𝐂apítulo único.
⠀⠀⠀⠀⠀MESMO SENDO tão jovem, Nishijima Renta já havia vivido bastante, em um âmbito romântico. Teve alguns relacionamentos que pouco duraram, e por mais difícil que tenham sido os términos, no fim, ele acabava sempre superando. Diziam sempre que o primeiro término era o mais difícil, mas para Renta, não foi exatamente assim.
Karine Yonashiro, ou apenas Rine, era uma mulher nipo-brasileira ao qual o jovem Nishijima se envolveu romanticamente por dois aninhos apenas, na época, o garoto ainda tinha vinte e dois anos, mas conhecia a jovem desde os dezoito. Ela era quatro anos mais velha, e fora um desafio para o garoto enfrentar os julgamentos alheios, e por mais que ambos tivessem se esforçado, talvez o fato de Rine estar em outro período de sua vida, tenha feito com que seu relacionamento ruísse antes mesmo que Renta percebesse.
Rine já tinha terminado a faculdade, já estava trabalhando em um emprego estável que mal lhe dava tempo livre, além de frequentemente estar viajando, ela trabalhava com cálculos, era meteorologista, enquanto Renta gostava de arte, e se dedicava para trabalhar com música, nem que fosse apenas como produtor ou coreógrafo.
Era um fato que, cálculos e música andavam lado a lado, mas, Renta percebeu que em seu caso, não fora exatamente assim. Desde que terminaram, o garoto passava o tempo intercalando entre estudar e trabalhar, seja dança ou música, ele descontava suas frustrações naquilo, afinal de contas, sabia que Rine não iria voltar por mais que ele chorasse, restava aceitar isso e seguir sua vida adiante.
Talvez, aquele relacionamento estivesse fadado ao fracasso desde o início, Nishijima apenas não percebeu. Os pais de Rine nunca gostaram de Renta, tão pouco o irmão mais velho dela, sempre diziam que o garoto ainda era um moleque e um atraso em sua vida, por outro lado, a família de Renta dizia que Rine não era uma mulher adequada para ele, já que, Rine sempre deixava claro seus objetivos e objeções, ela não queria se casar tão cedo, tão pouco ter filhos ou ser a típica mulher do lar, e isto era mal visto pelos mais conservadores, ainda mais no Japão.
Renta nunca se importou com isso, ele era feliz com sua namorada, do jeitinho que ela era, além de ser orgulhoso por namorar uma mulher independente, mas tudo ruiu quando tiveram uma discussão estúpida por ciúmes de ambos os lados. A família de Rine vivia lhe empurrando para um rapaz que julgavam ser o tipo ideal para ela, enquanto a família de Renta o empurravam para uma garota que poderia ser a dona de casa que eles queriam que fosse a esposa do garoto. No final das contas, tanto Rine quanto Renta estavam errados, e se foi um plano em conjunto de suas famílias destruir aquilo, tinha dado perfeitamente certo. Eles só não esperavam que, tanto Renta quanto Rine, soubessem de tal fato ao ponto de, mesmo separados, se afastarem de suas famílias, até ao ponto de que de fato se desculpassem por tal intromissão, mas já era tarde, tudo já havia acabado a meses, oito longos meses.
Renta se sentia solitário, frustrado, revoltado e cansado. Fez um acordo com sua família, e caso se intrometessem em sua vida novamente, ele não hesitaria em sumir sem deixar rastros, e por sorte, tal ameaça surtiu efeito. Nishijima já tinha vinte e quatro anos, ele sabia exatamente o que queria ou não, e também, o que podia ter ou não. Se envolver novamente estava fora de cogitação, mesmo que outras garotas lhe oferecessem um ombro amigo, o garoto agora só queria focar em seus sonhos, até sentir que a dor em seu peito houvesse se dissipado.
Em meio aos seus devaneios, o garoto estava sentado na sala de dança, com os cabelos pretos molhados e a respiração ofegante, ele olhava para seu próprio reflexo, se sentindo patético, e ainda se lamentando por deixar Rine partir, sem sequer ter tido coragem para ir atrás dela.
⸺ você esta bem? ⸺ Daigo perguntou ao se sentar ao lado do amigo, tinha duas garrafinhas de água em mãos e estendeu a outra ao rapaz, que mesmo sem olhar para Daigo, pegou a garrafa agradecendo-o logo depois ⸺ acho que está doente.
⸺ você sabe exatamente o que aconteceu. ⸺ bebeu um gole d'aguá, fechou a garrafinha e pôs a garrafinha no chão, se escorou na parede e fechou os olhos, enquanto respirava fundo, não por estar cansado, mas por sentir uma agonia em seu peito ao se lembrar da razão de estar daquele jeito ⸺ eu só queria acordar com amnésia e esquecer de todas essas coisas estúpidas…
⸺ você está muito melancólico. A Rine-chan está bem, você deveria ficar feliz por ela. ⸺ Renta ficou cabisbaixo, era verdade, as palavras de Daigo por mais dolorosas, eram verdades, mas isso não anulava o fato de que Renta estava mal ainda.
