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02 𝖽𝖾 𝖽𝖾𝗓𝖾𝗆𝖻𝗋𝗈 𝖽𝖾 2010

As coisas, de certa forma, estavam um caos na fazenda Greene. Dias haviam se passado e nenhum método que escolheram para lidar com Randall funcionou. Ele conhecia Maggie, sabia quem ela era e onde morava, logo poderia trazer os amigos de volta à fazenda caso fosse libertado. Ele também conhecia Hannah, a garota que fazia aula de anatomia com ele na faculdade de Atlanta. Sabia seu nome, sobrenome, Hobbes e a reconheceu apenas pela voz. Um detalhe que deixou Daryl enfurecido e ainda mais motivado a matá-lo.

Tinham um problema real ali, um perigo para todos, mas nem todos concordavam com o óbvio. Matar o garoto. Era o certo a se fazer, não era legal, mas era a única maneira de mantê-los em segurança. As opiniões estavam divididas, mas a maioria apoiava totalmente a ideia de Shane.

— eu não quero ser rude, mas talvez já sendo...– Hannah diz, atraindo a atenção do grupo. Estavam todos, adultos, reunidos na sala de estar da casa Greene, onde decidiam o destino do garoto pela segunda vez. — entre um garoto desconhecido e a segurança da minha família, eu prefiro a minha família. Se ele representa o perigo, precisamos eliminá-lo.

— Jesus! - Dale exclamou, assustado. Era um dos únicos a ser contra o assassinato. — nós não somos assim, pessoal. Não precisamos matar este pobre garoto. Você não é assim, Hannah. O que aconteceu com vocês?

— as pessoas são assim agora, Dale. Precisamos proteger aqueles que amamos. - Shane respondeu, soando rude.

Hannah suspirou, pois sabia que no fundo ela não queria aquilo. Ter a morte de alguém em sua conta era assustador, mas ela precisava manter a família e amigos seguros. Era horrível, cruel e aterrorizante, mas necessário.

— Hannah, diga à eles que isso não é certo. - o velinho diz, desesperado. — Diga, Hannah.

Daryl se impôs, colocando o braço esquerdo em frente ao corpo da mulher loira, a impedindo de dar um passo ou que qualquer um se aproximasse. Sua feição não era amigável, nunca foi.

— não grite com ela. - ele mandou, sem expressar nenhuma reação. Lara lançou um olhar zombeteiro para a irmã, que não deu a mínima para aquilo. Ele abaixou o braço, puxando gentilmente Hannah para mais perto, como se quisesse protegê-la de qualquer ato. - o grupo do garoto é perigoso, eu já falei. Eles fazem coisas horríveis com as mulheres e crianças, Randall me contou. E eu não quero pagar para ver se ele é ou não capaz de nos encontrar aqui.

O Dixon não se preocupava muito com as pessoas, mas sentiu medo de que algo acontecesse com a ex namorada quando soube de todas as atrocidades que o grupo de Randall era capaz de cometer. Temeu por ela, pela garotinha loira que ainda era um bebê, a pirralha insuportável e o favorito da ex, Carl. Daryl levou em consideração a segurança de todas as mulheres daquela fazenda, priorizando Hannah e as crianças. Não há nada que o faça mudar de ideia em relação ao destino do garoto. Por ele, Randall morre.

— Daryl está certo, gente. - Shane diz, tentando convencer o grupo. Agora que tinha Hannah e Daryl o apoiando, seria fácil convencer o resto que ainda era contra. — nós temos três crianças aqui, Lori está grávida, Beth ainda é uma adolescente. Perigo.

Hershel torceu o lábio, analisando os argumentos do homem que não possue afinidade. O Greene zela pela segurança das filhas e reconhecia o perigo que Randall tinha a oferecer quando o ajudou naquele telhado. Por um lado ele via sangue, tiros e o caos. Já ao outro lado, Hershel via apenas um garoto assustado que possuia a idade da filha mais velha. Uma criança perdida e com medo do que o espera lá fora. Mas ele sabe, todos sabem, o que aquilo realmente significava.

— eu não quero correr este risco, Rick. - o senhor Greene diz, sério. Seu olhar percorreu os rostos das duas filhas. — não quero que nada de ruim aconteça com a minha família. E isto inclui suas irmãs também.

Neste meio tempo, Hannah e Beth se tornaram boas amigas, enquanto Lara teve mais afinidade com Maggie. Hershel pôde perceber que as irmãs mais novas de Rick Grimes eram tão boas quanto ele, e tão amorosas também. E Rick teme pelas irmãs, ele quer protegê-las de tudo e todos. Já possue uma opinião.

