𝗦𝗜𝗡𝗚𝗟𝗘 𝗖𝗛𝗔𝗣𝗧𝗘𝗥

LÁGRIMAS DE SANGUE E ÓLEO  ⎯⎯   'mentirosa,  mentirosa,  mentirosa...

( 𝗜𝗦𝗔𝗚𝗜 𝗫 𝗙!𝗥 )    ☆    𝐁𝐋𝐋𝐊    ☆    𝑌𝑂𝐼𝐶𝐻𝐼

𝘀𝘆𝗻𝗼𝗽𝘀𝗶𝘀 !  o relacionamento de (nome) e isagi já não era o mesmo. à muitas questões mal resolvidas entre a mulher e sua família, especialmente quando se trata de seu noivado. entre essas questões mal resolvidas e relações quebradiças, a verdadeira face do casal se revela.

𝘁𝘄 !  personagens envelhecidos (+26). palavras de baixo calão. problemas familiares. relacionamento não saudável. desconfiança exagerada. inseguranças. discussões/brigas. problemas no relacionamento. transtornos psicológicos. cansaço físico. término. menção a transtornos. crises de ansiedade/choro. conteúdo sugestivo. surtos. um pouco de dependência emocional. angústia

𝗼𝗯𝘀 ! eu consegui pensar dez formas diferentes de fazer a (nome) surtar e escolhi a mais simples pq fiquei com dó dela 🥳 este imagine foi reescrito, antigamente ele pertencia a outro personagem, mas resolvi mudá-lo (de novo). o tempo pode estar um pouco confuso, já que a lembrança da infância não está separada do presente.

"Você não acha isso estranho?" (nome) comentou ao sair do closet, uma careta em seu rosto ao caminhar até o rapaz.

"O jantar com a sua mãe?" ela acenou que um sim "Claro. Mas, querida, talvez ela realmente tenha mudado"

Naquela hora, (nome) riu.

"Qual é, amor" Isagi suspirou e puxou o zíper do vestido que (nome) tanto odiava para cima, a fim de fechá-lo logo.

"Minha mãe te odeia e deixou isso bem óbvio desde a última vez que nos encontramos" a voz da mulher era carregada de tédio e, certamente, tentava convencê-lo a ficar em casa ao empurrá-lo para a cama, porém Isagi a segurou sutilmente com as mãos.

"Isso foi há dois anos atrás, talvez ela só queira fazer as pazes antes de nos casarmos"

"Faltam duas semanas" (nome) murmurou.

Era como se o medo desaparecesse da face da Terra toda vez que ela se lembrava disso. Porém, só de imaginar passar uma noite num jantar com aquela mulher, o estômago embrulhava e sua paz ia embora.

E seu noivo sabia disso, mas sua esperança foi algo que ele nunca perdeu desde a época que eram só amigos.

"Seremos felizes"

Isagi deixou um beijo casto sobre a testa da mulher antes de partirem até a casa dos pais.

Não era um caminho longo, na verdade, a mulher achou perto até demais. Eles foram recebidos pessoalmente por uma senhora de meia idade extremamente brilhante e por um pai desinteressado, que sequer ergueu os olhos para vê-los.

"Estão exatamente iguais"

"Pelo menos finja sorrir" Yoichi murmurou, segurando suavemente na sua cintura.

(nome) deu um sorriso torto para a mãe.

"Querida! Senti saudades suas" seu abraço sufocou (nome), o perfume era tão doce que a deixou enjoada.

Bem, ela não podia dizer que estava com saudades da mãe ou feliz ou qualquer coisa do tipo, então ficou em silêncio.

Os olhos da mulher encararam Isagi com certa intensidade, não parecia odiá-lo, mas nunca o consideraria parte da família.

"Entrem! Tenho uma surpresa para vocês"

E neste momento, a (sobrenome) soube que sua mãe havia feito algo grandioso e destrutivo, algo que deixaria uma cratera enorme no relacionamento dela e de Isagi.

Algo irreparável.

"Faz muitos anos desde a última vez que te vi, (apelido)"

Essa voz.

