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23 𝖽𝖾 𝗇𝗈𝗏𝖾𝗆𝖻𝗋𝗈 𝖽𝖾 2010
𝗛𝗮𝗻𝗻𝗮𝗵 𝗚𝗿𝗶𝗺𝗲𝘀
A noite parecia se arrastar e todas as vezes que eu pegava no sono, não durava mais do que quinze minutos. A preocupação com Carl, que estava acamado no andar de baixo, e Sophia, que ainda estava perdida na floresta, tomaram conta de meus pensamentos, levando embora todo o meu sono.
Desço para o andar de baixo assim que o sol começa a dar seus primeiros sinais de vida, Lara e as crianças ainda dormiam tranquilamente naquela cama enorme da Maggie. Dou passos leves e suaves, não quero acordar ninguém a este horário.
Assim que passo pela cozinha vejo Rick sentado á mesa e Hershel servindo café em sua xícara. Seu rosto cansado e os olhos fundos entregavam que ele não havia dormido nada, assim como eu.
— não fique na porta, entre – o velinho disse sem nem me olhar — você precisa de um café fresco e uma boa torrada.
Dou um sorriso envergonhado e adentro a cozinha, tomando o assento ao lado de meu irmão, que me deu um pequeno sorriso ao me ver.
— bom dia, senhor Greene – digo — bom dia, Ricardo.
— bom dia, e por favor me chame de Hershel – ele diz, me entregando uma xícara de café.
— bom dia, Hannah. – Rick responde — Giulia conseguiu dormir?
Fazer Giulia dormir essa noite foi o maior desafio de toda a minha vida. A garota ficou traumatizada e com medo de perder os dois melhores amigos, a rendeu boas horas de colinho da tia Hannah.
— foi difícil, mas ela pegou no sono. – conto após um suspiro — é muita informação para uma criança.
— realmente, Giulia teve muita emoção em menos de quarenta e oito horas – beberica seu café — Glenn comentou que ela chorou.
Apesar de ser a favorita, Giulia prefere o irmão quando está triste e aos prantos. Eu a entendo, também gosto do colo dos meus irmãos quando me sinto amedrontada, é o melhor lugar a se estar.
— ele cuidou disso – dou um gole do café — ele sempre cuida.
Glenn é um ótimo irmão mais velho, sabe exatamente o que fazer em qualquer situação, escolhe as palavras com cuidado para não machucar ou ensinar palavras feias a irmã. Se um dia Glenn tiver un filho, ele será um ótimo pai.
— o restante do grupo deve chegar logo – Rick comenta ao Hershel — quatro pessoas. Podemos acampar em baixo daquelas árvores, se você nos permitir, é claro.
— não vejo problemas nisso – ele diz, girava sua xícara de café em movimentos circulares enquanto dava pequenos sopros no líquido preto — faremos um funeral ao Ottis no fim da tarde, estejam lá.
O velinho se levanta de sua cadeira, caminhando em direção ao corredor. Era possível ver a dor da perda em seus olhos e no tom de voz, mas ainda assim ele parecia firme.
— ele acordou durante a madrugada – Rick começa, ganhando minha total atenção — perguntou se tínhamos encontrado a Sophia – solta um suspiro frustrado – eu menti para o meu filho pela primeira vez.
Meu irmão possui uma longa lista de coisas que nunca deve fazer como pai para não se tornar uma cópia do nosso pai, mentir era uma delas.
— foi por uma boa razão. Carl não pode ter estresses, acabou de passar por uma cirurgia feita em casa.
— isso não anula o fato de eu ter mentido para ele.
— tenho certeza de que não vai voltar a mentir para seu filho, Rick – coloco minha mão sobre a sua. — e também tenho a certeza de que você é um pai melhor do que papai disse que seria.
Meu pai era um bom pai, mas nunca chegou a ser nenhum "pai do ano". Ele nos amava, obviamente, mas as vezes cometia alguns erros em sua paternidade, nos contava mentirinhas bobas que se tornavam grandes mentiras e nos esquecia na escola. Papai era um bom pai na minha vez de ser filha, mas nem sempre foi assim. Uma vez ele disse a Rick que seria uma versão dele, com certeza aquilo ainda é seu pior pesadelo.
