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17 de novembro de 2010
𝙃𝙖𝙣𝙣𝙖𝙝 𝙂𝙧𝙞𝙢𝙚𝙨
Eu assistia a discussão de longe, decidi não interferir depois de ter apontado uma arma para a cabeça do cara que considero meu irmão desde que tenho treze anos. Aparentemente eles decidiram voltar até Atlanta, Rick se ofereceu para ir junto, assim como Glenn e T-dog.
Vejo o Glenn se aproximando, tem um sorriso nervoso nos lábios e uma cara de quem aprontou. Está com medo da minha reação.
— oi — ele diz baixo — pode ficar de olho na Gigi enquanto eu estiver fora?
Forço um sorriso sem mostrar os dentes e balanço a cabeça em afirmação.
— o que decidiram?
— vamos deixar o caminhão em baixo da ponte de Atlanta e pegar caminhos diferentes, pegaremos uma bolsa de armas que o Rick deixou cair ontem e passaremos no prédio em que o Merle está algemado — respira fundo — bem simples e fácil, não acha?
— acho melhor eu não expressar a minha humilde opinião.
Ele solta uma risada nasal. Glenn vê Daryl se aproximando e sussurra um "estou indo", sumindo do meu campo de vista. Ainda não sei como olhar em seu rosto, então abaixo o olhar, encarando o chão enquanto ele se escora no meu carro.
— obrigado por aquilo — diz, certamente está me encarando
Sorrio pequeno e balanço a cabeça em afirmação
— não foi nada. Espero que consiga encontrar o desmiolado.
— não culpo você, se é o que está pensando — ele toca meu queixo, o levantando levemente, fazendo com que eu o encarasse — não se torture com essa ideia.
— não estou me culpando — revido, desviando o olhar
— então olhe em meus olhos.
Que saco, por que esse homem tem de me conhecer? Suspiro pesadamente e para a minha surpresa, Daryl me puxa para seus braços. Ele passa seus braços pelo meu pescoço, deixando minha cabeça contra seu peitoral.
Curiosamente o abraço do Daryl me deixa mais tranquila, como se eu ficasse mais leve bem ali, em seus braços. Maldito seja o efeito que Daryl Dixon tem sobre mim. Ele beija o meu cabelo com tanto carinho, me fazendo fechar os olhos por alguns segundos, guardando aquilo em minha memória.
— se eu encontrar o Merle, ele provavelmente não vai querer voltar aqui. Então espero que fique bem, e viva.
Levanto o rosto, encontrando seus olhos encarando os meus. Torço o lábio levemente com a ideia de não o ver outra vez, aquilo me incomoda.
— também vou sentir saudades, Dixon.
Daryl desce o olhar de meus olhos para meus lábios, se aproximando aos poucos. Inclino a cabeça, colando nossas bocas de uma vez. Sinto um choque percorrer meu corpo, como todas as vezes que nossas bocas se encontram, como todas as vezes em que nos beijamos.
Ele segura meu rosto com delicadeza, me beijando com calma e desejo, mas sem nenhuma segunda intenção. Finalizo o beijo com um selinho demorado, encostando nossas testas, permanecendo de olhos fechados.
— foi assim que se sentiu quando foi embora? — ele sussurra — um aperto no peito, como se aquilo fosse errado, mesmo sendo o certo a se fazer?
— é difícil, né? — sorrio sem ânimo — vai melhorar com o tempo, prometo.
Ele encosta nossos lábios outra vez, me dando um selinho demorado e um beijo na testa.
(...)
A noite caiu tão rápido que eu nem tive tempo para pensar sobre o que aconteceu. Estou com a Amy, sentadas ao redor de uma mesinha pequena enquanto as crianças brincavam em nossa frente e as mães deles ajudavam com o jantar.
— vamos lá crianças, todos para a rodinha na fogueira, o jantar está pronto — Lori chamou
Os meninos se levantaram e foram correndo até a mulher, deixando Amy e eu para trás.
— essas crianças realmente não escutam nunca, não é? — a loira mais nova murmura, me fazendo dar risada
— eles tiveram a quem puxar — dou de ombros
— a você, é claro. — me empurra com o quadrio — eles são iguais a você.
Solto uma risada baixa e nego com a cabeça. Todas as pessoas que já conviveram comigo e com o Carl falam que ele é uma mini cópia minha, e o Glenn diz que a Gigi é uma mini Hannah em treinamento.
— você acha?
— herdaram sua personalidade. Eu tenho pena dos pais deles e do Glenn, essas crianças vão ficar traquinas demais quando virarem adolescentes.
— parece que eu vou pagar cada cabelo branco e rugas que causei ao meu irmão.
Amy solta uma gargalhada gostosa, me contagiando. Nos aproximamos da fogueira aos poucos, ela se senta ao lado da irmã e eu me sento ao lado de Lori e Giulia. Passo rapidamente os olhos pela rodinha, não encontro a Lara, apenas Camilla sentada no colo da tia.
— Lara não vem jantar? — sussurro para Lori
— ela disse que estava sem fome, depois comia uma barra de proteína. Ficou no seu carro, disse que lá era mais silencioso.
Lara está preocupada com o Merle. Eles não rotularam o que tinham, mas aposto que ela criou afeto por ele e está pagando por isso neste momento. Não conversar com alguém sobre seus problemas só te causam mais problemas.