Ela estava virada de costas para ela, porém, podia imaginar só pela voz quem era. Isagi notou a maneira como ela segurou fortemente em seu braço e depois se virou para trás tão lentamente, como se estivesse dançando num terreno cheio de bombas — aquela casa certamente podia ser confundida com um campo de guerra.

Mas o que ele mais estranhou foi a natureza com que ele pronunciou o apelido da noiva, a maneira que ele a olhava também.

Muitas perguntas passaram pela mente de Isagi naqueles sessenta segundos em silêncio que prosseguiram. Eles se conhecem há anos?

"Sim, faz um tempinho mesmo"

Foi um sussurro, um sussurro que trazia toques de ódio e censura. O homem semicerrou de olhos azuis profundos e se voltou ao outro que estava em sua frente agora.

Era alto, traços firmes, porém joviais, provavelmente tinha a idade dele, e tinha olhos parecidos com os de (nome).

"Então, você é o Isagi Yoichi, certo?" ele sorriu, estendeu a mão para comprimentá-lo "Que legal, tenho um cunhado que joga futebol agora"

Yoichi paralisou, seus olhos se arregalaram e ele se voltou para (nome), as mãos tremendo e o olhar vagando pela silhueta do irmão mais velho.

"Cunhado?" Isagi apertou a mão do rapaz de forma fraca, ainda em choque.

"Ah, (nome) nunca te contou?" ele não estava realmente surpreso, apesar de fingir estar "Quando vocês se conheceram eu estava no exterior estudando..." seu olhar era divertido ao encarar a irmã "Que feio, (apelido)"

Sinceramente, ela não soube se ele se referia ao fato de nunca revelar a Isagi que tinha um irmão, ou se referia ao vestido que ela usava.

De qualquer forma, (nome) sentia que Isagi não estava mais lá com ela, que sua alma evaporou naquele instante.

Os olhos ardiam, lágrimas sutis se acomulavam pelos cantos.

"Bom, já tiveram as apresentações e tudo mais, vamos comer, certo?" a mãe de (nome) passou por eles, interrompendo a tensão no ar.

Eles seguiram para a sala de jantar em silêncio, andando lado a lado, porém distantes um do outro, acompanhando as costas do irmão e da mãe, que pareciam próximos.

Os olhos vagam por todo aquele exagero, as riquezas da família e os quadros espalhados pelos enormes corredores de paredes de cores monótonas denunciavam que esta era uma casa para se expor um conto de fadas

Essa era a visão do inferno.

Sua mãe sempre favoritou seu irmão por ele ser mais velho, ou melhor, por ser homem. Ele recebia os melhores presentes, comia do melhor e não era ignorado em nada. O pai até o olhava nos olhos às vezes, algo que (nome) nunca conseguiu fazer.

Seu irmão era como messias nesta família, um santo especial enviado para sempre carregar no rosto aquele sorriso estúpido que parecia jogar na cara de (nome) que ela era um erro, algo mau feito e sem amor da familia.

Ele podia nunca ter falado isso nessas palavras, mas ela sabia que era isso que ele pensava dela. Senão, por qual outro motivo Isagi nunca sequer ouviu falar dele?

De repente, a mulher soube o porquê da mãe nunca usar seu irmão como argumento quando Isagi estava por perto. Ele era a carta na manga da mais velha, era sua última jogada e a usou bem nas semanas mais delicadas da vida da filha.

E ela conseguiu estragar o vínculo dela com seu noivo num momento crucial da vida deles.

"Algum problema, querida? Você nem encostou na comida" a falsa preocupação da mãe foi o estopim do que (nome) podia suportar.

Largou o garfo e a faca sobre o prato. Sua boca se abriu e fechou várias vezes, os olhos cruzaram com os da mãe, frente a frente, e ela reuniu uma coragem desconhecida dentro de si.

Ela sibilou com todo o nojo que alguém podia ter pela mãe:

"Vai se foder"

"O que disse?"

