Hannah Isabel Grimes

Sinto uma sensação estranha, como se o meu coração fosse saltar para fora do peito há qualquer momento. Seus olhos encaram meu rosto, está tão surpreso quanto eu. É, eu definitivamente deixei os sentimentos em King County. Acabei de encontrar um deles.

— desculpe – pedi outra vez, ele segue parado na minha frente, segura uma garrafa de vodka na mão esquerda.

Ele apenas balança a cabeça em sinal de afirmação, pegando seu carrinho e andando em direção o próximo corredor.

— tia, a gente pode levar salgadinhos? — aponta para a prateleira, cheia de pacotes de salgados.

Ainda encaro o fim do corredor, apenas afirmo para meu sobrinho e ele comemora com um "yes" e uma dancinha engraçada.

— pega batatinhas também — eu falo, o garoto pega tudo com muita alegria.

Colocamos tudo na cesta e andamos em direção ao caixa, só tinha duas pessoas a nossa frente.

— quando a gente chegar em casa, você sobe e esconde os pacotes no meu quarto, assim seus pais não brigam com a gente. — falo ao nos aproximar do caixa

Senhora Davis parece ouvir minha voz, ela me olha com um sorriso alegre e os olhinhos brilhando.

— Hannah, querida — fala, passando as compras da moça que está à nossa frente — ô meu Deus, como você cresceu.

Sorrio para ela.

— olá, senhora Davis. Como vai a senhora?

— muito bem, obrigada — passa o troco a mulher, liberando o caixa para nós — está de volta à cidade?

— vim visitar a família — coloco as compras no balcão, para que ela passe — volto para Atlanta amanhã a tarde.

— Rick ainda não conseguiu te trazer de volta? Ele me disse que não tinha desistido. – solto um riso anasalado. Ele nunca desistiria.

— não acho que ele consiga. Muitas coisas me prendem à capital.

Ela sorri maliciosa.

— um namoradinho, talvez? — especula, ouço alguém se engasgar atrás de mim. Olho para trás, avistando Daryl, está olhando para o lado oposto, esperando sua vez.

— a faculdade — respondo, um sorriso gentil nos lábios — o trabalho, a Pizza...

— temos boas Pizzas em King County — Carl responde, me arrancando uma risada baixa.

— enquanto a faculdade e o trabalho?

— pode abandonar tudo e viver vendendo suas pinturas legais e extremamente feias. Você com certeza morreria de fome, mas eu prometo que dividiria as minhas barras de proteínas com você.

As vezes a sinceridade das crianças me choca.

— você ainda faz quadros, Hannah? — a senhora pergunta

Quando criança, eu gostava muito de pintar, muito mesmo. Meus pais me colocaram para fazer aulas e isso virou um hobbie, mas deixou de ser há algum tempo. Anos, na verdade.

— parei — digo, um sorriso sem mostrar os dentes em meus lábios — não tem sobrado tempo, e quando sobra, eu o uso para visitar a família.

— não te vejo muito por aqui — ela comenta.

Me pegou. Eu definitivamente não uso o tempo livre para visistar a família.

— costumo vir nas férias, fins de ano e nos aniversários dos meus sobrinhos. – respondo em seguida. A verdade desta vez.

— Carl e Camilla fazem aniversário no início do ano, e estamos longe das férias e fim de ano. O que te trás a cidade?

— Rick foi promovido — conto, toda animada — ele me ligou na terça, pediu para que eu viesse ao churrasco em comemoração.

— e você não pôde negar, não é?

Senhora Davis sabe o quanto a família é importante para mim e o quanto sou ligada aos meus irmãos. Devo muito de minha vida à Lara e Rick, e se hoje sou alguém, é exclusivamente graças à eles e Lori por terem me criado tão bem e ensinado os valores da vida.

