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23 de outubro de 2010
Rodovia entre Atlanta e K.C
𝙃𝙖𝙣𝙣𝙖𝙝 𝙄𝙨𝙖𝙗𝙚𝙡
É difícil manter a calma em momentos como este. Estamos parados na rodovia há mais de três horas, pelo o que falaram houve um tremendo acidente há alguns quilômetros e bloqueou a passagem, criando um grande engarrafamento. E quando eu digo grande, é grande mesmo. Do tipo enorme, como nos filmes de apocalipse no qual estão tentando evacuar a cidade.
Laura está lá fora com Shane e Lori, fiquei no carro com meus sobrinhos. Carl correu para meu carro assim que percebemos que estávamos presos na estrada. Camila está dormindo na cadeirinha e ele está sentado ao meu lado no passageiro.
— A minha mãe não quer me contar o que está acontecendo e porque tivemos que sair de casa – Ele murmurou, parecendo chateado — O que aconteceu e porque estamos aqui?
Suspirei pesadamente, é difícil lidar com crianças medidas a espertinhas, elas sempre sabem mais do que gostaríamos que soubessem e isto sempre é um problema para nós, adultos.
— Se quer saber, a sua mãe também não me contou muita coisa. – Resmunguei levando meu olhar para ele — Estamos passando por um momento difícil, Carl. Já ouviu dizer que desgraças andam em grupo? – Ele afirma — Na verdade é meio preocupante que você já tenha ouvido isso.
— Papai disse que desgraça é uma palavra muito feia — Fez careta, me fazendo rir baixo — Nós não deveríamos dizer ela.
— feio é o Shane – Brinquei e ele riu, ainda estou em forma. — Mas você tem razão, não devemos dizê-la.
É a primeira vez que vejo Carl sorrir desde que tudo aconteceu. Sinto meu coração quentinho em perceber que consegui.
— Do que estão rindo? – Shane pergunta, está parado na porta do meu carro, ao lado de Carl.
— De seu narigão, é claro. – falo, Carl se explode em gargalhadas — É por isso que estavámos com dificuldade para respirar, Carl, Shane estava se aproximando e nem percebemos o ar se tornando escasso.
Shane entende que a minha intenção é distrair o garoto e entra no jogo.
— bobagens, eu sou tão lindo quanto um príncipe — ele diz, passa a mão pelo cabelo
— só se for o encantado de Shrek — digo, ele leva a mão ao peito fingindo ofensa
— e você se parece muito com a fiona, tem até a pele verde, deve ser porque não toma banho — ele rebate, Carl se diverte
Ficamos ali por mais alguns minutos. Carl ria e eu estava bem em poder dar um momento de paz a ele. Shane me pede para ir lá fora e depois se afasta.
— fica de olho na sua prima e não desce do carro, ta bem? — ele afirma — eu não vou demorar.
Desço do carro e proucuro Shane com os olhos, logo avisto ele, está parado em um roda com mais de dez pessoas, perto de um trailer branco. Me aproximo ao poucos, já podia ouvir suas conversas.
— é seguro e alto, um ótimo lugar para acamparmos — um dos homens dizia — tem um lago mais para baixo, a água é potável.
Paro ao lado da minha irmã, ela me olha de relance e volta a prestar atenção na conversa.Sinto alguém me encarando e resolvo passar meu olhar por cada um ali, mas logo me arrependo. Encontro os olhos de Daryl sobre mim, me encarava sem descrição alguma, mas desviou o olhar assim que eu percebi.
— a gente sobe daqui quinze minutos, galera. Vamos lá — Shane diz.
As pessoas se espalham outra vez, cada um indo para um lado. Shane e Lori se juntam a mim e Lara. Antes que alguém possa dizer algo, a cidade em nossa frente é explodida, fazendo meu corpo inteiro arrepiar.
O peito aperta e a sensação de perda me toma outra vez. Meu pensamento vai nos irmãos Rhee. Imploro para Deus, se ele ainda se importa, que proteja os dois para mim.