Um sorriso petulante tremia sobre os lábios pintados de vermelho da mulher, a mão quente de Isagi pousou em seu ombro, mas nem isso era capaz de pará-la agora.

"Vá se foder, sua vaca!" (nome) gritou, erguendo-se da cadeira no mesmo instante que sua mãe "Você deve estar adorando tanto toda essa merda, vadia! "

"Olha como você fala com a sua mãe" ela a repreendeu, um tom autoritário típico dela.

Achou que isso fosse o suficiente para incapacitar a filha — não dessa vez.

"Mãe? Você não é mãe porra nenhuma. Você só quer saber de ferrar com a minha vida porque é uma velha desgraçada que está sendo jogada de lado!"

Um minuto de silêncio prosseguiu.

Isagi se levantou, segurou suavemente a noiva. Seu irmão, que até então parecia se divertir com a discussão acalorada, ficou sério. Pela primeira vez na vida, seu pai a encarou nos olhos.

"O que quer dizer com isso?" era como uma chama se apagando, a voz da mãe.

(nome) se apoiou na mesa, quase podia ouvir a maneira desregulada da respiração da mulher de meia idade.

"É exatamente isso. Pergunte para o papai" ela sibilou, um risinho quebrado deixando sua garganta.

"Vá embora daqui" foi a única coisa que o pai lhe disse.

"Não precisa pedir duas vezes" amargurada, (nome) se virou e saiu dali em passos rápidos, pegou a bolsa e seguiu correndo para o carro.

Isagi chegou alguns segundos depois, os olhos estavam opacos, a boca parecia roxa e a respiração desregulada.

A (sobrenome) não deixou de olhar para a mão do rapaz, para ver por quanto tempo aquela aliança ainda estaria no dedo dele.

Será que é a última noite?

"Vamos embora"

Foi a única coisa que ele disse, tão frio e distante que a mulher podia o comparar com o pai agora.

Seguiram pelo mesmo caminho, mas a casa parecia muito longe agora, como se o caminho não tivesse fim.

Era angustiante não saber como falar com ele, era uma sensação de estar sendo esvaziada aos poucos, até que ficasse sem vida.

"Estamos há 40 km/h, vamos mais rápido, por favor" foi a única coisa que ela conseguiu pronunciar.

Isagi desligou o carro no encostamento. Ele tirou o cinto de segurança para poder a olhar nos olhos.

"Catorze anos"

"Como?"

"Porra, (nome)!" Yoichi bateu a mão contra o volante, assustando a mulher ao lado "Estamos juntos a catorze anos e você nunca abriu a boca pra falar que tinha a merda de um irmão"

Ela ficou calada, apenas o escutando.

"Não vai falar nada?"

Ela continuou muda, olhando profundamente nos olhos, observando as pupilas dilatadas.

"Você bebeu no jantar?"

Ele riu, uma risada amargurada e cansada. A cabeça se abaixou e as mãos se apertaram.

"Não muda de assunto"

Talvez fosse coisa da cabeça dela, mas ela jurou ter ouvido um "por favor" vindo dele.

"Vamos nos casar em duas semanas, você iria me contar dele se sua mãe não o tivesse convidado para o jantar?"

Ela negou com a cabeça, sem desviar o olhar carregado de dor, uma lágrima solitária escorreu pela bochecha fria da mulher.

O Yoichi mordeu os lábios, respirando e inspirando lentamente.

Os olhos realmente não mentem. E olhando para os olhos dela, era verdade. Olhando nos olhos dele, havia um sentimento diferente. Estava deixando de amá-la.

Isagi abriu a porta do carro.

"Aonde você vai?" a voz dela soou quebradiça.

"Mas não se preocupe, "(apelido)", vou pedir um táxi" ironizou, fechando a porta do carro tão forte que (nome) pensou que ela a atravessaria e a acertaria.

"Não me chame pela porra desse apelido!" a mulher resmungou baixinho, as lágrimas molharam o vestido.

Ela estava sozinha dentro do carro, era frio e desconfortável, era uma maldita caixa sem furos para respirar.