⸺ quer que eu simplesmente minta e diga que estou bem? Eu não consigo! Dói-me pensar que ela superou tudo tão rápido… nem se quer parece que o que tivemos um dia foi real… ⸺ sentiu um leve tapinha de Daigo em suas costas, como um mero consolo, poderia parecer algo simples, mas que no momento, veio a calhar no fim das contas.
⸺ está tudo bem ficar assim, Renta-chan, e não queria dizer isso, mas acho que Rine-chan só é uma ótima atriz. Ela é boa em esconder as emoções. Se for para voltarem um dia, vocês terão meu apoio, e caso não aconteça, vou estar aqui para te ajudar como um bom amigo. ⸺ deu leves batidinhas na cabeça do mais novo, que agora, ficou quieto.
Se fosse para voltar… Renta pediria mil e uma desculpas, juraria nunca mais deixa-la partir, parecia muito melodramático, mas ele se sentia como um garoto perdido sem Rine. Estar com ela era como estar nas nuvens, mas estar sem ela, parecia viver um regresso, e o garoto precisava se adaptar a sua nova rotina, sua rotina longe da jovem Yonashiro.
Eram 19h30 quando Nishijima saiu do estúdio de dança, se despediu de Daigo dizendo precisar caminhar um pouco. Pôs a touca de seu moletom cinza e seus fones de ouvido, fazia tempo que não corria a noite, a lua minguante brilhava no céu junto de poucas estrelas, já que, as luzes da cidade atrapalhavam um pouco nesse quesito.
Renta foi até o parque, ele se recordava de que Rine gostava de ficar no balanço, ou de andar entre as árvores enquanto conversavam sobre assuntos banais de seus dia a dia. Mas ela raramente saía a noite, já que, tinha um certo medo, mesmo que o Japão fosse mais seguro que seu país de origem, ou seja, o Brasil, a garota ainda assim não confiava ao ponto de sair simplesmente andando sozinha pelas ruas a noite, mesmo que fosse cedo.
Nishijima se sentou em um banco, próximo a um lago que havia no parque. Ele tirou seus fones e olhou para o céu, tentando controlar a respiração descompensada pela corrida. Uma leve brisa tocou seu rosto, fazendo com que o capuz de seu moletom caísse, e no mesmo instante que olhou para frente, viu uma garota sentava na grama olhando para o lago. A brisa tocou os cabelos dela que escapavam pelo capuz preto de seu moletom, até que enfim, este acabou caindo. A luz dos postes de luz do parque era forte o bastante para Renta perceber a coloração alaranjada escura dos cabelos da garota.
Não era qualquer mulher no Japão que teria um cabelo naturalmente ruivo, já que, o natural era preto, e se fosse pintado, o cabeleireiro estava de parabéns por acertar perfeitamente o tom sem parecer uma marca texto laranja fluorescente, mesmo que, na luz do por do sol, o cabelo de Rine ficasse exatamente naquele tom chamativo. Renta era hipnotizado na forma como os cabelos ruivos dela se misturavam com os raios do sol, pareciam apenas um, e ele amava admira-los.
Lentamente, Renta se levantou do banco, com passos lentos andou até a jovem, se ouvisse um sermão, esperava que servisse como um ponto final e seu coração parasse de doer, e era aquilo que Renta esperava, se ela fosse atirar, que fosse sem pena.
Rine ouviu os passos de Renta na grama e se virou bruscamente, se levantando rapidamente, porém, ficou sem reação ao ver Nishijima, e não era como se o mais novo estivesse diferente dela. Ambos ficaram em silêncio por intermináveis minutos, analisavam cada detalhe um do outro, descrentes de que haviam se encontrado mais uma vez, num lugar no qual sempre visitavam quando estavam juntos.
Na verdade, Rine sempre que podia, frequentava aquele parque. Não conseguia de deixar de lembrar de Renta quando ia alimentar os patos, ver os peixinhos ou até mesmo se balançar nos balanços, mesmo que tivessem uma diferença de idade, juntos pareciam estar em sintonia.
⸺ oi. ⸺ Renta tomou coragem para dizer algo, com um sorriso levíssimo, Rine percebeu os olhos brilhantes do garoto, repletos de lágrimas, ela pensou em correr até ele, envolve-lo em seus braços e dizer estar tudo bem. Mas nada estava bem, nada entre eles estava bem.
⸺ oi. ⸺ Daigo tinha razão quando disse que Rine era boa em esconder suas emoções, ela usava sua frieza para mascarar tristeza, raiva ou até mesmo frustração e ciúmes. E desta vez, não havia sido tão diferente, mas mesmo com o tom cortante da garota, Renta não tirou o sorriso sofrido de seu rosto.
