|Capítulo 49|
P.O.V Narradora
A sala estava imersa em uma penumbra confortável, iluminada apenas pela luz azulada da televisão. Um filme qualquer passava na tela, mas Abby mal prestava atenção na trama. Apesar do olhar ainda um pouco distante, ela comia. E isso, por si só, era uma vitória.
Charlie, sentado ao lado dela no sofá, disfarçava o alívio enquanto observava a filha devorar o quinto pedaço de pizza. O som mastigado misturado ao barulho do filme era música para os ouvidos de um pai que, por semanas, só vira a filha definhar em silêncio.
— Tá boa a pizza?— perguntou ele com um sorriso de canto.
— Uhum... muito.—Abby assentiu, os olhos grudados na tela.
Charlie sorriu mais abertamente, quase emocionado.A porta da frente se abriu com um estalo, seguida de passos leves. Bella entrou, fechando a porta atrás de si. Ao ver a irmã comendo no sofá, seus olhos se arregalaram brevemente de surpresa e talvez um pouco de alívio também. Ela olhou para Charlie e, com um gesto sutil da mão, o chamou.
Charlie levantou-se devagar e seguiu Bella até a cozinha, tentando não chamar a atenção de Abby.
— O que foi?— perguntou ele em voz baixa.
— Embry teve uma ideia...— começou Bella, também em tom contido. — Ele quer planejar uma festa de aniversário pra Abby.
Charlie ficou imóvel por alguns segundos. Seu rosto caiu um pouco, a expressão se tornando carregada de culpa.
— Eu... eu nem me dei conta que o aniversário dela está tão perto. — murmurou ele. — Que tipo de pai esquece isso?
—Pai nenhum em situação normal, mas, Charlie... — Bella colocou a mão no ombro dele. — Ninguém aqui está em situação normal. A gente só... sobreviveu aos últimos dias. Não se culpe por isso.
Charlie assentiu, mas a tristeza ainda estava em seu olhar.
De repente, ouviram passos leves atrás de si. Virando-se, encontraram Abby parada na entrada da cozinha, abraçando uma almofada, o rosto cansado.
— O que vocês estão cochichando aí? — perguntou ela, desconfiada.
Os dois se entreolharam rapidamente, e Bella foi a primeira a responder, com um sorriso fingidamente casual:
— Estávamos falando sobre minha formatura... Tá chegando, e quero todo mundo lá.
— Hmm...—Abby fez uma careta de leve, os lábios franzidos.
— Nem vem com esse “hmm”... — disse Bella com um olhar firme. — Não quero um "não", Abby.
— Tá... vou pensar.—a ruiva deu os ombros, sem muita energia—Vou subir agora. Boa noite.
— Boa noite, flor. — disse Charlie com carinho.
— Boa noite, Abby.— respondeu Bella.
Assim que ela subiu as escadas, um suspiro uníssono escapou dos dois.
— Ela pelo menos comeu pizza...— comentou Charlie em voz baixa.
— Já é progresso. — respondeu Bella com um sorriso triste.
No quarto, Abby fechou a porta e caminhou até a cama. Jogou-se de costas, encarando o teto como se ele tivesse respostas que ninguém mais podia dar. O peso no peito ainda estava lá, mesmo depois da pizza, mesmo com as palavras cuidadosas de Bella e Charlie.
Ela estendeu o braço, pegando o celular no criado-mudo. Procurou por "Embry" na lista de contatos e apertou o botão de chamada. Colocou o aparelho no ouvido e esperou.
Uma vez...
Duas...
Cinco longos minutos se passaram.
Nada.
Abby desligou a chamada, mordendo o lábio para conter o incômodo. Não queria insistir. Talvez ele estivesse ocupado... ou cansado dela, pensou, mesmo sem razão.
Suspirou fundo, deitando de lado. Abraçou o travesseiro com força e fechou os olhos, desejando que o sono viesse rápido.
O sábado amanheceu como qualquer outro nublado, silencioso, sem grandes promessas. Para Abby, era apenas mais um dia em meio a um turbilhão de confusão e tristeza. Ela nem ao menos se lembrava de que era seu aniversário. Estava sentada no sofá da sala, enroscada em uma manta, com um livro sobre Claude Debussy aberto no colo, mas seus olhos apenas corriam pelas palavras sem realmente absorvê-las.