Ela mudou de lugar para poder dirigir de volta para casa, mas ficou imóvel de frente ao volante por um tempo, pensou que acabaria se envolvendo num acidente de trânsito se dirigisse nesse estado.

Os olhos inchados observaram o enfeite no retrovisor, uma bonequinha que Isagi havia presenteado há mais de cinco anos atrás.

Sua cabeça mergulhou nas lembranças de uma hora atrás, no jantar, da mãe estupidamente satisfeita ao ver o desconforto dela, do pai que até então nunca a olhou nos olhos, do irmão sarcástico que cumprimentou ela e Isagi e a maneira como ele ficou distante dela, a evitando desde que descobriu sobre (nome do irmão).

Por que ele apareceu agora? Por que ele apareceu justamente neste momento da vida dela? Por que todas essas malditas pessoas se soltaram de uma vez só para assombrá-la?

A cabeça pressionou contra o volante nada confortável, ela chorou tudo que durante toda a sua vida reprimiu.

Sabia que sua estabilidade estava desabando diamante dos próprios olhos. Tudo que ela construiu com tanto amor e cuidado estava sumindo de pouquinho em pouquinho. Mas ela não tinha vontade de resolver os problemas, não mais.

A sensação ruim a consumiu durante tantos anos, sua mãe corrói sua alma como o cupim destrói a madeira. E agora ela conseguiu destruir de vez o relacionamento da mulher com Isagi.

Não há nada que ela deseje tanto quanto a morte agora.

( ... )

"Você chegou" (nome) balbuciou, erguendo-se do sofá ao ver Isagi surgir pela porta.

Ele a ignorou, indo até o quarto deles. A mulher o seguiu, secando as últimas lágrimas nos olhos.

"Desculpe por não falar nada sobre (nome do irmão), eu sei que vacilei muito com você, mas eu juro por tudo que é mais sagrado..." ela se auto interrompeu para poder abraçar o moreno por trás "Não vou esconder mais nada de você"

"Mentira"

"O que?"

"Você nunca me olha nos olhos quando mente, e isso acontece com muita frequência"

Ele se afastou de (sobrenome), ela não era mais a sua futura esposa, sua futura mulher, seu futuro.

"Querido... O que quer dizer com isso?"

O homem sorriu para ela, que entrava em pânico agora, toda sua cabeça fervilhando.

"Sei que você não confia em mim. Sei que você contratou a porra de um detetive pra me seguir!" sua voz era pesada e chorosa.

"Como você sabe...?"

(nome) se apressou para secar as lágrimas no rosto do homem, porém ele se afastou de novo.

"Eu…"

"Você nada" Isagi a cortou "Eu literalmente mudei tudo por você. Eu parei de sair com meus amigos, eu me afastei de todas as garotas que nós dois conhecemos desde a adolescência por sua causa. Eu tentei por tudo te ajudar com seus problemas familiares, com seus problemas mentais e suas paranóias malucas. Eu me mudei para outra cidade porque Tóquio te sufocava e esperei catorze anos para me casar com você porque você é covarde e insegura com tudo. Eu mudei de vida para que você se sentisse segura"

(nome) não pode deixar se sentir as lágrimas saírem, assim como Isagi parecia chorar, a mão tremendo ao apontar seu dedo para o rosto dela.

"Você já confiou em mim, de verdade?" as mãos de Isagi seguraram firmemente o rosto molhando de (nome), forçando seus olhos encaram os do Yoichi de volta.

Eles estavam vermelhos, transbordavam de dor e repulsa. Repulsa dela.

(nome) beijou suavemente os lábios de Isagi, talvez assim fosse mais fácil e mais rápido de lidar com a situação.

Mas não eram os lábios do noivo que ela beijava, eram os lábios de um desconhecido. Um estalo passou pela cabeça da mulher trêmula, como se a revelasse a verdade.

"Você está do lado dela…"

"Não tô do lado de ninguém, (nome)"

"Claro que está! Está, está sim!" ela se desvinculou do toque dele, as mãos bateram contra o peitoral dele.