⸺ boa noite, Rine-chan. ⸺ Renta então deu as costas á garota, se sentiu um covarde por não conseguir falar com ela, mas nem precisava dizer algo. O garoto sabia que Rine não voltava atrás com suas palavras, e seu tom gélido fora o bastante para ele.
Entretanto, Rine fechou os olhos vendo o garoto partir, se recordou das palavras de seu irmão, que após pedir perdão mais de cem vezes, disse a ela: se você quer algo, lute por isso, não espere que te dêem nas mãos. Se você quer ficar com ele, deveria ir atrás dele, para que no futuro, não diga "e se eu tivesse" mas se não tiver dado certo, diga "eu fiz o que eu pude."
Ela mordeu os lábios e engoliu seu orgulho, seu medo e sua timidez, era uma mulher adulta e agiria como tal, se Renta não tomou uma atitude, Rine não iria hesitar em tomar por ele. Com passos rápidos ela tentou correr atrás do garoto, chamou pelo nome dele, fazendo com que ele se virasse bruscamente, ela não precisaria dizer mais meia palavra, assim que ela praticamente se jogou em seus braços, o garoto a abraçou com força, fechando os olhos ao sentir o perfume dela, enquanto afundou sua cabeça na curvatura do pescoço da mais velha. Ele era bem maior, o que fez Rine ficar praticamente na pontinha dos pés, mesmo que, ela não fosse uma garota baixinha, as coisas mudavam quando estava perto de Nishijima.
Rine também segurava o garoto com força, deixando algumas lágrimas caírem por seu rosto, assim como ele. Ambos estavam exatamente da mesma forma, estavam inseguros em falar um com o outro, estavam mal, e perdidos naquele caos que suas famílias os colocaram.
Minutos se passaram, e não queriam se afastar um do outro, a saudade era imensa de fato, e queriam crer que aquilo não era um sonho lúcido, mas sim, a realidade.
⸺ senti sua falta. ⸺ Rine falou em um sussurro, entre suas lágrimas, mas, Nishijima pode ouvir. Se afastou um pouco da garota, ainda com os braços em volta da cintura dela, com uma das mãos enxugou as lágrimas da mais velha, mas ele também estava com o rosto molhado pelas lágrimas.
⸺ me perdoa… eu fui um covarde hoje, e anteriormente… acho que sua família tem razão quando dizem que eu não sou um homem de verdade para você. ⸺ ficou cabisbaixo, pois se sentia exatamente daquela forma, e mesmo naquela noite, ainda havia tentado fugir, o que o deixava ainda mais frustrado consigo mesmo.
⸺ você não precisa tomar iniciativa de tudo o tempo todo, se não viesse falar comigo eu iria até você… terminados de uma forma estúpida por um motivo idiota. Nunca tive problemas com você, sempre foste um rapaz gentil, carinhoso, inteligente e divertido. Nosso relacionamento sempre foi bom, e eu não quero perder isso. ⸺ passou as mãos pelo rosto do garoto, enxugando suas lágrimas, o sorriso fofo que surgiu nos lábios do rapaz fora o mais lindo que Rine já viu, ela amava o sorriso de Renta, era um fato mais do que óbvio.
⸺ eu também, ichigo*. Sinto muito por ser um covarde, vou mudar isso futuramente, prometo ser o melhor namorado que você já teve, e se um dia me permitir, quem sabe algo a mais. ⸺ Rine riu fraco, balançando a cabeça em negação.
⸺ ainda te acho muito novinho para casar, mas quem sabe no futuro?
⸺ você só não casa comigo por me achar muito novo? ⸺ Rine assentiu rapidamente, e um sorrisinho tímido surgiu no rosto do garoto, já que, Renta pensava que ela apenas nunca queria se casar, era apenas falta de comunicação já que o garoto nunca tocou muito nesse assunto ⸺ daqui a dois anos então, que tal? Vou ser o homem que você sempre quis!
⸺ você já é o homem que eu sempre quis. ⸺ brincou apertando a bochecha do mais novo levemente, desta vez vendo o sorriso lindo do rapaz, ao qual ela realmente sentiu falta.
⸺ eu te amo, ichigo. ⸺ Rine fez um biquinho e mais uma vez abraçou o garoto, repousando sua cabeça sobre o peitoral dele, e enquanto mais uma vez, Renta a abraçou com um ursinho.
⸺ eu também te amo. ⸺ a resposta de Rine fez Renta sorrir automaticamente, ele então deu um beijinho na testa da mais velha e colocou sua cabeça sobre a dela, fechando os olhos e aproveitando a sensação de ter sua, agora namorada, em seus braços mais uma vez.
ICHIGO* (いちご) = morango.
Postei rápidão, espero que gostem e dêem amor ao meu bebê 😌 e aos outros meninos tambem <3
Até a próxima, bye 😼
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