2 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012.

É preciso muita coragem e, acima de tudo, amor envolvido para decidir se casar no fim do mundo. Daryl e Hannah tinham isso e muito mais. O mais novo casal ainda dormia tranquilamente mesmo que o sol já esquentasse suas bundas. A noite foi bem agitada e precisavam descansar após tanta energia bem gasta. Desde que se casaram, os dois não viram mais ninguém.

Era óbvio que Daryl tinha tudo muito bem arquitetado, e também era óbvio que ele iria querer um tempo sozinho para curtir com a esposa. Não era o lugar mais bonito do mundo, mas ele cuidou para que o bloco F estivesse aconchegante o suficiente para uma lua-de-mel improvisada. As cortinas de cetim vermelho cobriam a parede cinzenta e feia, deixando tudo mais vivido e romântico. O piso era forrado por um carpete beje de dar inveja em qualquer dona de casa que se preze.

Daryl foi o primeiro a despertar, erguendo a cabeça apenas um pouco para conseguir ver o que acontecia lá fora. Era possível escutar as crianças brincando e o falatório dos demais moradores. A comunidade havia acordado e estava agitada. Ele beijou o pescoço descoberto de Hannah, puxando o cobertor para baixo. Seu seio esquerdo ficou a mostra, deixando claro que não vestia nada por debaixo do tecido que a cobria.

— bom dia, amor! – ele deseja, sua voz rouca e baixa sussurrando bem perto enquanto a barba rala fazia cócegas em sua orelha e pescoço. — vamos, querida, é hora de levantar.

Hannah apenas murmura, bolando para o lado oposto. Fugindo do despertador ambulante. Daryl murmura, se levantando do colchão macio. Seu calção fino foi rapidamente trocado por uma calça jeans surrada e uma regata branca.

— preciso sair com o grupo hoje, você sabe. – ele argumenta, calçando suas botas. — se quiser ficar e dormir um pouco mais, tudo bem.

— por quê está com tanta pressa? – ela resmunga, a cabeça enfiada no travesseiro. — não deveria sair, nós estamos em lua de mel. Ninguém trabalha durante a lua de mel, amor.

Daryl riu, se inclinando para deixar um beijo em seu pescoço nu. A barba rala causa cócegas em Hannah, mas ela se recusa a abrir os olhos e apenas sorri, reclamando daquilo.

— vamos lá, minha loirinha dorminhoca. As férias da lua de mel não se enquadra no fim do mundo. Ainda temos trabalho nos esperando para serem exercidos.

Foi ai que ela abriu os olhos, seus lábios se curvando em um sorriso malicioso.

— não fala tão chique, isso me excita. – Daryl ri, sentindo suas bochechas esquentarem enquanto abaixa sua cabeça. — tem mesmo que ir nessa busca hoje?

— Sasha e eu limpamos o perímetro semana passada, o grupo já 'tá formado. Sinto muito, amor, mas eu preciso ir.

Ele se sentou ao lado da loira, sorrindo pequeno para ela. Hannah torce o lábio, grudando os braços rapidamente ao redor do pescoço do marido. Sorriu ao se dar conta de que está casada agora, e com ninguém menos que o amor de sua vida. Alguém que a amou quando o mundo estava escuro e sombrio. E, de fato, não há nada melhor do que estar com quem amamos.

Sua risada era baixa e contida, mas Daryl ainda a ouvia muito bem. Ela o contageia com seu bom humor logo de manhã, o fazendo rir também. Ele cutuca sua cintura, beijando seu rosto entre as risadas.

— do que está rindo? – ele questiona, rindo tanto quanto ela.

Se Hannah, dentre todas essas risadas gostosas e sorrisos encantadores, não consegue responder, nós respondemos. Se casar sempre foi algo que, para Hannah, era impossível de acontecer. Nunca se viu nessa posição, mas se um dia acreditou que formar uma família aconteceria com ela, desejou do fundo de seu coração que fosse com Daryl Dixon.

Conteu a risada, apenas expressando sua felicidade com um sorriso de orelha à orelha. Ela encosta seus lábios aos do marido, acariciando sua bochecha com os olhos brilhando de amor.