Vejo um carro prata vindo pela lateral, fora da pista. O coração acelera ao reconhecer o veículo, é o carro do Glenn. Ele para e logo a porta é aberta, Giulia corre até mim e pula em meus braços.
— tia Hannah — ela grita, toda alegre e aliviada. Os braços em volta do meu pescoço — a gente te achou.
Glenn desce do carro com o meu gato nos braços, me fazendo sorrir. Ele se aproxima com um sorriso de orelha a orelha e me abraça.
— o que aconteceu em Atlanta e como conseguiu sair?
Ele sorri arteiro, como se tivesse aprontado algumas antes de nos encontrarmos.
— atalhos.
Sorrio. Glenn sempre foi ótimo com atalhos, ele sempre sabe um segundo caminho para chegar em algum lugar. Agradeço mentalmente por eles estarem ali e coloco Giulia no chão.
— vem, quero apresentar vocês para a minha família — digo puxando eles.
Lori, Shane e Lara estão ao lado do meu carro. Eles observam eu me aproximar com os Rhee e Shane arruma a postura. Paramos em frente a eles e Gigi já estava tímida e encolhida atrás de mim.
— gente, esses são Glenn e Giulia — digo, um sorriso nos lábios — eles estão comigo desde que me mudei para Atlanta.
Glenn dá um sorriso tímido e acena.
— é um prazer conhecer vocês — ele diz — Hannah sempre falou muito sobre a família.
— meninos, esse é o Shane, Lori e Lara. Lá dentro estão meus sobrinhos, Carl e Camilla. — digo, apontando para cada um deles.
Eles cumprimentam aos dois e logo resolvemos tudo. Glenn irá com a gente para seja lá onde vamos acampar. Todos já estão em seus carros e Carl implora para ir comigo e a tia Lara, é claro que ela deixa. Adentro o carro com meu gatinho nos braços e coloco ele no colo de Carl.
— esse é o Bart — falo, o gatinho mia — o meu bebê peludo.
Carl sorri e faz carinho na cabeça do gatinho, aue se aconchega ainda mais no colo do menino.
— eu sempre quis ter um gato — ele comenta — mamãe me disse que eu não ia saber cuidar de um
— bart é nosso agora — olho ele pelo retrovisor interno — é melhor você aprender.
Ele sorri animado e dou partida com o carro. O silêncio entre mim e Lara é gritante. Posso ver a dor em seu olhar, assim como consigo notar seu braço levemente avermelhado, algumas marcas de unhas no pulso e mãos. Ela parece perceber e esconde os braços na manga longa da camisa.
Lara é assim, ela guarda suas dores e sofre silenciosamente, descontando tudo no próprio corpo. Não posso julgá-la, afinal eu não sou tão diferente. Também escondo meus sentimentos, quase não desmorono na frente de alguém. Mas Lara é diferente, ela oprime tudo, fingindo não sentir nada, mas na verdade aquilo está a matando por dentro, corroendo cada pedaço dela de dentro para fora.
Seguimos um comboio de carros. Glenn está no carro da frente, Shane e Lori no carro em frente a eles, depois vem mais dois carros e na frente está o trailer, atrás de nós tem uma caminhonete e uma moto.
— aquele na caminhonete não é o seu ex, Hannah? — Lara pergunta ao olhar para trás.
Dou uma olhada pelo retrovisor interno, avistando Daryl dirigindo a caminhonete atrás de nós. Suspiro pesadamente e concordo.
— em carne, osso e gostosura — falo para apenas ela escutar. Lara me olha com um sorriso atrevido nos lábios
— o que aconteceu com o "estou vivendo minha vida e deixando o passado para trás"? — pergunta, fazendo uma imitação barata da minha voz, me fazendo rir
— primeiro, eu não falo assim. Segundo, o passado está literalmente bem atrás de mim e me seguindo.
Ela dá risada.
— não duvido que role uma recaída entre vocês — ela diz, o olhar sugestivo e as sobrancelhas se movimentado, me arrancando uma gargalhada.
— não rolará, pode ter certeza.
