62| 𝐎 𝐌𝐄𝐔 𝐔𝐋𝐓𝐈𝐌𝐎 𝐒𝐔𝐒𝐏𝐈𝐑𝐎.

6 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012

𝗛𝗮𝗻𝗻𝗮𝗵 𝗗𝗶𝘅𝗼𝗻.

Não importa o quanto eu me esforçe para tratar os doentes, eles continuam morrendo sem parar. Estamos todos piorando, inclusive Caleb e Glenn. O único que não pegou o vírus foi Hershel mas ele não conseguiria lidar com tudo sozinho... estamos morrendo aos poucos.

Agora, às cinco e pouco da manhã, eu estou deitada em meu colchão macio enquanto sinto todo o meu corpo doer, a cabeça latejar e os olhos arderem. Ainda assim o sorriso em meu rosto era perceptível. Glenn me encara com o olhar franzido, seu rosto ainda estava inchado por acabar de acordar.

— o que foi, teve um sonho com o Daryl? - ele indaga em um tom malicioso.

Apenas sorri, me deitando outra vez. Estava fraca demais para me manter sentada ou de pé e mesmo se tentasse, não aguentaria meu próprio peso. Glenn parecia estar um pouco melhor do que eu, mas ainda assim sua situação não era das melhores.

— na verdade, sim. – tossi ao me virar de bruços, me arrastando para a ponta da cama, onde conseguíamos ver nossos rostos mesmo que deitados. — sonhei que Daryl e eu tínhamos uma filha, ela era a garota mais linda que eu já vi em toda a minha vida. Tinha os meus olhos, a mesma cor de cabelo do pai e uma mistura de nossas personalidades. Estávamos todos lá, em um lugar onde tudo era tão lindo que realmente parecia sonho.  Eu vi Judith segurando-a, só que ela já era grandinha... parecíamos tão felizes e saudáveis que eu acreditei que fosse verdade.

— Jesus, então todos nós sofriamos nas mãos desta garotinha. Já pensou uma mini-Dixon falando palavrões, roubando carros, chegando em casa com uma figura de autoridade pública. A primeira arma branca da garota seria um arco e flechas.

— minha futura filha será uma boa garota, assim como Judith.

Hershel surge em nossa porta com mais dois de seus chás milagrosos que, para mim, tem gosto de infância. Vovó costumava me obrigar a engolir este chá goela a baixo mesmo que eu quase vomitasse durante o processo. Hershel não faz tão diferente com os nossos pscientes aqui dentro. O ouvi dizer para uma garota ontem que ela poderia escolher entre beber o chá e viver ou vomitá-lo e morrer.

O senhor de idade sorriu para nós, digo isto por sua expressão nos olhos já que a máscara cobria do nariz para baixo.

— bom dia, meninos. Como se sentem hoje, hum? – ele indaga já colocando os copos em nossas mãos. — para aqueles que duvidavam, eu ainda estou aqui.

— se livrar de você não é tão fácil assim. – Glenn murmurou, o fazendo sorrir. — Hannah teve um sonho legal com a futura família que ela e Daryl irão construir. Estávamos lá.

Ele me olhou com mais um de seus sorrisos mascarados, adoro quando Hershel entra em nossas conversas como se fosse algo natural.

— aposto que foi mágico, então. – ele disse, sorri a ele antes de beber todo o chá que ganhei. — Sua irmã e Merle estão te esperando na sala do vidro, eu tentei dispensá-los mas você sabe como são os Dixon.

— não ofenda aos Dixon, eu também sou uma agora. – brinco ao me levantar. Eu estava em um estado deplorável, andava me arrastando como os Zumbis e suava feito jogador de futebol em uma partida aos trinta minutos do segundo tempo. Com a ajuda do senhor eu me mantive de pé, apoiada em seu ombro. — eu não avisei minha irmã que estava doente e viria para o corredor da morte, ela deve estar furiosa. Pode me levar até lá, doutor Greene?