— só me acostumando ao meu novo sobrenome e minha nova vida de mulher casada.

Para Daryl também não era muito diferente. Nunca se imaginou em uma família e todas as suas palavras durante o pedido foram totalmente verdadeiras. Só pensou em casamento depois que conheceu Hannah Isabel Grimes e suas personalidades peculiares, para ele. Logo, seu sorriso era tão grande quanto o de sua amada esposa. Ele a beijou novamente, deixando que seus sentimentos fossem transmitidos pelo toque de seus lábios e o encontro de suas línguas.

O lugar parecia ficar cada vez mais quente e pequeno, a necessidade de contato entre seus corpos parecia gritar alto, implorando por mais do que alguns beijos antes do trabalho. E, bem, eles ganharam.

[. . .]

Ao que parece, Hannah se encontra no bloco C enquanto Daryl ainda não esteve de volta. Seu grupo deveria voltar ao anoitecer e, com sorte, trariam comida suficiente para todo o mês e talvez até para o próximo. O estoque de comida ainda era agradável, mas acabaria em duas ou três semanas. Daryl e Sasha só queriam garantir que não passariam fome.

Hannah realizava oficialmente sua mudança para a cela do Dixon. Terminava de carregar seus últimos pertences, com a ajuda da irmã e Maggie. Beth estava no pátio com Judith e as crianças, como de costume.

— como se sente estando finalmente casada? – Maggie indaga, puxando a cortina verde para que a cela recebesse luz solar. — qual a sua opinião sobre essa nova fase?

Ela suspira com um sorriso radiante nos lábios, empurrando sua última mala de roupas restante para o canto da parede. Ela poderia ficar em silêncio que as mulheres entenderiam perfeitamente o que sentia agora.

— eu amo o Daryl desde os meus dezenove anos. Estou feliz que depois de basicamente oito anos, finalmente possuímos o mesmo sobrenome. – ela diz, sua felicidade jorrando feito cachoeira para os quatro cantos do mundo. Maggie também sorriu, encantada com a reação da amiga. — no mundo em que vivemos, precisamos aproveitar cada momento, não é?

Lara sorri de canto, orgulhosa da mulher que ajudou a criar. Seu sorriso gentil e cheio de amor deixou Hannah ainda mais contente. Era mais fácil ser casada com o amor de sua vida quando sua família o aprrova e também o adora. Daryl conquistou cada membro daquela família antes de pedir Hannah em casamento.

— fico tão contente em ver sua felicidade, bebel. – ela admite. Hannah tomba a cabeça com o rosto emocionado, dobrando os lábios em um sorriso pequeno e doce. — mas não muda o fato de que se algum dia ele a ferir, eu irei acabar com ele.

Não é como se ninguém fosse perceber o anel de noivado no dedo anelar de Laura. Uma hora ou outra alguém o encontraria ali, e Hannah o encontrou. Seu sorriso travesso rapidamente nasceu e indicou o dedo da irmã apenas com o olhar. Maggie arqueia as sobrancelhas, em choque com aquela informação.

— e então, quando pretendia nos contar sobre isso 'daí no seu dedo? É lindo.

Lara para o que estava fazendo e estica a mão, para que as mulheres possam ver com clareza o diamante brilhante em seu dedo. Aquilo era realmente lindo demais, tanto quanto o rubi de Hannah. Os irmãos Dixon possuiam um belo gosto para joias, é fato.

— Merle me pediu em casamento, mas eu ainda não o respondi. Ele me disse que eu poderia usar o anel até que tomasse uma decisão, então estou usando. – deu de ombros.

— o que houve, Larita? Não quer se casar com o Merle? – a irmã a questionou em seu tom mais doce.

— está confusa com os sentimentos, Lara?

A Grimes do meio suspira, dando de ombros outra vez. Parecia cheia de indecisão e angustia. Ela nega, passando a mão pelo rosto, limpando seu suor.

— eu não sei, de verdade. Seria mesmo uma boa ideia me casar agora? Quer dizer, eu não tenho um passado muito bom quando o assunto são ex-amores. Sem contar que eu tenho a Camila e não sei se aceitaria outra pessoa ao meu lado, talvez ela sinta que estaria ocupando o lugar do pai dela.