"Você surtou de vez! Que porra de cérebro tem dentro da sua cabeça?" Yoichi a empurrou contra a parede, as mãos batendo ao lado da cabeça dela, os olhos fechados e o maxilar tremendo.

"Vá embora daqui"

"Você simplesmente não existe..." ele estalou a língua, rindo da situação ao tirar a aliança de noivado e lançá-la para longe "Boa noite, (sobrenome)"

"Aonde vai?"

"Lugar nenhum, mas se quiser contratar um detetive pra me vigiar, fique à vontade"

A porta bateu de uma vez.

E mais uma vez, ela perdeu alguém importante da sua vida, e não só um amigo dessa vez, foi a pessoa que ela mais amou na vida.

Ela mal se aguentava em pé, seu corpo lentamente escorregou até o chão, as mãos puxaram os fios de cabelo e o coração palpitava freneticamente na caixa torácica, em suas veias circulam ansiedade e na mente pensamentos conturbados.

Ela engatinhou até o quarto, ficou de frente ao espelho se encarando, segurou cada extremidade e borbulhou de sentimentos na hora que se viu.

Era uma mulher com traços físicos lindos, porém carregavam consigo uma aura de doença.

Mas nem sempre foi assim, ela já foi alguém doce e simpática, alguém que só de olhar você podia sentir sua brilhante aura amigável e convidativa. Ela era alguém disposta, e saudável fisicamente, as cicatrizes mentais ainda não eram tão enraizadas em sua pobre mente como é agora.

Ela já foi alguém brilhante.

Mas agora todo esse brilho sumiu.

"Mentirosa, mentirosa, mentirosa..."

Ela se deitou na cama fria e vazia, sentia algo frio escorrer por todo o seu rosto. Estava escorrendo, estava salgada e se espalharam ainda mais conforme ela tentava tirá-las de si. A mulher se perguntou se essas lágrimas teriam fim, mas ao pensar nisso, se deu conta que seriam infinitas, para ela, era ridículo a maneira que elas desciam, desenhando seu rosto, molhando suas linhas joviais que um dia foram tão felizes e, agora, não passavam de uma lembrança distante dentro da cabeça de (nome).

E não importava quantas vezes ela as limpasse com a fronha do travesseiro ou na roupa nada confortável que usava, eram lágrimas imparáveis. Ela chorava como se fosse a maior das suas necessidades — e era, com certeza.

Um turbilhão de informações iam e vinham em seu cérebro, a cabeça doía como nunca e ela mal conseguia ficar sentada na cama, quem dirá buscar um remédio na cozinha.

Normalmente, ela pediria para que seu noivo fizesse esse favor para ela, mas ele não estava em casa e não parecia querer voltar tão cedo.

Talvez essa dor nunca tenha fim. Ela imaginou se isso era uma punição ou alguma coisa do gênero que alguém havia enviado para ela.

A mulher questionou internamente suas lembranças das últimas três horas vividas. Duzentos e quarenta minutos foram o suficiente para estragar toda a sua vida, só isso.

Era irônico, doloroso e sarcástico a maneira que o tempo gostava de brincar com ela. Inicialmente, ele parecia um bom amigo, mas as coisas se estreitaram entre eles e agora (nome) mal podia ouvir outra coisa a não ser seus engasgos durante aquela crise de choro absurda.

Ela estava acostumada com isso desde muito nova, mas fazia três meses que ela não tinha uma crise assim, pensou estar curada, não tomou os remédios desde então e nunca contou para ninguém — nem para Isagi e muito menos para seus pais.

Mas mesmo que estivesse acostumada, ela nunca sabia quando acabava. Eram horas de tortura psicológica, falta de ar e pensamentos borbulhando como espuma nas ondas mais fortes do oceano, chocando contra a mulher tão violentamente que sua carne latejava e seu único desejo nesses momentos era desligar seu cérebro eternamente.