— a minha vida é repleta por mulheres desde sempre, e eu tenho filhos para mater seguros. - respondeu, mantendo sua postura de xerife sério. — eu voto em matar.

E assim a votação ganhou vida. Todos os membros votaram, certos do que diziam e com a voz séria, demonstrando que não sentiam remorsos em dizer aquelas duas palavras.

[....]

Houve uma votação justa, e a maioria venceu. Randall morreria e aquilo deixou Dale devastado. Hannah o viu sentado em sua cadeira de praia, em frente ao trailer branco, triste e cabisbaixo. Daryl pousou a mão em seu ombro, tranquilo.

— ele precisa de um tempo para aceitar, mas vai ficar bem. - o Dixon diz. Hannah se vira, dando um sorriso pequeno para ele, suspirando. — não dá para salvar todo mundo, Bel.

— eu sei, mas.... - bufou, girando os calcanhares para o velinho outra vez. Queria tomar seu partido e impedir a morte de Randall, mas ela já tinha uma opinião. — queria que ele não ficasse tão mal com isso. Não gosto de vê-lo assim, é de partir o coração.

Dale tinha a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos na batata da perna, pensando na vida. O homem claramente estava triste com a decisão que tomaram, não aceitou a verdade.

— ele sabe que é preciso. Não há nada à ser feito para impedir isso, linda. – Daryl a confortou, beijando o topo de sua cabeça com carinho, a fazendo sorrir. — eu preciso ir agora, seu amigo Shane me colocou de guarda no galinheiro depois que as crianças resolveram visitar o nosso prisioneiro.

Antes de se afastar, Daryl a puxou para um selar de lábios demorado. Ele beijou suas bochechas rosadas com carinho, acariciando seu rosto por um momento. Anda se perguntando se deveria ou não dar um passo adiante entre eles. Se queria reatar o relacionamento com a garota que o deixou para trás há quase quatro anos atrás. E sim, ele quer.

— te vejo em breve, mi amor. – Hannah sussurrou, forçando o sotaque espanhol ao dizer seu antigo apelido. Daryl sorriu genuíno, a beijando outra vez.

Quando namoravam, Daryl a apelidou em seu idioma materno, o espanhol. A garota se esforçou para aprender a língua para se comunicar, mesmo que não precisasse, com o namorado em sua língua favorita. E ela aprendeu muito mais do que apenas as palavras básicas. Se tornou fluente em espanhol, apenas para poder conversar com Daryl, só porque ele gostava.

O Dixon deu as costas, seguindo caminho para o galinheiro. Não demorou muito para Glenn e Maggie chegarem até ela, ambos com sorrisos sarcásticos nos lábios. A loira rolou os olhos, se aproximando dos amigos.

— por quê estão sorrindo assim? Estão indo foder escondidos outra vez? – ela ironizou. — se o Hershel me perguntar, eu digo que estão ocupados.

— e ela já mudou de assunto antes de chegarmos. – Maggie murmurou. Glenn deu risada. — não pense que não vimos sua interação com o Dixon. Mi amor, não?

A Grimes franziu o olhar para a garota, se perguntando como ela poderia ter a escutado dizer aquilo.

— ela fez leitura labial e eu sei que você aprendeu espanhol por um garoto. – Glenn a respondeu, dando de ombros. — nunca contou que o garoto era ele.

— porque era segredo. – murmurou. — o que fazem aqui? Não têm nada de mais interessante do que a minha vida amorosa neste lugar?

— sendo bem sincera, não. – Maggie deu de ombros, se sentando na escadaria, sendo acompanhada pelos dois que estavam com ela. — ele te defendeu hoje.

Hannah sorriu, jogando o corpo para cima do colo de Maggie, que a aparou rapidamente, a deixando se acomodar entre suas coxas.

— não foi nada demais, na verdade.

— au achei aquela puxada de cintura super demais para mim – a mais nova afirmou, remexendo os fios loiros da amiga. — acha que ele poderia ensinar ao Glenn como se faz?

— Maggie! – Glenn a repreende, fazendo a melhor amiga dar boas risadas. — ai meu Deus, você disse mesmo isso?

— qual o problema? Eu gostaria de saber...

Hannah intensificou a risada enquanto escutava a pequena discussão do casal. Faz alguns dias que Glenn e Maggie se assumiram como um casal diante ao grupo, e isso deixou Hannah extremamente feliz pelo amigo. Lori, que estava ali perto, avistou o belo sorriso da cunhada, se sentindo mau por todo o espaço que Hannah impôs entre elas na última semana.

Glenn percebeu, assim como a garota loira. E ela tratou de sumir com o sorriso em segundos. Maggie, que não está familiarizada  com nada entre a amizade do namorado com a nova amiga, franziu o olhar.