Glenn fez careta ao me ouvir e Hershel ri baixo, me ajudando a caminhar para fora. Antes de irmos, Hershel disse ao Glenn que ele deveria tomar seu chá e tentar esticar as pernas para evitar que a doença suba de estágio. Conforme passávamos por todas as celas eu podia ver que as pessoas pioravam cada vez mais ali dentro. O chá estava atrasando os sintomas e evitando o contágio final, mas não resolvia muita coisa se a doença já estivesse bastante avançada.

Penso que irei morrer aqui e isso me apavora, pois não tenho todos que amo ao meu lado. Não beijei meu marido como queria da última vez que nos vimos, nem abracei todos os meus sobrinhos ou impliquei com o fato de que Lara aceitou o pedido de casamento do Merle e agora são noivinhos, tendo seu casamento assim que tudo se resolver. Sequer comentei com Rick que Judith balbulciou meu nome há quatro dias atrás e até hoje ela não disse papai.

— te deixo aqui, querida. Se não voltar em quinze minutos eu sei que está caída em algum lugar tentando voltar para as celas e venho buscá-la. – ele brinca, sinto a garganta vibrar com a risada baixa e rouca enquanto apalpo o concreto. — eu volto logo!

Ele me deixou, voltando para os trabalhos dentro das celas enquanto eu me esforçava para não cair de cara enquanto sentia os olhos de Merle e Lara me encarando em silêncio. Respirei fundo no tenpo em que arrastava os pés até o vidro grande, me apoiando nele para obter equilíbrio.

Lara tinha o olhar atônito e longe, como um grande espanto ao descobrir meu estado totalmente abominável. Eu estava realmente horrível que mesmo minha irmã mais mentirosa não conseguiu disfarçar sua reação diante a mim e meu estado. Sorri para ela com o desígnio de camuflar todo o caos que havia em minha aparência naquele momento.

— ei, não sabia que vinham. – tento uma voz saudável, mas saiu mais doente do que tudo. Aperto os olhos perante meu fracasso e suspiro em derrota. —sentiram minha falta e vieram atrás de mim, não foi?

— eu pensei que você tinha ido buscar remédios com o Daryl e a Michonne. – Lara disparou com seu olhar feroz sobre mim. Fingi um sorriso, mas não funcionou muito bem. Minha irmã suspira, desfazendo sua pose de malvada e assumindo seu papel de irmã do meio. — Hannah, você parece estar tão doente. Como está se sentindo hoje, hum?

Bem, eu não posso mentir sobre algo que está estampado em meu rosto, posso?

— ainda não cheguei ao estágio final, já é alguma coisa. – tento brincar, mas suas caras não estavam nada boas. — e as crianças, como estão?

— saudáveis, ninguém dentro da quarentena pegou o vírus. Giulia não para de perguntar por você e Glenn, Maggie a contou que estavam aqui. – Merle diz ao se apoiar no vidro. Parecia cansado e estava sujo de sangue de zumbi. — como ele está?

Merle não se importava com muitas coisas, nem mesmo gostava o bastante de Glenn para perguntar por ele, mas Giulia era importante para ele e isto bastava.

— estamos iguais, mas eu continuo sendo a mais bonita. – tossi após dar de ombros, vendo-os sérios. — a situação aqui dentro não é boa, Merle. Sinto falta do meu marido, do sol tocando minha pele e das minhas crianças mas não consigo pensar nisso por muito tempo porque estou morrendo lentamente junto à todos os outros aqui dentro.

O silêncio predominou ali por alguns segundos até minha irmã assumir a linha de frente. Tocou o vidro com a palma de sua mão direita, provavelmente querendo que eu fizesse o mesmo que ela. Lara estava com olheiras profundas e escuras, cansada de todo o trabalho que vem tendo após este surto de gripe.

— vocês são fortes, irão conseguir.

Queria que Daryl me disesse isso agora. Droga, eu queria tanto o meu homem comigo. Merle pareceu ler meus pensamentos cheios de saudades de seu irmão e resolveu me consolar:
— ele ameaçou pessoas para ir até os remédios só para te salvar, Hannah. Daryl virá correndo para você assim que conseguir, você vai ver.

