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21 de novembro de 2010

𝙃𝙖𝙣𝙣𝙖𝙝 𝙂𝙧𝙞𝙢𝙚𝙨

Estava prestes a anoitecer e o grupo decidiu parar na estrada para descansar, mas antes disso tivemos uma pequena discussão sobre o nosso destino, por fim decidimos que iremos seguir até Fort Benning e ver o que sobrou por lá.

— tia Hannah, a Soph pode dormi comigo aqui?

Me viro para trás, encontrando Giulia e Sophia de mãos dadas, me encarando com seus olhinhos pequenos e brilhantes.

— a Carol deixou?

— ela disse que tinhamos que pedir a você — Soph respondeu — prometo que não faremos bagunça.

Solto um riso nasal e acaricio sua bochechinha repleta de sardas, faço o mesmo com Gigi.

— tudo bem, mas nada de ficarem acordadas até tarde lendo gibis.

Elas sorriram e fizeram uma dancinha comemorativa enquanto repetiam "yes" diversas vezes, me arrancando uma risada baixa, as duas logo correram em direção a Carl para brincarem com o gatinho que ele tinha nos braços.

— titia Hannah, sempre fazendo sucesso — a voz de Lori me faz virar, a vendo fechando a porta de seu carro

Termino de fechar o vidro de trás e fecho a porta, dando de cara com a minha cunhada.

— o que posso fazer se sou incrível? — ela dá risada — o que foi isso ai no seu braço?

Lori tinha marcas de dedos no pulso, escondeu a mão direita atrás das costas no mesmo instante, me fazendo estreitar os olhos.

— estica o braço, Lori.

— não é nada, Bel — sorriu fraco — você já comeu?

Agarro seu braço e ergo a manga de sua camisa, deixando a mostra o roxo em seu pulso. O analiso com cuidado, pressionando ele devagar, a fazendo resmungar.

— quem fez isso? — pergunto séria, ela suspira

— fui eu, eu fiz isso.

Conheço Lori a anos, vivi com ela por anos, a conheço tão bem quanto ela me conhece. Ela me ensinou a mentir, e eu minto do mesmo jeitinho que ela, não tem como me enganar.

— Rick fez isso? — estreito o olhar, uma pontinha de desconfiança de quem realmente tinha feito aquilo nascia em mim.

— o quê? Claro que não — puxou o braço — seu irmão jamais me machucaria.

— então foi o Shane? — ela juntou as sobrancelhas, confirmando minha suspeita — não vamos fingir que não há nada entre vocês, ok? Não minta para mim, Lori. Foi o Shane?

— ele estava bêbado, fora de si — suspirou — não temos nada desde que o Rick voltou, Bel. Eu juro.

Shane e Lori é algo que venho me questionando a algum tempo. Eu notava suas sumidas repentinas, quando ele adentrava a mata e ela ia logo atrás, reaparecendo com o humor renovado. Notei como Shane ficou estranho depois que Rick voltou, como ele se afastou da Lori e aos poucos do Carl.

— sei que não, e não julgo você por ter transado com ele algumas vezes, eu também já fiz isso — ela arregala os olhos — o que os hormônios não fazem, não é?

— eu estava ficando maluca, o mundo acabou, meu marido foi dado como morto, meu filho chorava todos os dias, mortos caminhando sobre a terra — suspirou — era muita coisa pesando em cima de mim.

— Lori, tá tudo bem — segurei suas mãos — não estou te questionando sobre nada, e não é a mim que você deve explicações. — olho Rick de relance, está com o filho junto a Glenn e Daryl — ele merece saber, por você.

Lori mudou sua feição, demonstrando o quanto tinha medo de fazer aquilo.

— e se ele não me perdoar? Eu trai ele, Hannah.