Nos últimos dias, algo estava estranho. Embry havia sumido completamente. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Nem à noite, como ele costumava fazer, pulando a janela para deitar ao lado dela. O silêncio gritava mais do que qualquer ausência. E não bastasse isso, Bella e Charlie também agiam de maneira estranha. Sussurros, olhares trocados e desculpas sem sentido. Abby sentia no ar que estavam escondendo algo, e isso a deixava ainda mais ansiosa.
O som da campainha cortou o silêncio da casa, tirando-a de seus devaneios. Ela fechou o livro e se levantou devagar, os pés descalços roçando no chão frio até alcançar a porta. Girou a maçaneta e parou por um segundo, surpresa.
Embry estava ali, parado na soleira, com a expressão de quem sabia que havia sumido por tempo demais.
Ele vestia jeans escuros, tênis limpos, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro que Abby reconheceu era a favorita dele. Nas mãos, um buquê de rosas vermelhas.
— Olha só quem resolveu aparecer... — disse Abby, cruzando os braços com um sorriso sarcástico nos lábios, mas os olhos entregavam o misto de alívio e mágoa.
Embry abriu um sorriso envergonhado e ergueu as flores para ela.
— Eu sei... eu sumi. Mas tenho uma ótima desculpa. — le estendeu o buquê. — Feliz aniversário, ruiva.
Ela piscou, surpresa. Piscou de novo.
— Hoje...?— sussurrou, como se só agora se lembrasse da data.
Ele assentiu.
— Hoje. E eu vim te buscar. Vamos sair um pouco, só nós dois.— ele olhou para o interior da casa. — Pode subir pra seu quarto trocar de roupa?
— Embry, espera, você não pode só...
— Shhh. Vai se trocar, Abby. Vai ser especial, eu prometo.— disse ele com um sorriso de canto, que sempre a desmontava.
Ela mordeu o lábio, meio irritada por ainda se derreter com ele, mas assentiu.
— Tá bom... mas você me deve uma explicação.— disse ela antes de sair correndo escada acima.
Embry entrou e fechou a porta com cuidado. Caminhou até a sala e sentou no sofá, respirando fundo enquanto olhava ao redor, esperançoso.
Abby entrou no quarto bufando, já pensando em o que vestir, quando algo diferente chamou sua atenção. Uma caixa sobre a cama. Fechada, com um laço roxo sua cor favorita.
Ela franziu o cenho, caminhou até a cama e tocou o laço, puxando-o devagar. Ao abrir a tampa, se deparou com um vestido preto lindamente bordado com pequenas flores em tons de azul e violeta. Seu coração deu um salto.
Debaixo do tecido havia um bilhete.
Com mãos trêmulas, ela o puxou e leu em silêncio:
“Para uma rosa, com amor Alice.”
Abby sorriu, os olhos marejando um pouco. Passou os dedos pelo vestido com carinho e sussurrou:
— Ok... isso tá começando a parecer uma armadilha bonita.
Pegou o vestido com cuidado e correu para o banheiro. Os degraus da escada rangeram suavemente sob os pés de Abby enquanto ela descia com cuidado, o vestido preto rodado balançando levemente a cada passo. O tecido se ajeitava delicadamente sobre seus joelhos, e os tênis pretos que escolheu traziam um toque casual e autêntico ao visual. Seus cabelos ruivos, soltos e brilhantes, desciam pelas costas como uma chama suave.
Na sala, Embry levantou-se do sofá assim que a viu, e por um momento esqueceu de respirar.
— Uau... — murmurou, dando dois passos em sua direção, os olhos fixos nela como se estivesse vendo algo irreal.
Abby parou no penúltimo degrau e o encarou, desconfiada.
— Tô feia, né? — perguntou com uma sobrancelha arqueada, meio séria, meio brincando.
Embry negou lentamente com a cabeça, um sorriso terno nos lábios.
— Não. Você tá... perfeita.— disse ele, com sinceridade absoluta na voz.
Abby mordeu o canto da boca, disfarçando o rubor que subia pelo rosto.
Ele se aproximou mais, pegou delicadamente a mão dela e a girou, como se ela fosse uma bailarina. A saia do vestido rodou no ar, e um riso suave escapou dos lábios dela.
— Aí está...— disse Embry, os olhos brilhando. — Senti falta disso. Do seu riso.