— ora, Lara, isso é bobagem. – Maggie responde, encostando as costas nas barras de ferro do corredor. — você e o cretino se adoram e ele faz de tudo pela sua filha. Eu mesma já o vi costurar a boneca de pano que ela adora, sem contar da vez que ele trançou o cabelo dela porque os colegas disseram que ficaria legal.

— fazer essas coisas se torna muito difícil quando se tem apenas uma das mãos. Não é porque o seu último relacionamento foi com um homem casado que este também será um fracasso. – a mulher faz careta, segurando o riso. — dê uma chance ao amor de vocês, irmã. Tenho certeza de que o Merle poderá ser ainda mais incrível do que ele já é. Você desperta nele uma versão que ninguém nunca teve.

Os passos ecoando o bloco se tornaram cada vez mais perto e antes que pudessem mudar de assunto, Giulia e a pequena Bravinha sobem as escadas. Ela dobra o corredor, entregando Judith aos braços de Maggie assim que inicia sua fala.

— estão falando sobre o Merle? Porque eu não aguento mais vê-lo pensativo, perguntar o que houve e ter ele desabafando sobre sua vida amorosa para mim. – ela respira fundo, como se acabasse de correr uma maratona. Ao julgar por seu suor, eu diria que talvez ela tenha sim corrido uma. Ou quatro. — vamos, tia Lara, aceite logo. Este homem ama você mais do que ama carros e drogas. E olhe que ele já amou muito as drogas.

Hannah acena em um balançar de cabeça, mostrando que concordava com Giulia e também afirmava sua fala. O laço entre Giulia e Merle não foi rompido e ela ainda o defende de qualquer pessoa que ousar o ofender, assim como Merle ainda mataria para manter sua criança em segurança. A loira mais velha suspira, sorrindo pequeno.

— eu prometo que pensarei com calma, tudo bem? – ela diz, bagunçando os fios da garota. — agora eu preciso ir atrás da minha filha, ou ela ficará suja até a hora do jantar.

Era óbvio que Lara estava fugindo da conversa, mas nenhuma das três a impediriam de continuar aquilo. Aceitar um pedido de casamento é algo importante que deve ser pensado com calma e sabedoria, sem a interferência de terceiros. Se Laura Grimes quiser mesmo se casar com Merle Dixon, ela deveria descobrir isto sozinha.

As três assistiram Lara basicamente correr dali com certa pressa, e apenas deram de ombros. Hannah se aproxima das duas Rhee para pegar sua bebê sorridente.

— ela está assustada, acha que ficará bem? – Maggie indaga, ainda olhando na direção de Lara.

— eu não sei, mas fizemos nossa parte. – Hannah responde, reivindicando Judith para si, beijando seu cabelo ralo com amor. — oi, meu amor! Que tal um banho quentinho antes do anoitecer, hum?

Judith balbucia palavras em sua língua preferida, a de bebês. Ainda não disse palavras completamente perfeitas, mas sempre diz algo semelhante à papai e água. São suas palavras favoritas.

— se ela não aceitar, o Merle ficará muito triste. – Giulia comenta em um suspiro.

— com certeza, mas eu também tenho certeza de que ela irá aceitar. – Hannah diz, nem um pouco preocupada. Ela levou a bebê para dentro, onde já tinha seu trocador e berço. — vamos dar um tempo a ela, assim poderá enxergar sozinha que o sim é sua melhor opção.

[. . .]

A noite caiu, e com ela a notícia de que a missão falhou miseravelmente. Daryl deixou o grupo para trás em silêncio, e em silêncio ele buscou por sua esposa. Suas roupas sujas de sangue podre. Assim como o rosto e braços. Hannah havia acabado de ninar a pequena Judith e estava se preparando para dormir quando o Dixon parou em frente a cela.

Ela parou o que estava fazendo, ficando paralisada em seu lugar por alguns segundos. Rapidamente entendeu o que havia acontecido, e suspirou pesadamente. Perder pessoas está se tornando hábito.