Ganidos saíam da garganta da mulher, sua tentativa de forçar uma parada não funcionou dessa vez — como nunca funcionou em nenhuma das outras vezes. Ela tossiu, as mãos trêmulas bateram um pouco acima dos seios, tentando forçar sua traquéia a se abrir, ela precisava imediatamente de ar e, de repente, como se um tsunami fosse dissolvido em mar aberto, ela tragou tão profundamente que sentiu um cheiro diferente no ar.

Não durou muito essa paz, a garganta ressecada ardia tanto, a pele dos braços estava arranhada por ela mesma, que tentou segurar em si mesma, já que estava sozinha no apartamento abandonado onde cerca de uma hora atrás seu noivo, Isagi, atravessou a porta após uma discussão totalmente diferente das outras que já tiveram antes.

Ela era diferente justamente por que algo ruim vai acontecer, ela pensou, suas mãos apertando contra o próprio corpo em um sinal claro de medo e cansaço.

O péssimo hábito que (nome) adquiriu de sempre pensar coisas ruins das pessoas a sua volta a fez pensar assim antes de tudo, levando isso como se fosse um fato.

Suas mãos ainda tentavam, inutilmente, reter as lágrimas e da garganta ainda saiam sons de choro, abafados pelo travesseiro, a falta de ar fazia os pulmões da mulher doerem tanto quanto o resto do corpo. Sentia que ficaria assim até de manhã, a cabeça tão dolorosa e pesada que ela acabaria morrendo sufocada pelo travesseiro — e ela sequer precisava forçá-lo contra o rosto, a fraqueza que seu corpo adquire após essas crises era tanta que ela descrevia ser como tentar levantar uma baleia com uma mão só. Mas ela não deve se deixar levar pelo desespero e o calor do momento, como tinha deixado a três horas atrás.

Não enquanto seu noivo estava por aí, sabe-se lá aonde, com aroma de bebida após uma discussão calorosa como aquela.

Eram comuns. As brigas entre eles eram comuns desde que os pais de (nome) voltaram para sua vida dois anos após sumirem dela como se a (sobrenome) fosse uma folha de papel que podiam dobrar e amassar, jogar no lixo e tirar depois.

Contudo, uma briga como essa só acontecia quando sua mãe estava no meio, a maldita megera que sequer a queria como filha, que sequer cuidou dela e que a deixou com os vizinhos e colegas.

Essa mesma mulher que convidou (nome) e Isagi para um jantar em família um tanto em cima da hora, com a desculpa que "o casamento logo vai acontecer e nós ainda não jantamos juntos".

Para a (sobrenome), que sabia como os pais eram, principalmente sua mãe narcisista, as coisas eram diferentes.

Ela estava no limite, sua vida inteira foi um caos, uma mentira e uma falsa felicidade que ela queria agarrar agora a fim de não fazer nenhuma bobagem, mas, olhe, ela está sozinha, não é?

Pode fazer o que quiser.

Ela pode espalhar óleo e tudo de inflável pelo chão, rolar por ele e fingir que era neve e que nem precisaria se aquecer depois, sua casa viraria uma lareira bem quentinha assim que ela acendesse um fósforo.

Eu devia ter feito isso antes, pensou ao passar um pouco de óleo sobre a cama, onde a poça de lágrimas era enorme.

Andou descalça sobre o chão molhado pelo produto, o cheiro confundindo os sentidos de (nome) enquanto ela se equilibrava e passava pelo cômodo.

Uma coisa problemática que ela tinha era que sua força só funcionava quando ela estava prestes a entrar em autodestruição.

(nome) tirou o tapete e afastou os sofás para o lado, para que pudesse ter espaço para fazer um anjo de neve.

Ironicamente, ela se sentiu reconfortada com esse momento, era como voltar ao passado, quando a neve descia pelos céus nublados de Tóquio, enchendo o peito de (nome) com fascínio e curiosidade, um olhar brilhante e esperançoso que era característico dela quando tinha seus cinco a quinze anos.

Esse mesmo olhar que, mais de uma década depois, era pacato, sem sal e muitas vezes perguntado se ela era doente ou algo do gênero.

E com esses olhos fechados, se deitou sobre o chão, o vestido florido e nada confortável que usou no desastroso jantar em família se mergulhava em óleo e lágrimas, o corpo se abriu e sua mente foi levada para o passado.