Abby abaixou o olhar por um instante, tocada por suas palavras, e quando ergueu novamente os olhos, Embry tirava algo do bolso da jaqueta.
— Agora, pra surpresa continuar sendo surpresa...— disse ele, revelando uma venda preta de tecido. — Confia em mim?
Abby franziu o cenho, divertida.
— Você vai me sequestrar? — brincou.
— Talvez... mas é o tipo de sequestro que termina com bolo de chocolate. — respondeu ele, rindo.
Ela suspirou exageradamente, cruzando os braços.
— Ok. Mas se eu tropeçar, a culpa é sua.
— Fechado. — disse ele, e então, com delicadeza, posicionou a venda sobre os olhos dela.
Antes de amarrá-la completamente, aproximou o rosto do dela e lhe deu um selinho suave, demorado, carregado de carinho.
— Feliz aniversário, ruiva.— sussurrou contra seus lábios.
Abby sorriu, mesmo sem vê-lo, sentindo o calor dele ali tão perto.
— Você é muito estranho às vezes... — disse, sorrindo.
— Mas sou o seu estranho.— respondeu ele, pegando a mão dela com firmeza. — Vamos.
(...)
O campo de flores parecia saído de um sonho. O vento soprava leve entre as pétalas coloridas, carregando um perfume adocicado no ar. No centro do campo, uma toalha xadrez estava cuidadosamente estendida sobre a grama, rodeada de pétalas de rosas e repleta de tudo que Abby amava: pizza, salgadinhos, doces, morangos mergulhados em chocolate e um pequeno bolo de chocolate, era como se cada detalhe tivesse sido pensado com o coração.
Embry caminhava com Abby pela trilha entre as flores, guiando-a pelas mãos com uma venda ainda sobre os olhos.
— Só mais alguns passos, ruiva... — murmurou ele com um sorriso de ansiedade e empolgação.
Abby respirou fundo, sentindo o cheiro das flores e do chocolate misturado no ar.
— Se eu tropeçar, você vai ter que me carregar até o hospital.— brincou ela.
— Prometo te carregar... mas até o piquenique, não o hospital. — ele riu baixinho.
Quando finalmente pararam, Embry parou atrás dela e deslizou lentamente a venda para fora dos olhos dela.
O mundo diante de Abby se abriu em cores, aromas e amor.
— O quê... — ela sussurrou, olhando ao redor sem acreditar. — Embry, isso tudo...
Ela se virou para ele, os olhos arregalados de surpresa e emoção.
— Eu... eu tinha até esquecido do meu aniversário...— disse com uma voz baixa, quase culpada.
Embry sorriu e encolheu os ombros.
— Eu não esqueci. — respondeu simplesmente, e pegou a mão dela com delicadeza. — Vem, ainda tem mais.
Ele a guiou até a toalha estendida e ambos se sentaram, o sol dourando suavemente os cabelos ruivos de Abby enquanto ela observava toda a comida ao redor.
— Isso tudo é o que eu mais gosto... — disse ela, tocando os morangos com chocolate e sorrindo. —Você realmente pensou em tudo?
— Claro.— disse ele, já pegando um morango e levantando até a boca dela. — Abre a boca, ruiva mimada.
Ela riu, mordeu o morango, e ficou encarando ele de perto, ainda com um olhar meio emburrado.
— Então foi por isso que você sumiu? Não respondia minhas ligações, não aparecia, nada?
Embry respirou fundo e assentiu.
— Foi. Me desculpa por isso... Eu só... queria fazer algo especial pra você. Algo que te fizesse sorrir de verdade de novo.
Abby ficou em silêncio por um segundo, engolindo o restante do morango, sentindo o gosto doce misturado à emoção no peito.
— Está perfeito, Embry... de verdade. — disse ela, tocando a mão dele. — Obrigada. Por isso... por tudo.
Ele olhou para ela com aquele olhar que parecia atravessar qualquer barreira que Abby erguesse, e levou a mão ao rosto dela, acariciando suavemente a bochecha.
— Você merece tudo, Abby. Tudo.— murmurou ele, antes de se inclinar e tocar os lábios nos dela, o beijo foi calmo, carregado de paixão e saudade
Mais um capítulo amores espero que gostem amores ♥️🥰♥️🥰♥️
Meta de curtidas 50
Meta de comentários 20
Até o próximo capítulo amores 🥰♥️
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top