Ela só diz um "sei" e voltamos ao silêncio. Ao adentrar mais a estrada de barro, reconheço o local. A pedreira é um ponto turístico pouco visitado, quase ninguém se atreve a ir tão longe por uma boa vista do pôr do sol, um lago enorme e um bom local para acampar, mas a família Grimes se atreveu. Conheci este lugar quando eu tinha dez anos, foi quando Rick nos apresentou a Lori.
Começamos a subir a estrada, optamos ficar no ponto mais alto da pedreira, para não correr riscos de ser atacados ou surpreendidos por aquelas coisas esquisitas. Os carros começam a estacionar na beirada, um atrás do outro. Estacionamos em ordem.
— não quero vocês de bobeira por ai, estão ouvindo? — ela perguntou, falava com Carl e a bebê. Eles assentem com a cabeça. — não estamos em passeio, não conhecemos essas pessoas.
Agora ela olha diretamente para o Carl. Carl é um garotinho incrível e muito ingênuo, ele confia em qualquer pessoa e faz amizades muito rápido. Mas não se engane, sei que no fundo ele é igual a nós, sempre mantendo um pé atrás com tudo e todos.
— tudo bem, tia Lara. Eu prometo que não vou desobedecer vocês e nem a mamãe. — ele diz, já impaciente.
Lara libera o garoto e ele corre com o Bart de encontro a mãe. Cams está no colo da mãe e eu ainda estou no carro. Vejo Glenn se aproximar junto a Giulia.
Desço do carro e Gigi corre para perto. As vezes, quase sempre, eu penso que ela gosta mais de mim do que do próprio irmão.
— não trouxe barraca? — ele pergunta, está com uma bolsa de plástico nas mãos.
— nunca comprei uma barraca — digo fazendo uma careta — não achei que iria precisar.
— agora dorme no carro — ele diz, todo debochado. — garanto que será bem confortável.
— posso sobreviver dentro do meu carro por um tempo. Lá dentro tem lençóis, comida, água e é quentinho. Enquanto isso você vai ficar no relento, passando frio e levando picadas de mosquitos — ele faz careta
— quando o dia amanhecer e você estiver derretendo dentro desse carro, não me venha pedindo para te acompanhar até o lago, loira oxigenada.
Acabo rindo. Até que sinto outra vez um olhar sobre mim, e outra vez era o gostoso do Daryl Dixon. O sorriso vai sumindo aos poucos, Carl logo se aproxima com todo seu entusiasmo.
— oi, eu sou o Carl — ele diz para Giulia, nem se quer olhou para mim ou Glenn.
— oi Carl, sou a Giulia, mas o meu irmão e a tia Hannah me chamam de Gigi — ela responde, está tímida. Carl sorri para ela.
— você quer brincar?
Giulia olha para Glenn em busca de afirmação, e Glenn olha para mim, na mesma intenção. Dou um leve aceno com a cabeça e ele balança os ombros.
— só não vá muito longe
A garota sorri animada e eles saem correndo enquanto dão altas risadas. Glenn muda a face assim que eles se afastam e se aproxima mais de mim.
— o que aconteceu? — pergunta, o olho com a testa franzida e ele levanta uma sobrancelha — te conheço, Hannah. Está incomodada com alguma coisa e não quer me contar.
Sempre foi muito difícil esconder segredos do Glenn. Primeiro porque ele é um tremendo fofoqueiro, e segundo porque ele me conhece bem demais.
Indico levemente com a cabeça na direção dos Dixon. Estão montando uma barraca, mais afastado dos outros, porém, perto do meu carro.
— é o Daryl — digo, ele ainda não entendeu — meu ex namorado.
Ele se espanta e olha novamente. Daryl já notou meu olhar sobre ele e parece incomodado.
— o que você teve que terminar por causa da mudança de cidade? — afirmo. — quais eram as chances de isso acontecer? Zero?
— mas aconteceu — balanço os ombros — vem, eu te ajudo com a barraca.
Não me preocupo em dividir o mesmo ambiente com o Daryl, eu sei que ele não vai dirigir a palavra a mim, nem irá se aproximar. Daryl e eu não será um problema. Em hipótese alguma. É só a vida nos pregando uma peça, apenas isso.
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