— ah, querido. – ela sussurra, indo até ele de braços abertos. Daryl se acomodou no abraço da esposa, aspirando seu perfume de sabonete barato. Suas mãos agarram as costas da mulher, buscando por um momento de paz. Ela deixou que o marido ficasse ali, em silêncio, por quantos minutos ele quisesse. Mas não aguentou a angústia de não saber quem perderam. — quem?

Ela questionou. Daryl fungou, sentindo seu peito doer ainda mais diante ao questionamento. Dizer aquilo em voz alta seria ainda mais doloroso.

— Zack. – ele respondeu, sua voz fina e embargada. Hannah apertou os olhos, podendo sentir o incômodo da perda. Não eram próximos, mas possuiam uma cerca convivência. O suficiente para fazê-la quebrar diante sua morte. — eu acabei....acabei de avisar a beth. Droga, isso foi difícil.

Hannah suspirou, sentindo muito. Beth finalmente estava feliz com o novo namorado. Ela estava sorrindo e esbanjando alegria aos quatro cantos. Agora, tudo rolaria escada a baixo. A mulher apertou mais o abraço, beijando o cabelo macio do homem. Com suavidade, ela desceu seu colete por seus braços.

— venha, vamos tomar um banho. E então, iremos deitar e descansar.

Daryl afirma, pegando sua toalha cinza no gancho preso à parede. Confiscou a babá eletrônica com rapidez, buscando por roupas limpas de ambos. Daryl a esperava na entrada da cela, parado e em silêncio.

Em silêncio andaram pelos corredores que levavam aos banheiros do bloco. No fim do corredor estavam Annie e Giulia, encolhidas no cantinho, ambas sentadas no chão enquanto se abraçavam. Provavelmente também estavam tristes com a notícia, já que o garoto era um ótimo amigo para todos. Hannah parou por um segundo, sorrindo pequeno para as meninas.

— podem fazer um favor a tia de vocês, hum? – as meninas acenam em positivo. Hannah estica a mão, entregando a pequena tela de gravação esverdeada nas mãos de Giulia. — ela dormiu faz pouco tempo, não vai acordar. Só quero que olhem pela câmera, e casoela acorde, irem pegá-la. Estarei no banheiro dos guardas, se precisarem. Daryl está muito abalado, mas não vamos demorar, tudo bem?

— a gente dá conta, tia. Pode deixar. – Giu responde, entregando a babá eletrônica para a garota loira.

Foi uma noite difícil para aqueles que possuiam vínculo com Zack. Beth se fez de durona na frente de todos, mas quando ficou sozinha em sua cela, ela desabou em um choro silencioso e cheio de soluços. Daryl se sentia culpado, pensando que poderia sim ter salvo o garoto que só queria saber qual foi sua profissão durante o mundo em funcionamento.

A morte chega para todos.

[. . .]

4 𝖽𝖾 𝖿𝖾𝗏𝖾𝗋𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖽𝖾 2012

Hannah Grimes.

Quando acordei, Daryl não estava mais na cama. Nem Judith em seu berço. Por outro lado, Camila estava muito entretida sentada feito uma assombração em minha frente, me esperando abrir os olhos. Meu coração acelerou tão rápido que pensei que iria sair correndo sozinho para fora do peito.

— por Deus, Camila! – digo, levando a mão ao peito. A garotinha riu, subindo para cima e se sentando ao meu lado. — quer me matar de susto?

— não, tia. Eu só queria saber se a senhora 'podia fazer mais desenhos. Os meus acabaram todos ontem.

Apesar de ser caprichosa demais com o lápis e seus desenhos serem um espetáculo para quem tem somente cinco anos – em breve seis, Camila ainda gosta de pintar os desenhos que eu faço para ela. Pelo ou menos uma vez ao mês ela me pede para repôr seu estoque. Parece que acabou antes da próxima remessa ficar inteiramente pronta.

— ah, querida, na próxima me acorde.

— mas a mamãe me disse para esperar você acordar. – ela respondeu, torcendo os lábios finos. Rio, negando enquanto ainda criava a coragem necessária para me levantar. — eu não posso desobedecer a mamãe, é feio.

Coloco a mão na cabeça. Olhando assim, até parece que é uma garotinha muito comportada.

— tudo bem, amor. Eu mandei alguns desenhos para o quarto da Giulia na semana passada. Peça para ela te dar cinco, depois a titia faz mais, tudo bem?

