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Tw: este capítulo contém cenas fortes.
22 𝖽𝖾 𝖺𝗀𝗈𝗌𝗍𝗈 𝖽𝖾 2010
Hannah Grimes
O dia estava radiante, realmente muito lindo. O sol estava ao nosso favor e nos renderia um bom dia de trabalho. O campo da prisão se tornava mais bonito a cada dia que se passava e aquilo era incrivelmente gratificante de se ver. Estávamos nos ajustando ao novo lar.
Nos dias anteriores houve muita coisa. Hershel finalmente acordou, meu irmão matou dois dos prisioneiros e os que restaram vivem no bloco de celas, do outro lado do campo.
Beijo o rosto de meu namorado, pronta para deixá-lo ir trabalhar.
— tem certeza de que não precisam da minha ajuda com isso? Eu posso dar um jeitinho, se quiser.
— adoraria ter a sua companhia por todo o dia, mas tenho certeza de que isso tiraria toda a minha concentração. Além do mais, Hershel precisa de você. Ele tem que sair daquela cama ainda hoje.
Por mais que eu quisesse ajudar fora das cercas, Daryl tinha razão. Hershel precisa se exercitar e eu preciso auxiliá-lo nesse desafio.
— prometo que no fim do dia será apenas nós dois, tudo bem? – ele sussurra, beijando minha bochecha. Sorrio contragosto, o abraçando novamente. — vamos, querida, eu preciso ir.
— espero que esteja falando a verdade, caçadorzinho.
O apelido sai em um tom provocante, o fazendo desdenhar. Ele estala a língua no céu da boca, acabando com qualquer contato corporal entre nós. Droga. Pareço uma adolescente recém-apaixonada quando estou perto deste homem.
— te vejo daqui a pouco, linda.
Assisto meu homem dar as costas para mim, indo em direção ao campo vasto. Suspiro, aceitando que não o teria por todo o dia de hoje.
Apesar de tudo, eu ainda preciso cumprir com as minhas obrigações. Então, ao avistar minha sobrinha mais nova correndo pelo pátio, suspiro outra vez ao me dar conta de que, além de auxiliar, eu também seria babá.
— querida, vamos entrar. Não pode ficar aqui fora sozinha, é perigoso. – chamei, notando que os prisioneiros do bloco D ainda nos observavam nas cercas. — amor, venha com a titia, agora.
Camila responde, correndo para dentro do bloco C, como eu mandei. Não confio em homens perto de crianças, ainda mais prisioneiros desconhecidos. Se estavam aqui, havia uma razão. Uma que, por mais banal que fosse, não mudava quaisquer pensamento que eu tinha sobre eles.
Adentro o bloco logo atrás da garotinha, vendo que ela já estava junto ao primo, nas escadas. Carl ajustava uma muleta, enquanto sua mãe havia ido buscar a outra. Encontramos um par de muletas na enfermaria deste lugar, o que foi muito útil neste momento. Hershel poderá se locomover sem muitos problemas.
— hey, tia. – ele chama, sorridente. Ergue o metal para cima, orgulhoso de seu trabalho bem feito. — olhe, eu consegui consertar.
Sorrio. Carl era tão precioso. Sua essência ingênua me encanta.
— fez um ótimo trabalho, querido. Continue assim e a titia irá abusar de seus dotes sempre que puder.
Ele dá risada, sussurrando com a garotinha ao seu lado. Invado a cela que Beth divide com o pai, o observando sentar na beirada da beliche de baixo. O ajudo quando percebo que se desequilibra, o mantendo com o traseiro no estofado.
— vai com calma, senhor perneta. Assim você quebra o pé que lhe resta e fica pelo ou menos um mês deitado nesta cama.
— Jesus! Não diga uma coisa dessas nem brincando, é o meu pior pesadelo.
De fato, Hershel não conseguia se manter quieto por muito tempo. Idosos tem este defeito de fábrica, sempre desobedecendo seus médicos. Ficar acamado por dois dias foi um pesadelo para ele, mas eu consegui mantê-lo ali. Ou talvez ele só tenha ficado porque nós o algemamos.
