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22 𝖽𝖾 𝗌𝖾𝗍𝖾𝗆𝖻𝗋𝗈 𝖽𝖾 2011
Hannah Grimes
Paz e harmonia fluía muito bem dentros de nossas cercas. Só tem três semanas que conquistamos a paz, mas muita coisa já se foi feita por aqui. Os portões de entrada foram levantados, os zumbis que antes estavam no campo foram todos abatidos e realocamos todos os novos moradores para o bloco D. Isto foi uma decisão em conjunto, levando em conta nossa segurança e a saúde de nossas crianças.
Daryl e eu estamos em perfeita sintonia, nos amando feito nunca. Sem problemas, sem brigas ou discussões. Apesar de não os encontrar muito durante o dia, a minha relação com meus irmãos também é ótima. As crianças estão muito bem e brincam com outras que vieram de Woodburry. Entretanto, nenhuma felicidade anula o fato de que hoje, dia vinte e dois, faz um mês que Lori me presenteou com uma linda garotinha. Mas, também nos deixou para sempre.
Suspiro ao finalmente conseguir solta o ramo de flores que colhi para ela no jardim da senhora Felling. Sem preocupações, me sentei no barro avermelhado ao lado de seu túmulo, pousando a mão sobre ele. A cruz totalmente improvisada, feita com galhos de árvore e com um pequeno gravite de faca, feito por Carl, que dizia "LORI GRIMES. MÃE, AMIGA E ESPOSA" com letras tortas.
— oi. Desculpa o atraso, Judith gorfou em mim. Tive que tomar um outro banho e vestir roupas novas. – um sorriso fino nasceu em meu rosto, mas logo sumiu. — pode ver estas olheiras abaixo dos meus olhos? São por culpa da sua filha chorona, que odeia ficar no berço e me faz levantar todas as vezes que percebe estar lá. – paro por um instante, focando meus olhos no túmulo de barro. Sorrio quando a neném se mexe em meu braço esquerdo, resmungando algo enquanto ainda dormia. — ela é linda, Lori. Acho cedo para dizer que se parece com você, mas o nariz não nega que você estava sim errada. Esta garota é do Shane, com certeza. Rick me disse isso outro dia, com um sorriso nos lábios e os olhos focados na menina, a admirando feito um pai orgulhoso e coruja.
Ajeito Judith em meus braços, a inclinando um pouco para que seu rosto seja visto pelo túmulo. Os olhinhos fechados e a boquinha rosada dando um pequeno sorriso ladino. Apaixonante. Judith é perfeita, em todos os sentidos.
— diga olá para a mamãe, Jude. – sussurro em uma voz fina, usada somente com as minhas crianças. Suas mãos pequenas e macias agarram meu dedo anelar, o apertando com toda sua força de recém-nascida. — Carl está bem, fique tranquila. A irmãzinha vem ocupando todo seu tempo livre, mas isto não significa que não dói. Por outro lado, Giulia vem sendo uma grande amiga para ele. Nosso menino está indo bem, Lori.
Minha atenção foi roubada quando uma voz conhecida gritou meu nome. Levanto o olhar para as cercas, vendo Camila agarrada ao metal enquanto, provavelmente, está presa à algo no chão. Suspiro, me levantando para ir até ela.
— o dever me chama, Lô. Tia Hannah precisa entrar em ação.
Deixo o túmulo para trás, indo em direção à pequena loirinha que me gritava desesperadamente. Seu desespero entregava que havia algo de errado com ela, então apertei o passo. Passei pelo portão, correndo pelo pátio na direção de minha sobrinha em desespero. Judith nem se mexeu com toda a correria ou os gritos da prima.
— o que aconteceu, amor? – questiono ao me aproximar.
Camila tinha lágrimas nos olhos e o pé preso em baixo da cerca. Um buraco pequeno, provavelmente feito pelo meu gatinho sapeca.
— fiquei presa, não consigo sair. Por favor, não corta o meu pé fora que eu não quero ficar manca igual ao vovô Hershel. – ela diz, chorosa.
Suspiro, pensando em uma maneira de libertar o pé branquelo da garota com um bebê em meus braços. O sol que antes me cobria foi interrompido por uma silhueta humana e masculina, mas não dei importância.
— como você fez isso, Camila? – indago em meu tom mais doce.
— com licença. – uma voz masculina me chama a atenção, bem atrás de nós. Me viro em um ato brusco por não a reconhecer, visualizando alguém que não deve ter mais do que dezenove anos. Alto, branco, cabelos castanhos, quase loiro, e uma tatuagem no pescoço. Ele sorri em simpatia, se abaixando ao meu lado. — eu posso ajudar.
O garoto se inclina, esticando as mãos em direção ao pé de minha sobrinha, cavando um pouco para que comseguisse puxá-la dali com facilidade. Estreito os olhos, observando a agilidade do garoto ao libertá-la em poucos segundos. Pisco, me levantando depressa enquanto Camila vem rapidamente para perto de mim.