— se eles me chamam, eu venho correndo — digo, um sorriso minimalista nos lábios

A senhora termina de passar minhas compras e um garoto que trabalha com ela empacota tudo. Pago a mulher e apoio as compras em meu braço direito, segurando a mão da minha criança com a mão livre.

— foi muito bom ver a senhora, até outro dia.

— tenha um bom dia, querida.

Olho uma última vez para a fila do supermercado, onde Daryl ainda estava. Ele abaixa a cabeça assim que percebe meu olhar sobre ele, feito um bicho do mato. Por algum motivo, eu sorri antes de sair dali.

(...)

Como combinado, Carl escondeu os salgadinhos no meu quarto. Eu e ele somos bons em esconder coisas dos pais dele.

As pessoas convidadas estão todas lá em baixo, ainda não desci desde a hora que voltamos do mercado, há duas horas atrás. Em meu pensamento só se vem uma pessoa, Daryl Dixon.

Alguém bate na porta, me assustando e fazendo com que eu pule da cama. Pego o celular, para fingir estar finalizando uma ligação. Rick adentra o quarto, segura duas garrafas de cervejas, uma em cada mão.

— te ligo mais tarde.

Jogo o celular na cama e me levanto, indo até ele.

— Lara chegou, ela quer muito ver você

Lara, minha irmã do meio. É um amor, tão doce quanto açúcar. Foi e continua sendo a minha melhor amiga. Não nos encontramos desde as festas de fim de ano.

Sorrio, ele me entrega uma das garrafas

— e onde ela está agora?

Abro a porta, encontrando minha irmã no início do corredor, ela subia as escadas com a filha de quatro anos ao lado. Abre um largo sorriso ao me ver, o doce e alegre sorriso que me motiva a continuar.

— Bebê — ela diz, abrindo os braços.

Ando até ela, seus braços passam por minha cintura e me apertam tão forte. Lara tem um dos melhores abraços do mundo, é o meu lar em pessoa. Ela me balança de um lado ao outro e enche meu rosto de beijos.

— também senti saudades, Larita — falo com dificuldade, já que ela me aperta tanto

Ouço a risada de Rick, Lara finalmente me solta e beija o topo de minha cabeça. Meu irmão já está com Cami nos braços, ela tem seu tio favorito, infelizmente eu não ganhei essa.

— deixe o seu tio chato e vem com a titia incrivelmente legal e divertida, Cami. — ergo os braços e a garota se joga em minha direção, grudando em meu pescoço, me dando um abraço gostoso.

— lembra da tia Hannah, querida? — Lara pergunta, a garotinha afirma enquanto me abraça — é claro que sim, o Carl não a deixa esquecer.

Tenho que dizer, meus sobrinhos são a coisa mais perfeita que o universo já me deu. Sem eles, eu seria louca sem motivo, mas já que tenho duas crianças sapecas, posso ser maluca o quanto quiser e colocar a culpa nos meninos.

— tia Hannah trouxe presente — falo, a garotinha ergue a cabeça, toda animada

— eu gosto de presentes

Rimos por sua fala engraçada.

— onde está o Carl? Ele não me proucura há meia hora.

Carl é meu grude, aproveita o máximo quando estou por aqui. Se os pais bobearem, ele foge do quarto e dorme comigo. Ele fala que sente saudades, então proucura ficar perto enquanto estou na cidade. Gosto disso, não vou negar. Eu amo ser a preferida dele.

— na piscina, entrou agora pouco.

Adentramos o quarto, um atrás do outro. Coloco Camilla sentada na ponta da cama e alcanço minha mala, a abrindo e tirando uma caixa embrulhada em um papel de presente rosa com alguns corações. Também comprei um para o Carl, mas vou entregar a ele depois. A garotinha fica muito animada e agitada.

— olha mamãe, tia Hannah me deu presente — ela mostra, o sorriso de orelha a orelha

— abre pra gente ver, Cami.