A garotinha, muito animada, beijou meu rosto desastradamente antes de sair correndo pelos corredores, agradeçendo com sua voz fofa ecoando pelo bloco. Ah, os prazeres da vida de uma tia.

Ainda deve ser muito cedo. Não passa das nove, talvez. Se não me engano, hoje Daryl não irá sair das cercas. Nem pelos próximos dias, eu espero. Normalmente eu deveria escovar os dentes, alinhar o cabelo e só então ir para fora, mas... viver em um apocalipse zumbi é complicado e não possui uma rotina própria. Cada dia é uma aventura diferente. E hoje...

Gritos e disparos. Me levantei tão rápido que se não fosse a adrenalina, eu com certeza daria tela preta agora. Puxei a arma de baixo do travesseiro e corri para fora, encontrando senhora Felling com Judith e Camila. Giulia estava correndo para dentro com a filha dos Burnett.

— o que aconteceu, entrou algum podre? – questionei, tão rápido que nem sei se conseguiram me entender.

— eu não sei, os tiros estão vindo do bloco D. – Giulia responde, parecendo apavorada.

Annie Burnett parecia estar entrando em pânico naquele momento. Ao julgar por seus olhos arregalados e o horror em sua face, presumo que a garotinha não sabia a origem dos disparos, muito menos sua localidade. A loirinha agarrou meu pulso com desespero, os olhos lacrimejando.

— os meus pai, tia. Eles estão lá, estão lá dentro.

Franklin e  Dahlia Burnett não trabalham nas torres em dias pares, apenas em ímpar. Ao menos que tenham cobrido turnos de outras pessoas na noite passada, eles estão sim partições do pânico dentro do bloco D.

— não deixe que as crianças saiam do daqui até sabermos que é seguro, senhora Felling. – falei, correndo em direção ao perigo desconhecido.

A cada passo mais perto do pátio, era uma preocupação diferente. Os gritos horripilantes soavam mais altos e os disparos eram muito mais frequentes naquele momento. Considerando a movimentação naquela ala, eu realmente acho que são zumbis.

Corri mais rápido, sacando a arma ao adentrar o portão de metal. O corredor escuro fazia ecos de disparos e gritos, assim como de grunidos. São zumbis. E, como uma boa sortuda, dei de cara com um assim que pisei os pés no bloco. Mas, antes que eu consiga acertá-lo com um disparo, a flecha o acertou. O zumbi agora caído costumava ser Sir Julian, um adorável senhor de meia idade.

Meu marido me ajuda, mas desvia a atenção quando uma criança grita por socorro. Chutei o corpo podre de Sir Julian, finalmente adentrando a área de celas. Pessoas em pânico, sangue por toda parte e crianças correndo sem direção, tentando se salvar. Derrubo um caminhante, partindo para outro. Puxei uma garotinha pelo braço, impedindo que fosse mordida.

— Glenn! – chamei alto, empurrando a menina em sua direção. Ele a pegou, enfiando-a com outras crianças e adultos saudáveis em uma cela trancada.

Outro zumbi vem em minha direção, mas desta vez não consegui reagir. A cena do cadáver dilacerado ao chão me foi mais interessante. O homem em questão era Franklin. Pai de Annie Burnett. Suas vísceras jogadas aos quatro cantos, seu rosto zumbificado e o rosto sujo de sangue. Foi derrubado por um tiro na cabeça. E, pelo visto, não fui só eu quem me comovi com aquilo.

Dahlia, apesar de pálida e aparentemente cansada, gritou alto o nome do marido. Ela tentou correr em sua direção, mas Daryl a agarrou pela cintura e a impediu de se matar naquele momento. Escutei suas palavras. Algo como "não faça da sua filha uma orfã." Ela estava perto, então fui até lá. Minhas mãos pousaram em seus ombros, tentando roubar sua atenção para mim.

A mulher estava em choque. Ela não reagia a nada, nada além da morte de seu marido. Pai de sua única filha. Toquei seu rosto gélido, tentando puxá-la para a realidade. Nada funcionava. Então a atingi em seu ponto fraco, a filha. Annie.