— aquele velho rabugento não acertou em nada sobre o nosso futuro, a não ser que ele teria uma neta com o nome da mamãe – dou de ombros, o fazendo sorrir — mas isso ai é bom.
— menos mal, não quero me tornar o senhor Robert Grimes, seria aterrorizante.
— realmente, você ficaria horrível com aquela barba enorme cobrindo todo o seu rosto – faço careta, o imaginando barbudo — nossa, realmente ficaria ruim em você.
Rick rola os olhos com um sorriso divertido no rosto.
— e a Hannah volta a ser a Hannah – ele murmura — não consegue ser legal por mais do que cinco minutos?
— é o meu jeitinho – dou de ombros, finalizando meu café — estou indo ver o favorito, você vem?
— pensei que o chamasse de mini grimes
— ele o nomeou o favorito, disse que é mais legal e exclusivo. Seu filho é bem exigente – Rick dá risada — do que 'tá rindo?
— ele puxou isso a alguém – dá de ombros — pedi que meu filho não nascesse uma cópia de você e não adiantou muito.
— sorte a sua.
— que Deus me ajude – ele murmura
Solto um riso nasal e beijo sua bochecha, o deixando para trás. Não acho que eu tenha sido tão ruim assim, quer dizer, eu deixava minha mãe louca com as decisões que eu tomava, ficava de castigo pelo ou menos duas vezes no mês e já cheguei em casa acompanhada pela polícia, mas era o meu pai.
Tudo bem, talvez eu tenha sido uma criança e adolescente bem traquina, mas não acho que meu sobrinho herde isso de mim. Carl tem uma melhor amiga, uma tia que o ama e pais maravilhosos, tudo o que eu não tinha quando me tornei o pior pesadelo dos meus irmãos e pais.
Enquanto caminho pela casa, em direção ao quarto onde Carl está alojado, encontro Beth, acho que ainda não troquei mais do que duas palavras com ela. A garota loira me direciona um sorriso doce, me desejando um bom dia e seguindo caminho para fora da casa.
Adentro o quarto, encontrando Carl dormindo tranquilamente e Lori segurando sua mão, como uma boa mãe que é.
— pensei que fosse te encontrar cochilando – digo, ganhando sua atenção. Lori me dá um sorriso fraco, os olhos fundos indicavam que ela também não havia dormido — você 'tá péssima, parecendo um zumbi – repito sua fala para mim no hospital
— digo o mesmo de você – ela rebate — como passou a noite?
Me sento ao seu lado, meus olhos focados no garotinho acamado e seu curativo no abdômen. Detesto ver o Carl assim, prefiro ele bem e me dando trabalho.
— acordada, assim como você e o Rick.
— e a Gigi?
— Glenn resolveu tudo e depois eu consegui fazer ela dormir – toco a mão gelada do garoto — Rick disse que ele acordou, como ele está?
Lori solta um suspiro pesado.
— cansadinho, mas vai ficar bem.
— claro que vai, é o Carl. – afirmo, mais para mim do que para ela.
(...)
Sentada na mesma cadeira que Lori ocupava horas atrás, meus olhos observava cada mínimo detalhe daquele quarto. Ainda não há sinal do grupo da estrada, mas devem chegar logo. Detesto acordar cedo porque as coisas demoram mais para acontecer e eu particularmente odeio esperar.
Sinto quando Carl se movimenta na cama, o que rapidamente atrai a minha atenção. Seus olhos se esforçavam para abrir e seu rostinho inchado pelo longo sono viraram para mim.
— oi amor – sorrio docemente — como se sente?
— quebrado – responde em um fiapo de voz, seu olhar percorre pelo quarto, em busca de algo ou alguém — onde estão a mamãe e o papai?
— estão lá fora, assim como o resto do grupo.
Carl me olha triste e cansado, retiro meu sorriso do rosto no mesmo instante, temendo pelas suas próximas palavras ditas.
— ele mentiu para mim, não foi? – o silêncio foi sua resposta — eu sabia, papai não sabe mentir muito bem.
— não o odeie por isso, Carl. Seu pai não queria que se estressasse com esse assunto, ele tinha a melhor das intenções com isso.
— a Gigi veio com você, tia? – questiona, ignorando tudo o que eu disse.
Por que esse garoto tem que ser tão eu?