— não se falam desde o acidente. – Glenn comentou. — não acha que está na hora de fazerem as pazes?

— ela capotou o meu carro com a sua irmã dentro. Dois coelhos em uma só cajadada. Duas coisas importantes de uma só vez. Não, eu não acho.

— Giulia não me parece ligar muito para isso – Maggie comentou, indicando a garotinha coreana mais a frente, tendo uma breve conversa com a matriarca Grimes.

— e não está. – Glenn afirmou. — é uma criança, ela já a perdoou no mesmo dia. Foi um trauma, Hannah, mas ela não era você.

Hannah, assim como Maggie, franziu o rosto. Glenn suspirou pesado, não acreditando que iria mesmo tocar no assunto proibido.

— não é por causa do carro que está brava com ela, e uma pequena parte pode sim ser pela Giulia. Mas nós sabemos o real motivo, Hannah.

— não sabemos não – Maggie murmurou, se sentindo perdida na conversa.

— você vai precisar ser mais exato.

Outro suspiro.

— quinze de outubro de noventa e dois. Você, Jeffrey e Lori na rua principal de King County...

Foi como se algo a puxasse para aquele dia outra vez, como se ela o vivesse novamente. O dia em que descobriu a dor do luto, e como ela era ruim. O maior trauma de infância de sua vida, a morte do irmão mais velho.

— não tem nada a ver com isso, Glenn. – ela o interrompeu, rápido demais. — eu só....fiquei chateada por ela não ter me perguntado nada e simplesmente sumido com a garota, no meu carro.

Era notável como o tom de voz de Hannah havia mudado, e Glenn sabia que não deveria ter tocado no assunto, mas também sabe que a amiga precisa se resolver com a mulher que terminou de criá-la. Responsáveis ou não, ambas as mulheres viveram a culpa da morte do primogênito Grimes, e o acidente na estrada acabou despertando este sentimento adormecido.

— ela não é você, Hannah. Giulia está bem, Lori está bem. Seu carro está amassado, tudo bem, eu arrumo outro para você quando for na cidade, te trago um em bom estado. Mas não foi só em você que o dejavu aconteceu. Lori também estava lá naquele dia, e foi ela quem capotou o carro com a Giulia na semana passada, então....

— então ela também se lembrou. – ela completou, imersa nas lembranças. Se levantou em um pulo, o rosto ainda franzido. — eu volto em breve.

A Grimes sumiu, sem nem olhar para trás. Glenn pôde respirar aliviado, sabendo que fez o melhor para a amiga.

— desculpe, o que perdi? – Maggie indaga, parada no mesmo lugar e com a mesma expressão. Confusa. — o que aconteceu em quinze de outubro de noventa e dois?

— o acidente que causou a morte de Jeffrey Grimes, nosso irmão mais velho. – Lara, a grimes do meio, diz bem atrás deles. Ela deu um pequeno sorriso ao ver os rostos desajeitados do casal. — eu ia conversar com ela sobre isso, obrigada por adiantar meu trabalho.

— Lara – Glenn diz, se levantando, nervoso. — desculpe. Sei que é um assunto delicado e que Hannah faz questão de nunca comentar, mas...

— foi necessário, eu sei. – sorriu pequeno, tranquilizando o garoto. — minha irmã era atormentada todas as noites pela morte do Jeff. Dos oito aos vinte anos, era sempre o mesmo pesadelo. Acabou quando ela mudou para Atlanta, deixou o passado para trás. Não passou mais pela rodovia do acidente, então não teve mais pesadelos. – Lara contou, se recordando do quão difícil foi manter a irmã sã durante todo esse tempo — mas eu sei que isso voltou a atormentá-la, e talvez se ela enfrentar os problemas feito a adulta fodona que se tornou, consiga superar isso outra vez.

Foi um evento traumático na vida dos Grimes, o motivo de Camile começar a nutrir o ódio pela filha mais nova, a morte de Jeffrey. Ninguém culpou Hannah ou Lori pelo acidente, as câmeras de segurança mostraram que foi o motorista do caminhão quem saiu de sua faixa e os atingiu em cheio. Mas Jeffrey estava sem cinto de segurança porque Hannah retirou o seu e ele foi colocar novamente. Ele deu a vida para que a irmã pudesse viver, e Camile não entendeu isso muito bem.

Então, desde os oito anos de idade Hannah sofreu com os maus tratos da mãe, o desamor, a culpa jogada em seus ombros, os afrontes, a gritaria e agressões. Tudo isso porque o irmão, que a amava mais do que tudo neste mundo, se sacrificou quando percebeu que a a caçula poderia morrer ali.

[....]

