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26 𝖽𝖾 𝗇𝗈𝗏𝖾𝗆𝖻𝗋𝗈 𝖽𝖾 2010
𝗛𝗮𝗻𝗻𝗮𝗵 𝗚𝗿𝗶𝗺𝗲𝘀
O dia amanheceu bem bonito, mas minhas costas doiam demais por ter dormido na poltrona enquanto cuidava do meu sobrinho durante a noite. Carl está melhorando, Hershel nos disse que ele só precisa descansar e em breve estará novinho em folha, mas eu não quero arriscar. Passei a noite ao lado dele, me certificando de que ele ainda estava respirando e sem infecções no ferimento.
— você dorme engraçado – o garotinho diz, me assustando.
Levo a mão ao peito, me ajeitando na poltrona desconfortável e dando um sorriso para ele.
— durmo, é? – suspiro, encarando seu sorriso sapeca nos lábios — e como você dormiu, mini Grimes?
Carl sorriu ainda mais ao ouvir seu apelido, faz um tempo que não o chamo por ele.
— normal, acho que estou melhorando. – disse apressadamente — eu já posso sair e brincar no quintal? Você seria uma ótima tia se dissesse que sim.
Dou risada, me levantando para checar sua temperatura.
— e seria uma péssima médica se concordasse também. Desculpe, amor, mas vai ter que ficar aqui por mais alguns dias.
Carl murcha o sorriso, fechando a cara em questão de segundos.
— ah, não faça assim, cowboy. – peteleco seu chapéu, o mesmo que era de Rick até alguns dias atrás — não é muito a sua cara fazer birra, então se comporte.
— eu queria sair, tia Hannah – diz manhoso — não aguento mais olhar para essas paredes amarelas.
— eu sei, gatinho. Mas ainda precisa se recuperar, você ainda pode pegar uma infecção no ferimento e não queremos que isso aconteça. – ele bufa, nada contente com minha resposta — irá me agradecer no futuro, tá bom?
— sabe que agora você está sendo a tia Isabel, não sabe? – ele murmurou, ganhando minha atenção
— como assim?
— tia Hannah é a tia legal, a que concorda com tudo o que digo e acoberta minhas travessuras. Já a tia Isabel, essa ai é a tia chata, não gosto muito dela.
Arqueei as sobrancelhas, tentando não esboçar uma risada em meu rosto.
— então você me acha chata?
Carl dá de ombros.
— você não, a tia Isabel, sim.
— eu acho que a tia Isabel é essencial para a sua sobrevivência – toco a ponta de seu nariz, ele sorri e beijo sua testa — trago algo para você comer daqui a pouco, agora eu preciso ver onde está a sua dupla caótica.
— a Gi pode me visitar depois? E pode trazer a Cami também? Sinto falta dela.
Sorrio para ele, parada na porta de entrada do quarto.
— eu peço para que sua tia Lara traga a Cami daqui a pouco, e a Giulia com certeza estará aqui assim que acordar.
Carl sorriu, agradecendo por aquilo.
(...)
Alguns dos nossos homens e Andrea saíram em uma busca pelas redondezas, na esperança de encontrarem algum rastro da pequena Peletier. Ainda temos esperança de a encontrar e aparentemente a cada dia que se passa chegamos mais perto de encontrá-la. Eu espero que Sophia esteja bem, de verdade.
Ajudei Carol com as roupas sujas e também cuidei das crianças por um tempinho, mas agora eu estou deitada no banco de trás do meu carro, finalizando um dos livros que Dale me emprestou.
— Hannah banana – Glenn chamou, com certeza se aproximava — belzinha.
Suspendo as pernas, dando espaço para que ele pudesse se sentar ao meu lado. Não me dou o trabalho de olhá-lo, pois sei que ele deseja algo além do meu alcance.
— sem enrolação, Glenn. Senta e diga logo qual a sua dúvida.
— você por algum acaso....você...ahn...você está menstruando?
Abaixo o livro lentamente, visualizando sua face completamente confusa e hesitante. Esboço um riso, mas me mantenho firme.
— eu li em algum lugar que quando algumas mulheres passam tempo demais juntas os seus ciclos se alinham e todas ficam muito tensas de tantos hormônios – ele soltou, me fazendo se sentar — só responde, Hannah.
Eu queria rir, muito. Mas não sou tão má, então eu decidi que vou respondê-lo.