Para um dia de neve espessa que cobria metade das janelas do primeiro andar e mal dava para abrir a porta. Na época, (nome) tinha seus dez anos e queria conhecer a neve, porque sua mãe nunca a deixou fazer isso antes.

Mas, assim como nos dias de hoje, ela não estava lá para olhar o que a filha fazia ou não, então não havia problema nenhum em descer.

Foi nesse dia que ela descobriu que a neve era fofa, porque antes, olhando da janela, parecia dura, como uma massa de cimento pastosa e congelada.

Seu corpo caiu sobre um monte de neve e sua risada infantil alegrou as pessoas que passavam, olhando com certeza nostalgia para a pequena (nome) — hoje em dia ela entendia o porquê desses adultos rirem e suspirarem daquele jeito para ela.

Mas a pequena (nome) não sabia disso, então ignorava e mexia o corpo desengonçado no monte de neve. Seu maior sonho era fazer um anjo de neve e, se o fizesse com amor e esperança, ele a daria a chance de realizar seu maior desejo.

Querem saber qual era?

Fazer alguém desaparecer.

Mas ela era pequena, para ela, fazer alguém desaparecer era o mesmo que sumir com o mau dentro dessa pessoa e a fazer ficar boa.

A mamãe ficará muito boazinha.

Passos foram deixados sobre a neve, eram de uma criança muito especial e curiosa.

"Isso era pra ser um anjo de neve?" perguntou sem mais nem menos.

"Sim…"

Ela se ergueu subitamente.

"Tá fazendo errado…"

Ele parou, o cenho franzido sem saber exatamente que forma era aquela no chão. (nome) encolheu os ombros e balançou o corpo, sentindo que algo como decepção fosse ser despejado sobre ela.

"Desculpe"

Era Isagi, que se destacava pelos fios escuros no meio da neve branca e prédios cinzas.

O menino balançou a cabeça em discordância com o pedido de desculpas, as bochechas coradas e o sorriso dócil pareciam levar a garotinha para fora de órbita.

"Uhm, cê tá maluca?" a voz animada de repente a assustou, ela não esperava que fosse assim "Isso aqui é incrível!"

Os olhos da pequena garota brilharam verdadeiramente, sua cabeça se ergueu e viu o sorriso do garoto em sua frente, um rubor formado pelo frio destacava os olhos do garotinho.

"Qual o seu nome?"

"Isagi Yoichi..."

Sim, era o nome mais lindo do mundo.

"Isagi… Yoichi" (nome) murmurou, seus braços e pernas mexiam para formar um anjo de neve sobre o óleo, podia fingir que era neve sem problemas.

Mas a sensação de estar sozinha de novo era ainda maior e pior do que era para sua "eu" de dez anos, quando a mãe saia sem avisar e a deixava sozinha, sem comida pronta na geladeira e apenas a fria e velha tristeza para acompanhá-la.

Talvez um fósforo só não seja o suficiente para lidar com a cachoeira de lágrimas que transbordavam dos olhos da mulher.

Seu coração estava estilhaçado, algumas partes misturavam-se com o óleo, outras jogadas em sua cama e outras carregadas por Isagi para sabe-se lá onde.

Encolhida sobre o chão frio, abraçou o próprio corpo, escondendo a cabeça entre as mãos, chorou intensamente até os primeiros raios de sol alcançarem seus olhos. (nome) só queria sumir, desaparecer como poeira e nunca mais sentir isso de novo.

Isagi apareceria de novo daqui duas horas, mas não era para confortá-la — e nem mesmo questionar o cheiro de óleo na casa —, apenas para ir buscar suas coisas.

o do gojo vai ser nessa vibe aqui ô 🤩

já é a quarta vez, que eu reposto essa one-shot com alterações e se minha eu do futuro for esperta (não vai ser) ela deixa essa coisa quieta.

☆   🍰   'ㅤ30!09!2023ㅤ⸺͏͏ㅤisadoorw.

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