— tomou o analgésico? – ele afirma em um aceno. — e o anti-inflamatório?
— argh, eu prefiro mil vezes quando sou o médico chato e não o paciente teimoso.
— você é o pior paciente que eu já atendi. – brinco, soltando sua mão.
— sou o seu primeiro paciente de verdade. Terá de viver com isso. – provocou, totalmente zoeiro. Eu sequer conhecia este seu lado. — vamos lá, querida, me diga que posso ver o sol hoje.
Reprimo o sorriso quando ouço o som dos sapatos de Lori e Beth ecoar o bloco.
— o senhor pode ver o sol hoje. Mas, só se conseguir se locomover sem sentir dores fortes.
Ele comemora enquanto minha cunhada e Beth adentram a cela, junto das crianças. Lori sorri enquanto a Greene fala com o pai. Ela beijou meu rosto com carinho pela primeira vez naquela manhã.
— bom dia, Bebel. Bom dia, Hershel. Pronto para testarmos o seu equilíbrio?
— ah, com certeza. – ele responde.
Lori faz menção de ajudá-lo, mas eu a impeço, entrando em sua frente.
— nada de esforços para você, senhora Grimes. Se contente em nos observar.
Com a gravidez em sua reta final, eu prezo ainda mais pelo bem-estar de minha cunhada. Eu a conheço bem o suficiente para saber que é incapaz de apenas observar. Entretanto, prefiro que ela se zangue do que acabar arriscando a vida do nosso bebê.
[....]
Hershel conseguiu sair do bloco, e agora estamos no pátio com ele. Camila e Carl ao nosso lado, querendo apostar corrida com o pobre velinho aleijado.
— me dêem dois dias, e então vocês irão comer poeira. – ele respondeu, entrando no clima das crianças.
Reprimo o riso, analisando os sorrisos nos rostos longes do grupo. Daryl sorriu, acenando carinhosamente. Retribuo o comprimento no mesmo nível de entusiasmo. A paz nos alcançou durante aqueles segundos mágicos. Era como se tudo estivesse certo naquele momento, tudo tão suave. Calmaria, silêncio. Apenas nossa felicidade em ver um velho amigo de pé novamente. E então, acabou.
— ZUMBIS! – Carl gritou alto, puxando a prima para trás de si.
O grupo se alerta, assim como eu. Em um ato rápido, puxei a pistola de minhas costas, atirando na cabeça do herrante que se aproximava. Eram muitos deles, surgindo derrepente. A gritaria começou, e Lara gritou pela filha. Carl a protegia com tudo o que tinha, focado em se aproximar novamente da menina.
— BETH! – grito, percebendo que a loira estava perto o suficiente da garotinha.
Camila entendeu meu recado, mesmo não sendo diretamente para ela. Ela desvia do zumbi que a queria, correndo para os braços de Beth enquanto eu me esforçava para tirar qualquer zumbi do caminho das duas.
— TUDO BEM, ESTOU COM ELA. – minha amiga gritou de volta, continuando a correr.
Ouvi quando meu nome ecoou pela prisão. Era difícil reconhecer a voz, tendo em vista que a maioria ali gritava por alguém. Mas eu reconheço a voz dos meus irmãos em qualquer lugar. Olhei em volta, Lori e Carl haviam sumido.
Atiro no zumbi que se aproxima, o derrubando. E depois outro. Mais outro. Eles não paravam.
— HANNAH, SAI DAÍ, AGORA. – desta vez foi Daryl quem gritou. — HANNAH!
Uma flecha voou, acertando um zumbi próximo à mim. Em seguida um tiro, outro e mais outro. Eram Lara e Glenn. Mas os zumbis são bem rápidos quando o assunto é cercar alguém. E eles me cercaram. Sem mais munição, puxei a faca da bota. Malhar braço nunca foi o meu exercício favorito na academia.
Perto demais, perto demais. Ai meu Deus, eu vou morrer.