— devo menstruar na próxima semana.
— ah. As mulheres deste acampamento estão todas estranhas, eu estou ficando louco.
Franzo as sobrancelhas, prestando mais atenção em suas falas.
— como assim estranhas? Quem está estranha?
Ele suspira, jogando seu corpo para meu colo.
— Maggie. Primeiro ela quis fazer sexo comigo, depois me trata mal e me ignora.
— e é isso que está te deixando chateado? – questiono, vendo a resposta estampada em seu rosto — tem algo que não está me contando, não é?
Glenn quase saltou os olhos para fora. Bingo.
— como assim? Não, eu não sei do que está falando.
— tem algo te deixando agitado. Está escondendo alguma coisa de mim, Glenn?
— não estou escondendo nada. – disse se levantando, saindo de dentro do carro.
Apoio as mãos no estofado macio, inclinando o corpo para frente enquanto o encarava.
— ah, você está sim. – estreito os olhos — algo bem grande. Me conta, o que é?
— não posso, Lori me pediu para não dizer nada.
Lori....farmácia...enjoos....droga.
Aperto os olhos, tendo certeza de que minhas dúvidas estavam totalmente certas desta vez. Lori realmente está grávida.
— por quê ela contou a você e não a mim? – franzo as sobrancelhas, ele suspira — e por quê guarda segredos de mim agora?
Glenn babulceia palavras, mas nada saiu. Então o grito de Andrea ecoou a fazenda, interrompendo nossa conversa.
— ZUMBI.
me alerto, pulando para fora do carro com rapidez. Glenn foi na frente, a algazarra se formou ao lado do trailer de Dale. Discutiam sobre matar ou deixar Hershel lhe dar com o zumbi de sua própria forma.
Me apoio na escadinha que dá acesso a parte superior do trailer, vendo um zumbi solitário bem longe, perto da floresta.
— é só um, eu consigo acertar ele daqui de cima – a loira diz, segurava a espingarda nas mãos
— não. O Hershel não iria gostar e além do mais, o disparo acabaria atraindo mais deles para nós. – diz meu irmão
Shane, como todas as vezes, agiu por impulso e correu em direção ao zumbi com sua arma nas mãos. Suspiro, sabendo que aquilo não iria acabar muito bem. Glenn estava em um impasse, decidindo se deveria ou não seguir os outros homens.
— vá, se der alguma coisa eu me resolvo com a Maggie por você – digo a ele, que logo correu em direção aos outros.
Subo para cima do trailer, pegando o binóculo de Dale na cadeira de praia, em uma tentativa falha de ver o que acontecia. O sol estava embaçando a lente do objeto e atrapalhava a minha visão. Em outras palavras, eu não conseguia ver com clareza se era ou não um zumbi de verdade.
Os homens se aproximaram um pouco mais, um pouco receosos com o bixo em sua frente. Franzo o cenho, sentindo que conhecia aquele alguém de algum lugar. Andrea se deitou no trailer, mirando no "zumbi"
— Andrea, não.
— não enche, Dale.
Tentei outra vez, o sol deu uma cessada e eu finalmente consegui reconhecer o indivíduo. Não era um zumbi, era Daryl Dixon.
— Andrea, não – gritei, mas foi tarde demais.
Andrea puxou o gatilho e o tal zumbi caiu no chão. Meus olhos se arregalaram e levei a mão direto para o coração, sentindo uma dor se alojar a ele.
— Daryl... – um sussurro nem tão baixo escapou de meus lábios. O binóculo foi ao chão e eu nem me importei em pular de uma altura consideravelmente alta, corri feito louca em direção a eles — DARYL.
Daryl estava no chão, não sabia se estava vivo ou morto. As lágrimas se acomulavam cada vez mais e a visão começava a ficar embaçada. Mais alguns longos passos e os alcancei. Rick e Shane o levantaram.
— ele está morto? – perguntei chorosa, cobrindo a boca com a mão
— não, pegou de raspão – meu irmão responde.
— isso são orelhas no pescoço dele?
Rick puxou o cordão improvisado do pescoço de Daryl, o jogando longe.
— isso vai ficar entre a gente. – ele diz, voltando a carregar o corpo desmaiado de Daryl para a civilização — Glenn, traga a minha irmã.
Glenn pegou em meu braço com cuidado, me puxando delicadamente para frente.
— vem, bebel. Vamos lá. – disse ele.
(....)