Camilla segue o conselho do tio e destrói o embrulho, revelando uma caixa de boneca. A boneca é de pano, tem os cabelos loiros e a "pele" branca, comprei a que mais se parecia com ela.

— ela é linda, titia — diz, a boca entreaberta, esboçava um sorriso

Ela pede ajuda ao tio para tirar a boneca da caixa e ele a ajuda com prazer. Camilla pega a boneca e a mostra toda animada, o sorriso tão lindo.

— olha, tio Rich — ergue a boneca em direção o tio — ela tem a mesma cor de cabelo que o meu

— o seu continua sendo mais bonito — ele diz, arrancando um riso da garota

— obrigada, tia Hannah — ela diz, pula na cama e abraça minha cintura, fazendo meu coração se aquecer — eu amei o presente.

— de nada, amor. Titia que agradece.

Depois do ataque de fofura, desçemos todos juntos. Cami está em meu braço, seguro minha cerveja com a mão livre. Logo alcançamos o quintal, apenas as vozes das pessoas conversando e uma música baixa de fundo. Ouço a comemoração de Shane, Teddy, Peter e Clara, eles gritam em coro um enorme "aeeee" quando me veem passando pela porta.

— a estrela chegou, amigos — falo, entregando a garotinha nos braços de Lori, que a pega com carinho.

Me curvo, fazendo eles rirem, a animação chegou legal por aqui.

— palmas aos irmãos Grimes, que conseguiram tirar a Hannah do quarto — Shane diz, um compilado de palmas é ouvido em seguida.

— palmas para a senhorita Lilica — a garotinha fala, erguendo sua nova bonequinha ao alto, para que todos vejam

Aplaudimos a lilica e Camilla ficou muito animada, ela desce do colo da tia e corre pelo quintal, mas passa longe da piscina.

— hey, Hanninhah — clara chama, me viro em sua direção, a encontrando ao lado de Shane na churrasqueira — Shane acabou de iniciar um desafio.

Me interesso, gosto dos desafios malucos do Shane.

— e qual é? — pergunto, a cabeça inclinando para a esquerda

Ela sorri traquina, como se estivesse prestes a participar de uma travessura.

— te jogar na piscina — pisca

Sinto dois braços rodearem minhas pernas e me jogando em suas costas, era Teddy. Me debato, esmurrando as costas do homem, protestando contra seu ato "cruel", enquanto eu ria descontroladamente.

— Teddy, não. Eu estou sem roupa de banho — protesto, mas só ouço sua risada

— espera, Teddy — Lori manda

O homem para, ela corre até nós e puxa meu vestido para cima, revelando meu biquíni branco por baixo. Joga o vestido sobre o banco e manda ele continuar.

— eu pensei que fosse me ajudar — grito em protesto enquanto ela dava boas risadas. — sua traidora!

Teddy corre até a piscina e me joga. Cai com tudo, respingando água por todo o gramado. Quando voltei a superfície, Carl e todos davam risadas.

— vai ter que correr — aviso, nadando para a escadaria

Ele fecha o sorriso e dá passos para trás. Algo que puxamos dos nossos pais, somos super vingativos.

Corro descalça pela grama, tentando alcançar Teddy. Ele é mais rápido, mas não é mais esperto. Fiz com que ele corresse perto da Piscina, mas longe de onde Carl estava, quando ele passou perto, eu o empurrei para dentro, mas ele acabou me puxando e caímos nós dois.

— eu avisei, Hannah é vingativa — Rick grita, também estava rindo.

Já faz um tempo que eu não tenho um momento como esse, correr atrás de uma pessoa, empurrar ela na piscina, rir com o meu sobrinho, pesentear a minha sobrinha, um momento família.

Amo Atlanta, amo Glenn e Giulia, amo a companhia deles, viraram minha família a algum tempo. Mas não é como isso, cada um tem sua diferença, apesar de que eles se dariam super bem.

Espero que um dia eu possa apresentá-los.