clara em seus ombros cansados. Leonardo adentra pela porta ofegante e assustado, buscando por nós.
— se não sairmos agora, não há como ir depois.
Um suspiro desesperado escapa de meu peito junto a meus batimentos acelerados. Afirmei, entregando uma arma para minha mãe.
— certo, então vamos lá. Tomem cuidado, ninguém irá morrer no meu comando.
Vi quando Jeremy ergueu Camila em seus braços antes de saírmos pela porta. Tomei a frente, disparando tiros naqueles que chegaram até a faixada da casa. Ordenei que Léo tomasse a frente, adentrando o banco do motorista com agilidade. Logo em seguida Clara foi empurrada para dentro quando Annie soltou sua mão e parou nas escadas.
— Querida, vamos, não temos tempo. – chamei. A garota me olhou com remorso e culpa, dando as costas ao correr para dentro novamente sem nem dar explicações. — ANNIE, NÃO!
Mas ela não me deu ouvidos. Meu peito acelerou e novamente o sentimento de perda se apoçou de mim, pronta para correr em direção a minha perdição caso fosse salvar a vida da garota que prometi cuidar tão bem. Mas Camile foi mais rápida e me surpreendeu ao correr para dentro junto à ela.
— tudo bem, eu pego ela. – disse antes de ir.
Atirei contra um podre que estava perto demais da entrada, me descuidando com as costas. Jeremy disparou sua arma, matando o zumbi que por pouco não me levou a morte. Seus olhos se pareceram ainda mais com os de seu pai agora. Ele colocou minha sobrinha, sua prima, no carro junto a caixa, voltando para me ajudar.
Claire estava de pé dentro do carro, metade do corpo para fora da janela enquanto atirava contra dezenas de zumbis. Jeremy grita pela avó enquanto minha sobrinha se encolhia no colo da mulher que a cuidava em suas horas vagas. O grito estridente ecoou pelo quintal enquanto o momento parece ter se tornado lento e doloroso. Layla foi puxada para dentro da multidão de zumbis quando caiu perto deles. A horda se abaixando e arrancando a pele de seus ossos enquanto sua mão era erguida e seu último grito doloroso ecoa.
Jeremy quis ir até ela, mas o impedi enquanto as lágrimas escorriam livres. Pobre Layla. Fui obrigada a jogá-lo para dentro e fechar a porta, continuando atirando enquanto o choro de seus amigos eram ouvidos por todos nós. Claire disparava com ainda mais frequência, fazendo uma arma de porte pequeno parecer uma metralhadora. O momento se repetia em nossas cabeças.
Mamãe e Annie finalmente voltam, correndo enquanto se esquivavam de zumbis. Jeremy e eu nos enpenhamos em impedir que fossem mordidas, atirando contra os podres que se aproximavam. Camile protegia a garotinha com o próprio corpo, a mantendo sempre na frente, mas complicou a situação quando um zumbi fez a menina tropeçar e cair. Corri até lá, levantando-a e empurrando as duas para o carro.
Os grunidos se tornavam mais altos e Layla não gritava mais, seu corpo era deixado para trás, ou o que restou dele. Eles a devoraram. Leonardo gritava para que entrassemos logo, o tempo estava acabando. As duas ocupam o banco de trás enquanto eu me joguei no passageiro. Arrancamos dali com a respiração ofegante e lágrimas em nossos rostos. Blake acelerou e Claire voltou para seu lugar no banco após mamãe a puxar para dentro.
— por quê entrou, Annie? Poderia ter morrido.
A garota solta o ar, triste. Me entregou uma fotografia familiar manchada, provavelmente de água ou lágrima. Uma linda fotografia de uma bela família feliz. Eram ela e seus pais em um piquenique florido e cheio de coisas deliciosas.
— desculpe, tia Hannah. – ela pede baixinho.
— Layla está morta. – uma voz baixa sussurrou. — oh, meu Deus, ela está morta.
— estou com medo. – Cami murmurou contra o peito de Jeremy.
Estava tudo um caos, de verdade, e tudo o que eu queria era encontrar as pessoas que eu amo. Eu queria estar com eles agora, me curando do que acabou de acontecer. Respirei fundo, recuperando meu posto de liderança neste momento e devolvendo a foto para a Burnett. Agora sei porque Rick enlouqueceu e largou seu posto de líder.
— pegue a rodovia 85. Clara, seu curativo está vermelho, você está sangrando outra vez? – me inclinei para o banco de trás, a verificando. — está tudo bem. – o choro baixo de Claire me enlouquecia aos poucos. Tomei outra lufada de ar, engolindo minha dor pois não era maior que a dela. — eu sinto muito pela Layla, ela era ótima.
Voltaria a dizer algo mais em memória a aquela que sempre me tratou tão bem, mas um grupo relativamente grande de sobreviventes na estrada me deixou curiosa. Estavam sentados próximo ao asfalto, parecendo cansados demais para continuar. O primeiro a se levantar ao notar nosso veículo foi um grande e forte homem ruivo, estava armado.
— reduz a velocidade. – pedi, tentando ajustar a visão. — Claire, Jeremy, armas. – ainda chorosos eles me obedecem. Camila se abaixou entre os bancos, ficando quietinha ali. Entretanto, uma figura conhecida se pôs de pé naquele grupo. Era Maggie. Ela estava lá, apontando sua arma para a estrada e pronta para atirar. — Léo, para o carro.
— o quê?! Por quê? – ele tenta enxergar, freando rapidamente e soltando o volante. Seu sorriso cresceu e ele me olhou, também sorrindo para as meninas. — oh, Hannah, nós achamos.
A distância entre o carro e o grupo era significativa. Se puseram de pé no instante em que paramos, estavam todos armados e prontos para se defenderem. Eles estavam juntos. Desci do carro confiante e aliviada, acabo de me livrar do peso em meu coração. Andei em passos pequenos, o sorriso em meu rosto deixando claro que estava ali.
Procurei por mais rostos familiares entre eles, os encontrando lemtamente. Michonne, Giulia, Maggie, Merle, Lara, Carl. Meu sobrinho me notou, ele me reconheceu. Seu rosto espantado e surpreso dava lugar a um alívio seguido a um sorriso de orelha à orelha. Não satisfeito, Carl decidiu que todos deveriam saber quem estava caminhando até eles.
— TIA HANNAH! – seu grito me fez rir, assim como deixou os outros surpresos.
Carl correu para mim, chegando tão rápido que nem mesmo tive tempo para raciocinar o que acontecia. Meu sobrinho agarrou minha cintura e afundou o rosto em meu peitoral, foi ali que me dei conta do quanto Carl estava crescido. Beijei seu cabelo, o agarrando por cima do pescoço. Estava em casa outra vez. Lara passou correndo por mim, aos prantos para abraçar a filha enquanto eu vi de relance um beijo apaixonado entre Giulia e Annie. Sorri. Leonardo estava parado, mas foi surpreendido por um abraço de meu cunhado, que não o poupou nem mesmo disto. Sorri.
Céus, como isto é maravilhoso.
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001: um minuto de silêncio por Layla Harper. 😕
002: perdoem qualquer erro, mas não deixem de avisar caso vejam um.
003: no próximo capítulo tem reencontro entre o nosso casalzinho e a introdução em alexandria. 😘
004: adoro quando a Hannah acorda p vida e decide agir, sei que também amam ela assim. Então, se preparem, pois aqui vai uma nova versão desta queridona.
Beijinhos da Malu!!!💋🫶
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