Daryl foi colocado no quarto ao lado do de Carl. Disse que a égua se assustou com uma cobra e o derrubou barranco a baixo. Ganhou uma flecha cravada em sua pele no processo e caiu duas vezes enquanto tentava subir o barranco outra vez, também quase virou petisco de zumbi.
Agora todos estão saindo do quarto, me deixando a sós com ele. Estou no canto do quarto, aguardando ele ficar totalmente vazio para que eu possa me aproximar, o que não demorou muito.
— sabe que pode chegar mais perto, não sabe? – ele questiona
— quase morreu hoje.
Ele assopra, fazendo um barulho engraçado.
— eu quase morro todos os dias, Hannah.
Rolo os olhos, me aproximando mais da cama, parando ao lado esquerdo dela.
— você teve sorte hoje, Dixon. Muita sorte.
— se chama isso de sorte, é, eu tive sim. – deu de ombros — o que foi? Por quê está me olhando assim?
Sigo de braços cruzados e o rosto sério. Eu amo o Daryl, mas odeio a maneira em que ele lhe dá com os problemas quando está comigo.
— eu não gostei da sensação de perder você, Daryl. E eu não quero te perder pra sempre, isso seria horrível.
Ele esboça um sorriso, provavelmente ignorou tudo o que eu disse e só ouviu o que quis.
— ninguém mata um Dixon, gatita – ele diz confiante. Seus olhos azuis estão focados em mim — e eu ainda estou bem aqui, na sua frente.
Ele me dá um sorrisinho ladino, um daqueles que me faz derreter feito manteiga fora da geladeira. Me aproximo mais, sentando na beirada da cama.
— não se arrisque tanto da próxima vez, tá bem? – pergunto em um sussurro, beijando o topo de sua cabeça — preciso ir, Lori quer a minha ajuda.
Selo nossos lábios rapidamente, me levantando no mesmo instante e caminhando em direção a saída.
— vai voltar a noite, não vai?
— se você se comportar, eu volto e te faço companhia.
Ouço sua risada rouca antes de sair de vez do quarto. Suspiro pesadamente assim que pisei fora do cômodo, regulando as batidas de meu coração. Daryl me faz sentir tantas coisas ao mesmo tempo.
Sigo caminho para fora, encontrando Andrea e Dale sentados na varanda. Rolo os olhos, desviando deles e descendo as escadas rapidamente.
— Hannah – a mulher chamou, me fazendo parar
Ouvi Dale sussurrando um "é melhor não" mas foi completamente ignorado outra vez. Me viro para ela lentamente com o rosto sério.
— eu sinto muito por isso, de verdade. Eu não sabia que era o Daryl, desculpe.
Dou um passo em sua direção, alertando o velinho ao seu lado e Lara que havia acabado de sair de dentro da casa Greene.
— Hannah... – minha irmã chamou
— talvez devesse parar de agir feito soldada e aceitar o que realmente é, Harrison. – digo parando em sua frente — a sua sorte é que ainda é uma péssima atiradora e mal sabe manusear uma arma, por isso a bala o atingiu de raspão.
— Hannah – ela chamou outra vez, me puxando pelo braço, nem me movi.
— coloque uma coisa nessa sua cabecinha de vento, Andrea – apontei para ela, me aproximando ainda mais — algumas mulheres nasceram sim para disparar balas em pessoas e zumbis, mas não é o seu caso. Então, me ouça bem para que eu não precise repetir, tá bom? Eu já falei uma vez e vou falar de novo – inclinei a cabeça para a esquerda — tire o nome do Dixon da sua boca. Seja boazinha para que eu não precise te matar e não cruze o meu caminho outra vez, não sinto dó de vadias.
Sorrio falsamente para ela, dando as costas e continuando o meu caminho, Lara me acompanhou.
— ouça mais o Dale, ele sempre tem razão – digo em voz alta para que ela possa me escutar.
Não odeio a Andrea, odeio a maneira como ela age por impulso. Sempre tentando provar que não é apenas um rostinho bonito, querendo a aprovação de todos e agindo feito macho alfa. Pessoas assim não pensam em ninguém além de si mesmos.
Também não sou do tipo que arruma brigas com outras mulheres, muito menos por causa de homem. Mas ela quase matou o Daryl e disse coisas más sobre o Merle uma vez. Fale mal de Merle Dixon à vontade, só não tente matar o meu não namorado.
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