Sorri diante de suas palavras, imaginando o momento em que Daryl viria me buscar deste inferno coletivo. Me concentrei tanto nisso que minhas pernas não conseguiram mais sustentar meu corpo dolorido e magro. Fui ao chão com tudo, assustando aos meus visitantes.

— Hannah! Está tudo bem?
— Hannah, ai meu Deus! – os dois disseram ao mesmo tempo.

Senti meu traseiro beijar o chão com rapidez e dureza, me deixando ainda mais dolorida do que já estava. Minha cabeça girou por alguns segundos, me deixando tonta e sem foco. Apalpo o chão enquanto ouço o zumbido ecoar por meus ouvidos, assim como as vozes conhecidas chamando por mim enquanto os passos de alguém se aproximava.

Levo minha mão para a testa, tentando recuperar meus sentidos. A dor do impacto da queda se misturava com os sintomas da doença e tudo se tornava uma grande bagunça dentro de meu organismo. Não consegui me manter consciente.

[. . .]

Quando recuperei a consciência o caos estava verdadeiramente instalado dentro daquele bloco. Me assustei com os grunidos e gritos de angústia, mas principalmente com as súplicas de Lizzie ao assistir Glenn debruçado sob o próprio sangue enquanto se engasgava e o zumbi de Nick tentava o morder. A garotinha loira que era responsabilidade de Carol atraiu a atenção do zumbi para longe, nos deixando para trás.

Tentei me levantar para ajudá-lo, mas meu corpo se recusou a obedecer meus comandos e eu cai feito banana madura no piso gelado. Com muita dificuldade e gemidos de dor me arrastei até Glenn, que morria em minha frente. Ele esticou sua mão para mim, me deixando em desespero. A agarrei com força, usando-a como suporte para chegar até ele ainda mais rápido. Alcancei seu corpo e fiz esforço para me manter sentada, virando ele de lado.

— tudo bem, eu peguei você. – sussurrei, mas ele continuava cuspindo sangue. Não conseguia respirar. Puxei seu corpo para mais perto, usando toda minha força para mantê-lo de lado para evitar o engasgo. — HERSHEL, ELE PRECISA DO RESPIRADOR. RÁPIDO, EU NÃO VOU AGUENTAR POR MUITO TEMPO. – usei minha última gota de voz para gritar por ajuda, me debruçando sob seu corpo para mantermos a mesma posição. — vai ficar tudo bem, Glenny, eu prometo. Aguente mais um pouco, por favor. Aguente.

Meus braços não conseguiam mais segurá-lo e a fadiga já havia me alcançado, nos deixando sem opções. Glenn estava nos deixando, eu podia ver o brilho de seus olhos se apagando. Estava morrendo e não havia nada que eu podia fazer para impedir porque também estava.

— Glenn, eu mato você se fizer isso comigo. HERSHEL, AGORA!

Um disparo de arma ecoou pelo bloco, assim como minhas forças sumiram. Nossos corpos batendo contra o chão metálico e o sangue escorrendo de meu nariz. As vozes se tornaram distantes e pessoas correndo eram ouvidas. Meu ouvido zumbia e a visão embassou enquanto eu sentia alguém apertar meus braços com força, me pegando no colo.

A cada vez que eu piscava os olhos a velocidade das coisas parecia mudar. Eu vi Lara, assim como também vi Maggie e Hershel ajudando Glenn, mas também vi o Merle. E por fim...

— Daryl!

— estou aqui, querida, eu cheguei. – sua voz rouca e preocupada me fez querer viver. Sua mão áspera e pesada tocava meu rosto com suavidade. — Bob, ela está pálida. Faça alguma coisa.

Estar nos braços de Daryl, por mais que quase perdendo a consciência outra vez, me fazia sentir calma e esperança. Eu jamais morreria se estivesse com meu homem do lado, ele não iria deixar isso acontecer. Sentir seu toque e sua voz dizendo que estava ali comigo era tudo o que eu precisava para me prender à vida. Eu não precisaria dar o meu último suspiro, não hoje.

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