Levantei e servi comida para Gigi em um prato de plástico e depois coloquei para mim em uma vasilha transparente, voltei para onde estava sentada.
Normalmente, quando eu estou preocupada com algo, eu costumo descontar na comida, mas desde que o apocalipse começou que eu não sei o que é comer direito. Lara me disse que é apenas o apocalipse dando sinal de vida. Então se eu mal toco na comida em dias normais, por que seria diferente se eu estivesse nervosa e preocupada?
As pessoas na rodinha estavam animadas, falavam sobre suas vidas e contavam histórias que aconteceram com eles. Amy contava sobre sua faculdade.
— eu fazia direito em uma faculdade aqui em Atlanta, morava em um dormitório lá mesmo. Estava quase concluindo o último semestre quando os franceses resolveram que era uma boa ideia reviver os mortos.
Amy já me contou quase toda a sua história de vida. A faculdade em que ela cursava direito era a algumas quadras da clínica onde eu estagiava, assim como o café onde ela trabalhava meio período como garçonete era perto do prédio em que eu e Glenn morávamos. A gente poderia ter se encontrando antes, seja em uma ida ao doutor Gilbert, ou em uma visita ao segundo melhor café da cidade. Mas o universo quis que virassemos amigas em pleno apocalipse.
— por apenas um ano você e a Hannah não conseguiram se formar nas profissões que almejavam — Dale diz — Franceses cretinos.
A risada em conjunto é escutada. Amo como Dale consegue nos fazer dar boas risadas sem muitos esforços, ele com certeza é o melhor nisso.
Amy se levanta discretamente, mas a irmã segura em seu braço, a inpedindo de continuar.
— onde você vai?
— fazer xixi — diz envergonhada — credo, estou tentando ser discreta.
A risada outra vez é escutada. Remexo o macarrão em meu prato enquanto ouço outra história ser questionada. Dale começa a contar sobre seu relógio e o porquê del dar corda nele todos os dias.
— ai, acabou o papel higiênico?
Me viro para trás, vendo Amy na porta do trailer nos encarando, esperando por uma resposta. Ao lado dela vinha um zumbi, pronto para agarrar seu braço.
— Amy, cuidado. — é tudo o que consegui dizer antes dele a abocanhar
O grito angustiante da Amy foi ouvido por todo o acampamento. Zumbis apareciam por todas as partes e os gritos das pessoas se misturavam aos grunidos dos zumbis.
Puxei a minha arma, atirando no zumbi que mordia a loira. Agarrei a mão da Rhee mais nova, a garota estava suando frio e gritava com medo, assim como Carl, Sophia e Camilla.
— para o trailer, agora — escutei alguém gritar
Eu não reconheci a voz, apenas continei a atirar, meu disparo se tornando apenas mais um em meio a tantos. O caminho até o trailer estava bloqueado, haviam muitos zumbis pelo caminho.
Vi um tiro raspar em mim, acertando um zumbi que perseguia Lori, que estava com meus dois sobrinhos. Era a Lara. Ela correu em nossa direção, matando qualquer podre que bloqueasse o seu caminho.
Os gritos angustiantes ecoavam pelo meu ouvido, me confundindo por alguns segundos. Atirei em um zumbi que se aproximava de nós, até uma flecha acertar um zumbi que se aproximou demais de mim e da garotinha.
Não tive tempo para me certificar, outro zumbi se aproximou e foi outro disparo em sua cabeça. Os disparos se misturavam, tornando o barulho muito alto, doendo meus tímpanos e minha cabeça.
Os grunidos cessaram, os gritos acalmaram e ninguém mais disparou nenhuma arma, os zumbis foram mortos, todos eles. Minha respiração estava ofegante e o coração disparado, foi quando meus olhos encontraram Amy jogada no chão, coberta de sangue em seu pescoço.
— droga.
Um aperto em meu peito, um doloroso aperto. Glenn colocou a mão em meu ombro, me fazendo pular de susto.
— leva as crianças para o carro, ta bom?
Não notei, mas ainda segurava firmemente a mão de Giulia. Me aproximei de Lara, Carol e minha cunhada que não estavam tão longe com as três crianças.
— venham meninos, a tia Hannah vai levar vocês para deitar.
Peguei Camilla em meus braços, ela se encolheu em meu ombro, ficando quietinha. As três crianças foram na frente, olhando sempre para frente e nunca para os lados, como eu mandei.
Coloquei Carl e Giulia nos bancos da frente e Sophia e Camilla no banco traseiro, uma em cada canto. Os deixei confortáveis e cobri as janelas e o vidro da frente, impedindo que eles vejam o que acontece lá fora.
— não saiam até que eu ou a mãe de vocês autorizem, ok? — eles afirmaram — Carl, fique de olho na sua prima, e meninas fiquem de olho no Carl.
Deixei as crianças para trás e fui em direção o caos. Corpos para todos os lados, tanto de zumbis como de pessoas do acampamento. E a dor atacou novamente assim que eu vi Amy jogada no chão outra vez.
Não éramos melhores amigas, mas ela era minha amiga. Me dava opiniões idiotas e sempre que podia zoava com a minha cara. Amy era uma boa pessoa e agora está morta. Amy morreu.
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