Meus olhos continuaram no garoto de aparência jovial, muito bonito por sinal. Ele sorri ao se levantar, nos encarando de volta.
— agradeça o moço, meu amor. – influencio, ainda de olho no estranho.
Camila olha para mim e depois para ele, pedindo por uma segunda aprovação.
— obrigada, senhor. – ela diz, agarrando minha calça jeans feito uma criança tímida. — o senhor foi muito gentil.
Ele abaixa a cabeça em uma risada nasal e seu sorriso esbranquiçado aparece com mais clareza.
— não foi nada. Eu sou o Léo, a propósito. – ele se apresenta, estendendo a mão para um aperto. Sorrio amigável, a apertando por educação. — Leonardo Blake.
— Hannah. – o respondo, logo soltando a mão áspera do rapaz. Sinto como se estivéssemos sobre uma grande ameaça. — Hannah Grimes. Estas são Camila e Judith, minhas sobrinhas.
A sensação de desconforto perante aquele homem até então desconhecido me incomoda ainda mais quando seu olhar é direcionado às crianças. Eu não tenho um bom pressentimento sobre isto. Ele aparenta ser boa gente. Suas roupas estão sujas de barro, então presumo que trabalhe na horta em que estamos cultivando.
— desculpe. Vi vocês do pátio e pensei que poderiam precisar de uma ajudinha.
— eu iria conseguir, mas muito obrigada. – tento evitar que a conversa se prolongue.
Para minha total sorte, meu nome foi chamado em dose tripla. Três vozes masculinas me gritando de direções diferentes. O primeiro que avistei foi Glenn, vindo em nossa direção feito bala. Quase que correndo. Franzo o olhar diante à tanta preocupação exposta a campo limpo.
— Hannah. – ele chamou outra vez, olhando para trás, onde vinha Rick e Daryl. Pareciam cães farejadores. — ei, Leonardo. O que faz por estas bandas? Não tem autorização para estar aqui.
— vai com calma, Glenn. Ele ajudou a Camila com o pé preso na cerca. Só estava sendo gentil. – intervi. Mesmo sentindo algo de errado, o garoto ainda assim não nos fez mal algum.
Ele me olha, buscando por aprovação em meu olhar. Afirmo em um aceno, o garantindo que está tudo bem de verdade.
— tudo bem, Hannah. Ele tem razão. – Leonardo responde, suspirando. — eu vi as garotas do pátio e quis ajudar, não pensei que fosse um problema.
— Hey, garoto. – meu namorado chamou ao se aproximar, logo grudando ao meu lado. — parabéns, subiu de cargo. Preciso de alguém nos portões. Vá e diga ao Carl que te enviei.
O menino sorri em animação. Apenas um garoto. Parecia desacreditado.
— muito obrigado, senhor Dixon. Prometo que não irá se arrepender.
Não sou boba. Já percebi que não queriam este garoto perto de mim ou das crianças. Daryl o despachou sem nem pensar duas vezes. Sem contar que sua mão segurava firme em minha cintura, demonstrando sua proteção e me causando um pequeno tesão momentâneo.
Assistimos Leonardo se distanciar, cumprimentando meu irmão ao passar por ele. Me parece ser um bom garoto, mas algo me diz que talvez não seja. Rick se aproxima com seus passos largos em minha direção.
— o que ele queria com vocês? – Rick e Daryl perguntam juntos.
Camila franze o rosto, querendo sorrir pela ação dos tios. Mas, como uma boa menina, ela seguiu em silêncio. Aposto que queria saber sobre o que estávamos falando.
— nada demais, só nos ajudou com o problema da Cami e se apresentou. Apertamos as mãos. – balanço os ombros, entregando Judith aos braços do tio Glenn. — por quê estavam tão apavorados? É só um garoto.
Rick suspirou pesado, o que me fez questionar minha afirmação anterior.
— ele não é?
— ele é sobrinho do governador. Segundo os moradores, o garoto morava com o tio e trabalhava na guarda da cidade. – Glenn respondeu, balançando Jude para os lados, ninando-a
— o garoto é gente boa, mas decidimos ficar de olho. – Daryl completa. — se for perigoso, queremos ele bem longe da nossa família.
Leonardo não me parecia ser perigoso, nem de longe. Na verdade, ele me pareceu bem doce e gentil. Contudo, não podemos esbanjar confiança para estranhos, principalmente parentes de antigos delinquentes que queria nos aniquilar.
[....]
O sol havia sumido há poucas horas e nos reuníamos na ala de recreação para um jantar em grupo. Carol assou um bolo redondo e o decorou com glacê rosa para, segundo ela, comemorarmos o primeiro mês da pequena Jude. Embora ela fosse o motivo da comemoração, a garotinha nem mesmo se incomodou em se manter acordada durante o jantar.
Estávamos divididos em três mesas. Na primeira havia eu, Carl, Daryl, Rick e Michonne. A mesa ao lado era composta por Glenn, Maggie, Hershel, Giulia e Beth. Em nossa direita estavam Carol, Lara, Camila, Merle e a senhora Felling. Sobre a senhorinha de cinquenta e cinco anos que adotou Merle como filho, nós só temos elogios. Ela faz parte da família, agora.