Suspiro e sorrio pequeno, deixando um beijo em sua bochecha ainda pálida e me levantando.
— eu vou pedir para que ela venha.
Deixo meu sobrinho e seu quarto para trás, indo em busca da minha outra cópia. Ouço o barulho da moto de Daryl se aproximar, indicando que eles já haviam adentrado a propriedade. Desvio de meu caminho, indo para a varanda da casa, encontrando Glenn e a irmã ali.
— oi gatinha, que bom que encontrei você – acaricio seu cabelo liso e agora limpinho e cheiroso — o Carl acordou e quer te ver.
Não precisei dizer mais nenhuma palavra, Giulia saiu correndo para dentro da casa sem nem me deixar terminar minha frase.
— pegue leve com ele, Gi – Glenn disse a ela, sem obter respostas.
O trailer de Dale e a moto de Daryl foram estacionados bem perto da casa. Assim que o som dos motores foram ouvidos por aqueles do grupo de Atlanta, eles logam apareceram para verificar a chegada dos outros.
— seu homem chegou – Lara sussurrou em meu ouvido, me fazendo rolar os olhos.
— calada você é bem mais bonita.
Antes que ela possa me responder, nós descemos a pequena escadaria da varanda, indo de encontro ao grupo. Carol e Andrea desciam do trailer e Lori foi correndo em direção a amiga, lhe dando um abraço reconfortante. Carol está visivelmente destruída com o desaparecimento da filha.
Assim que é liberada do abraço, a mulher de cabelos grisalhos me agarra em um abraço apertado que é retribuido na mesma intensidade. Me preocupo com Carol, sinto sua dor.
— oi – sussurro entre o abraço — eu sinto muito, Carol. Nós vamos encontrá-la.
A mulher dá um sorriso melancólico e passa a mão no rosto, limpando uma única lágrima que escorreu de seu olho.
Daryl está encostado em sua moto, observava toda a agitação do grupo em silêncio, ele não é fã de contato físico, muito menos de tanta melação. Minhas pernas parecem ter vida própria e, quando me dou conta, já estou caminhando em direção ao homem mau encarado.
— não vai abraçar a sua amiga Andrea? – questiona em um tom irônico
— não vai cumprimentar o Shane? – ele rola os olhos, me arrancando uma risada nasal — foi o que pensei.
Paro em frente ao homem, encarando seu belo rosto com calma, intercalando o olhar entre seus olhos azuis e os lábios avermelhados.
— se continuar me olhando assim eu vou pensar que não superou – ele diz, desvio o olhar para meus pés enquanto ouço sua risada baixa
— você se acha demais – digo após um sopro com os lábios colados
— como está o garoto?
— estável, o pior já passou. Algumas semanas em repouso e com os cuidados certos, Carl ficará novinho em folha.
— e o T-dog? As pílulas que dei ajudaram?
Gosto de como Daryl se preocupa com as pessoas do nosso grupo, é encantador.
— Patrícia, a esposa do homem que atirou no Carl por acidente, cuidou dele, os medicamentos ajudaram bastante.
— você tem os olhos fundos – ele diz, tornando o espaço entre nós cada vez menor e tocando minha pele suavemente, seus dedos percorrendo abaixo de meus olhos — pelo ou menos comeu algo ao amanhecer?
O toque de Daryl ainda me causa arrepios, como se eu fosse uma tola adolescente de dezesseis anos com o seu primeiro amor. Ele me deixa nervosa, eufórica e com borboletas no estômago. Daryl faz com que eu me sinta estranhamente bem.
— ah... sim, sim – sorrio sem jeito — eu me alimentei.
Daryl sorri lindamente, aproximando seu rosto do meu cada vez mais, acabando com qualquer distância entre nossos rostos, juntando seus lábios doces e carnudos aos meus em um breve selinho.
Seus olhos azuis me encaram com um sorriso divertido nos lábios enquanto sua mão direita segura meu queixo com carinho.
— você fica linda quando está com vergonha – ele sussurra
E sem perceber, lhe dou um sorriso aberto e sincero. Deus, que homem.
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001|gente, como eu amo escrever esses dois, sério.
002|coloquei referências aos primeiros capítulos
se ninguém pereceber, eu choro.
003| me sigam no tik tok, eu posto vários edits lá
@cadelinha_da_cohan
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