— Dahlia, olhe para mim! – ela só chorava. — Dahlia, por favor. Annie me mandou para protegê-la. Ela me pediu isto, por favor, venha comigo.

A morena em minha frente pareceu finalmente me enxergar após ouvir o nome da filha. Seu rosto se fechou em uma expressão de tristeza e dor absurda. Seus lábios tremiam e ela buscava ar, me olhando com um imenso pesar em sua íris esverdeada.

— o meu Franklin...meu marido, Hannah. – ela diz, desabando em choro e soluços.

Meu peito pareceu ter o triplo de seu peso normal. Suas palavras doeram tanto que parecia ser a minha dor ali. Eu a puxei para um abraço, a esta altura os tiros já haviam parado. Seu choro abafado por meu ombro ainda era alto. As lágrimas desciam feito cachoeira de seus olhos. Afaguei seu cabelo, acariciando suas costas com pesar enquanto sussurrava:

— vai ficar tudo bem, é menos doloroso se você não olhar.

Foi como um eco enorme em minha mente. As vozes se misturando entre elas, fazendo um mix de vozes de todas as pessoas que já me falaram esta frase. Jeffrey, quando papai atropelou sem querer o meu primeiro coelho. Lori, quando sofremos o acidente que matou meu irmão mais velho. Rick, quando papai morreu. Mamãe, quando meu peixinho dourado faleceu misteriosamente. Isto, é claro, antes do meu irmão vir a óbito, quando eu ainda era considerada sua filhinha linda e fofa.

Quando meu irmão pôs sua mão em meu ombro, eu soube que estávamos ali há algum tempo. Mahlia se soltou de meus braços, aceitando a ajuda do morador de seu bloco que acompanhava Rick. Eu sorri pequeno para ela, fazendo um pequeno carinho em seu ombro antes de deixá-la.

— eu a deixei com a Senhora Felling, não se preocupe. Pegue um ar, tente estar calma quando contar a ela.

— você acha que se ela estiver com a menina Rhee, aliviará sua dor? – Dahlia perguntou em um fiapo de voz.
Era uma pergunta difícil. Annie e Giulia não se desgrudam e se adoram, mas eu não sei se minha menina Rhee será capaz de algo tão grande.

— será de grande ajuda, Dahlia.

A mulher me agradece com um sorriso pequeno, indo embora com John Fisher, um homossexual que é muito próximo às meninas. Fico feliz em saber que o garoto está bem.

Não pude prestar atenção na conversa entre meu grupo, mas parecia algo muito grave. Tanto que convocaram todos os membros do conselhos e outros para participar de uma reunião importante. Me perdi entre os corredores tentando encontrar a maldita sala de reuniões. Ninguém esperou por mim, mas sei que a culpa é inteiramente minha por ter me entretido em conversas com senhoras simpáticas na saída do bloco D.

Por sorte, escutei o eco de suas vozes e finalmente os encontrei. E, pelo visto, cheguei bem no final. Quando já concluíram a causa do surto e quem morreu primeiro. Parei na porta da sala, ganhando a atenção do grupo presente no cômodo. Meu marido franziu o rosto, me encarando com confusão.

— onde estava? Esperamos você por quinze minutos. – Rick questionou.

— desculpe, me perdi pelos corredores. Achei que fosse pelo corredor cinco, mas era o três. Enfim, o que eu perdi?

Por suas caras, não acho que seja nada bom. Com certeza isto é uma péssima notícia. Pareciam temer tanto qur tinham medo até mesmo de respirar.

— estamos com uma bomba relógio nas mãos. – Hershel declarou, tão sério que eu podia sentir seu ar pesado daqui mesmo.

É, isto é uma péssima notícia.

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001: oi, lindos e lindas! Pedindo desculpas pela demora no quesito atualizações. A questão é que eu acabei de descobrir que uma estudande do último ano não tem tempo nem para cagar em paz sem pensar em Enem e o futuro. Entre tudo, eu pretendo continuar com isso até o fim!!!

002: avisando que a partir daqui, nós iniciamos o início do fim da quarta temporada. Em breve estaremos fora das cercas e dentro de muros.

003: não revisado.

Beijinhos da Malu!!!💋💖