— querida, pegue a bebê. Eu vou buscar o bolo. – a Peletier ordena em sua doce voz.
Judith havia acabado de acordar do seu soninho da beleza. O bebê-conforto estava na cadeira entre mim e Carl. Ainda limpava os resquícios do molho de carne que comi no jantar, então meu sobrinho foi gentil em se oferecer para pegá-la.
— eu pego ela, tia.
— obrigada, meu bem.
Apesar de ser um quase adolescente bem rebelde ultimamente, meu sobrinho se empenha em cuidar da irmãzinha como se sua vida dependesse daquilo. Porque depende. Judith, Camila e Giulia são as únicas a receber sua versão amável durante todo o tempo. Para elas, ele sempre terá um sorriso engatilhado.
Quando volta, Carol coloca o bolo, com muito cuidado, no centro de nossa mesa. Os outros se levantam, vindo até nós para cochicharmos o parabéns de Judith. Contudo, sou surpreendida com um segundo bolo, desta vez em miniatura, rosa com meu nome escrito em letras brancas. Meu sorriso surgiu mais largo e levei as mãos até a boca, a cobrindo em surpresa.
Daryl o empurrou gentilmente para o centro da mesa, beijando minha testa com carinho após se aproximar.
— surpresa! – ele diz em voz alta e animada. Daryl sorria para mim com uma alegria contagiante. As pessoas também estavam sorrindo para mim. Era realmente um aniversário surpresa. — caso deteste, a ideia foi do Rick.
Meu riso escapa após Rick pular da cadeira, se pondo de pé ao nosso lado para uma pequena discussão com meu namorado.
— espera lá, seu ogro da floresta! – meu irmão rebate, apontando o dedo para as crianças — foram os sobrinhos dela. Só me usaram como pombo correio.
O bolo era rendondinho, só que pequeno em altura e largura. Os detalhes feitos com bico de confeitar deixava tudo ainda mais lindo. Lara se aproxima, me abraçando sem aviso prévio, apenas se infiltrando entre mim e meu namorado. Ela beija meu rosto, acariciando minhas costas.
— feliz vinte e seis anos e um mês, Bebel. – ela desejou, utilizando de meu apelido favorito.
— fala sério, gente. Ninguém comemora aniversário depois dos vinte e cinco anos. – resmungo em ironia, causando risadas em conjunto. Adoro quando isto acontece. — obrigada, pessoal! Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter.
Nunca gostei de festas de aniversário, nem se quer dos parabéns que recebia durante todo o dia. Minha mãe me convenceu de que a minha existência era um erro causado por Jeffrey ao me salvar no acidente, e eu acreditei nela até os dezenove anos. Às vezes ainda acredito. Por outro lado, meus irmão nunca respeitaram minha decisão de não comemorar o dia em que nasci e me faziam surpresas lindas. Nunca deixaram que eu passasse se quer um aniversário sozinha em meu quarto.
— com licença, pessoal. – Giulia chamou nossa atenção em meio as conversas, dando uma cotovelada no irmão. — Glenn gostaria de dizer algumas palavras.
Glenn e eu ainda não recuperamos nossa antiga intimidade. Ainda estamos distantes. Então, fui pega totalmente de surpresa quando ele me entregou um pingente dourado em formato de coração. Ele sorriu tímido, dando um passo para trás ao me observar abri-lo. Dentro havia a foto que me foi roubada meses atrás. Eram eu, ele e Giulia. E, do outro lado, estava meu Bart.
— é lindo, Glenn. Eu adorei. – disse em entusiasmo. Giulia ergue meu gatinho em seus braços, balançando sua patinha direta com alegria, como se ele me desse tchauzinho. Sem mais delongas, abracei meu melhor amigo com todo o amor que eu sentia naquele momento, em forma de agradecimento. — você é o melhor.
Ele sorriu com alegria, mostrando o dele e o de Giulia. Tínhamos pingentes iguais, mas ele decidiu personalisar o seu. O pingente de Glenn estava unido ao relógio de bolso que havia ganhado de seu sogro, Hershel.
— assim ninguém se perde. – ele diz, guardando o seu novamente em seu bolso. — estaremos sempre um com o outro, como nos velhos tempos.
As risadas ecoavam por minha audição, assim como as piadas ruins do Merle. O momento parecia correr devagar, me dando a chance de aproveitá-lo cada precioso segundo. Eu estava feliz, sorrindo e bem. Meu coração estava em paz. Minha mente estava em paz. Nós estamos em paz.
O meu sorriso era largo, assim como todos os outros naquele cômodo repleto de amor. Eu tinha minha família comigo e curtiámos uns aos outros naquele momento caloroso, divertido e amável. Podemos não estar vivos amanhã pela manhã, mas saberíamos que hoje fomos felizes.
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Beijinhos da Malu!!!💋
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