Havia acabado de anoitecer, Hannah estava na barraca de Daryl, o esperando para que pudessem jantar. Carl subia a colina, esperando que ninguém estivesse ali para que ele pudesse devolver a arma que roubou do Dixon sem que ninguém o visse. Mas Hannah o viu.

— volte e me diga o que está aprontando. – ela diz, a voz alta o suficiente para que ele a pudesse ouvir. Carl, que já estava descendo a colina quando viu a tia ali, voltou no mesmo instante. — por quê está caminhando como se fosse um ladrão de filmes americanos?

O garoto suspira, se sentando no tronco, ao lado da tia.

— não vai me entregar para a mamãe e o papai, vai?

Ela arqueia as sobrancelhas, imaginando inúmeras coisas ruins que o sobrinho possa ter feito. A mulher o encara, esperando qur ele prossiga, mas o garoto suspira outra vez.

— depende da gravidade do seu problema. E você sabe que eu não gosto de mentir para o seu pai.

Ele hesita, mas retira a pistola de trás das costas. Hannah arregala os olhos, encarando o garoto assim que confisca a arma das mãos do sobrinho.

— o que você fazia com isso? – ela questiona rapidamente. — onde conseguiu uma arma? Roubou do Dale outra vez?

— não, ele reforçou a segurança depois da última vez. Eu peguei do Daryl, mas não conta 'pra ele. Sabe? Ele pode ficar zangado.

Hannah não tinha uma feição agradável. Ainda esperava pela explicação do garoto. Ela jogou a arma para dentro da barraca, se ajeitando ao lado do sobrinho novamente.

— eu fui até a floresta hoje, enquanto todo mundo estava decidindo o destino do Randall. – Hannah arqueia as sobrancelhas, cruzando os braços. — me imaginei encontrando a Sophia e a trazendo de volta para a Carol. Fantasiando um mundo onde ela não morreu com uma mordida no pescoço e apagada com um tiro na cabeça.

E toda a carranca foi embora em segundos. Hannah desfez os braços cruzados e os lábios murcharam rapidamente. Mas o garoto continuou.

— eu sei que foi errado, tia. Mas as pessoas aqui agem como se ela nunca tivesse existido, ninguém sofre por ela. E eu sofro todo o dia. É injusto.

Ela torceu os lábios, sentindo a dor do sobrinho. Escorregou para mais perto, o deixando escorar a cabeça em seu peito, recebendo um afago gostoso no cabelo castanho. Um abraço da tia Hannah.

— quando passa? Sabe, a dor do luto. Quando eu vou poder pensar nela sem ficar triste?

— a dor não passa, amor. Você só se acostuma com ela. Mas, com o tempo você consegue olhar para o passado e sorrir com as lembranças. Como eu faço.

Carl sorriu pequeno, abraçando a tia por saber sobre o que ela falava. Ela beijou o cabelo castanho do garoto, o abraçando ainda mais forte. E Carl sabe que a tia não gosta de conversar sobre a perda do único tio que nunca conheceu. Ele é o único que ainda a escuta pronunciar o nome de Jeffrey.

Um grito agonizante ecoou a fazenda, fazendo os dois Grimes se assustarem. Hannah se levantou rapidamente, puxando o sobrinho junto a ela, empunhando a pistola no mesmo instante. Os dois se aproximaram um pouco mais, notando que as pessoas lá em baixo corriam para fora dos limites da cerca.

— o que está acontecendo, tia? – o garoto perguntou, grudado à cintura da loira.

Hannah observou aquilo, parada na beira da colina, tentando entender o que acontecia. E então ela enxergou. Um zumbi, uma pessoa jogada no chão. Caos. Ela agarra a mão do sobrinho, correndo ladeira à baixo.

— vamos descobrir, mas não solte a minha mão em hipótese alguma, ouviu?

Havia uma boa distância entre Hannah e o lugar onde estava a pessoa jogada fora das cercas, mas a preocupação a moveu com rapidez. Ela não soltou a mão do sobrinho, e o puxou junto a ela por todo o campo, até chegar no limite da cerca. Ela já podia ouvir as pessoas falarem sobre não haver mais tempo, que ele estava morto e não tinha como salvá-lo.

A loira se agarrou ao braço da cunhada, sem dar importância à qualquer outro assunto agora. Seus olhos finalmente enxergaram Dale ali, jogado na grama com metade dos órgãos para fora, dilacerado. O velinho estava pálido, e se esforçava para continuar vivo.

A mulher paralisa, encarando toda aquela cena horrorosa, digna de um filme de terror. Suas emoções querendo dar as caras, mas Carl já tinha o rosto afundado em sua cintura e Giulia também a abraçou, horrorizados com tudo aquilo. Dale não tinha salvação, era um homem morto.

— me desculpe, irmão.

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