Mas não. Daryl e Rick se enfiaram no meio daquela multidão de podres, atirando em tudo quanto era morto ali. Glenn me puxou pelo braço, tirando a gente dali com muita rapidez. Ele me empurra escada à cima e Beth abriu o cercado, me recebendo ali dentro enquanto Lara abraçava a filha e Hershel colocava uma de suas muletas como tranca da porta, para garantir que nada entrasse ali.
— Maggie levou eles para o bloco, e o T foi mordido, acho que Carol estava com ele. Eles foram por ali. – ela contou rapidamente.
Daryl se aproxima da grade, tocando minha mão com nervosismo.
— tudo bem? Você está bem? – ele questionou, afirmo em um aceno discreto. — certo. Fiquem aqui, nós voltamos logo.
[...]
Após nos deixar marinando dentro daquele cubículo, os garotos finalmente aparecem outra vez, explicando a situação. Mas ainda assim, ninguém havia voltado. Corro para meu namorado, o abraçando enquanto sentia o coração pulsar cada vez mais calmo. Ele afaga meu cabelo, beijando minha cabeça.
— onde estão os outros? – Lara questiona.
— não sabemos. Achamos que pudessem ter voltado.
Ainda abraçava Daryl quando todos se calaram e o trinco do portão do bloco fez barulho ao ser destrancado. Me viro, tendo a visão de uma Maggie destruída emocionalmente, um bebê em seus braços e Carl completamente derrotado.
Lori.
— onde está a Lori? – questiono em uma voz fina e embargada, denunciando o choro entalado.
"— eu estarei aqui quando o seu mundo estiver um caos, querida. Poderá sempre voltar para casa e chorar em meu colo." Memória certa, momento errado.
Minha garganta parece estar fechada, e o meu coração, que antes era calmo, agora estava pulsando desesperadamente. A lágrima desceu feito fogo, queimando tudo o que tocava, inclusive minha pele. Perco o dom da fala, assim como a força nas pernas. Meus joelhos se encontram com o chão gélido com certa força, que com certeza deixaria uma boa mancha roxa em outro momento. Mas agora eu não sentia nada além da imensa dor em meu coração.
As lágrimas borravam minha visão, as mãos tremiam feito mal de Parkinson e a dor do luto me impedia de ouvir qualquer palavra dita naquele momento, incluindo o sofrimento do meu irmão. "Você irá chorar bastante quando eu morrer, Belzinha." A cada lembrança recordada, as lágrimas se intensificava. Um grito de desespero escapou de minha garganta, e eu senti os braços de alguém arrodear minha cintura. Daryl se sentou no chão sujo, me puxando para si e escondendo meu rosto em seu peitoral.
— está tudo bem, amor. Está tudo bem
Mas não estava. Havia um rombo em meu peito, cacos em meu coração. Minha Lori estava morta, ela havia morrido. E, Deus, como esta merda dói. As lágrimas ainda rolavam, assim como o tremor em minhas mãos, o aperto no peito. O meu mundo continuava em preto e branco, sombrio e silencioso.
Lori, a mulher que discutiu com minha genitora inúmeras vezes, apenas por querer o meu bem e me amar mais do que a minha própria mãe. A mulher que economizou por dois anos para me dar o meu primeiro carro. Ah, Lori... ela me amou, e me amou com força. Primeira a acreditar no meu potencial, confiou e afirmou que eu poderia sim me tornar uma mulher de sucesso. Lori.
Eu amo você, Lori, e sempre irei amar. Para mim, você sempre será a minha melhor amiga/mãe/cunhada de todo o universo. A minha Lori viverá eternamente, nem que seja no que restou do meu coração despedaçado. E pela segunda vez em menos de um ano, o meu coração virou cacos. Eu perdi a minha mãe.
É sempre uma merda perder pessoas. Você nunca vai se acostumar com isso.
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001: um minuto de silêncio para a minha Lori Grimes.🙏🤍
002: sinto mto por isso, mas me doeu ter de matar a única figura materna que a Hannah já teve. Por outro lado, é importante para a evolução dela.
003: curiosidade: Lori morre um dia antes do aniversário da Hannah.
Não desistam de mim.😭🙏
Beijinhos da Malu!!!!💋
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