— não traiu. Você pensava que ele estava morto, Shane pensou que ele estava morto, eu pensei que ele estava morto. Foi doloroso para todos, e cada um lidou com isso de uma maneira diferente, mas no fim foi da mesma maneira, transando. Eu transei com o meu ex namorado, Lara transou com o Merle e você... — levantei as sobrancelha e inclinei o pescoço para a direita — bem, você transou com o melhor amigo dele.

Lara se aproxima, surgindo do chão, atrás de Lori.

— o que aconteceu? — perguntou ao ver a expressão de Lori

— Lori transou com o Shane. — ela me atingiu com um tapa certeiro e doloroso no ombro

— ah, eu já sabia — abanou o ar — tudo bem, Lô. Quem nunca sentou no Shane, não é? O tesão sempre fala mais alto, super te entendo.

— como assim já sabia? E como assim quem nunca?

— é meio óbvio, para todo mundo, na verdade.

— todos sabem sobre eu e Shane?

— não, o Rick e as crianças não sabem — falou calmamente — se bem que como a irmã do Glenn é inteligente, ela deve suspeitar.

— o Carl sabe? — perguntou em desespero

— com certeza não — a respondi — é sério, Lori. Se o Carl soubesse ele teria vindo falar comigo, e se a Gigi soubesse ela teria contado ao irmão. Lara, quer parar de piorar a situação?

— estou tentando ajudar — bufou — tudo bem. Olha, eles não sabem, mas com certeza devem suspeitar. Deveria contar ao Rick enquanto há tempo.

— ele vai me odiar.

— no inicio sim, mas vai superar.

— tudo passa, e nem foi um chifre — ela diz — você só precisa ser sincera com ele, ele vai te entender. 

— e se ele não me entender?

— terá de entender ele. É complicado para os dois, Lori. Eu conheço o meu irmão, sei como ele sempre procura entender o lado oposto, mas também sei o quão cabeça dura ele pode ser. — Lara diz — Rick é um anjo, mas quando ele vira demônio, nada o faz voltar atrás.

Pouso minha mão em seu ombro e o aperto levemente.

— não demora a contar, tá bem? Quanto antes, melhor.

(...)

O jantar foi "servido" e todos comeram em um silêncio confortável, depois cada um foi para seus carros. Dale ofereceu o trailer para Lara e Camilla dormirem, ela aceitou pois sabe que a filha é enjoada com muitas coisas.

No banco de trás do meu carro tem duas crianças de doze anos com lanterninhas de leitura enquanto liam um livro que Dale as indicou. Gigi sempre teve um hábito de leitura, eu a estimulei a ler livros desde os nove, quando a conheci. Sophia acabou pegando o hábito da amiguinha, já que é uma das únicas maneiras de passar o tempo até que o sono chegasse.

Daryl está de vigia em cima do trailer, sozinho. Sinto uma imensa vontade de ir até ele e conversar por horas, mas não sei se devo. Toda vez que me aproximo dele, é como se todo o meu corpo vibrasse, como se ele despertasse em mim uma grande confusão, me fazendo duvidar das minhas certezas.

— eu vou dar uma volta — digo para as meninas, abrindo a porta do carro

— vai ver o Daryl, tia Hannah? — Gigi pergunta — ele está de vigia hoje

— eu sei, amor. Continue lendo o seu livro, e não deixe que o Bart fuja.

As vezes me pergunto se Gigi realmente é uma criança, essa garota é muito espertinha. Bato a porta do carro devagar para não acordar ninguém e ando até o trailer, subindo a escadinha pequena que dá acesso a parte superior do trailer.

— qual a desculpa que você vai usar dessa vez? — perguntou, está olhando para o lado oposto

— nenhuma, só acho você super irresistível — ele me olha, tem um sorriso maroto nos lábios — sem sono.

— pode trocar de turno comigo, você fica de vigia e eu durmo — rolo os olhos — senta ai, loirinha.

Ele indica a cadeira de praia vazia ao seu lado, me sento nela, admirando o lindo céu estrelado que fazia naquela noite.

— o que te tira o sono?

— estamos vivendo em um cenário apocalíptico, isso me tira o sono. — suspiro — tenho medo do que pode acontecer amanhã, tenho medo de perder mais alguém.

— tem medo de perder os seus filhotes — ele completa — é pra isso que estou aqui em cima, Hannah — me olhou nos olhos — para manter vocês seguros.

— e quem mantém você seguro, Dixon?

— sei me defender.

— sei que sabe — dou de ombros — eu também sei

— vi você em ação no acampamento. Quando ouvimos os disparos, a primeira pessoa em quem pensei foi em você — deu um riso nasal — mas quando chegamos, lá estava você, disparando bala em qualquer coisa que se aproximasse da irmã do chinês

— eles são coreanos

— é, com certeza são.

Ficamos em silêncio por algum tempo, apenas ouvindo o cantar dos bichos noturnos enquanto eu focava meu olhar para o céu, tendo lembranças de quando Daryl e eu ficávamos deitados no quintal de casa durante uma noite estrelada, jogando conversa fora e bebendo cervejas compradas no bar da esquina.

— está sorrindo — me olhou, me arrancando das minhas boas memórias — por que está sorrindo?

— por nada, só tive um dejavu.

— com o que? As estrelas?

O olhei por alguns segundos, vendo seus olhos azuis fincados em mim, me causando um pequeno friozinho na barriga. Céus, como este homem ainda meche comigo.

— é, com as estrelas.

— e o dejavu me incluia? — sorrio e dou de ombros — vou considerar isso como um sim.

— você se acha demais, Dixon.

— deveria me achar de menos? Sou confiante, tem uma diferença.

— confiante é? — ele afirma com um murmúrio — no que está sendo confiante agora?

— tenho quase certeza de que o seu dejavu incluia a mim, meu quintal e as estrelas — dá de ombros — mas eu vou fingir que não percebi você pensando em nós, só para não te deixar constrangida.

Solto um riso baixo e curto.

— assim como eu finjo não saber que você não me superou?

— como se você tivesse superado, não é?

— superei sim, só não posso te ver — ele me encara com um sorrisinho quase inexistente — a carne é fraca.

— você nem se esforça

— e por acaso você se esforça?

— acabamos juntos no fim da noite, do que iria adiantar o meu esforço?

— não vamos acabar juntos no fim desta noite.

— é uma pena.

Conversar com Daryl me trás uma ótima sensação, ouvir sua voz, a voz verdadeira de Daryl Dixon, me trás uma imensa nostalgia e faz com que eu me sinta uma garota de dezenove anos outra vez.

— lembra de como nos conhecemos? Você parecia ser um daqueles caras mau encarados que não troca uma palavra com ninguém.

— e você era totalmente o oposto — solto uma risada nasal — espero que tenha chorado por mim mais do que chorou por aquele traste que você chamava de namorado.

Dou um riso baixo.

— não nos conhecemos naquela noite, porque se lembra tanto dela?

— foi a primeira vez que conversamos por mais de dois minutos — deu de ombros — e também foi naquele dia que viramos "amigos" 

— sou uma mulher fiel — jogo a mecha de cabelo para trás — nunca imaginei que voltariamos a conviver juntos, ainda mais no meio de um apocalipse.

— nunca imaginei que voltaria a sentir algo por você — ele murmurou, mais para si mesmo do que para mim. Talvez tenha pensado alto demais. O encaro com um sorriso sendo esboçado, vendo seu rosto se tornar avermelhado aos poucos.

— estamos revelando segredos? — ele desvia o olhar para a estrada — se guardar esse segredinho, eu talvez te conte que penso a mesma coisa.

Gosto de como Daryl me olha, gosto de como ele me trata, gosto do que ele me faz sentir, gosto do Daryl.






























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Vivendo de migalhas de Daryl e Hannah.

Um dia conto a história dos dois pra vocês, tenho certeza de que vão gostar.

Próximo capítulo é só ladeira a baixo....

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